Cientistas dos Estados Unidos implementaram um novo programa de saúde que fornece ferramentas para avaliar com precisão o risco de um paciente desenvolver Alzheimer ou outras condições neurológicas, informou a Escola de Medicina Miller da Universidade de Miami nesta semana. O programa Brain Health Platform consiste em uma série de exames médicos para determinar o risco de um paciente sofrer de demência.
A plataforma combina dois tipos de índices – resiliência (RI) e vulnerabilidade (VI) – e um sistema de codificação de números e símbolos (NSCT). A combinação dessas métricas ajuda a “triangular” o risco de um paciente desenvolver Alzheimer. “Havia uma necessidade de avaliar com precisão o risco de as pessoas desenvolverem algum tipo de demência ou Alzheimer”, diz o neurologista James E. Galvin, principal autor de um artigo publicado recentemente no Journal of Alzheimer’s Disease.
“Nada parecido com isso foi feito antes”, afirmou Galvin, diretor do Center for Comprehensive Brain Health da Universidade de Miami, referindo-se à nova plataforma de pesquisa. O cientista explica no estudo que, ao combinar “resiliência”, que mede a saúde do cérebro, vulnerabilidade, que quantifica a “falta de saúde” do cérebro, e o NSCT, relacionado à “tomada de decisões e resolução de problemas”, é possível “estratificar o risco alto, baixo ou intermediário” de uma pessoa desenvolver Alzheimer.
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O programa é projetado para tirar “um instantâneo da saúde do cérebro de um paciente naquele momento”, graças ao uso das métricas mencionadas.
Assim como o índice RI concentra-se em fatores como atividade física, ingestão nutricional, atividades cognitivas e atenção, o índice IV inclui 12 fatores, incluindo gênero e histórico de doença cardíaca, diabetes e depressão.
Por sua vez, o NSCT é “um teste cognitivo simples que pode ser feito com lápis e papel ou em um computador”. Essas avaliações levam cerca de 20 minutos para o paciente concluir e podem ser feitas enquanto aguarda uma consulta, por exemplo.
O estudo da equipe de pesquisa, que inclui um bioestatístico da Florida Atlantic University (FAU), avaliou 230 participantes – 71 saudáveis, 71 com comprometimento cognitivo leve e 88 com diagnóstico de demência. Os cientistas descobriram que “os participantes com pontuações anormais na plataforma tinham uma probabilidade superior a 95% de sofrer uma deficiência”, uma descoberta que “poderia ajudar os médicos a fornecer cuidados precisos e planos de prevenção”.
A plataforma gera uma “visualização 3D” que traça as pontuações de um indivíduo em relação a todos os outros dados coletados anteriormente para “fornecer aos médicos uma compreensão gráfica da saúde cerebral de seus pacientes”, conclui o estudo.
Biomarcadores no sangue
Na Espanha, cientistas do centro de pesquisas espanhol Barcelonaßeta Brain Research Center (BBRC), da Fundação Pasqual Maragall, e do Hospital del Mar de Barcelona validaram nove biomarcadores para diagnosticar a doença de Alzheimer na prática clínica diária por meio de uma amostra de sangue.
O trabalho, do qual também participou a Universidade de Gotemburgo (Suécia), comparou pela primeira vez a validade desses nove biomarcadores de amostras de sangue de pacientes do Hospital del Mar com várias patologias neurológicas, nas quais se analisou a presença de nove variantes da proteína Tau.
Segundo explica o neurologista Marc Suárez-Calvet, alguns desses marcadores no sangue se mostraram tão úteis para detectar Alzheimer como os determinados com o teste de referência utilizado até agora: a análise do líquido cefalorraquidiano obtido por punção lombar. O neurologista destacou que a determinação de biomarcadores no plasma, menos invasiva que uma punção lombar, pode ser uma ferramenta para avançar no diagnóstico de Alzheimer e determinar quais pessoas devem passar por testes adicionais para confirmá-lo.
O trabalho, publicado na revista Alzheimer & Dementia, é, segundo os seus autores, um novo passo para dispor de ferramentas para o diagnóstico precoce da doença degenerativa.
Um dos destaques do estudo é que esses nove possíveis biomarcadores, todos variantes da proteína Tau, foram estudados ao mesmo tempo e com as mesmas amostras, em 197 pacientes com comprometimento cognitivo, não apenas
Alzheimer, acompanhados no Departamento de Neurologia do Hospital del Mar. “A conclusão é que realmente temos biomarcadores no sangue que podem ser muito úteis no diagnóstico de doença de Alzheimer na prática clínica diária, embora ainda não possa substituir o teste padrão, punção lombar e análise do líquido cefalorraquidiano”, admitiu Suárez-Calvet, chefe do Grupo de Fluidos e Biomarcadores do centro de pesquisas espanhol.
Estes resultados permitirão também “melhorar o diagnóstico dos doentes com problemas cognitivos e escolher melhor quais as pessoas devem se submeter ao teste de referência, que continua a ser a punção lombar”, salientou.
As amostras dos pacientes foram enviadas para a Universidade de Gotemburgo (Suécia), onde foram divididas para análise em diferentes laboratórios, que desconheciam a patologia de cada um deles, o que permitiu a obtenção de resultados comparáveis.
Em pessoas com Alzheimer, os dados foram comparados com os de suas amostras de líquido cefalorraquidiano obtidas por punção lombar, e confirmaram que algumas das medidas da proteína Tau no sangue eram capazes de detectar a doença com uma precisão próxima à punção lombar e, portanto, podem funcionar como um marcador diagnóstico, mesmo nas fases iniciais da doença. “Pela primeira vez, conseguimos realizar uma análise comparativa de todos esses biomarcadores no sangue ao mesmo tempo”, afirmou a pesquisadora do BBRC Marta Milà-Alomà.
O neurologista do Instituto de Pesquisas Médicas do Hospital del Mar (IMIM) Albert Puig-Pijoan reconheceu que este estudo não substituirá a punção lombar como teste padrão para o diagnóstico de Alzheimer. “A curto prazo, a punção lombar continuará a ser necessária, mas estes resultados abrem-nos a porta para aplicarmos este exame de sangue menos invasivo para melhor escolher quais os doentes que devem ser submetidos à punção lombar”, disse. “Pode ser ainda muito útil para diagnosticar doença de Alzheimer em pacientes para os quais não podemos realizar uma punção lombar ou outros testes de biomarcadores de acesso mais difícil”, explicou.
O chefe do Serviço de Neurologia do Hospital del Mar, Jaume Roquer, previu que eles estão “relativamente perto” de ter, em pessoas com comprometimento cognitivo demonstrado por uma avaliação neuropsicológica adequada, um biomarcador sanguíneo positivo que indica a possibilidade alta de Alzheimer. /EFE