‘As opiniões das pessoas são muito menos interessantes do que suas histórias’


Especialista em resolução de conflitos, Priya Parker fala sobre ressignificar as reuniões em seu livro ‘A Arte dos Encontros’

Por Ana Lourenço
Foto: Adam Ferguson
Entrevista comPriya ParkerConsultora e escritora

Quando era criança, a consultora Priya Parker se dividia entre duas casas. Enquanto uma carregava costumes budistas e uma dieta vegetariana, a outra era evangélica e adorava comer carnes nas refeições. “Não é preciso de um psicólogo para explicar porque eu acabei no campo de resoluções de conflitos”, brinca ela. Depois de anos tentando se adaptar ao que achava que os outros queriam, Priya começou a se perguntar sobre o objetivo das coisas, especialmente dos encontros. “A grande questão é como levar as pessoas a se conectarem significativamente e se deixarem mudar pelas experiências dos encontros”, diz.

Depois de muito pesquisar, ela entendeu que o sentimento de pertencimento, a prática de conversas significativas e o desprendimento do medo do julgamento é essencial para isso. Afinal, “a maneira como nos reunimos importa, porque essa é a forma que vivemos”, afirma ela que fala sobre isso tanto em seu livro, A Arte dos Encontros (Ed. Objetiva, R$ 79,90), quanto em seu podcast do jornal The New York Times, Together Apart. Ela falou com o Estadão sobre o tema. Veja abaixo.

Priya, qual a importância do encontro para você?

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Eu sempre falo que a maneira como nos juntamos importa porque essa maneira é a mesma que vivemos. Esses encontros são reflexos dos nossos valores e das nossas crenças. Então quando a pessoa percebe isso, ela pode fazer uma pausa e perguntar como eu quero me reunir? O que eu quero comemorar? E começar a moldar os encontros a isso, ao invés de apenas herdá-los.

Pelo o que você fala no seu livro, adotar um objetivo é essencial na hora de promover um encontro. Como podemos colocar isso em prática?

Nós nos reunimos todo o tempo. Seja na nossa sala de aulas, na vizinhança, com amigos, para celebrar um casamento ou o fim de uma vida. Essa não é uma ideia nova. Mas muitas vezes, a maneira como nos reunimos pode ser chata, um pouco repetitiva. Várias vezes são reuniões nas quais ninguém quer estar, então a primeira coisa a fazer, em qualquer tipo de reunião, é parar e simplesmente pensar e se perguntar qual é o propósito dessa reunião? Qual é a necessidade? Por que estamos realmente fazendo isso? E a partir daí então começar a pensar: ‘Ok, se esta é a necessidade, como deve ser esta reunião e quem deve estar lá?

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Uma das coisas que foi difícil para mim, e aposto que para outras pessoas também, foi entender como dizer não para os outros. Aqui no Brasil, pelo menos, não convidar algumas pessoas para o seu aniversário, que seja, pode ser caso de término de amizade. Então como podemos começar a mudar esse pensamento?

É importante praticarmos o que eu chamo de ‘Não conectado’. Tendemos a pensar que a única maneira de dizer ‘não’ é ofensivamente, mas fazer uma pausa nisso para entender o que você está dizendo ‘sim’ também, é importante. Então, por exemplo, não posso ir ao seu aniversário porque quero estar em casa com meus filhos naquela noite, mas adoraria comemorar seu aniversário de outra maneira. Podemos tomar chá na próxima semana?’

A especialista em mediação de conflitos Priya Parker Foto: Adam Ferguson
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Então talvez ser mais sincero nas respostas que damos?

Sim. Realmente pensar com você se quer ir ou não, e se não quer ir, saber dizer ‘não’ ao evento, mas encontrar uma forma de dizer ‘sim’ para a pessoa. E acho que é importante lembrar que muitos de nós somos convidados, mas também somos anfitriões muitas vezes. Então não é bom ter um convidado que não quer estar lá, você pode sentir isso. Se você praticar ser um convidado mais atento, também pratica ser um anfitrião mais atento e não punir as pessoas se elas disserem não ao seu encontro. Funciona nos dois sentidos.

Mas e aquelas pessoas que trazem agregados para festas sem te comunicar?

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Eu acho que muito disso tudo é realmente profundamente cultural. Você pode me dizer se isso está errado ou não, mas na minha experiência, várias culturas da América Latina, como o Brasil ou da Ásia, como a Índia, a maioria dos encontros é coletiva, o que fica claro até pela forma como a comida é servida. Algo bem diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde muitas vezes é uma pessoa cozinhando, o que complica ficar agregando pessoas. Então em algumas culturas pode não ser culturalmente apropriado excluir algumas pessoas.

Outra coisa que você fala no livro é sobre causar uma boa controvérsia, uma vez que a norma da polidez às vezes atrapalha o progresso de conexão. No entanto, naturalmente existem algumas brigas de família relacionadas à política e outros assuntos mais tabus que acabam transformando as reuniões em brigas. Como resolver isso?

Em alguns casos, o diálogo é incrivelmente útil. Em outros, dificilmente vai existir uma troca. As opiniões das pessoas são muito menos interessantes do que suas histórias. Então se você está se reunindo com sua família, tente convidá-los a encontrar uma maneira de contar suas histórias e experiências vividas, em vez de suas opiniões. Elas mostram que as pessoas realmente são complicadas e complexas.

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A pandemia teve algum peso nessa reflexão?

A pandemia deu a todos nós uma oportunidade de realmente pensar, especialmente quando não podíamos nos reunir da mesma maneira, como eu quero gastar meu tempo, com quem queremos gastar esse tempo e o que eu realmente quero fazer nesse tempo. Então essa reflexão ajudou muitas pessoas a falarem sobre essas coisas, em vez de apenas entrar no piloto automático e ir em cada compromisso. Eu acho que há um contexto social que agora é compartilhado nos Estados Unidos com certeza, e imagino que no Brasil também, que estamos falando sobre a reunião. Antes da pandemia estávamos apenas fazendo as coisas que fazíamos, estávamos no piloto automático.

Depois de dois anos com centenas de conversas de vídeo chamadas, eu sinto que as pessoas se acostumaram com o tempo da internet. Queremos refeições mais rápidas e reuniões mais curtas. Como podemos nos conectar com o mundo real novamente?

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Eu acho que esquecemos o que pode ser bom. Da perspectiva do anfitrião, é muito claro quais são os limites. Então eu não acho que você pode mudar o relacionamento das pessoas para o ritmo a que elas estão acostumadas, mas acho que você pode criar uma reunião que tenha regras temporárias para que elas entendam que é um pouco diferente do habitual. Por exemplo, escrever no convite que é preciso chegar realmente em tal horário ou que seria interessante reservar uma babá, pois será uma longa noite.

Essas regras servem para todos os tipos de encontros?

Esse livro é, justamente, para as pessoas que querem passar tempo mais significativas com outras pessoas. Se você está de acordo com a maneira dos seus encontros acontecem, então você tem sorte e deve continuar fazendo o que faz. Agora, se quiser olhar para outros pontos e maneiras diferentes, tenho uma série de ideias de como criar experiências significativas com pessoas que você ama. E é importante lembrar que nem todo encontro precisa ser complexo. Talvez celebrar uma etapa da sua vida com amigos próximos ou um jantar para mostrar um novo objeto de decoração pode se transformar em uma tarde inesquecível.

A Arte dos Encontros, Ed. Objetiva, R$ 79,90 Foto: Reprodução

Quando era criança, a consultora Priya Parker se dividia entre duas casas. Enquanto uma carregava costumes budistas e uma dieta vegetariana, a outra era evangélica e adorava comer carnes nas refeições. “Não é preciso de um psicólogo para explicar porque eu acabei no campo de resoluções de conflitos”, brinca ela. Depois de anos tentando se adaptar ao que achava que os outros queriam, Priya começou a se perguntar sobre o objetivo das coisas, especialmente dos encontros. “A grande questão é como levar as pessoas a se conectarem significativamente e se deixarem mudar pelas experiências dos encontros”, diz.

Depois de muito pesquisar, ela entendeu que o sentimento de pertencimento, a prática de conversas significativas e o desprendimento do medo do julgamento é essencial para isso. Afinal, “a maneira como nos reunimos importa, porque essa é a forma que vivemos”, afirma ela que fala sobre isso tanto em seu livro, A Arte dos Encontros (Ed. Objetiva, R$ 79,90), quanto em seu podcast do jornal The New York Times, Together Apart. Ela falou com o Estadão sobre o tema. Veja abaixo.

Priya, qual a importância do encontro para você?

Eu sempre falo que a maneira como nos juntamos importa porque essa maneira é a mesma que vivemos. Esses encontros são reflexos dos nossos valores e das nossas crenças. Então quando a pessoa percebe isso, ela pode fazer uma pausa e perguntar como eu quero me reunir? O que eu quero comemorar? E começar a moldar os encontros a isso, ao invés de apenas herdá-los.

Pelo o que você fala no seu livro, adotar um objetivo é essencial na hora de promover um encontro. Como podemos colocar isso em prática?

Nós nos reunimos todo o tempo. Seja na nossa sala de aulas, na vizinhança, com amigos, para celebrar um casamento ou o fim de uma vida. Essa não é uma ideia nova. Mas muitas vezes, a maneira como nos reunimos pode ser chata, um pouco repetitiva. Várias vezes são reuniões nas quais ninguém quer estar, então a primeira coisa a fazer, em qualquer tipo de reunião, é parar e simplesmente pensar e se perguntar qual é o propósito dessa reunião? Qual é a necessidade? Por que estamos realmente fazendo isso? E a partir daí então começar a pensar: ‘Ok, se esta é a necessidade, como deve ser esta reunião e quem deve estar lá?

Uma das coisas que foi difícil para mim, e aposto que para outras pessoas também, foi entender como dizer não para os outros. Aqui no Brasil, pelo menos, não convidar algumas pessoas para o seu aniversário, que seja, pode ser caso de término de amizade. Então como podemos começar a mudar esse pensamento?

É importante praticarmos o que eu chamo de ‘Não conectado’. Tendemos a pensar que a única maneira de dizer ‘não’ é ofensivamente, mas fazer uma pausa nisso para entender o que você está dizendo ‘sim’ também, é importante. Então, por exemplo, não posso ir ao seu aniversário porque quero estar em casa com meus filhos naquela noite, mas adoraria comemorar seu aniversário de outra maneira. Podemos tomar chá na próxima semana?’

A especialista em mediação de conflitos Priya Parker Foto: Adam Ferguson

Então talvez ser mais sincero nas respostas que damos?

Sim. Realmente pensar com você se quer ir ou não, e se não quer ir, saber dizer ‘não’ ao evento, mas encontrar uma forma de dizer ‘sim’ para a pessoa. E acho que é importante lembrar que muitos de nós somos convidados, mas também somos anfitriões muitas vezes. Então não é bom ter um convidado que não quer estar lá, você pode sentir isso. Se você praticar ser um convidado mais atento, também pratica ser um anfitrião mais atento e não punir as pessoas se elas disserem não ao seu encontro. Funciona nos dois sentidos.

Mas e aquelas pessoas que trazem agregados para festas sem te comunicar?

Eu acho que muito disso tudo é realmente profundamente cultural. Você pode me dizer se isso está errado ou não, mas na minha experiência, várias culturas da América Latina, como o Brasil ou da Ásia, como a Índia, a maioria dos encontros é coletiva, o que fica claro até pela forma como a comida é servida. Algo bem diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde muitas vezes é uma pessoa cozinhando, o que complica ficar agregando pessoas. Então em algumas culturas pode não ser culturalmente apropriado excluir algumas pessoas.

Outra coisa que você fala no livro é sobre causar uma boa controvérsia, uma vez que a norma da polidez às vezes atrapalha o progresso de conexão. No entanto, naturalmente existem algumas brigas de família relacionadas à política e outros assuntos mais tabus que acabam transformando as reuniões em brigas. Como resolver isso?

Em alguns casos, o diálogo é incrivelmente útil. Em outros, dificilmente vai existir uma troca. As opiniões das pessoas são muito menos interessantes do que suas histórias. Então se você está se reunindo com sua família, tente convidá-los a encontrar uma maneira de contar suas histórias e experiências vividas, em vez de suas opiniões. Elas mostram que as pessoas realmente são complicadas e complexas.

A pandemia teve algum peso nessa reflexão?

A pandemia deu a todos nós uma oportunidade de realmente pensar, especialmente quando não podíamos nos reunir da mesma maneira, como eu quero gastar meu tempo, com quem queremos gastar esse tempo e o que eu realmente quero fazer nesse tempo. Então essa reflexão ajudou muitas pessoas a falarem sobre essas coisas, em vez de apenas entrar no piloto automático e ir em cada compromisso. Eu acho que há um contexto social que agora é compartilhado nos Estados Unidos com certeza, e imagino que no Brasil também, que estamos falando sobre a reunião. Antes da pandemia estávamos apenas fazendo as coisas que fazíamos, estávamos no piloto automático.

Depois de dois anos com centenas de conversas de vídeo chamadas, eu sinto que as pessoas se acostumaram com o tempo da internet. Queremos refeições mais rápidas e reuniões mais curtas. Como podemos nos conectar com o mundo real novamente?

Eu acho que esquecemos o que pode ser bom. Da perspectiva do anfitrião, é muito claro quais são os limites. Então eu não acho que você pode mudar o relacionamento das pessoas para o ritmo a que elas estão acostumadas, mas acho que você pode criar uma reunião que tenha regras temporárias para que elas entendam que é um pouco diferente do habitual. Por exemplo, escrever no convite que é preciso chegar realmente em tal horário ou que seria interessante reservar uma babá, pois será uma longa noite.

Essas regras servem para todos os tipos de encontros?

Esse livro é, justamente, para as pessoas que querem passar tempo mais significativas com outras pessoas. Se você está de acordo com a maneira dos seus encontros acontecem, então você tem sorte e deve continuar fazendo o que faz. Agora, se quiser olhar para outros pontos e maneiras diferentes, tenho uma série de ideias de como criar experiências significativas com pessoas que você ama. E é importante lembrar que nem todo encontro precisa ser complexo. Talvez celebrar uma etapa da sua vida com amigos próximos ou um jantar para mostrar um novo objeto de decoração pode se transformar em uma tarde inesquecível.

A Arte dos Encontros, Ed. Objetiva, R$ 79,90 Foto: Reprodução

Quando era criança, a consultora Priya Parker se dividia entre duas casas. Enquanto uma carregava costumes budistas e uma dieta vegetariana, a outra era evangélica e adorava comer carnes nas refeições. “Não é preciso de um psicólogo para explicar porque eu acabei no campo de resoluções de conflitos”, brinca ela. Depois de anos tentando se adaptar ao que achava que os outros queriam, Priya começou a se perguntar sobre o objetivo das coisas, especialmente dos encontros. “A grande questão é como levar as pessoas a se conectarem significativamente e se deixarem mudar pelas experiências dos encontros”, diz.

Depois de muito pesquisar, ela entendeu que o sentimento de pertencimento, a prática de conversas significativas e o desprendimento do medo do julgamento é essencial para isso. Afinal, “a maneira como nos reunimos importa, porque essa é a forma que vivemos”, afirma ela que fala sobre isso tanto em seu livro, A Arte dos Encontros (Ed. Objetiva, R$ 79,90), quanto em seu podcast do jornal The New York Times, Together Apart. Ela falou com o Estadão sobre o tema. Veja abaixo.

Priya, qual a importância do encontro para você?

Eu sempre falo que a maneira como nos juntamos importa porque essa maneira é a mesma que vivemos. Esses encontros são reflexos dos nossos valores e das nossas crenças. Então quando a pessoa percebe isso, ela pode fazer uma pausa e perguntar como eu quero me reunir? O que eu quero comemorar? E começar a moldar os encontros a isso, ao invés de apenas herdá-los.

Pelo o que você fala no seu livro, adotar um objetivo é essencial na hora de promover um encontro. Como podemos colocar isso em prática?

Nós nos reunimos todo o tempo. Seja na nossa sala de aulas, na vizinhança, com amigos, para celebrar um casamento ou o fim de uma vida. Essa não é uma ideia nova. Mas muitas vezes, a maneira como nos reunimos pode ser chata, um pouco repetitiva. Várias vezes são reuniões nas quais ninguém quer estar, então a primeira coisa a fazer, em qualquer tipo de reunião, é parar e simplesmente pensar e se perguntar qual é o propósito dessa reunião? Qual é a necessidade? Por que estamos realmente fazendo isso? E a partir daí então começar a pensar: ‘Ok, se esta é a necessidade, como deve ser esta reunião e quem deve estar lá?

Uma das coisas que foi difícil para mim, e aposto que para outras pessoas também, foi entender como dizer não para os outros. Aqui no Brasil, pelo menos, não convidar algumas pessoas para o seu aniversário, que seja, pode ser caso de término de amizade. Então como podemos começar a mudar esse pensamento?

É importante praticarmos o que eu chamo de ‘Não conectado’. Tendemos a pensar que a única maneira de dizer ‘não’ é ofensivamente, mas fazer uma pausa nisso para entender o que você está dizendo ‘sim’ também, é importante. Então, por exemplo, não posso ir ao seu aniversário porque quero estar em casa com meus filhos naquela noite, mas adoraria comemorar seu aniversário de outra maneira. Podemos tomar chá na próxima semana?’

A especialista em mediação de conflitos Priya Parker Foto: Adam Ferguson

Então talvez ser mais sincero nas respostas que damos?

Sim. Realmente pensar com você se quer ir ou não, e se não quer ir, saber dizer ‘não’ ao evento, mas encontrar uma forma de dizer ‘sim’ para a pessoa. E acho que é importante lembrar que muitos de nós somos convidados, mas também somos anfitriões muitas vezes. Então não é bom ter um convidado que não quer estar lá, você pode sentir isso. Se você praticar ser um convidado mais atento, também pratica ser um anfitrião mais atento e não punir as pessoas se elas disserem não ao seu encontro. Funciona nos dois sentidos.

Mas e aquelas pessoas que trazem agregados para festas sem te comunicar?

Eu acho que muito disso tudo é realmente profundamente cultural. Você pode me dizer se isso está errado ou não, mas na minha experiência, várias culturas da América Latina, como o Brasil ou da Ásia, como a Índia, a maioria dos encontros é coletiva, o que fica claro até pela forma como a comida é servida. Algo bem diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde muitas vezes é uma pessoa cozinhando, o que complica ficar agregando pessoas. Então em algumas culturas pode não ser culturalmente apropriado excluir algumas pessoas.

Outra coisa que você fala no livro é sobre causar uma boa controvérsia, uma vez que a norma da polidez às vezes atrapalha o progresso de conexão. No entanto, naturalmente existem algumas brigas de família relacionadas à política e outros assuntos mais tabus que acabam transformando as reuniões em brigas. Como resolver isso?

Em alguns casos, o diálogo é incrivelmente útil. Em outros, dificilmente vai existir uma troca. As opiniões das pessoas são muito menos interessantes do que suas histórias. Então se você está se reunindo com sua família, tente convidá-los a encontrar uma maneira de contar suas histórias e experiências vividas, em vez de suas opiniões. Elas mostram que as pessoas realmente são complicadas e complexas.

A pandemia teve algum peso nessa reflexão?

A pandemia deu a todos nós uma oportunidade de realmente pensar, especialmente quando não podíamos nos reunir da mesma maneira, como eu quero gastar meu tempo, com quem queremos gastar esse tempo e o que eu realmente quero fazer nesse tempo. Então essa reflexão ajudou muitas pessoas a falarem sobre essas coisas, em vez de apenas entrar no piloto automático e ir em cada compromisso. Eu acho que há um contexto social que agora é compartilhado nos Estados Unidos com certeza, e imagino que no Brasil também, que estamos falando sobre a reunião. Antes da pandemia estávamos apenas fazendo as coisas que fazíamos, estávamos no piloto automático.

Depois de dois anos com centenas de conversas de vídeo chamadas, eu sinto que as pessoas se acostumaram com o tempo da internet. Queremos refeições mais rápidas e reuniões mais curtas. Como podemos nos conectar com o mundo real novamente?

Eu acho que esquecemos o que pode ser bom. Da perspectiva do anfitrião, é muito claro quais são os limites. Então eu não acho que você pode mudar o relacionamento das pessoas para o ritmo a que elas estão acostumadas, mas acho que você pode criar uma reunião que tenha regras temporárias para que elas entendam que é um pouco diferente do habitual. Por exemplo, escrever no convite que é preciso chegar realmente em tal horário ou que seria interessante reservar uma babá, pois será uma longa noite.

Essas regras servem para todos os tipos de encontros?

Esse livro é, justamente, para as pessoas que querem passar tempo mais significativas com outras pessoas. Se você está de acordo com a maneira dos seus encontros acontecem, então você tem sorte e deve continuar fazendo o que faz. Agora, se quiser olhar para outros pontos e maneiras diferentes, tenho uma série de ideias de como criar experiências significativas com pessoas que você ama. E é importante lembrar que nem todo encontro precisa ser complexo. Talvez celebrar uma etapa da sua vida com amigos próximos ou um jantar para mostrar um novo objeto de decoração pode se transformar em uma tarde inesquecível.

A Arte dos Encontros, Ed. Objetiva, R$ 79,90 Foto: Reprodução

Quando era criança, a consultora Priya Parker se dividia entre duas casas. Enquanto uma carregava costumes budistas e uma dieta vegetariana, a outra era evangélica e adorava comer carnes nas refeições. “Não é preciso de um psicólogo para explicar porque eu acabei no campo de resoluções de conflitos”, brinca ela. Depois de anos tentando se adaptar ao que achava que os outros queriam, Priya começou a se perguntar sobre o objetivo das coisas, especialmente dos encontros. “A grande questão é como levar as pessoas a se conectarem significativamente e se deixarem mudar pelas experiências dos encontros”, diz.

Depois de muito pesquisar, ela entendeu que o sentimento de pertencimento, a prática de conversas significativas e o desprendimento do medo do julgamento é essencial para isso. Afinal, “a maneira como nos reunimos importa, porque essa é a forma que vivemos”, afirma ela que fala sobre isso tanto em seu livro, A Arte dos Encontros (Ed. Objetiva, R$ 79,90), quanto em seu podcast do jornal The New York Times, Together Apart. Ela falou com o Estadão sobre o tema. Veja abaixo.

Priya, qual a importância do encontro para você?

Eu sempre falo que a maneira como nos juntamos importa porque essa maneira é a mesma que vivemos. Esses encontros são reflexos dos nossos valores e das nossas crenças. Então quando a pessoa percebe isso, ela pode fazer uma pausa e perguntar como eu quero me reunir? O que eu quero comemorar? E começar a moldar os encontros a isso, ao invés de apenas herdá-los.

Pelo o que você fala no seu livro, adotar um objetivo é essencial na hora de promover um encontro. Como podemos colocar isso em prática?

Nós nos reunimos todo o tempo. Seja na nossa sala de aulas, na vizinhança, com amigos, para celebrar um casamento ou o fim de uma vida. Essa não é uma ideia nova. Mas muitas vezes, a maneira como nos reunimos pode ser chata, um pouco repetitiva. Várias vezes são reuniões nas quais ninguém quer estar, então a primeira coisa a fazer, em qualquer tipo de reunião, é parar e simplesmente pensar e se perguntar qual é o propósito dessa reunião? Qual é a necessidade? Por que estamos realmente fazendo isso? E a partir daí então começar a pensar: ‘Ok, se esta é a necessidade, como deve ser esta reunião e quem deve estar lá?

Uma das coisas que foi difícil para mim, e aposto que para outras pessoas também, foi entender como dizer não para os outros. Aqui no Brasil, pelo menos, não convidar algumas pessoas para o seu aniversário, que seja, pode ser caso de término de amizade. Então como podemos começar a mudar esse pensamento?

É importante praticarmos o que eu chamo de ‘Não conectado’. Tendemos a pensar que a única maneira de dizer ‘não’ é ofensivamente, mas fazer uma pausa nisso para entender o que você está dizendo ‘sim’ também, é importante. Então, por exemplo, não posso ir ao seu aniversário porque quero estar em casa com meus filhos naquela noite, mas adoraria comemorar seu aniversário de outra maneira. Podemos tomar chá na próxima semana?’

A especialista em mediação de conflitos Priya Parker Foto: Adam Ferguson

Então talvez ser mais sincero nas respostas que damos?

Sim. Realmente pensar com você se quer ir ou não, e se não quer ir, saber dizer ‘não’ ao evento, mas encontrar uma forma de dizer ‘sim’ para a pessoa. E acho que é importante lembrar que muitos de nós somos convidados, mas também somos anfitriões muitas vezes. Então não é bom ter um convidado que não quer estar lá, você pode sentir isso. Se você praticar ser um convidado mais atento, também pratica ser um anfitrião mais atento e não punir as pessoas se elas disserem não ao seu encontro. Funciona nos dois sentidos.

Mas e aquelas pessoas que trazem agregados para festas sem te comunicar?

Eu acho que muito disso tudo é realmente profundamente cultural. Você pode me dizer se isso está errado ou não, mas na minha experiência, várias culturas da América Latina, como o Brasil ou da Ásia, como a Índia, a maioria dos encontros é coletiva, o que fica claro até pela forma como a comida é servida. Algo bem diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde muitas vezes é uma pessoa cozinhando, o que complica ficar agregando pessoas. Então em algumas culturas pode não ser culturalmente apropriado excluir algumas pessoas.

Outra coisa que você fala no livro é sobre causar uma boa controvérsia, uma vez que a norma da polidez às vezes atrapalha o progresso de conexão. No entanto, naturalmente existem algumas brigas de família relacionadas à política e outros assuntos mais tabus que acabam transformando as reuniões em brigas. Como resolver isso?

Em alguns casos, o diálogo é incrivelmente útil. Em outros, dificilmente vai existir uma troca. As opiniões das pessoas são muito menos interessantes do que suas histórias. Então se você está se reunindo com sua família, tente convidá-los a encontrar uma maneira de contar suas histórias e experiências vividas, em vez de suas opiniões. Elas mostram que as pessoas realmente são complicadas e complexas.

A pandemia teve algum peso nessa reflexão?

A pandemia deu a todos nós uma oportunidade de realmente pensar, especialmente quando não podíamos nos reunir da mesma maneira, como eu quero gastar meu tempo, com quem queremos gastar esse tempo e o que eu realmente quero fazer nesse tempo. Então essa reflexão ajudou muitas pessoas a falarem sobre essas coisas, em vez de apenas entrar no piloto automático e ir em cada compromisso. Eu acho que há um contexto social que agora é compartilhado nos Estados Unidos com certeza, e imagino que no Brasil também, que estamos falando sobre a reunião. Antes da pandemia estávamos apenas fazendo as coisas que fazíamos, estávamos no piloto automático.

Depois de dois anos com centenas de conversas de vídeo chamadas, eu sinto que as pessoas se acostumaram com o tempo da internet. Queremos refeições mais rápidas e reuniões mais curtas. Como podemos nos conectar com o mundo real novamente?

Eu acho que esquecemos o que pode ser bom. Da perspectiva do anfitrião, é muito claro quais são os limites. Então eu não acho que você pode mudar o relacionamento das pessoas para o ritmo a que elas estão acostumadas, mas acho que você pode criar uma reunião que tenha regras temporárias para que elas entendam que é um pouco diferente do habitual. Por exemplo, escrever no convite que é preciso chegar realmente em tal horário ou que seria interessante reservar uma babá, pois será uma longa noite.

Essas regras servem para todos os tipos de encontros?

Esse livro é, justamente, para as pessoas que querem passar tempo mais significativas com outras pessoas. Se você está de acordo com a maneira dos seus encontros acontecem, então você tem sorte e deve continuar fazendo o que faz. Agora, se quiser olhar para outros pontos e maneiras diferentes, tenho uma série de ideias de como criar experiências significativas com pessoas que você ama. E é importante lembrar que nem todo encontro precisa ser complexo. Talvez celebrar uma etapa da sua vida com amigos próximos ou um jantar para mostrar um novo objeto de decoração pode se transformar em uma tarde inesquecível.

A Arte dos Encontros, Ed. Objetiva, R$ 79,90 Foto: Reprodução

Quando era criança, a consultora Priya Parker se dividia entre duas casas. Enquanto uma carregava costumes budistas e uma dieta vegetariana, a outra era evangélica e adorava comer carnes nas refeições. “Não é preciso de um psicólogo para explicar porque eu acabei no campo de resoluções de conflitos”, brinca ela. Depois de anos tentando se adaptar ao que achava que os outros queriam, Priya começou a se perguntar sobre o objetivo das coisas, especialmente dos encontros. “A grande questão é como levar as pessoas a se conectarem significativamente e se deixarem mudar pelas experiências dos encontros”, diz.

Depois de muito pesquisar, ela entendeu que o sentimento de pertencimento, a prática de conversas significativas e o desprendimento do medo do julgamento é essencial para isso. Afinal, “a maneira como nos reunimos importa, porque essa é a forma que vivemos”, afirma ela que fala sobre isso tanto em seu livro, A Arte dos Encontros (Ed. Objetiva, R$ 79,90), quanto em seu podcast do jornal The New York Times, Together Apart. Ela falou com o Estadão sobre o tema. Veja abaixo.

Priya, qual a importância do encontro para você?

Eu sempre falo que a maneira como nos juntamos importa porque essa maneira é a mesma que vivemos. Esses encontros são reflexos dos nossos valores e das nossas crenças. Então quando a pessoa percebe isso, ela pode fazer uma pausa e perguntar como eu quero me reunir? O que eu quero comemorar? E começar a moldar os encontros a isso, ao invés de apenas herdá-los.

Pelo o que você fala no seu livro, adotar um objetivo é essencial na hora de promover um encontro. Como podemos colocar isso em prática?

Nós nos reunimos todo o tempo. Seja na nossa sala de aulas, na vizinhança, com amigos, para celebrar um casamento ou o fim de uma vida. Essa não é uma ideia nova. Mas muitas vezes, a maneira como nos reunimos pode ser chata, um pouco repetitiva. Várias vezes são reuniões nas quais ninguém quer estar, então a primeira coisa a fazer, em qualquer tipo de reunião, é parar e simplesmente pensar e se perguntar qual é o propósito dessa reunião? Qual é a necessidade? Por que estamos realmente fazendo isso? E a partir daí então começar a pensar: ‘Ok, se esta é a necessidade, como deve ser esta reunião e quem deve estar lá?

Uma das coisas que foi difícil para mim, e aposto que para outras pessoas também, foi entender como dizer não para os outros. Aqui no Brasil, pelo menos, não convidar algumas pessoas para o seu aniversário, que seja, pode ser caso de término de amizade. Então como podemos começar a mudar esse pensamento?

É importante praticarmos o que eu chamo de ‘Não conectado’. Tendemos a pensar que a única maneira de dizer ‘não’ é ofensivamente, mas fazer uma pausa nisso para entender o que você está dizendo ‘sim’ também, é importante. Então, por exemplo, não posso ir ao seu aniversário porque quero estar em casa com meus filhos naquela noite, mas adoraria comemorar seu aniversário de outra maneira. Podemos tomar chá na próxima semana?’

A especialista em mediação de conflitos Priya Parker Foto: Adam Ferguson

Então talvez ser mais sincero nas respostas que damos?

Sim. Realmente pensar com você se quer ir ou não, e se não quer ir, saber dizer ‘não’ ao evento, mas encontrar uma forma de dizer ‘sim’ para a pessoa. E acho que é importante lembrar que muitos de nós somos convidados, mas também somos anfitriões muitas vezes. Então não é bom ter um convidado que não quer estar lá, você pode sentir isso. Se você praticar ser um convidado mais atento, também pratica ser um anfitrião mais atento e não punir as pessoas se elas disserem não ao seu encontro. Funciona nos dois sentidos.

Mas e aquelas pessoas que trazem agregados para festas sem te comunicar?

Eu acho que muito disso tudo é realmente profundamente cultural. Você pode me dizer se isso está errado ou não, mas na minha experiência, várias culturas da América Latina, como o Brasil ou da Ásia, como a Índia, a maioria dos encontros é coletiva, o que fica claro até pela forma como a comida é servida. Algo bem diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde muitas vezes é uma pessoa cozinhando, o que complica ficar agregando pessoas. Então em algumas culturas pode não ser culturalmente apropriado excluir algumas pessoas.

Outra coisa que você fala no livro é sobre causar uma boa controvérsia, uma vez que a norma da polidez às vezes atrapalha o progresso de conexão. No entanto, naturalmente existem algumas brigas de família relacionadas à política e outros assuntos mais tabus que acabam transformando as reuniões em brigas. Como resolver isso?

Em alguns casos, o diálogo é incrivelmente útil. Em outros, dificilmente vai existir uma troca. As opiniões das pessoas são muito menos interessantes do que suas histórias. Então se você está se reunindo com sua família, tente convidá-los a encontrar uma maneira de contar suas histórias e experiências vividas, em vez de suas opiniões. Elas mostram que as pessoas realmente são complicadas e complexas.

A pandemia teve algum peso nessa reflexão?

A pandemia deu a todos nós uma oportunidade de realmente pensar, especialmente quando não podíamos nos reunir da mesma maneira, como eu quero gastar meu tempo, com quem queremos gastar esse tempo e o que eu realmente quero fazer nesse tempo. Então essa reflexão ajudou muitas pessoas a falarem sobre essas coisas, em vez de apenas entrar no piloto automático e ir em cada compromisso. Eu acho que há um contexto social que agora é compartilhado nos Estados Unidos com certeza, e imagino que no Brasil também, que estamos falando sobre a reunião. Antes da pandemia estávamos apenas fazendo as coisas que fazíamos, estávamos no piloto automático.

Depois de dois anos com centenas de conversas de vídeo chamadas, eu sinto que as pessoas se acostumaram com o tempo da internet. Queremos refeições mais rápidas e reuniões mais curtas. Como podemos nos conectar com o mundo real novamente?

Eu acho que esquecemos o que pode ser bom. Da perspectiva do anfitrião, é muito claro quais são os limites. Então eu não acho que você pode mudar o relacionamento das pessoas para o ritmo a que elas estão acostumadas, mas acho que você pode criar uma reunião que tenha regras temporárias para que elas entendam que é um pouco diferente do habitual. Por exemplo, escrever no convite que é preciso chegar realmente em tal horário ou que seria interessante reservar uma babá, pois será uma longa noite.

Essas regras servem para todos os tipos de encontros?

Esse livro é, justamente, para as pessoas que querem passar tempo mais significativas com outras pessoas. Se você está de acordo com a maneira dos seus encontros acontecem, então você tem sorte e deve continuar fazendo o que faz. Agora, se quiser olhar para outros pontos e maneiras diferentes, tenho uma série de ideias de como criar experiências significativas com pessoas que você ama. E é importante lembrar que nem todo encontro precisa ser complexo. Talvez celebrar uma etapa da sua vida com amigos próximos ou um jantar para mostrar um novo objeto de decoração pode se transformar em uma tarde inesquecível.

A Arte dos Encontros, Ed. Objetiva, R$ 79,90 Foto: Reprodução
Entrevista por Ana Lourenço

Repórter do Estadão em São Paulo. Atualmente cobre turismo, na seção Bate-Volta SP, mas tem passagens pela editoria de saúde, cultura e decoração. Formada pela PUC-SP.

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