A geração X e os millennials têm maior risco de câncer do que as gerações mais velhas; veja o porquê


As taxas de 17 dos 34 tipos de tumores mais comuns estão aumentando progressivamente nas gerações mais jovens, segundo um novo e amplo estudo

Por Lindsey Bever

A geração X (nascidos entre 1965 e 1981) e a geração do milênio (nascidos entre 1980 e 1995) correm um risco maior de desenvolver certos tipos de câncer em comparação com as gerações mais velhas, uma mudança que provavelmente se deve a alterações geracionais na dieta, no estilo de vida e nas exposições ambientais, sugere um estudo amplo.

Mudanças no estilo de vida podem ajudar a explicar o aumento de incidência de câncer em gerações mais jovens. Foto: rogerphoto/Adobe Stock

Em um novo estudo publicado na quarta-feira na revista Lancet Public Health, pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer relataram que as taxas para 17 dos 34 tipos de câncer mais comuns estão aumentando progressivamente nas gerações mais jovens. Estas são algumas das descobertas:

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  • Os cânceres com risco aumentado mais significativo são os de rim, pâncreas e intestino delgado: duas a três vezes mais altos para homens e mulheres da geração do milênio do que para os baby boomers.
  • As mulheres millennials também têm um risco maior de câncer de fígado e de ducto biliar em comparação com as da geração do baby boom.
  • Embora o risco de câncer esteja aumentando, a probabilidade de morrer da doença se estabilizou ou diminuiu para a maioria dos cânceres entre os mais jovens. Mas as taxas de mortalidade aumentaram para os cânceres colorretal, testicular, uterino e de vesícula biliar, bem como para o câncer de fígado entre as mulheres mais jovens.

“É preocupante”, diz Ahmedin Jemal, vice-presidente sênior do departamento de ciência de vigilância e equidade em saúde da Sociedade Americana do Câncer, que foi o autor sênior do estudo.

Se a atual tendência continuar, o aumento das taxas de câncer e mortalidade entre os mais jovens pode “deter ou até mesmo reverter o progresso que fizemos na redução da mortalidade por câncer nas últimas décadas”, acrescenta ele.

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Embora não haja uma explicação clara para o aumento das taxas de câncer entre os mais jovens, os pesquisadores sugerem que pode haver vários fatores contribuindo para isso, como aumento das taxas de obesidade; microbiomas alterados por dietas não saudáveis, ricas em gorduras saturadas, carne vermelha e alimentos ultraprocessados ou uso de antibióticos; sono de baixa qualidade; estilos de vida sedentários; e fatores ambientais, como exposição a poluentes e produtos químicos cancerígenos.

Duas décadas de dados sobre câncer

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Os pesquisadores analisaram dados de mais de 23,5 milhões de pacientes que haviam sido diagnosticados com 34 tipos de câncer de 2000 a 2019. Eles também estudaram dados de mortalidade que incluíam 7 milhões de mortes por 25 tipos de câncer entre pessoas de 25 a 84 anos nos Estados Unidos.

Expandindo sua pesquisa anterior, que identificara oito tipos de câncer nos quais as taxas de incidência aumentaram a cada geração sucessiva, os pesquisadores descobriram mais nove, entre eles alguns que haviam diminuído entre os mais velhos antes de aumentar nas populações mais jovens.

O estudo não examinou fatores como renda familiar, acesso a saúde, raça ou etnia.

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As pessoas mais jovens, ou seja, com menos de 50 anos, representam uma minoria da população que desenvolve câncer, “mas a preocupação é que o câncer está ocorrendo em idades cada vez mais baixas, de modo que esse aumento da incidência gera preocupações muito concretas à medida que essa população envelhece”, avalia Ernest Hawk, vice-presidente e chefe da divisão de prevenção de câncer e ciências populacionais do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas.

Ao mesmo tempo, os pesquisadores também observaram que houve uma queda nas taxas de câncer do colo do útero entre as mulheres mais jovens, o que eles atribuem à vacinação contra o papilomavírus humano (HPV). Os cânceres relacionados ao tabagismo, como o carcinoma de células escamosas de pulmão, laringe e esôfago, também diminuíram, embora o progresso tenha desacelerado nas faixas etárias mais jovens, disseram os pesquisadores.

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Dificuldades de detecção

Os exames de rotina são recomendados para apenas quatro tipos de câncer – cólon, colo do útero, mama e, para algumas pessoas, pulmão – e várias pessoas mais jovens com risco médio não atendem aos requisitos de idade ou, por vários motivos, não estão fazendo os exames preventivos de rastreamento. Alguns especialistas apontaram possíveis danos do rastreamento generalizado, como falsos positivos que podem ter um impacto psicológico e levar a testes e procedimentos de acompanhamento desnecessários.

“O problema é que os pacientes estão ficando cada vez mais jovens e, para começo de conversa, nem sempre temos uma boa triagem, então não conseguimos fazer rastreamentos em populações muito grandes”, informa Andrea Cercek, oncologista gastrointestinal e codiretora do Centro de Câncer Colorretal e Gastrointestinal de Início Jovem no Memorial Sloan Kettering Cancer Center.

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No novo estudo, as taxas de câncer de mama, vesícula biliar e outros cânceres biliares e uterinos aumentaram em quase todas as faixas etárias, subindo mais rapidamente entre as gerações mais jovens. Embora as taxas de câncer de mama entre mulheres com menos de 40 anos permaneçam baixas, em outro estudo o câncer de mama ainda foi responsável pelo maior número de casos de câncer de início precoce.

Redução das idades para exames preventivos

Evidências recentes e crescentes mostrando que mais mulheres na faixa dos 40 anos estão com câncer de mama levaram a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos a alterar no ano passado sua orientação anterior, reduzindo a idade para mamografias de rotina de 50 para 40 anos.

No entanto, as mamografias de rotina não são tão eficazes para mulheres com mamas densas, o que é mais comum entre as mais jovens, explica Elizabeth Comen, oncologista de câncer de mama e professora associada do Perlmutter Cancer Center da New York University Langone Health.

“Entender como melhorar o rastreamento e detectar cânceres em pacientes mais jovens é uma enorme necessidade não atendida”, diz Comen, que acrescentou que muitas de suas pacientes mais jovens descobriram seu câncer de mama por conta própria.

Nos últimos anos, a idade recomendada para o exame de câncer colorretal também foi reduzida, de 50 para 45 anos, pois pesquisas mostraram uma tendência de diagnósticos em idades mais jovens. O novo estudo descobriu que os aumentos nas taxas de câncer colorretal e de estômago estavam confinados a grupos etários mais jovens, o que significa que, embora as taxas de câncer colorretal estejam diminuindo em geral, há um aumento na incidência entre populações mais jovens.

Mas muitas pessoas elegíveis não estão fazendo os exames de câncer colorretal. Um estudo de 2021 relatou que menos de 4 milhões dos 19 milhões de adultos elegíveis com idades entre 45 e 49 anos estavam em dia com os exames preventivos, que podem ser um exame de sangue recém-aprovado, um exame de fezes ou um exame visual, como uma colonoscopia.

Mesmo quando os sintomas aparecem, “acho que muitas pessoas mais jovens os ignoram, achando que não têm câncer porque são jovens”, avalia Rashmi Verma, oncologista especializada em cânceres gastrointestinais no Comprehensive Cancer Center da Universidade da Califórnia, em Davis, acrescentando que já tratou pacientes com apenas 20 anos.

Outras pessoas talvez não tenham plano de saúde ou não saibam que devem fazer exames, disseram os especialistas.

Falta de diagnóstico

Quando alguns pacientes mais jovens procuram atendimento para sintomas gastrointestinais, eles são diagnosticados erroneamente com outras doenças, como hemorroidas ou síndrome do intestino irritável, por isso é importante consultar um gastroenterologista, disse Verma.

Mas, para a maioria dos cânceres, como o câncer de pâncreas, não há exames de rastreamento em nenhuma idade – o que pode levar a diagnósticos tardios e opções de tratamento mais limitadas, segundo especialistas.

Embora tenha havido avanços no diagnóstico e no tratamento, muitas vezes os tumores malignos do pâncreas (e alguns outros) são descobertos incidentalmente durante exames de imagem para outros problemas, comenta Charles J. Yeo, professor e presidente do departamento de cirurgia da Escola de Medicina Sidney Kimmel da Universidade Thomas Jefferson.

O aumento das taxas de câncer entre as gerações mais jovens destaca a necessidade de mais estudos para identificar uma causa para o planejamento da prevenção, bem como para desenvolver exames de rastreamento melhores – e, em muitos casos, qualquer tipo de exame – para ajudar a detectar cânceres em pessoas mais jovens no início da doença, quando o tratamento geralmente é mais eficaz, disseram os especialistas.

As taxas crescentes também levantam questões sobre o que acontece quando os pacientes mais jovens sobrevivem à doença.

“Alguns jovens que sobreviveram ao câncer ficarão profundamente afetados física, biológica e psicologicamente por esses diagnósticos”, diz Comen. “E isso terá um efeito cascata em nossa sociedade, um efeito que a comunidade médica precisa estar preparada para enfrentar”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

A geração X (nascidos entre 1965 e 1981) e a geração do milênio (nascidos entre 1980 e 1995) correm um risco maior de desenvolver certos tipos de câncer em comparação com as gerações mais velhas, uma mudança que provavelmente se deve a alterações geracionais na dieta, no estilo de vida e nas exposições ambientais, sugere um estudo amplo.

Mudanças no estilo de vida podem ajudar a explicar o aumento de incidência de câncer em gerações mais jovens. Foto: rogerphoto/Adobe Stock

Em um novo estudo publicado na quarta-feira na revista Lancet Public Health, pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer relataram que as taxas para 17 dos 34 tipos de câncer mais comuns estão aumentando progressivamente nas gerações mais jovens. Estas são algumas das descobertas:

  • Os cânceres com risco aumentado mais significativo são os de rim, pâncreas e intestino delgado: duas a três vezes mais altos para homens e mulheres da geração do milênio do que para os baby boomers.
  • As mulheres millennials também têm um risco maior de câncer de fígado e de ducto biliar em comparação com as da geração do baby boom.
  • Embora o risco de câncer esteja aumentando, a probabilidade de morrer da doença se estabilizou ou diminuiu para a maioria dos cânceres entre os mais jovens. Mas as taxas de mortalidade aumentaram para os cânceres colorretal, testicular, uterino e de vesícula biliar, bem como para o câncer de fígado entre as mulheres mais jovens.

“É preocupante”, diz Ahmedin Jemal, vice-presidente sênior do departamento de ciência de vigilância e equidade em saúde da Sociedade Americana do Câncer, que foi o autor sênior do estudo.

Se a atual tendência continuar, o aumento das taxas de câncer e mortalidade entre os mais jovens pode “deter ou até mesmo reverter o progresso que fizemos na redução da mortalidade por câncer nas últimas décadas”, acrescenta ele.

Embora não haja uma explicação clara para o aumento das taxas de câncer entre os mais jovens, os pesquisadores sugerem que pode haver vários fatores contribuindo para isso, como aumento das taxas de obesidade; microbiomas alterados por dietas não saudáveis, ricas em gorduras saturadas, carne vermelha e alimentos ultraprocessados ou uso de antibióticos; sono de baixa qualidade; estilos de vida sedentários; e fatores ambientais, como exposição a poluentes e produtos químicos cancerígenos.

Duas décadas de dados sobre câncer

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 23,5 milhões de pacientes que haviam sido diagnosticados com 34 tipos de câncer de 2000 a 2019. Eles também estudaram dados de mortalidade que incluíam 7 milhões de mortes por 25 tipos de câncer entre pessoas de 25 a 84 anos nos Estados Unidos.

Expandindo sua pesquisa anterior, que identificara oito tipos de câncer nos quais as taxas de incidência aumentaram a cada geração sucessiva, os pesquisadores descobriram mais nove, entre eles alguns que haviam diminuído entre os mais velhos antes de aumentar nas populações mais jovens.

O estudo não examinou fatores como renda familiar, acesso a saúde, raça ou etnia.

As pessoas mais jovens, ou seja, com menos de 50 anos, representam uma minoria da população que desenvolve câncer, “mas a preocupação é que o câncer está ocorrendo em idades cada vez mais baixas, de modo que esse aumento da incidência gera preocupações muito concretas à medida que essa população envelhece”, avalia Ernest Hawk, vice-presidente e chefe da divisão de prevenção de câncer e ciências populacionais do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas.

Ao mesmo tempo, os pesquisadores também observaram que houve uma queda nas taxas de câncer do colo do útero entre as mulheres mais jovens, o que eles atribuem à vacinação contra o papilomavírus humano (HPV). Os cânceres relacionados ao tabagismo, como o carcinoma de células escamosas de pulmão, laringe e esôfago, também diminuíram, embora o progresso tenha desacelerado nas faixas etárias mais jovens, disseram os pesquisadores.

Dificuldades de detecção

Os exames de rotina são recomendados para apenas quatro tipos de câncer – cólon, colo do útero, mama e, para algumas pessoas, pulmão – e várias pessoas mais jovens com risco médio não atendem aos requisitos de idade ou, por vários motivos, não estão fazendo os exames preventivos de rastreamento. Alguns especialistas apontaram possíveis danos do rastreamento generalizado, como falsos positivos que podem ter um impacto psicológico e levar a testes e procedimentos de acompanhamento desnecessários.

“O problema é que os pacientes estão ficando cada vez mais jovens e, para começo de conversa, nem sempre temos uma boa triagem, então não conseguimos fazer rastreamentos em populações muito grandes”, informa Andrea Cercek, oncologista gastrointestinal e codiretora do Centro de Câncer Colorretal e Gastrointestinal de Início Jovem no Memorial Sloan Kettering Cancer Center.

No novo estudo, as taxas de câncer de mama, vesícula biliar e outros cânceres biliares e uterinos aumentaram em quase todas as faixas etárias, subindo mais rapidamente entre as gerações mais jovens. Embora as taxas de câncer de mama entre mulheres com menos de 40 anos permaneçam baixas, em outro estudo o câncer de mama ainda foi responsável pelo maior número de casos de câncer de início precoce.

Redução das idades para exames preventivos

Evidências recentes e crescentes mostrando que mais mulheres na faixa dos 40 anos estão com câncer de mama levaram a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos a alterar no ano passado sua orientação anterior, reduzindo a idade para mamografias de rotina de 50 para 40 anos.

No entanto, as mamografias de rotina não são tão eficazes para mulheres com mamas densas, o que é mais comum entre as mais jovens, explica Elizabeth Comen, oncologista de câncer de mama e professora associada do Perlmutter Cancer Center da New York University Langone Health.

“Entender como melhorar o rastreamento e detectar cânceres em pacientes mais jovens é uma enorme necessidade não atendida”, diz Comen, que acrescentou que muitas de suas pacientes mais jovens descobriram seu câncer de mama por conta própria.

Nos últimos anos, a idade recomendada para o exame de câncer colorretal também foi reduzida, de 50 para 45 anos, pois pesquisas mostraram uma tendência de diagnósticos em idades mais jovens. O novo estudo descobriu que os aumentos nas taxas de câncer colorretal e de estômago estavam confinados a grupos etários mais jovens, o que significa que, embora as taxas de câncer colorretal estejam diminuindo em geral, há um aumento na incidência entre populações mais jovens.

Mas muitas pessoas elegíveis não estão fazendo os exames de câncer colorretal. Um estudo de 2021 relatou que menos de 4 milhões dos 19 milhões de adultos elegíveis com idades entre 45 e 49 anos estavam em dia com os exames preventivos, que podem ser um exame de sangue recém-aprovado, um exame de fezes ou um exame visual, como uma colonoscopia.

Mesmo quando os sintomas aparecem, “acho que muitas pessoas mais jovens os ignoram, achando que não têm câncer porque são jovens”, avalia Rashmi Verma, oncologista especializada em cânceres gastrointestinais no Comprehensive Cancer Center da Universidade da Califórnia, em Davis, acrescentando que já tratou pacientes com apenas 20 anos.

Outras pessoas talvez não tenham plano de saúde ou não saibam que devem fazer exames, disseram os especialistas.

Falta de diagnóstico

Quando alguns pacientes mais jovens procuram atendimento para sintomas gastrointestinais, eles são diagnosticados erroneamente com outras doenças, como hemorroidas ou síndrome do intestino irritável, por isso é importante consultar um gastroenterologista, disse Verma.

Mas, para a maioria dos cânceres, como o câncer de pâncreas, não há exames de rastreamento em nenhuma idade – o que pode levar a diagnósticos tardios e opções de tratamento mais limitadas, segundo especialistas.

Embora tenha havido avanços no diagnóstico e no tratamento, muitas vezes os tumores malignos do pâncreas (e alguns outros) são descobertos incidentalmente durante exames de imagem para outros problemas, comenta Charles J. Yeo, professor e presidente do departamento de cirurgia da Escola de Medicina Sidney Kimmel da Universidade Thomas Jefferson.

O aumento das taxas de câncer entre as gerações mais jovens destaca a necessidade de mais estudos para identificar uma causa para o planejamento da prevenção, bem como para desenvolver exames de rastreamento melhores – e, em muitos casos, qualquer tipo de exame – para ajudar a detectar cânceres em pessoas mais jovens no início da doença, quando o tratamento geralmente é mais eficaz, disseram os especialistas.

As taxas crescentes também levantam questões sobre o que acontece quando os pacientes mais jovens sobrevivem à doença.

“Alguns jovens que sobreviveram ao câncer ficarão profundamente afetados física, biológica e psicologicamente por esses diagnósticos”, diz Comen. “E isso terá um efeito cascata em nossa sociedade, um efeito que a comunidade médica precisa estar preparada para enfrentar”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

A geração X (nascidos entre 1965 e 1981) e a geração do milênio (nascidos entre 1980 e 1995) correm um risco maior de desenvolver certos tipos de câncer em comparação com as gerações mais velhas, uma mudança que provavelmente se deve a alterações geracionais na dieta, no estilo de vida e nas exposições ambientais, sugere um estudo amplo.

Mudanças no estilo de vida podem ajudar a explicar o aumento de incidência de câncer em gerações mais jovens. Foto: rogerphoto/Adobe Stock

Em um novo estudo publicado na quarta-feira na revista Lancet Public Health, pesquisadores da Sociedade Americana do Câncer relataram que as taxas para 17 dos 34 tipos de câncer mais comuns estão aumentando progressivamente nas gerações mais jovens. Estas são algumas das descobertas:

  • Os cânceres com risco aumentado mais significativo são os de rim, pâncreas e intestino delgado: duas a três vezes mais altos para homens e mulheres da geração do milênio do que para os baby boomers.
  • As mulheres millennials também têm um risco maior de câncer de fígado e de ducto biliar em comparação com as da geração do baby boom.
  • Embora o risco de câncer esteja aumentando, a probabilidade de morrer da doença se estabilizou ou diminuiu para a maioria dos cânceres entre os mais jovens. Mas as taxas de mortalidade aumentaram para os cânceres colorretal, testicular, uterino e de vesícula biliar, bem como para o câncer de fígado entre as mulheres mais jovens.

“É preocupante”, diz Ahmedin Jemal, vice-presidente sênior do departamento de ciência de vigilância e equidade em saúde da Sociedade Americana do Câncer, que foi o autor sênior do estudo.

Se a atual tendência continuar, o aumento das taxas de câncer e mortalidade entre os mais jovens pode “deter ou até mesmo reverter o progresso que fizemos na redução da mortalidade por câncer nas últimas décadas”, acrescenta ele.

Embora não haja uma explicação clara para o aumento das taxas de câncer entre os mais jovens, os pesquisadores sugerem que pode haver vários fatores contribuindo para isso, como aumento das taxas de obesidade; microbiomas alterados por dietas não saudáveis, ricas em gorduras saturadas, carne vermelha e alimentos ultraprocessados ou uso de antibióticos; sono de baixa qualidade; estilos de vida sedentários; e fatores ambientais, como exposição a poluentes e produtos químicos cancerígenos.

Duas décadas de dados sobre câncer

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 23,5 milhões de pacientes que haviam sido diagnosticados com 34 tipos de câncer de 2000 a 2019. Eles também estudaram dados de mortalidade que incluíam 7 milhões de mortes por 25 tipos de câncer entre pessoas de 25 a 84 anos nos Estados Unidos.

Expandindo sua pesquisa anterior, que identificara oito tipos de câncer nos quais as taxas de incidência aumentaram a cada geração sucessiva, os pesquisadores descobriram mais nove, entre eles alguns que haviam diminuído entre os mais velhos antes de aumentar nas populações mais jovens.

O estudo não examinou fatores como renda familiar, acesso a saúde, raça ou etnia.

As pessoas mais jovens, ou seja, com menos de 50 anos, representam uma minoria da população que desenvolve câncer, “mas a preocupação é que o câncer está ocorrendo em idades cada vez mais baixas, de modo que esse aumento da incidência gera preocupações muito concretas à medida que essa população envelhece”, avalia Ernest Hawk, vice-presidente e chefe da divisão de prevenção de câncer e ciências populacionais do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas.

Ao mesmo tempo, os pesquisadores também observaram que houve uma queda nas taxas de câncer do colo do útero entre as mulheres mais jovens, o que eles atribuem à vacinação contra o papilomavírus humano (HPV). Os cânceres relacionados ao tabagismo, como o carcinoma de células escamosas de pulmão, laringe e esôfago, também diminuíram, embora o progresso tenha desacelerado nas faixas etárias mais jovens, disseram os pesquisadores.

Dificuldades de detecção

Os exames de rotina são recomendados para apenas quatro tipos de câncer – cólon, colo do útero, mama e, para algumas pessoas, pulmão – e várias pessoas mais jovens com risco médio não atendem aos requisitos de idade ou, por vários motivos, não estão fazendo os exames preventivos de rastreamento. Alguns especialistas apontaram possíveis danos do rastreamento generalizado, como falsos positivos que podem ter um impacto psicológico e levar a testes e procedimentos de acompanhamento desnecessários.

“O problema é que os pacientes estão ficando cada vez mais jovens e, para começo de conversa, nem sempre temos uma boa triagem, então não conseguimos fazer rastreamentos em populações muito grandes”, informa Andrea Cercek, oncologista gastrointestinal e codiretora do Centro de Câncer Colorretal e Gastrointestinal de Início Jovem no Memorial Sloan Kettering Cancer Center.

No novo estudo, as taxas de câncer de mama, vesícula biliar e outros cânceres biliares e uterinos aumentaram em quase todas as faixas etárias, subindo mais rapidamente entre as gerações mais jovens. Embora as taxas de câncer de mama entre mulheres com menos de 40 anos permaneçam baixas, em outro estudo o câncer de mama ainda foi responsável pelo maior número de casos de câncer de início precoce.

Redução das idades para exames preventivos

Evidências recentes e crescentes mostrando que mais mulheres na faixa dos 40 anos estão com câncer de mama levaram a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos a alterar no ano passado sua orientação anterior, reduzindo a idade para mamografias de rotina de 50 para 40 anos.

No entanto, as mamografias de rotina não são tão eficazes para mulheres com mamas densas, o que é mais comum entre as mais jovens, explica Elizabeth Comen, oncologista de câncer de mama e professora associada do Perlmutter Cancer Center da New York University Langone Health.

“Entender como melhorar o rastreamento e detectar cânceres em pacientes mais jovens é uma enorme necessidade não atendida”, diz Comen, que acrescentou que muitas de suas pacientes mais jovens descobriram seu câncer de mama por conta própria.

Nos últimos anos, a idade recomendada para o exame de câncer colorretal também foi reduzida, de 50 para 45 anos, pois pesquisas mostraram uma tendência de diagnósticos em idades mais jovens. O novo estudo descobriu que os aumentos nas taxas de câncer colorretal e de estômago estavam confinados a grupos etários mais jovens, o que significa que, embora as taxas de câncer colorretal estejam diminuindo em geral, há um aumento na incidência entre populações mais jovens.

Mas muitas pessoas elegíveis não estão fazendo os exames de câncer colorretal. Um estudo de 2021 relatou que menos de 4 milhões dos 19 milhões de adultos elegíveis com idades entre 45 e 49 anos estavam em dia com os exames preventivos, que podem ser um exame de sangue recém-aprovado, um exame de fezes ou um exame visual, como uma colonoscopia.

Mesmo quando os sintomas aparecem, “acho que muitas pessoas mais jovens os ignoram, achando que não têm câncer porque são jovens”, avalia Rashmi Verma, oncologista especializada em cânceres gastrointestinais no Comprehensive Cancer Center da Universidade da Califórnia, em Davis, acrescentando que já tratou pacientes com apenas 20 anos.

Outras pessoas talvez não tenham plano de saúde ou não saibam que devem fazer exames, disseram os especialistas.

Falta de diagnóstico

Quando alguns pacientes mais jovens procuram atendimento para sintomas gastrointestinais, eles são diagnosticados erroneamente com outras doenças, como hemorroidas ou síndrome do intestino irritável, por isso é importante consultar um gastroenterologista, disse Verma.

Mas, para a maioria dos cânceres, como o câncer de pâncreas, não há exames de rastreamento em nenhuma idade – o que pode levar a diagnósticos tardios e opções de tratamento mais limitadas, segundo especialistas.

Embora tenha havido avanços no diagnóstico e no tratamento, muitas vezes os tumores malignos do pâncreas (e alguns outros) são descobertos incidentalmente durante exames de imagem para outros problemas, comenta Charles J. Yeo, professor e presidente do departamento de cirurgia da Escola de Medicina Sidney Kimmel da Universidade Thomas Jefferson.

O aumento das taxas de câncer entre as gerações mais jovens destaca a necessidade de mais estudos para identificar uma causa para o planejamento da prevenção, bem como para desenvolver exames de rastreamento melhores – e, em muitos casos, qualquer tipo de exame – para ajudar a detectar cânceres em pessoas mais jovens no início da doença, quando o tratamento geralmente é mais eficaz, disseram os especialistas.

As taxas crescentes também levantam questões sobre o que acontece quando os pacientes mais jovens sobrevivem à doença.

“Alguns jovens que sobreviveram ao câncer ficarão profundamente afetados física, biológica e psicologicamente por esses diagnósticos”, diz Comen. “E isso terá um efeito cascata em nossa sociedade, um efeito que a comunidade médica precisa estar preparada para enfrentar”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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