Adoçante faz mal? Produto está associado a maior risco de ataque cardíaco, diz estudo


Observando mais de 4 mil pessoas, pesquisadores descobriram que aquelas que tinham níveis mais altos de eritritol no sangue tinham maior chance de sofrer eventos cardíacos adversos

Por Kelsey Ables
Atualização:

O popular adoçante artificial eritritol, que é usado como substituto do açúcar em muitos produtos cetogênicos, de baixa caloria e baixo teor de carboidratos, tem sido associado a um risco aumentado de ataque cardíaco, derrame e morte, de acordo com um estudo publicado na Nature Medicine.

Observando mais de 4 mil pessoas nos Estados Unidos e na Europa que estavam passando por avaliação cardíaca eletiva, os pesquisadores da Cleveland Clinic descobriram que aquelas que tinham níveis mais altos de eritritol no sangue tinham maior chance de sofrer eventos cardíacos adversos. Em estudos pré-clínicos, eles também encontraram evidências de que a ingestão de eritritol aumentava a formação de coágulos sanguíneos.

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Os pesquisadores alertam que são necessários mais estudos e que os participantes tinham uma alta prevalência de doenças cardiovasculares, portanto, a “extrapolação” dos resultados para a população em geral ainda precisa ser determinada.

Mesmo assim, os resultados são um desafio significativo para o marketing de produtos que apresentam o eritritol como uma alternativa saudável e natural ao açúcar. E as descobertas chegam em um momento em que o eritritol está em voga, com tendências de dieta à base de plantas, cetogênica e com baixo teor de carboidratos estimulando o interesse por adoçantes alternativos vendidos como “naturais”.

De acordo com relatórios de 2022 da empresa de pesquisa NielsenIQ, o crescimento das vendas de produtos com eritritol cresceu 43% em dois anos, e os produtos que afirmam conter “adoçantes naturais” cresceram 91%. Produtos “sem açúcar” com eritritol muitas vezes são recomendados para indivíduos com obesidade, diabetes ou síndrome metabólica – que já correm o risco de problemas de saúde cardiovascular, observam os autores do artigo.

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Os resultados são um desafio significativo para o marketing de produtos que apresentam o eritritol como uma alternativa saudável e natural ao açúcar Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão - 08-01-2019

Em uma declaração sobre o estudo, Stanley Hazen, cardiologista da Cleveland Clinic, pediu mais pesquisas sobre adoçantes alternativos. “As doenças cardiovasculares aumentam com o tempo, e as doenças cardíacas são a principal causa de morte no mundo”, disse ele. “Precisamos garantir que os alimentos que ingerimos não estejam contribuindo para esse risco de maneira oculta.”

Hazen escreveu em e-mail que sua equipe não pretendia estudar adoçantes artificiais, mas procurava encontrar substâncias químicas no sangue que identificassem “quem estava em risco de ataque cardíaco, derrame ou morte nos próximos três anos”. O composto que previu isso “acabou sendo o eritritol”. Sua equipe então desenvolveu um teste específico, testou independentemente suas hipóteses e replicou as descobertas.

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Álcool de açúcar encontrado em pequenas quantidades em frutas e vegetais, o eritritol é pouco metabolizado, excretado quase inteiramente na urina e caracterizado como um adoçante de “zero caloria”. Muitos alimentos que afirmam ter sabor natural, como granola e biscoitos cetogênicos, contêm eritritol. Mas, quando adicionada artificialmente a alimentos processados, a substância aparece em níveis “mil vezes superiores aos níveis endógenos”, escreveram os pesquisadores.

Greg Neely, professor de genômica funcional da Universidade de Sydney, que estudou adoçantes artificiais, disse que muitos rótulos “naturais” equivalem a “marketing enganoso”, observando que as pessoas partem do pressuposto de que, “se tem na natureza, provavelmente não faz mal”.

Neely disse que o estudo da Cleveland Clinic é “extremamente importante e provavelmente desencadeará mudanças imediatas no que consumimos”, enfatizando que os pesquisadores começaram “sem nenhum objetivo específico”. O estudo destaca que “não entendemos completamente quais são as consequências dos alimentos industrializados para a saúde, e só porque algo é vendido como ‘natural’ não significa que seja seguro ou bom para nós consumirmos em escala industrial”.

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Só porque algo é vendido como ‘natural’ não significa que seja seguro ou bom para nós consumirmos em escala industrial

Greg Neely, professor de genômica funcional da Universidade de Sydney

Os méritos e deficiências de adoçantes alternativos, como aspartame, sucralose, estévia e sacarina, são debatidos há anos. Muitas vezes apresentados como um atalho para perda de peso que oferecem o sabor doce de alimentos com alto teor de açúcar sem as consequências para a saúde, esses adoçantes têm sido associados a um maior consumo de calorias e níveis mais elevados de açúcar no sangue. Um estudo de 2019 sugeriu que beber refrigerantes adoçados artificialmente estava associado ao aumento de mortes por doenças circulatórias.

Mas alguns argumentam que tais associações são produto do estilo de vida das pessoas que consomem esses adoçantes, não dos adoçantes em si. E apesar de décadas de estudos sobre a segurança dos substitutos do açúcar, grande parte da pesquisa é inconclusiva.

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Ainda assim, Neely disse que tenta evitar adoçantes artificiais “quando possível”.

A incidência de condições como obesidade e diabetes está aumentando a uma taxa “muito mais rápida do que se fosse apenas genética”, disse Neely. “Portanto, sabemos que nosso ambiente está causando essas doenças de alguma forma, e a industrialização de nossos alimentos é um componente crítico que precisamos considerar”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

O popular adoçante artificial eritritol, que é usado como substituto do açúcar em muitos produtos cetogênicos, de baixa caloria e baixo teor de carboidratos, tem sido associado a um risco aumentado de ataque cardíaco, derrame e morte, de acordo com um estudo publicado na Nature Medicine.

Observando mais de 4 mil pessoas nos Estados Unidos e na Europa que estavam passando por avaliação cardíaca eletiva, os pesquisadores da Cleveland Clinic descobriram que aquelas que tinham níveis mais altos de eritritol no sangue tinham maior chance de sofrer eventos cardíacos adversos. Em estudos pré-clínicos, eles também encontraram evidências de que a ingestão de eritritol aumentava a formação de coágulos sanguíneos.

Os pesquisadores alertam que são necessários mais estudos e que os participantes tinham uma alta prevalência de doenças cardiovasculares, portanto, a “extrapolação” dos resultados para a população em geral ainda precisa ser determinada.

Mesmo assim, os resultados são um desafio significativo para o marketing de produtos que apresentam o eritritol como uma alternativa saudável e natural ao açúcar. E as descobertas chegam em um momento em que o eritritol está em voga, com tendências de dieta à base de plantas, cetogênica e com baixo teor de carboidratos estimulando o interesse por adoçantes alternativos vendidos como “naturais”.

De acordo com relatórios de 2022 da empresa de pesquisa NielsenIQ, o crescimento das vendas de produtos com eritritol cresceu 43% em dois anos, e os produtos que afirmam conter “adoçantes naturais” cresceram 91%. Produtos “sem açúcar” com eritritol muitas vezes são recomendados para indivíduos com obesidade, diabetes ou síndrome metabólica – que já correm o risco de problemas de saúde cardiovascular, observam os autores do artigo.

Os resultados são um desafio significativo para o marketing de produtos que apresentam o eritritol como uma alternativa saudável e natural ao açúcar Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão - 08-01-2019

Em uma declaração sobre o estudo, Stanley Hazen, cardiologista da Cleveland Clinic, pediu mais pesquisas sobre adoçantes alternativos. “As doenças cardiovasculares aumentam com o tempo, e as doenças cardíacas são a principal causa de morte no mundo”, disse ele. “Precisamos garantir que os alimentos que ingerimos não estejam contribuindo para esse risco de maneira oculta.”

Hazen escreveu em e-mail que sua equipe não pretendia estudar adoçantes artificiais, mas procurava encontrar substâncias químicas no sangue que identificassem “quem estava em risco de ataque cardíaco, derrame ou morte nos próximos três anos”. O composto que previu isso “acabou sendo o eritritol”. Sua equipe então desenvolveu um teste específico, testou independentemente suas hipóteses e replicou as descobertas.

Álcool de açúcar encontrado em pequenas quantidades em frutas e vegetais, o eritritol é pouco metabolizado, excretado quase inteiramente na urina e caracterizado como um adoçante de “zero caloria”. Muitos alimentos que afirmam ter sabor natural, como granola e biscoitos cetogênicos, contêm eritritol. Mas, quando adicionada artificialmente a alimentos processados, a substância aparece em níveis “mil vezes superiores aos níveis endógenos”, escreveram os pesquisadores.

Greg Neely, professor de genômica funcional da Universidade de Sydney, que estudou adoçantes artificiais, disse que muitos rótulos “naturais” equivalem a “marketing enganoso”, observando que as pessoas partem do pressuposto de que, “se tem na natureza, provavelmente não faz mal”.

Neely disse que o estudo da Cleveland Clinic é “extremamente importante e provavelmente desencadeará mudanças imediatas no que consumimos”, enfatizando que os pesquisadores começaram “sem nenhum objetivo específico”. O estudo destaca que “não entendemos completamente quais são as consequências dos alimentos industrializados para a saúde, e só porque algo é vendido como ‘natural’ não significa que seja seguro ou bom para nós consumirmos em escala industrial”.

Só porque algo é vendido como ‘natural’ não significa que seja seguro ou bom para nós consumirmos em escala industrial

Greg Neely, professor de genômica funcional da Universidade de Sydney

Os méritos e deficiências de adoçantes alternativos, como aspartame, sucralose, estévia e sacarina, são debatidos há anos. Muitas vezes apresentados como um atalho para perda de peso que oferecem o sabor doce de alimentos com alto teor de açúcar sem as consequências para a saúde, esses adoçantes têm sido associados a um maior consumo de calorias e níveis mais elevados de açúcar no sangue. Um estudo de 2019 sugeriu que beber refrigerantes adoçados artificialmente estava associado ao aumento de mortes por doenças circulatórias.

Mas alguns argumentam que tais associações são produto do estilo de vida das pessoas que consomem esses adoçantes, não dos adoçantes em si. E apesar de décadas de estudos sobre a segurança dos substitutos do açúcar, grande parte da pesquisa é inconclusiva.

Ainda assim, Neely disse que tenta evitar adoçantes artificiais “quando possível”.

A incidência de condições como obesidade e diabetes está aumentando a uma taxa “muito mais rápida do que se fosse apenas genética”, disse Neely. “Portanto, sabemos que nosso ambiente está causando essas doenças de alguma forma, e a industrialização de nossos alimentos é um componente crítico que precisamos considerar”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

O popular adoçante artificial eritritol, que é usado como substituto do açúcar em muitos produtos cetogênicos, de baixa caloria e baixo teor de carboidratos, tem sido associado a um risco aumentado de ataque cardíaco, derrame e morte, de acordo com um estudo publicado na Nature Medicine.

Observando mais de 4 mil pessoas nos Estados Unidos e na Europa que estavam passando por avaliação cardíaca eletiva, os pesquisadores da Cleveland Clinic descobriram que aquelas que tinham níveis mais altos de eritritol no sangue tinham maior chance de sofrer eventos cardíacos adversos. Em estudos pré-clínicos, eles também encontraram evidências de que a ingestão de eritritol aumentava a formação de coágulos sanguíneos.

Os pesquisadores alertam que são necessários mais estudos e que os participantes tinham uma alta prevalência de doenças cardiovasculares, portanto, a “extrapolação” dos resultados para a população em geral ainda precisa ser determinada.

Mesmo assim, os resultados são um desafio significativo para o marketing de produtos que apresentam o eritritol como uma alternativa saudável e natural ao açúcar. E as descobertas chegam em um momento em que o eritritol está em voga, com tendências de dieta à base de plantas, cetogênica e com baixo teor de carboidratos estimulando o interesse por adoçantes alternativos vendidos como “naturais”.

De acordo com relatórios de 2022 da empresa de pesquisa NielsenIQ, o crescimento das vendas de produtos com eritritol cresceu 43% em dois anos, e os produtos que afirmam conter “adoçantes naturais” cresceram 91%. Produtos “sem açúcar” com eritritol muitas vezes são recomendados para indivíduos com obesidade, diabetes ou síndrome metabólica – que já correm o risco de problemas de saúde cardiovascular, observam os autores do artigo.

Os resultados são um desafio significativo para o marketing de produtos que apresentam o eritritol como uma alternativa saudável e natural ao açúcar Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão - 08-01-2019

Em uma declaração sobre o estudo, Stanley Hazen, cardiologista da Cleveland Clinic, pediu mais pesquisas sobre adoçantes alternativos. “As doenças cardiovasculares aumentam com o tempo, e as doenças cardíacas são a principal causa de morte no mundo”, disse ele. “Precisamos garantir que os alimentos que ingerimos não estejam contribuindo para esse risco de maneira oculta.”

Hazen escreveu em e-mail que sua equipe não pretendia estudar adoçantes artificiais, mas procurava encontrar substâncias químicas no sangue que identificassem “quem estava em risco de ataque cardíaco, derrame ou morte nos próximos três anos”. O composto que previu isso “acabou sendo o eritritol”. Sua equipe então desenvolveu um teste específico, testou independentemente suas hipóteses e replicou as descobertas.

Álcool de açúcar encontrado em pequenas quantidades em frutas e vegetais, o eritritol é pouco metabolizado, excretado quase inteiramente na urina e caracterizado como um adoçante de “zero caloria”. Muitos alimentos que afirmam ter sabor natural, como granola e biscoitos cetogênicos, contêm eritritol. Mas, quando adicionada artificialmente a alimentos processados, a substância aparece em níveis “mil vezes superiores aos níveis endógenos”, escreveram os pesquisadores.

Greg Neely, professor de genômica funcional da Universidade de Sydney, que estudou adoçantes artificiais, disse que muitos rótulos “naturais” equivalem a “marketing enganoso”, observando que as pessoas partem do pressuposto de que, “se tem na natureza, provavelmente não faz mal”.

Neely disse que o estudo da Cleveland Clinic é “extremamente importante e provavelmente desencadeará mudanças imediatas no que consumimos”, enfatizando que os pesquisadores começaram “sem nenhum objetivo específico”. O estudo destaca que “não entendemos completamente quais são as consequências dos alimentos industrializados para a saúde, e só porque algo é vendido como ‘natural’ não significa que seja seguro ou bom para nós consumirmos em escala industrial”.

Só porque algo é vendido como ‘natural’ não significa que seja seguro ou bom para nós consumirmos em escala industrial

Greg Neely, professor de genômica funcional da Universidade de Sydney

Os méritos e deficiências de adoçantes alternativos, como aspartame, sucralose, estévia e sacarina, são debatidos há anos. Muitas vezes apresentados como um atalho para perda de peso que oferecem o sabor doce de alimentos com alto teor de açúcar sem as consequências para a saúde, esses adoçantes têm sido associados a um maior consumo de calorias e níveis mais elevados de açúcar no sangue. Um estudo de 2019 sugeriu que beber refrigerantes adoçados artificialmente estava associado ao aumento de mortes por doenças circulatórias.

Mas alguns argumentam que tais associações são produto do estilo de vida das pessoas que consomem esses adoçantes, não dos adoçantes em si. E apesar de décadas de estudos sobre a segurança dos substitutos do açúcar, grande parte da pesquisa é inconclusiva.

Ainda assim, Neely disse que tenta evitar adoçantes artificiais “quando possível”.

A incidência de condições como obesidade e diabetes está aumentando a uma taxa “muito mais rápida do que se fosse apenas genética”, disse Neely. “Portanto, sabemos que nosso ambiente está causando essas doenças de alguma forma, e a industrialização de nossos alimentos é um componente crítico que precisamos considerar”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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