A rotina da superação


Pessoas com poliomielite venceram preconceitos e, hoje, defendem a vacinação. Nas três histórias apresentadas aqui, existem outros pontos em comum.

Por Redação
Atualização:
Muitas sequelas, dificuldades desde a infância e um mundo de preconceitos para ser enfrentado. 

Integração na escola foi fundamental

Nome: Eliane Ranieri

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Idade: 63 anos

Profissão: consultora especialista em Diversidade e Inclusão

Aos seis meses de vida, em 1959, Eliane Ranieri recebeu o diagnóstico de poliomielite severa. Tetraplégica, e com os pulmões quase parando, passou anos em processo de reabilitação. O tratamento da doença era algo novo e a então menina, sempre amparada pelos pais, conseguiu uma vaga na Santa Casa de São Paulo, cidade onde nasceu. Mais precisamente no chamado Pavilhão Fernandinho, dedicado à ortopedia.

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“Desde que a doença me acometeu até a adolescência, foram diversas cirurgias ortopédicas corretivas. Fazia uma, me recuperava, os médicos observavam o resultado, e aí eu passava por outro procedimento. Às vezes, ficava o ano inteiro nesse processo. Fui evoluindo e retomei o movimento dos braços, do tronco, mas do quadril para baixo não consegui e passei a usar aparelhos ortopédicos e muletas”, relata Eliane.

Os anos iniciais do período escolar – em um tempo em que o assunto ainda era cercado de tabus – foram em casa, com professores particulares. Quando a situação mudou um pouco, os pais de Eliane, incentivados por alguns educadores, a colocaram na escola. “E foi ótimo! Muito do que eu sou hoje é resultado disso, de ter vivido com outras crianças, me integrando.” Mas, na mesma época, Eliane começou a descobrir o significado do termo exclusão. “Quando as crianças brincavam, era sempre algo que envolvia correr, dançar, entre outras coisas que não podia fazer. Ficava só olhando.”

A maturidade chegou rápido, porque durante a adolescência a diferença física entre ela e as amigas ficou mais evidente. “Para a mulher, principalmente, isso é muito doído e o corpo vai se deformando.” O apoio da família e dos amigos foi essencial. Anos mais tarde, a Faculdade de Letras e o mercado de trabalho, como call center em uma multinacional.

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Na época, com pouco mais de 20 anos, Eliane sonhava em morar sozinha e viajar pelo mundo. “Desde criança sabia que o meu avanço seria mais demorado e eu aprendi a respeitar e a ter paciência.”

Os sonhos viraram realidade. “Acabei indo morar sozinha, em Campinas (interior de São Paulo), e as coisas foram acontecendo. Eu me casei, tenho minha casa totalmente adaptada e consegui viajar para muitos lugares”, comemora.

Hoje, com 63 anos, a linguista presta consultoria no Grupo Talento Incluir, que tem como intuito ajudar pessoas com deficiência a entrar no mercado de trabalho. “Eu passei, e passo, por todas essas dificuldades. Por isso, defendo a vacinação. O importante disso tudo é ter clareza que a doença existe, e que não ser vacinado não é uma opção, porque as consequências são graves e vão deixar marcas muito difíceis para a família, para a pessoa e para a sociedade de maneira geral, já que ainda temos um longo caminho a perseguir para incluir de forma concreta esses cidadãos. Portanto, sempre que alguém diz que a vacina é perigosa, eu respondo que, para mim, perigoso é não tomar (o imunizante)”, alerta.

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Do internato aos jogos paralímpicos do Rio

Nome: Fernando Aranha

Idade: 44 anos

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Profissão: atleta paralímpico

Como a mãe não teve condições de criá-lo, Fernando Aranha acabou separado da família logo na infância junto com os irmãos. Por isso, não se sabe ao certo quando a pólio gerou os primeiros sintomas, mas foi entre 2 e 4 anos de idade. “Fui o único que desenvolvi a paralisia infantil. Passei por alguns internatos, até que, com 8 anos, fui transferido para um local em Cotia (município de São Paulo), onde estou até hoje.”

O ambiente na casa de acolhimento, onde muitos tinham algum grau de deficiência, ajudou na socialização. O local, portanto, poderia ser considerado seguro, o que fez de Fernando uma criança ativa. “Se me machucasse, por exemplo, tinha quem pudesse cuidar de mim. O lugar dava essa liberdade para as crianças. Tive toda a oportunidade de experimentar as partes do meu corpo, e assim entender o que era possível fazer, e o que eu não conseguia”, afirma.

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O hoje atleta teve o primeiro contato oficial com um esporte entre os 16 e 17 anos. “Um ex-interno apareceu dizendo que tinha esporte para pessoas com deficiência na região do Parque do Ibirapuera (na zona sul de São Paulo). E, para poder ir junto, fui ajudando outra pessoa, que usava cadeira de rodas. Eu saía escondido dos padres, porque era menor de idade.”

Primeiro o basquete. O destaque veio rápido e Aranha passou a viajar pelo Brasil e ao exterior para participar de campeonatos. Depois, o atletismo também chamou atenção do jovem. “Comecei a fazer várias corridas de rua. Fui campeão das maratonas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Nova York e de Chicago. Ganhei ainda a corrida de São Silvestre. Tudo isso mantendo um calendário que se dividia entre trabalho, treinos e faculdade”, diz o atleta.

O salto, em 2016, foi ainda maior. Na paralimpíada do Rio de Janeiro, o sétimo lugar no paratriathlon.

Aos 44 anos, Aranha treina hoje todos os dias na ciclovia do Rio Pinheiros e busca contribuir para que as pessoas com deficiência tenham mais acesso ao esporte. Aranha também busca difundir informações para as pessoas que desconhecem a poliomielite. “Vi sequelas da doença de todos os tipos. Por isso, sou completamente favorável à vacinação. Não ser imunizado, ou não levar o filho para ser vacinado, é um risco desnecessário”, reitera.

Uma vida de aprendizados

Nome: Marcia Aparecida Marinho

Idade: 47 anos

Profissão: dona de casa

“Não desejo para ninguém o que passei e o que passo”, afirma Marcia Aparecida Marinho. “Por isso, não deixe seu filho sem tomar a vacina. A decisão [de não imunizar a criança] deixará uma marca na família toda e principalmente em seu filho.”

A sequela da poliomielite veio quando estava com um ano de idade. E ainda muito criança, a dona de casa perdeu o movimento dos membros inferiores. Na época, moradora de Teófilo Otoni, interior de Minas, o acesso à vacina não era fácil.

A rotina era pesada. A mãe não tinha condições de carregar Marcia e o irmão mais novo sempre no colo. Só conseguiu estudar até a quarta série do atual ensino fundamental. “Minha mãe não tinha condições de me levar para a escola. Por isso, toda a vez que eu conseguia ir, aproveitava o máximo que podia, pois sabia que poderia ser meu último dia ali”, relata. As idas à fisioterapia eram de bicicleta, com um tio, porque ela não tinha uma cadeira de rodas. Depois de um tombo feio, em que machucou o rosto, Marcia parou de frequentar as sessões.

Já adulta, aos 31 anos, veio a decisão de morar com a irmã em São Paulo. Na capital paulista, se casou e criou quatro sobrinhos.

Hoje, também avó de quatro netos, Marcia afirma que conseguiu compreender melhor a deficiência. “Eu passei minha infância, adolescência e uma parte da vida adulta muito triste, sempre questionando o motivo de ter contraído essa doença. Agora, tendo mais acesso e oportunidade, pude entender que posso ser mais independente”, comemora.

Muitas sequelas, dificuldades desde a infância e um mundo de preconceitos para ser enfrentado. 

Integração na escola foi fundamental

Nome: Eliane Ranieri

Idade: 63 anos

Profissão: consultora especialista em Diversidade e Inclusão

Aos seis meses de vida, em 1959, Eliane Ranieri recebeu o diagnóstico de poliomielite severa. Tetraplégica, e com os pulmões quase parando, passou anos em processo de reabilitação. O tratamento da doença era algo novo e a então menina, sempre amparada pelos pais, conseguiu uma vaga na Santa Casa de São Paulo, cidade onde nasceu. Mais precisamente no chamado Pavilhão Fernandinho, dedicado à ortopedia.

“Desde que a doença me acometeu até a adolescência, foram diversas cirurgias ortopédicas corretivas. Fazia uma, me recuperava, os médicos observavam o resultado, e aí eu passava por outro procedimento. Às vezes, ficava o ano inteiro nesse processo. Fui evoluindo e retomei o movimento dos braços, do tronco, mas do quadril para baixo não consegui e passei a usar aparelhos ortopédicos e muletas”, relata Eliane.

Os anos iniciais do período escolar – em um tempo em que o assunto ainda era cercado de tabus – foram em casa, com professores particulares. Quando a situação mudou um pouco, os pais de Eliane, incentivados por alguns educadores, a colocaram na escola. “E foi ótimo! Muito do que eu sou hoje é resultado disso, de ter vivido com outras crianças, me integrando.” Mas, na mesma época, Eliane começou a descobrir o significado do termo exclusão. “Quando as crianças brincavam, era sempre algo que envolvia correr, dançar, entre outras coisas que não podia fazer. Ficava só olhando.”

A maturidade chegou rápido, porque durante a adolescência a diferença física entre ela e as amigas ficou mais evidente. “Para a mulher, principalmente, isso é muito doído e o corpo vai se deformando.” O apoio da família e dos amigos foi essencial. Anos mais tarde, a Faculdade de Letras e o mercado de trabalho, como call center em uma multinacional.

Na época, com pouco mais de 20 anos, Eliane sonhava em morar sozinha e viajar pelo mundo. “Desde criança sabia que o meu avanço seria mais demorado e eu aprendi a respeitar e a ter paciência.”

Os sonhos viraram realidade. “Acabei indo morar sozinha, em Campinas (interior de São Paulo), e as coisas foram acontecendo. Eu me casei, tenho minha casa totalmente adaptada e consegui viajar para muitos lugares”, comemora.

Hoje, com 63 anos, a linguista presta consultoria no Grupo Talento Incluir, que tem como intuito ajudar pessoas com deficiência a entrar no mercado de trabalho. “Eu passei, e passo, por todas essas dificuldades. Por isso, defendo a vacinação. O importante disso tudo é ter clareza que a doença existe, e que não ser vacinado não é uma opção, porque as consequências são graves e vão deixar marcas muito difíceis para a família, para a pessoa e para a sociedade de maneira geral, já que ainda temos um longo caminho a perseguir para incluir de forma concreta esses cidadãos. Portanto, sempre que alguém diz que a vacina é perigosa, eu respondo que, para mim, perigoso é não tomar (o imunizante)”, alerta.

Do internato aos jogos paralímpicos do Rio

Nome: Fernando Aranha

Idade: 44 anos

Profissão: atleta paralímpico

Como a mãe não teve condições de criá-lo, Fernando Aranha acabou separado da família logo na infância junto com os irmãos. Por isso, não se sabe ao certo quando a pólio gerou os primeiros sintomas, mas foi entre 2 e 4 anos de idade. “Fui o único que desenvolvi a paralisia infantil. Passei por alguns internatos, até que, com 8 anos, fui transferido para um local em Cotia (município de São Paulo), onde estou até hoje.”

O ambiente na casa de acolhimento, onde muitos tinham algum grau de deficiência, ajudou na socialização. O local, portanto, poderia ser considerado seguro, o que fez de Fernando uma criança ativa. “Se me machucasse, por exemplo, tinha quem pudesse cuidar de mim. O lugar dava essa liberdade para as crianças. Tive toda a oportunidade de experimentar as partes do meu corpo, e assim entender o que era possível fazer, e o que eu não conseguia”, afirma.

O hoje atleta teve o primeiro contato oficial com um esporte entre os 16 e 17 anos. “Um ex-interno apareceu dizendo que tinha esporte para pessoas com deficiência na região do Parque do Ibirapuera (na zona sul de São Paulo). E, para poder ir junto, fui ajudando outra pessoa, que usava cadeira de rodas. Eu saía escondido dos padres, porque era menor de idade.”

Primeiro o basquete. O destaque veio rápido e Aranha passou a viajar pelo Brasil e ao exterior para participar de campeonatos. Depois, o atletismo também chamou atenção do jovem. “Comecei a fazer várias corridas de rua. Fui campeão das maratonas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Nova York e de Chicago. Ganhei ainda a corrida de São Silvestre. Tudo isso mantendo um calendário que se dividia entre trabalho, treinos e faculdade”, diz o atleta.

O salto, em 2016, foi ainda maior. Na paralimpíada do Rio de Janeiro, o sétimo lugar no paratriathlon.

Aos 44 anos, Aranha treina hoje todos os dias na ciclovia do Rio Pinheiros e busca contribuir para que as pessoas com deficiência tenham mais acesso ao esporte. Aranha também busca difundir informações para as pessoas que desconhecem a poliomielite. “Vi sequelas da doença de todos os tipos. Por isso, sou completamente favorável à vacinação. Não ser imunizado, ou não levar o filho para ser vacinado, é um risco desnecessário”, reitera.

Uma vida de aprendizados

Nome: Marcia Aparecida Marinho

Idade: 47 anos

Profissão: dona de casa

“Não desejo para ninguém o que passei e o que passo”, afirma Marcia Aparecida Marinho. “Por isso, não deixe seu filho sem tomar a vacina. A decisão [de não imunizar a criança] deixará uma marca na família toda e principalmente em seu filho.”

A sequela da poliomielite veio quando estava com um ano de idade. E ainda muito criança, a dona de casa perdeu o movimento dos membros inferiores. Na época, moradora de Teófilo Otoni, interior de Minas, o acesso à vacina não era fácil.

A rotina era pesada. A mãe não tinha condições de carregar Marcia e o irmão mais novo sempre no colo. Só conseguiu estudar até a quarta série do atual ensino fundamental. “Minha mãe não tinha condições de me levar para a escola. Por isso, toda a vez que eu conseguia ir, aproveitava o máximo que podia, pois sabia que poderia ser meu último dia ali”, relata. As idas à fisioterapia eram de bicicleta, com um tio, porque ela não tinha uma cadeira de rodas. Depois de um tombo feio, em que machucou o rosto, Marcia parou de frequentar as sessões.

Já adulta, aos 31 anos, veio a decisão de morar com a irmã em São Paulo. Na capital paulista, se casou e criou quatro sobrinhos.

Hoje, também avó de quatro netos, Marcia afirma que conseguiu compreender melhor a deficiência. “Eu passei minha infância, adolescência e uma parte da vida adulta muito triste, sempre questionando o motivo de ter contraído essa doença. Agora, tendo mais acesso e oportunidade, pude entender que posso ser mais independente”, comemora.

Muitas sequelas, dificuldades desde a infância e um mundo de preconceitos para ser enfrentado. 

Integração na escola foi fundamental

Nome: Eliane Ranieri

Idade: 63 anos

Profissão: consultora especialista em Diversidade e Inclusão

Aos seis meses de vida, em 1959, Eliane Ranieri recebeu o diagnóstico de poliomielite severa. Tetraplégica, e com os pulmões quase parando, passou anos em processo de reabilitação. O tratamento da doença era algo novo e a então menina, sempre amparada pelos pais, conseguiu uma vaga na Santa Casa de São Paulo, cidade onde nasceu. Mais precisamente no chamado Pavilhão Fernandinho, dedicado à ortopedia.

“Desde que a doença me acometeu até a adolescência, foram diversas cirurgias ortopédicas corretivas. Fazia uma, me recuperava, os médicos observavam o resultado, e aí eu passava por outro procedimento. Às vezes, ficava o ano inteiro nesse processo. Fui evoluindo e retomei o movimento dos braços, do tronco, mas do quadril para baixo não consegui e passei a usar aparelhos ortopédicos e muletas”, relata Eliane.

Os anos iniciais do período escolar – em um tempo em que o assunto ainda era cercado de tabus – foram em casa, com professores particulares. Quando a situação mudou um pouco, os pais de Eliane, incentivados por alguns educadores, a colocaram na escola. “E foi ótimo! Muito do que eu sou hoje é resultado disso, de ter vivido com outras crianças, me integrando.” Mas, na mesma época, Eliane começou a descobrir o significado do termo exclusão. “Quando as crianças brincavam, era sempre algo que envolvia correr, dançar, entre outras coisas que não podia fazer. Ficava só olhando.”

A maturidade chegou rápido, porque durante a adolescência a diferença física entre ela e as amigas ficou mais evidente. “Para a mulher, principalmente, isso é muito doído e o corpo vai se deformando.” O apoio da família e dos amigos foi essencial. Anos mais tarde, a Faculdade de Letras e o mercado de trabalho, como call center em uma multinacional.

Na época, com pouco mais de 20 anos, Eliane sonhava em morar sozinha e viajar pelo mundo. “Desde criança sabia que o meu avanço seria mais demorado e eu aprendi a respeitar e a ter paciência.”

Os sonhos viraram realidade. “Acabei indo morar sozinha, em Campinas (interior de São Paulo), e as coisas foram acontecendo. Eu me casei, tenho minha casa totalmente adaptada e consegui viajar para muitos lugares”, comemora.

Hoje, com 63 anos, a linguista presta consultoria no Grupo Talento Incluir, que tem como intuito ajudar pessoas com deficiência a entrar no mercado de trabalho. “Eu passei, e passo, por todas essas dificuldades. Por isso, defendo a vacinação. O importante disso tudo é ter clareza que a doença existe, e que não ser vacinado não é uma opção, porque as consequências são graves e vão deixar marcas muito difíceis para a família, para a pessoa e para a sociedade de maneira geral, já que ainda temos um longo caminho a perseguir para incluir de forma concreta esses cidadãos. Portanto, sempre que alguém diz que a vacina é perigosa, eu respondo que, para mim, perigoso é não tomar (o imunizante)”, alerta.

Do internato aos jogos paralímpicos do Rio

Nome: Fernando Aranha

Idade: 44 anos

Profissão: atleta paralímpico

Como a mãe não teve condições de criá-lo, Fernando Aranha acabou separado da família logo na infância junto com os irmãos. Por isso, não se sabe ao certo quando a pólio gerou os primeiros sintomas, mas foi entre 2 e 4 anos de idade. “Fui o único que desenvolvi a paralisia infantil. Passei por alguns internatos, até que, com 8 anos, fui transferido para um local em Cotia (município de São Paulo), onde estou até hoje.”

O ambiente na casa de acolhimento, onde muitos tinham algum grau de deficiência, ajudou na socialização. O local, portanto, poderia ser considerado seguro, o que fez de Fernando uma criança ativa. “Se me machucasse, por exemplo, tinha quem pudesse cuidar de mim. O lugar dava essa liberdade para as crianças. Tive toda a oportunidade de experimentar as partes do meu corpo, e assim entender o que era possível fazer, e o que eu não conseguia”, afirma.

O hoje atleta teve o primeiro contato oficial com um esporte entre os 16 e 17 anos. “Um ex-interno apareceu dizendo que tinha esporte para pessoas com deficiência na região do Parque do Ibirapuera (na zona sul de São Paulo). E, para poder ir junto, fui ajudando outra pessoa, que usava cadeira de rodas. Eu saía escondido dos padres, porque era menor de idade.”

Primeiro o basquete. O destaque veio rápido e Aranha passou a viajar pelo Brasil e ao exterior para participar de campeonatos. Depois, o atletismo também chamou atenção do jovem. “Comecei a fazer várias corridas de rua. Fui campeão das maratonas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Nova York e de Chicago. Ganhei ainda a corrida de São Silvestre. Tudo isso mantendo um calendário que se dividia entre trabalho, treinos e faculdade”, diz o atleta.

O salto, em 2016, foi ainda maior. Na paralimpíada do Rio de Janeiro, o sétimo lugar no paratriathlon.

Aos 44 anos, Aranha treina hoje todos os dias na ciclovia do Rio Pinheiros e busca contribuir para que as pessoas com deficiência tenham mais acesso ao esporte. Aranha também busca difundir informações para as pessoas que desconhecem a poliomielite. “Vi sequelas da doença de todos os tipos. Por isso, sou completamente favorável à vacinação. Não ser imunizado, ou não levar o filho para ser vacinado, é um risco desnecessário”, reitera.

Uma vida de aprendizados

Nome: Marcia Aparecida Marinho

Idade: 47 anos

Profissão: dona de casa

“Não desejo para ninguém o que passei e o que passo”, afirma Marcia Aparecida Marinho. “Por isso, não deixe seu filho sem tomar a vacina. A decisão [de não imunizar a criança] deixará uma marca na família toda e principalmente em seu filho.”

A sequela da poliomielite veio quando estava com um ano de idade. E ainda muito criança, a dona de casa perdeu o movimento dos membros inferiores. Na época, moradora de Teófilo Otoni, interior de Minas, o acesso à vacina não era fácil.

A rotina era pesada. A mãe não tinha condições de carregar Marcia e o irmão mais novo sempre no colo. Só conseguiu estudar até a quarta série do atual ensino fundamental. “Minha mãe não tinha condições de me levar para a escola. Por isso, toda a vez que eu conseguia ir, aproveitava o máximo que podia, pois sabia que poderia ser meu último dia ali”, relata. As idas à fisioterapia eram de bicicleta, com um tio, porque ela não tinha uma cadeira de rodas. Depois de um tombo feio, em que machucou o rosto, Marcia parou de frequentar as sessões.

Já adulta, aos 31 anos, veio a decisão de morar com a irmã em São Paulo. Na capital paulista, se casou e criou quatro sobrinhos.

Hoje, também avó de quatro netos, Marcia afirma que conseguiu compreender melhor a deficiência. “Eu passei minha infância, adolescência e uma parte da vida adulta muito triste, sempre questionando o motivo de ter contraído essa doença. Agora, tendo mais acesso e oportunidade, pude entender que posso ser mais independente”, comemora.

Muitas sequelas, dificuldades desde a infância e um mundo de preconceitos para ser enfrentado. 

Integração na escola foi fundamental

Nome: Eliane Ranieri

Idade: 63 anos

Profissão: consultora especialista em Diversidade e Inclusão

Aos seis meses de vida, em 1959, Eliane Ranieri recebeu o diagnóstico de poliomielite severa. Tetraplégica, e com os pulmões quase parando, passou anos em processo de reabilitação. O tratamento da doença era algo novo e a então menina, sempre amparada pelos pais, conseguiu uma vaga na Santa Casa de São Paulo, cidade onde nasceu. Mais precisamente no chamado Pavilhão Fernandinho, dedicado à ortopedia.

“Desde que a doença me acometeu até a adolescência, foram diversas cirurgias ortopédicas corretivas. Fazia uma, me recuperava, os médicos observavam o resultado, e aí eu passava por outro procedimento. Às vezes, ficava o ano inteiro nesse processo. Fui evoluindo e retomei o movimento dos braços, do tronco, mas do quadril para baixo não consegui e passei a usar aparelhos ortopédicos e muletas”, relata Eliane.

Os anos iniciais do período escolar – em um tempo em que o assunto ainda era cercado de tabus – foram em casa, com professores particulares. Quando a situação mudou um pouco, os pais de Eliane, incentivados por alguns educadores, a colocaram na escola. “E foi ótimo! Muito do que eu sou hoje é resultado disso, de ter vivido com outras crianças, me integrando.” Mas, na mesma época, Eliane começou a descobrir o significado do termo exclusão. “Quando as crianças brincavam, era sempre algo que envolvia correr, dançar, entre outras coisas que não podia fazer. Ficava só olhando.”

A maturidade chegou rápido, porque durante a adolescência a diferença física entre ela e as amigas ficou mais evidente. “Para a mulher, principalmente, isso é muito doído e o corpo vai se deformando.” O apoio da família e dos amigos foi essencial. Anos mais tarde, a Faculdade de Letras e o mercado de trabalho, como call center em uma multinacional.

Na época, com pouco mais de 20 anos, Eliane sonhava em morar sozinha e viajar pelo mundo. “Desde criança sabia que o meu avanço seria mais demorado e eu aprendi a respeitar e a ter paciência.”

Os sonhos viraram realidade. “Acabei indo morar sozinha, em Campinas (interior de São Paulo), e as coisas foram acontecendo. Eu me casei, tenho minha casa totalmente adaptada e consegui viajar para muitos lugares”, comemora.

Hoje, com 63 anos, a linguista presta consultoria no Grupo Talento Incluir, que tem como intuito ajudar pessoas com deficiência a entrar no mercado de trabalho. “Eu passei, e passo, por todas essas dificuldades. Por isso, defendo a vacinação. O importante disso tudo é ter clareza que a doença existe, e que não ser vacinado não é uma opção, porque as consequências são graves e vão deixar marcas muito difíceis para a família, para a pessoa e para a sociedade de maneira geral, já que ainda temos um longo caminho a perseguir para incluir de forma concreta esses cidadãos. Portanto, sempre que alguém diz que a vacina é perigosa, eu respondo que, para mim, perigoso é não tomar (o imunizante)”, alerta.

Do internato aos jogos paralímpicos do Rio

Nome: Fernando Aranha

Idade: 44 anos

Profissão: atleta paralímpico

Como a mãe não teve condições de criá-lo, Fernando Aranha acabou separado da família logo na infância junto com os irmãos. Por isso, não se sabe ao certo quando a pólio gerou os primeiros sintomas, mas foi entre 2 e 4 anos de idade. “Fui o único que desenvolvi a paralisia infantil. Passei por alguns internatos, até que, com 8 anos, fui transferido para um local em Cotia (município de São Paulo), onde estou até hoje.”

O ambiente na casa de acolhimento, onde muitos tinham algum grau de deficiência, ajudou na socialização. O local, portanto, poderia ser considerado seguro, o que fez de Fernando uma criança ativa. “Se me machucasse, por exemplo, tinha quem pudesse cuidar de mim. O lugar dava essa liberdade para as crianças. Tive toda a oportunidade de experimentar as partes do meu corpo, e assim entender o que era possível fazer, e o que eu não conseguia”, afirma.

O hoje atleta teve o primeiro contato oficial com um esporte entre os 16 e 17 anos. “Um ex-interno apareceu dizendo que tinha esporte para pessoas com deficiência na região do Parque do Ibirapuera (na zona sul de São Paulo). E, para poder ir junto, fui ajudando outra pessoa, que usava cadeira de rodas. Eu saía escondido dos padres, porque era menor de idade.”

Primeiro o basquete. O destaque veio rápido e Aranha passou a viajar pelo Brasil e ao exterior para participar de campeonatos. Depois, o atletismo também chamou atenção do jovem. “Comecei a fazer várias corridas de rua. Fui campeão das maratonas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Nova York e de Chicago. Ganhei ainda a corrida de São Silvestre. Tudo isso mantendo um calendário que se dividia entre trabalho, treinos e faculdade”, diz o atleta.

O salto, em 2016, foi ainda maior. Na paralimpíada do Rio de Janeiro, o sétimo lugar no paratriathlon.

Aos 44 anos, Aranha treina hoje todos os dias na ciclovia do Rio Pinheiros e busca contribuir para que as pessoas com deficiência tenham mais acesso ao esporte. Aranha também busca difundir informações para as pessoas que desconhecem a poliomielite. “Vi sequelas da doença de todos os tipos. Por isso, sou completamente favorável à vacinação. Não ser imunizado, ou não levar o filho para ser vacinado, é um risco desnecessário”, reitera.

Uma vida de aprendizados

Nome: Marcia Aparecida Marinho

Idade: 47 anos

Profissão: dona de casa

“Não desejo para ninguém o que passei e o que passo”, afirma Marcia Aparecida Marinho. “Por isso, não deixe seu filho sem tomar a vacina. A decisão [de não imunizar a criança] deixará uma marca na família toda e principalmente em seu filho.”

A sequela da poliomielite veio quando estava com um ano de idade. E ainda muito criança, a dona de casa perdeu o movimento dos membros inferiores. Na época, moradora de Teófilo Otoni, interior de Minas, o acesso à vacina não era fácil.

A rotina era pesada. A mãe não tinha condições de carregar Marcia e o irmão mais novo sempre no colo. Só conseguiu estudar até a quarta série do atual ensino fundamental. “Minha mãe não tinha condições de me levar para a escola. Por isso, toda a vez que eu conseguia ir, aproveitava o máximo que podia, pois sabia que poderia ser meu último dia ali”, relata. As idas à fisioterapia eram de bicicleta, com um tio, porque ela não tinha uma cadeira de rodas. Depois de um tombo feio, em que machucou o rosto, Marcia parou de frequentar as sessões.

Já adulta, aos 31 anos, veio a decisão de morar com a irmã em São Paulo. Na capital paulista, se casou e criou quatro sobrinhos.

Hoje, também avó de quatro netos, Marcia afirma que conseguiu compreender melhor a deficiência. “Eu passei minha infância, adolescência e uma parte da vida adulta muito triste, sempre questionando o motivo de ter contraído essa doença. Agora, tendo mais acesso e oportunidade, pude entender que posso ser mais independente”, comemora.

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