THE NEW YORK TIMES - Há cerca de oito anos, em resposta às preocupações dos clientes sobre possíveis riscos à saúde associados ao adoçante artificial aspartame, a PepsiCo decidiu remover o ingrediente de seu popular refrigerante diet.
As vendas fracassaram. Um ano depois, o aspartame estava de volta à Diet Pepsi.
Hoje, os três principais ingredientes listados nas letras minúsculas no verso das latas e garrafas da Pepsi Diet – e de sua concorrente Coca-Cola Diet – são água, corante caramelo e aspartame.
Uma ida ao supermercado revela o ingrediente nos rótulos não apenas de refrigerantes diet, mas também de chás diet, chicletes sem açúcar, bebidas energéticas sem açúcar e misturas de bebida diet de limonada. Segundo algumas estimativas, milhares de produtos contêm aspartame.
O uso de aspartame, muitas vezes conhecido pela marca Equal, em produtos alimentícios e bebidas tem sido examinado há muito tempo. A última atualização ocorreu na quinta-feira, 13, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o aspartame poderia causar câncer e incentivou as pessoas que consomem um número significativo de bebidas com aspartame a mudar para água ou outras opções sem açúcar.
Mas mesmo com o surgimento de muitos novos adoçantes artificiais, bem como aqueles à base de plantas e frutas, a “Big Food” simplesmente não consegue abandonar o aspartame, e os analistas não esperam que isso aconteça desta vez. Isso porque o ingrediente é uma das alternativas de açúcar mais baratas, funciona especialmente bem em bebidas e misturas e as pessoas gostam do sabor.
Saiba mais sobre o aspartame
Também houve resistência sobre a urgência do anúncio da OMS. Em uma rápida repreensão, a (agência sanitária) Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos disse que discordava das descobertas, reiterando sua posição de que o aspartame é seguro. E um segundo comitê da OMS disse que uma pessoa de 150 libras (cerca de 68 quilos) precisaria beber mais de uma dúzia de latas de Coca-Cola Diet por dia para exceder o limite seguro para o adoçante.
“As grandes empresas de bebidas vêm fazendo planos de contingência há meses, experimentando diferentes adoçantes, com o objetivo de ter o sabor e a qualidade das bebidas dietéticas o mais consistente possível com os produtos existentes”, disse Garrett Nelson, que cobre a indústria de bebidas na CFRA Research. Mas eles provavelmente não mudarão a receita, a menos que vejam uma queda significativa na demanda do consumidor com base no relatório da OMS, disse ele.
“Se os consumidores realmente pararem de comprar Coca-Cola Diet por causa desse relatório, se as vendas começarem a cair, talvez seja hora de partir para o plano B”, disse Nelson.
A Coca-Cola encaminhou as perguntas à Associação Norte-Americana de Bebidas, o braço de lobby do setor. “O aspartame é seguro”, disse Kevin Keane, presidente interino da organização, em um comunicado.
A PepsiCo não respondeu às perguntas para comentar, mas em entrevista à Bloomberg Markets que foi ao ar na quinta-feira, Hugh Johnston, diretor financeiro da PepsiCo, disse que não esperava uma grande reação do consumidor.
“Acredito que, de fato, isso não será um problema significativo para os consumidores com base apenas na preponderância de evidências que sugerem que o aspartame é seguro”, disse Johnston.
Dúvidas do consumidor
A avaliação da OMS aumenta a confusão do consumidor em torno do aspartame, mas também é a mais recente em uma onda de pesquisas que enfocam os riscos potenciais e questionam os verdadeiros benefícios dos adoçantes artificiais. Há apenas algumas semanas, a OMS desaconselhou o uso de adoçantes artificiais para controle de peso, dizendo que uma revisão de estudos não mostrou benefícios a longo prazo na redução da gordura corporal em crianças ou adultos. A revisão também sugeriu que os adoçantes estavam ligados a um risco aumentado de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Neste ano, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte e da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill divulgaram um estudo que identificou que uma substância química formada após a digestão de outro adoçante, a sucralose, quebra o DNA e pode contribuir para problemas de saúde.
Durante anos, empresas de alimentos e bebidas e reguladoras denunciaram pesquisas que levantam questões sobre adoçantes artificiais, argumentando amplamente que os estudos eram falhos ou inconclusivos ou que os riscos à saúde eram minúsculos.
“Um corpo substancial de evidências científicas mostra que os adoçantes de baixa e nenhuma caloria fornecem opções eficazes e seguras para reduzir o consumo de açúcar e calorias”, Robert Rankin, presidente do Calorie Control Council, a associação de lobby para fabricantes e fornecedores de quase duas dúzias de adoçantes alternativos, disse em um comunicado enviado por e-mail na quinta-feira.
De fato, a maioria das empresas de alimentos e bebidas que usam aspartame reluta em mudar, em parte porque o aspartame é mais barato do que outras alternativas e é 200 vezes mais doce que o açúcar, o que significa que um pouco cumpre muito.
“Um dos benefícios do aspartame é que ele é feito há tanto tempo que os fabricantes realmente refinaram seus custos e processamento tão bem e obtêm um produto superior”, disse Glenn Roy, professor adjunto de química orgânica do Vassar College, que passou mais de três décadas trabalhando em empresas de alimentos, incluindo NutraSweet, General Foods e PepsiCo.
Além disso, o FDA aprovou o aspartame em 1974, dando às empresas décadas de dados e informações sobre o que pode ou não fazer nos produtos. Por exemplo, ele pode realçar e estender certos sabores de frutas, como cereja e laranja, tornando-o um adoçante preferido para bebidas e gomas de mascar. Mas quando aquecido, o aspartame perde sua doçura, tornando-o menos desejável para produtos assados ou cozidos.
As empresas de alimentos e bebidas estão lançando novos produtos sem ou com baixo teor de açúcar em resposta à demanda do consumidor, mas muitos estão sendo feitos com adoçantes mais novos ou uma mistura de adoçantes. Cada novo produto passa por uma série de testes sensoriais e de sabor antes de ser lançado.
Mas para produtos que existem há décadas, como refrigerantes dietéticos, os clientes fiéis estão acostumados a um sabor específico e podem descartá-los por mudanças nos ingredientes, dizem os cientistas.