O medicamento usado para tratar a disfunção erétil poderia ajudar as mulheres que têm dificuldades de excitação?
Essa é uma questão que tem intrigado os pesquisadores da medicina sexual desde pelo menos o fim da década de 1990, quando a Food and Drug Administration (FDA) aprovou o sildenafil, conhecido como Viagra, para homens.
Os médicos prescrevem sildenafil off-label para algumas pacientes do sexo feminino, seja na forma de pílulas em baixas doses ou como creme tópico produzido em farmácias de manipulação. Algumas empresas nos Estados Unidos vendem os cremes pela internet, e a Daré Bioscience está em busca de aprovação da FDA para seu creme tópico de sildenafil, que planeja comercializar especificamente para mulheres.
No entanto, as pesquisas, incluindo um novo estudo da Daré, sugerem que, se o medicamento é eficaz no aumento da excitação nas mulheres, isso vale apenas para um pequeno subgrupo.
Então, as mulheres com dificuldades sexuais deveriam considerar tentar o sildenafil? Veja o que os especialistas aconselham.
Transtorno de excitação sexual feminina e a promessa do Viagra
Pesquisas ao longo dos anos, incluindo o novo estudo financiado pela Daré, sugeriram que o sildenafil pode ajudar mulheres com distúrbio de excitação sexual feminina. Nesse quadro, há uma incapacidade de atingir ou manter a excitação sexual, muitas vezes incluindo falta de lubrificação ou inchaço genital, a ponto de a pessoa sentir sofrimento como resultado.
Tecnicamente, o distúrbio é distinto de ter baixo desejo sexual, embora em muitos casos as duas condições se sobreponham. Às vezes, é um efeito colateral de antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) e também pode ocorrer junto com outras condições que perturbam o fluxo sanguíneo ou a função nervosa, incluindo diabetes e lesões na medula espinhal.
A dificuldade com a excitação física nas mulheres é semelhante à disfunção erétil, pois pode se resumir ao fluxo sanguíneo, disse Lauren Streicher, professora de obstetrícia e ginecologia na Northwestern University, que prescreve sildenafil para suas pacientes há quase uma década. O aumento do fluxo sanguíneo, principalmente para o clitóris, eleva a sensibilidade nervosa e desencadeia a lubrificação. O sildenafil dilata os vasos sanguíneos, o que facilita o fluxo do sangue através deles.
No estudo da Daré, 174 mulheres na pré-menopausa receberam uma versão em creme de sildenafil ou um placebo para ser aplicado diretamente no clitóris e na área circundante. Foi-lhes pedido que relatassem sua excitação, níveis de desejo, número de encontros sexuais recentes e se sentiam angústia com seu desempenho sexual.
Os pesquisadores descobriram que aquelas que foram diagnosticadas com distúrbio de excitação sexual feminina – um total de 65 mulheres, metade das quais recebeu o creme – relataram um aumento na excitação com o creme de sildenafil.
Mas o creme não alterou significativamente a excitação ou a angústia entre as mulheres que tinham o distúrbio juntamente com outras condições, tais como dor genital ou incapacidade de orgasmo, e a melhora entre aquelas que tinham exclusivamente o distúrbio não foi significativa porque o número de participantes foi muito pequeno, escreveram os autores do estudo.
As descobertas ecoam as conclusões de outros estudos menores nos quais as pílulas de sildenafil melhoraram a função sexual apenas em mulheres com distúrbio de excitação e em mulheres que experimentaram a condição como efeito colateral de medicamentos ISRS ou diabetes.
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Não é uma solução para todas
Os resultados dos estudos sublinham que, para muitas mulheres que lidam com questões relacionadas à excitação e ao desejo, o fluxo sanguíneo pode ser apenas parte da equação, ou não ser a origem do problema, disse Justin Garcia, diretor executivo do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, que se concentra em pesquisas sobre sexualidade.
A excitação nas mulheres costuma ser uma “resposta biopsicossocial”, afirmou Garcia. Psicologicamente, “o seu senso de imagem corporal, o seu senso de estresse, a qualidade do sono” afetam a função sexual, assim como outros fatores, incluindo a secura vaginal da menopausa ou a rigidez do assoalho pélvico.
“Eu prescrevo sildenafil quando as mulheres tentaram outras terapias e não obtiveram sucesso, ou quando o sofrimento associado a essa disfunção é tão significativo que queremos tentar outra coisa”, disse Jewel Kling, presidente do departamento de saúde da mulher da Clínica Mayo, no Arizona. Nos últimos três meses, ela prescreveu doses baixas de sildenafil oral para apenas três pacientes; ela não prescreveu o creme manipulado.
Streicher descobriu que o sildenafil também pode ser útil para mulheres na menopausa, especialmente aquelas que tomam antidepressivos para distúrbios de humor ou têm diabetes.
As mulheres com dificuldades sexuais têm poucas ferramentas farmacêuticas e querem mais opções, disse Garcia, mas a questão sobre o creme de sildenafil é: “quão significativo é o benefício que as pessoas obterão?”.
Muitas vezes, existe um efeito placebo quando se trata de produtos farmacêuticos para a saúde sexual. Em estudos sobre o Viagra, mesmo os homens que tomavam pílulas placebo encontraram uma melhora na função erétil. O mesmo poderia acontecer com um creme de sildenafil aplicado no clitóris, disse Streicher.
Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.
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