À medida que os debates sobre saúde mental se ampliam, a discussão sobre a ansiedade também se aprofunda, levando a uma maior compreensão sobre os chamados “pressentimentos ruins”, as palpitações cardíacas e os episódios de suor excessivo. Apesar disso, nem todo mundo consegue identificar rapidamente uma crise de ansiedade nem sabe direito o que fazer ao enfrentar ou presenciar um episódio desse.
Conforme explica Gabriel Okuda, psiquiatra do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, a ansiedade é um sentimento natural do ser humano, assim como alegria, tristeza, felicidade e medo.
No entanto, é importante distinguir entre a ansiedade normal e a ansiedade patológica. A ansiedade normal faz parte da experiência humana e é comum senti-la em algum momento da vida ou dia a dia. Por outro lado, a ansiedade patológica ocorre quando esse sentimento começa a tomar proporções exageradas, impedindo-nos de realizar nossas atividades diárias e nos deixando presos ao sentimento ansioso.
Quais são os sintomas da ansiedade?
De acordo com Okuda, os sintomas da ansiedade se manifestam de forma tanto física quanto psíquica.
No aspecto psicológico, é comum observar preocupações excessivas, especialmente em relação ao futuro, gerando uma expectativa elevada e uma apreensão constante sobre eventos que estão por vir.
A dificuldade de concentração e a sensação de inquietude também são sintomas frequentes, acompanhados muitas vezes de irritabilidade. Além disso, há uma tendência a apresentar distúrbios do sono, já que os pensamentos constantes impedem o descanso pleno.
Os sintomas físicos, por sua vez, abrangem fadiga persistente, sensação de sufocamento, dor torácica, náusea, tontura, tensão muscular, tremores e sensação de peso no corpo. O especialista lembra ainda de quadros fóbicos, caracterizados por medos irracionais frente a determinadas situações, objetos ou eventos.
“Todos esses sinais podem vir acompanhados por medo intenso de perder o controle, enlouquecer ou até mesmo morrer, assim como a sensação de desrealização, onde a pessoa se sente imersa em uma irrealidade, como se estivesse vivendo em um mundo não real. Outro sinal é a despersonalização, caracterizada pela sensação de estar distante de si mesmo, como se estivesse flutuando e desconectado do próprio corpo”, descreve o especialista.
A ansiedade afeta quais partes do corpo?
A ansiedade pode afetar todas as partes do corpo, segundo Okuda. Indivíduos ansiosos e tensos em relação ao futuro podem experimentar dores de cabeça frequentes, além de manifestações gastrointestinais, como náuseas, vômitos, diarreia ou constipação.
Também é comum que a ansiedade afete a função pulmonar, levando a sensação de falta de ar em momentos de maior ansiedade, assim como alterações no sistema cardiovascular, representadas por palpitações e aumento da frequência cardíaca.
Além disso, a ansiedade pode influenciar a saúde da pele, resultando em dermatites, alergias ou até perda de pelos.
Como diferenciar a ansiedade de um infarto?
Diferenciar uma crise de ansiedade de um infarto pode ser uma tarefa difícil, pois os sintomas quase sempre são semelhantes. Ambas as situações podem provocar dor no peito, formigamento, falta de ar e mal-estar. No entanto, algumas orientações são importantes para uma distinção adequada.
Conforme destacado por Okuda, pacientes com um histórico de ansiedade conhecido, que já enfrentaram crises semelhantes anteriormente, tendem a ter mais facilidade para reconhecer e distinguir os sintomas. “Muitas vezes, esses indivíduos já têm à disposição medicamentos de apoio, como calmantes, que podem aliviar o desconforto”, ressalta o especialista.
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Por outro lado, para aqueles que nunca ou dificilmente enfrentam crises de ansiedade e começam a apresentar sintomas como dor no peito, formigamento e desconforto, é importante buscar ajuda médica. O recado é especialmente válido para quem não está vivendo uma situação complexa nem consegue identificar um episódio de estresse ou desconforto que possam ter motivado o quadro.
Quais são as causas da ansiedade?
Segundo Okuda, as crises de ansiedade são multifatoriais, o que significa que não é possível identificar uma única causa para o problema.
Ele destaca que a predisposição genética desempenha um papel significativo. Então, indivíduos que possuem histórico familiar de transtornos ou sintomas ansiosos apresentam maior propensão a desenvolver quadros ansiosos. Além disso, eventos traumáticos ou situações complexas na vida podem desencadear os episódios.
Doenças e condições pré-existentes também podem estar relacionadas ao quadro, como desequilíbrios neurológicos, a exemplo de redução de serotonina cerebral, assim como problemas de tireoide ou alterações no cortisol, conhecido como hormônio do estresse.
“O mais comum, contudo, é aquela ansiedade relacionada a problemas familiares e ao estresse ou à sobrecarga de trabalho. O contexto social é muito importante para que os quadros ansiosos piorem ou se desenvolvam com uma facilidade maior”, destaca o médico.
O que fazer durante uma crise?
Okuda destaca que o primeiro passo é se afastar da situação que desencadeou o problema, seja uma discussão, dificuldades no trabalho ou conflitos familiares – ou dar essa orientação à pessoa que está enfrentando a crise.
Em seguida, ele recomenda praticar exercícios respiratórios e meditação para acalmar a mente e o corpo. “Concentrar na respiração, realizando inspirações profundas e expirações lentas, pode promover um relaxamento muscular e ajudar a restabelecer a calma. Além disso, sugerimos que o paciente direcione sua atenção para lembranças ou situações que proporcionem tranquilidade, ajudando a desviar o foco da ansiedade intensa”, orienta o especialista.
Se essas técnicas não surtirem efeito, é importante buscar ajuda médica para avaliação e possível medicação, a fim de compreender melhor a situação e obter o suporte necessário.
Quais os principais mitos relacionados à ansiedade?
Segundo o especialista, há diversos mitos sobre a ansiedade que precisam ser quebrados. Um dos principais é a ideia de que os transtornos mentais são frescura ou algo insignificante. Outro mito é a ideia de que essa condição é transitória e pode desaparecer com o passar do tempo, quando, na verdade, ela pode piorar se não for tratada
Outros equívocos, de acordo com Okuda, incluem a associação da ansiedade com o ócio ou a riqueza, como se fosse um problema exclusivo de quem tem tempo sobrando ou melhores condições financeiras.
Ele também menciona a falsa noção de que a ansiedade é algo exclusivo dos adultos, ignorando que as crianças também podem sofrer desse transtorno.
“É crucial desmistificar essas ideias para que as pessoas entendam que a ansiedade é um problema real, com tratamento disponível, e que buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas, sim, um passo importante em direção ao bem-estar”, ressalta o médico.
Como tratar a ansiedade?
Para casos mais graves, Okuda afirma que os tratamentos mais eficazes atualmente envolvem uma combinação entre medicação e psicoterapia, abordagens que têm se mostrado mais eficazes quando usadas juntas do que separadamente.
Agora, quando se trata de casos menos graves, o tratamento inicial pode consistir apenas em psicoterapia e medidas comportamentais. Essas medidas incluem ajustes no estilo de vida, como melhorar a alimentação, garantir um sono adequado e reduzir o estresse relacionado ao trabalho. Incorporar atividade física ou hobbies na rotina também são estratégias recomendadas para ajudar a aliviar o estresse e a preocupação diária – a meditação, especialmente uma técnica conhecida como mindfulness, é citada por Okuda como um bom exemplo disso.
“É importante ressaltar que todas as formas de terapia podem ser benéficas no tratamento da ansiedade. Atualmente, a terapia cognitivo-comportamental é a que possui mais respaldo científico para tratar a ansiedade devido ao seu foco específico nessa condição. No entanto, outras abordagens terapêuticas também podem ser úteis”, declara o médico.