Após ter burnout e depressão, Ana Suarez criou editora para falar de saúde mental


Escrever a ajudou a superar as doenças e serviu de estímulo para que ela mudasse sua vida profissional. Hoje ela ajuda os outros a encontrarem a sua voz através da editora ‘Flow’

Por Ana Lourenço

Ana Suarez nasceu numa casa simples em Ipameri, cidade do interior de Goiás com pouco mais de 27 mil habitantes. Sua infância foi em meio à natureza, onde ela criava bonequinhos de barro ou de retalho, com as costuras que sua mãe fazia para sustentar a casa.

A vida adulta, por outro lado, foi bem diferente. Com graduação em Veterinária, fluência em mais de quatro línguas, títulos de doutora em Biotecnologia e mestre em Reprodução Animal, Ana foi morar na Suíça e descobriu que a simplicidade era o que faltava em sua vida. “Eu sempre quis uma vidinha mais simples, queria estar com a família. Até que em 2003 meu corpo começou a falar. Era uma semana gripada e outra também, dor nas costas e um desânimo muito grande. Fui diagnosticada com burnout”, conta.

“A minha vida toda me ensinaram que precisava estudar. Eu só tinha a minha mãe e queria muito agradá-la, então assim foi”, lembra Ana. Mas o costume pelos estudos começou com uma paixão, aos 5 anos: a de salvar rolinhas. “As pessoas da cidade atiravam nelas com chumbinho e elas caíam no meu quintal. Para ajudar, eu as pegava e, escondida atrás do pé de abacate, as operava. Foi aí que nasceu o sonho de ser veterinária.”

continua após a publicidade

O sonho deu certo: Ana passou na universidade, com direito a bolsa de estágio na França. Lá conheceu seu orientador de mestrado – que é de Porto Alegre, mas na ocasião estava lá. E na volta da viagem defendeu sua tese na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Aos 25 anos, Ana já trabalhava com reprodução assistida e embriologia. “Trabalhava de domingo a domingo, Natal, ano-novo e feriados. Era bem puxado, até que descobri um câncer na tireoide e resolvi parar a minha carreira. Eu brinco que foi muito patognomônico de não ter falado ‘nãos’ e ter engolido vários sapos”, admite.

O tratamento foi um sucesso e, vencida essa etapa, ela decidiu voltar para o que já era rotina: estudar. “Ganhei uma bolsa para fazer doutorado na Alemanha, sem falar uma palavra de alemão. Era um acordo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com o governo alemão. Então, o mesmo tempo que eu ficasse na Europa teria de ficar no Brasil trabalhando”, explica.

continua após a publicidade

O que não passava pela cabeça de Ana, no entanto, era que arranjar emprego na volta ao País seria um desafio. “Eu era superqualificada em biotecnologia, tinha trabalhado no Projeto Genoma com o pessoal de Londres e quando mandei meu currículo para os lugares, ganhei um baita ‘não’ de todos, porque eles falavam que não tinham como me pagar”, recorda. Na época, ela já morava com Rudah, hoje seu marido, que estava terminando a faculdade de Medicina. Portanto seu trabalho era imprescindível.

“Os pães alemães eram incríveis, então decidi refazê-los de maneira mais ‘fit’ – tinha até etiqueta nutricional – e vender na academia, na manicure, para os vizinhos. Depois de dois meses vendendo o ‘Pão da Doutora’, chegaram propostas de emprego”, diz.

continua após a publicidade

Mudança de vida

Em 2013, já de volta à Alemanha, trabalhando em uma das melhores clínicas de reprodução assistida, Ana percebeu que estava exaurida das demandas do dia a dia. “Eu trabalhava em período integral, enquanto meu marido cuidava da nossa filha. Não tinha um fim de semana livre, tinha diversas dores e sintomas seguidos até que fui diagnosticada com burnout”, lembra ela, que também estava com um quadro de depressão. “Eu chorava a noite inteira, não conseguia dormir, tinha problemas com foco e concentração e sentia uma tristeza muito grande.”

Depois de anos fazendo terapia e tomando antidepressivos, Ana entendeu que as dores vieram bem antes da intensidade do trabalho e dos dias longe da família. Mas também se somavam às ameaças de sequestro que recebeu enquanto estava no Brasil, à saída abrupta do País e ao jeito que lidou com o próprio câncer. “Eu não queria preocupar minha mãe, então varri essa poeira para debaixo do tapete. Não fiz terapia na época porque me achava superforte”, desabafa.

continua após a publicidade

O processo de autoconhecimento também a levou a buscar as suas paixões, que estavam na simplicidade da sua infância: ficar em casa, usar a criatividade e escrever sobre os seus dias. “A minha cura veio de escrever à mão a minha história, no meu idioma. E eu nunca quis ter contato com brasileiro enquanto estava aqui na Europa. Mas, com a pandemia, retomei o contato.”

A minha cura veio de escrever à mão a minha história, no meu idioma. E eu nunca quis ter contato com brasileiro enquanto estava aqui na Europa. Mas, com a pandemia, retomei o contato

Ana Suarez, escritora

Em abril de 2020, agora na Suíça, Ana se reinventou como escritora, escreveu dois livros e os publicou de forma independente. “Troquei a linguagem difícil das dissertações por uma linguagem simples e pessoal”, observa.

continua após a publicidade

Foi aí que nasceu a Flow, uma editora brasileira focada em histórias de superação que possam inspirar adultos e crianças e ajudar a refletir sobre a saúde mental.

“Achei um novo propósito: escrever para inspirar as pessoas e ajudá-las a contarem as suas histórias.”

Ana Suarez nasceu numa casa simples em Ipameri, cidade do interior de Goiás com pouco mais de 27 mil habitantes. Sua infância foi em meio à natureza, onde ela criava bonequinhos de barro ou de retalho, com as costuras que sua mãe fazia para sustentar a casa.

A vida adulta, por outro lado, foi bem diferente. Com graduação em Veterinária, fluência em mais de quatro línguas, títulos de doutora em Biotecnologia e mestre em Reprodução Animal, Ana foi morar na Suíça e descobriu que a simplicidade era o que faltava em sua vida. “Eu sempre quis uma vidinha mais simples, queria estar com a família. Até que em 2003 meu corpo começou a falar. Era uma semana gripada e outra também, dor nas costas e um desânimo muito grande. Fui diagnosticada com burnout”, conta.

“A minha vida toda me ensinaram que precisava estudar. Eu só tinha a minha mãe e queria muito agradá-la, então assim foi”, lembra Ana. Mas o costume pelos estudos começou com uma paixão, aos 5 anos: a de salvar rolinhas. “As pessoas da cidade atiravam nelas com chumbinho e elas caíam no meu quintal. Para ajudar, eu as pegava e, escondida atrás do pé de abacate, as operava. Foi aí que nasceu o sonho de ser veterinária.”

O sonho deu certo: Ana passou na universidade, com direito a bolsa de estágio na França. Lá conheceu seu orientador de mestrado – que é de Porto Alegre, mas na ocasião estava lá. E na volta da viagem defendeu sua tese na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Aos 25 anos, Ana já trabalhava com reprodução assistida e embriologia. “Trabalhava de domingo a domingo, Natal, ano-novo e feriados. Era bem puxado, até que descobri um câncer na tireoide e resolvi parar a minha carreira. Eu brinco que foi muito patognomônico de não ter falado ‘nãos’ e ter engolido vários sapos”, admite.

O tratamento foi um sucesso e, vencida essa etapa, ela decidiu voltar para o que já era rotina: estudar. “Ganhei uma bolsa para fazer doutorado na Alemanha, sem falar uma palavra de alemão. Era um acordo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com o governo alemão. Então, o mesmo tempo que eu ficasse na Europa teria de ficar no Brasil trabalhando”, explica.

O que não passava pela cabeça de Ana, no entanto, era que arranjar emprego na volta ao País seria um desafio. “Eu era superqualificada em biotecnologia, tinha trabalhado no Projeto Genoma com o pessoal de Londres e quando mandei meu currículo para os lugares, ganhei um baita ‘não’ de todos, porque eles falavam que não tinham como me pagar”, recorda. Na época, ela já morava com Rudah, hoje seu marido, que estava terminando a faculdade de Medicina. Portanto seu trabalho era imprescindível.

“Os pães alemães eram incríveis, então decidi refazê-los de maneira mais ‘fit’ – tinha até etiqueta nutricional – e vender na academia, na manicure, para os vizinhos. Depois de dois meses vendendo o ‘Pão da Doutora’, chegaram propostas de emprego”, diz.

Mudança de vida

Em 2013, já de volta à Alemanha, trabalhando em uma das melhores clínicas de reprodução assistida, Ana percebeu que estava exaurida das demandas do dia a dia. “Eu trabalhava em período integral, enquanto meu marido cuidava da nossa filha. Não tinha um fim de semana livre, tinha diversas dores e sintomas seguidos até que fui diagnosticada com burnout”, lembra ela, que também estava com um quadro de depressão. “Eu chorava a noite inteira, não conseguia dormir, tinha problemas com foco e concentração e sentia uma tristeza muito grande.”

Depois de anos fazendo terapia e tomando antidepressivos, Ana entendeu que as dores vieram bem antes da intensidade do trabalho e dos dias longe da família. Mas também se somavam às ameaças de sequestro que recebeu enquanto estava no Brasil, à saída abrupta do País e ao jeito que lidou com o próprio câncer. “Eu não queria preocupar minha mãe, então varri essa poeira para debaixo do tapete. Não fiz terapia na época porque me achava superforte”, desabafa.

O processo de autoconhecimento também a levou a buscar as suas paixões, que estavam na simplicidade da sua infância: ficar em casa, usar a criatividade e escrever sobre os seus dias. “A minha cura veio de escrever à mão a minha história, no meu idioma. E eu nunca quis ter contato com brasileiro enquanto estava aqui na Europa. Mas, com a pandemia, retomei o contato.”

A minha cura veio de escrever à mão a minha história, no meu idioma. E eu nunca quis ter contato com brasileiro enquanto estava aqui na Europa. Mas, com a pandemia, retomei o contato

Ana Suarez, escritora

Em abril de 2020, agora na Suíça, Ana se reinventou como escritora, escreveu dois livros e os publicou de forma independente. “Troquei a linguagem difícil das dissertações por uma linguagem simples e pessoal”, observa.

Foi aí que nasceu a Flow, uma editora brasileira focada em histórias de superação que possam inspirar adultos e crianças e ajudar a refletir sobre a saúde mental.

“Achei um novo propósito: escrever para inspirar as pessoas e ajudá-las a contarem as suas histórias.”

Ana Suarez nasceu numa casa simples em Ipameri, cidade do interior de Goiás com pouco mais de 27 mil habitantes. Sua infância foi em meio à natureza, onde ela criava bonequinhos de barro ou de retalho, com as costuras que sua mãe fazia para sustentar a casa.

A vida adulta, por outro lado, foi bem diferente. Com graduação em Veterinária, fluência em mais de quatro línguas, títulos de doutora em Biotecnologia e mestre em Reprodução Animal, Ana foi morar na Suíça e descobriu que a simplicidade era o que faltava em sua vida. “Eu sempre quis uma vidinha mais simples, queria estar com a família. Até que em 2003 meu corpo começou a falar. Era uma semana gripada e outra também, dor nas costas e um desânimo muito grande. Fui diagnosticada com burnout”, conta.

“A minha vida toda me ensinaram que precisava estudar. Eu só tinha a minha mãe e queria muito agradá-la, então assim foi”, lembra Ana. Mas o costume pelos estudos começou com uma paixão, aos 5 anos: a de salvar rolinhas. “As pessoas da cidade atiravam nelas com chumbinho e elas caíam no meu quintal. Para ajudar, eu as pegava e, escondida atrás do pé de abacate, as operava. Foi aí que nasceu o sonho de ser veterinária.”

O sonho deu certo: Ana passou na universidade, com direito a bolsa de estágio na França. Lá conheceu seu orientador de mestrado – que é de Porto Alegre, mas na ocasião estava lá. E na volta da viagem defendeu sua tese na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Aos 25 anos, Ana já trabalhava com reprodução assistida e embriologia. “Trabalhava de domingo a domingo, Natal, ano-novo e feriados. Era bem puxado, até que descobri um câncer na tireoide e resolvi parar a minha carreira. Eu brinco que foi muito patognomônico de não ter falado ‘nãos’ e ter engolido vários sapos”, admite.

O tratamento foi um sucesso e, vencida essa etapa, ela decidiu voltar para o que já era rotina: estudar. “Ganhei uma bolsa para fazer doutorado na Alemanha, sem falar uma palavra de alemão. Era um acordo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com o governo alemão. Então, o mesmo tempo que eu ficasse na Europa teria de ficar no Brasil trabalhando”, explica.

O que não passava pela cabeça de Ana, no entanto, era que arranjar emprego na volta ao País seria um desafio. “Eu era superqualificada em biotecnologia, tinha trabalhado no Projeto Genoma com o pessoal de Londres e quando mandei meu currículo para os lugares, ganhei um baita ‘não’ de todos, porque eles falavam que não tinham como me pagar”, recorda. Na época, ela já morava com Rudah, hoje seu marido, que estava terminando a faculdade de Medicina. Portanto seu trabalho era imprescindível.

“Os pães alemães eram incríveis, então decidi refazê-los de maneira mais ‘fit’ – tinha até etiqueta nutricional – e vender na academia, na manicure, para os vizinhos. Depois de dois meses vendendo o ‘Pão da Doutora’, chegaram propostas de emprego”, diz.

Mudança de vida

Em 2013, já de volta à Alemanha, trabalhando em uma das melhores clínicas de reprodução assistida, Ana percebeu que estava exaurida das demandas do dia a dia. “Eu trabalhava em período integral, enquanto meu marido cuidava da nossa filha. Não tinha um fim de semana livre, tinha diversas dores e sintomas seguidos até que fui diagnosticada com burnout”, lembra ela, que também estava com um quadro de depressão. “Eu chorava a noite inteira, não conseguia dormir, tinha problemas com foco e concentração e sentia uma tristeza muito grande.”

Depois de anos fazendo terapia e tomando antidepressivos, Ana entendeu que as dores vieram bem antes da intensidade do trabalho e dos dias longe da família. Mas também se somavam às ameaças de sequestro que recebeu enquanto estava no Brasil, à saída abrupta do País e ao jeito que lidou com o próprio câncer. “Eu não queria preocupar minha mãe, então varri essa poeira para debaixo do tapete. Não fiz terapia na época porque me achava superforte”, desabafa.

O processo de autoconhecimento também a levou a buscar as suas paixões, que estavam na simplicidade da sua infância: ficar em casa, usar a criatividade e escrever sobre os seus dias. “A minha cura veio de escrever à mão a minha história, no meu idioma. E eu nunca quis ter contato com brasileiro enquanto estava aqui na Europa. Mas, com a pandemia, retomei o contato.”

A minha cura veio de escrever à mão a minha história, no meu idioma. E eu nunca quis ter contato com brasileiro enquanto estava aqui na Europa. Mas, com a pandemia, retomei o contato

Ana Suarez, escritora

Em abril de 2020, agora na Suíça, Ana se reinventou como escritora, escreveu dois livros e os publicou de forma independente. “Troquei a linguagem difícil das dissertações por uma linguagem simples e pessoal”, observa.

Foi aí que nasceu a Flow, uma editora brasileira focada em histórias de superação que possam inspirar adultos e crianças e ajudar a refletir sobre a saúde mental.

“Achei um novo propósito: escrever para inspirar as pessoas e ajudá-las a contarem as suas histórias.”

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.