SÃO PAULO - “Estamos longe da cidade e aqui ninguém pega doença de ar-condicionado do escritório e do trem.” Foi dessa forma que o cacique Fabio, chefe da Aldeia Krukutu, no bairro da Barragem, extremo sul de São Paulo (a cerca de 40 quilômetros da Praça da Sé), tratou o surto de H1N1, que ainda não chegou aos povos indígenas. Os índios estão no grupo de risco da doença, assim como gestantes e idosos, e vão começar a receber a vacina na rede pública já na próxima segunda-feira, dia 11.
“Teve surto de dengue, zika e chikungunya e aqui também ninguém adoeceu. Tomamos todos os cuidados necessários na tribo para evitar qualquer tipo de doença. E outra: vivemos no meio da natureza e preservamos o local. Isso ajuda na longevidade”, explicou o cacique. Segundo ele, nem o guarani mais velho da aldeia, com 99 anos, fica doente. “Ele vive sozinho em uma área mais afastada, no meio do mato. Planta e colhe todo o dia e nunca teve nada.”
O território tem 26 hectares, é ocupado por 40 famílias indígenas e atendido por uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Na aldeia ao lado, a Tenondé-Porã, a situação é a mesma. Uma das lideranças da tribo, a índia Jerá, usou o termo “tranquilo” para definir o clima. “Aqui ninguém teve nada.”
Situação semelhante é registrada no litoral paulista. As comunidades indígenas da Baixada Santista e do Vale do Ribeira, na região sul do Estado, devem ser incluídas na campanha pública de vacinação contra o vírus H1N1, mas a responsabilidade pelas ações de prevenção nessas aldeias é da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde.
Segundo as prefeituras de Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Bertioga, São Sebastião e Registro, ainda não foi detectado nenhum caso da gripe nas aldeias das duas regiões. A Casa de Atendimento do Índio, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também informa não ter registrado nenhum caso de indígena atingido pelo vírus H1N1.
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Preocupação. Já no interior paulista há um caso que inspira cuidados. Um índio adulto está com sintomas da doença e vem recebendo tratamento médico na aldeia onde vive em Avaí, na região de Bauru. “Ele tem febre alta, dores e tremores. Isso é preocupante porque o índio, principalmente o adulto, não toma vacinas regularmente, como as crianças”, diz o antropólogo Otávio Barduzzi, de 39 anos, que trabalha com os integrantes das quatro aldeias terenas e guaranis de Avaí.
Na região vivem cerca de 2 mil indígenas. No ano passado, a dengue fez vítimas nas quatro aldeias, onde houve 261 casos. “Morreram dez”, lembra o antropólogo.
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A saúde indígena vem recebendo mais recursos do Ministério da Saúde. Em quatro anos, o orçamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena, por exemplo, aumentou 221%, passando de R$ 431,5 milhões, em 2011, para R$ 1,39 bilhão em 2015.
A reportagem entrou em contato com a Sesai para saber especificamente quais ações estão em curso para evitar que o surto de gripe H1N1 chegue às aldeias paulistas, mas o órgão federal se limitou a destacar que mantém um calendário nacional de vacinação e todos os Distritos Sanitários Especiais Indígenas recebem atenção de equipes multidisciplinares próprias. / COLABORARAM LUIZ ALEXANDRE SOUZA VENTURA e SANDRO VILLAR, ESPECIAL PARA O ESTADO