Pacientes com asma grave costumam estar bastante familiarizados com uma lista extensa de medicamentos. Além do tratamento comum para a doença, vem junto toda a medicação para amenizar os efeitos colaterais, principalmente advindos do uso sistêmico de corticoides. “O corticoide é um medicamento que atua sim na cascata inflamatória da asma, só que pode ter uma série de eventos adversos associados a seu uso”, afirma João Carlos Elias Rio, gerente médico na GSK.
Entre esses efeitos colaterais podem estar hipertensão, diabete tipo 2, osteoporose, glaucoma, catarata, entre outros. E o risco já aumenta em pessoas que usam os corticoides orais durante cinco dias, três vezes por ano, afirma João Rio. Portanto, muitos pacientes com asma grave, que representam cerca de 5 a 10% dos aproximadamente 20 milhões de acometidos pela doença no Brasil, podem se beneficiar de tratamentos mais modernos que ajudam a reduzir ou até a evitar o uso de corticoides sistêmicos, alerta o médico.
O especialista lembra ainda que já há modelos de gestão que dão conta desse problema. No Espírito Santo, por exemplo, é disponibilizada - no sistema público - a terapia imunobiológica, que reduz o uso de corticoides e as internações e visitas à emergência. “É um modelo que poderia ser aplicado no País inteiro, levando em conta o mesmo racional”, afirma.
E não são apenas os pacientes que saem ganhando com a oferta de novas terapias. O sistema público também se beneficia ao evitar os chamados “custos invisíveis” do tratamento com corticoides. Norma Rubini, coordenadora da Comissão de Políticas de Saúde da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), explica que esses gastos deveriam ser levados em conta na aprovação de terapias mais modernas - e consequentemente mais caras. Além disso, há gastos públicos que extrapolam o sistema de saúde: aposentadorias precoces, faltas no trabalho, entre outros.
Norma Rubini, Coordenadora da Comissão de Políticas de Saúde da Asbai
Para garantir um modelo nacional eficaz, Rubini e Rio são unânimes em afirmar que o primeiro passo é uma melhor gestão e integração dos dados sobre os pacientes. Por isso, entidades médicas, pacientes e organizações civis lutam pela incorporação de medicamentos mais modernos para a asma grave na saúde pública e no rol dos planos de saúde.
No sistema privado, ainda estão em andamento as solicitações de incorporação de três substâncias para o tratamento de asma grave. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é o órgão que analisa as solicitações para inclusão de novos medicamentos no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde com cobertura obrigatória pelos planos. Para isso, faz “a análise de evidências científicas relativas à eficácia, à efetividade, à acurácia e à segurança da tecnologia, avaliação econômica e de impacto orçamentário, disponibilidade de rede prestadora, bem como a aprovação pelos conselhos profissionais quanto ao uso da tecnologia, dentre outros, de uma maneira robusta, imparcial, transparente e sistemática, de forma a permitir a tomada de decisão para incorporação ou não da tecnologia ao Rol”, informa a ANS. As análises técnicas de medicamentos propostos para o tratamento da asma grave devem ser feitas ainda no primeiro semestre de 2020, de acordo com o cronograma.
A ANS destaca, ainda, que uma resolução de 2018 ampliou a participação popular na inclusão de medicamentos ao Rol. Agora, é possível que qualquer pessoa encaminhe uma proposta de atualização. Por isso, a participação dos pacientes é essencial, mas sempre com a atenção do poder público, defende Antoine Daher, presidente da casa Hunter, instituição sem fins lucrativos que tem como objetivo garantir soluções públicas e sensibilidade do setor privado e sociedade em geral para os portadores de doenças raras. “As secretarias e o Ministério da Saúde têm que trabalhar junto com a sociedade civil organizada, com a sociedade médica, para entender mais sobre esses tratamentos e atender de uma forma rápida”, afirma.
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