Condenada pela Justiça a pagar R$ 10 milhões por danos à saúde pública por promover medicamentos ineficazes contra a covid-19, a Associação Médicos pela Vida (MPV) continua atuante, mas agora em um novo foco de desinformação científica. A entidade, que durante a pandemia fez propaganda de remédios como hidroxicloroquina e ivermectina, segue ativa em eventos online e presenciais apostando no discurso antivacina. O Brasil está em um momento de queda de cobertura vacinal.
Para isso, a entidade trabalha conjuntamente e replica métodos de grupos de médicos negacionistas de fora do País. Também recebe apoio e dá visibilidade a empresas de “terapias alternativas”, que oferecem seus produtos como opção a quem não quer tomar o imunizante ou a quem quer passar por um “detox vacinal”.
Em nota pública após ser questionado pela reportagem, o Médicos pela Vida diz fazer um “debate científico sério” e nega promover desinformação. Afirma ainda noticiar “tudo que é benéfico” para os pacientes. Segundo o texto, os médicos integrantes da entidade atuam como voluntários. (leia mais abaixo).
Hoje, o MPV é o principal grupo médico organizado do País a promover discurso antivacina e outras pautas anticientíficas. A entidade divulga seu conteúdo em site próprio, com lives semanais; nas redes sociais próprias e de seus principais líderes, e em eventos presenciais e online.
Conta ainda com plataforma exclusiva para médicos, onde oferece “cursos de atualização” com foco nas terapias defendidas e disponibiliza aos profissionais sugestões de documentos que podem ser usados com os pacientes, como modelos de atestados de contraindicação da vacina.
Análise feita pelo Estadão só no canal do Telegram da associação mostra que, de outubro de 2021 até junho deste ano, os posts da associação tiveram quase 4 milhões de visualizações. Eles estão presentes ainda em redes sociais como Gettr, Rumble e BitChute, que passaram a ser usadas por grupos que propagam desinformação após as plataformas mais conhecidas, como YouTube e Instagram, banirem alguns desses perfis.
A atuação antivacina desse e de outros grupos preocupa autoridades e especialistas diante da queda da cobertura vacinal no País. Segundo dados do Ministério da Saúde tabulados pelo Estadão, o índice médio de adesão dos imunizantes oferecidos no SUS caiu de 95,07% em 2015 para 67,94% no ano passado. No caso da vacina contra a covid para crianças, o cenário é ainda pior: só 11,2% das crianças de 6 meses a 4 anos completaram o esquema vacinal. Na faixa etária dos 5 a 11 anos, o índice fica em 49,8%.
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em parceria com o Instituto Questão de Ciência (IQC) divulgada no mês passado mostrou que quase metade dos pediatras entrevistados relataram ter atendido famílias que não cumpriram o calendário vacinal dos filhos nos seis meses anteriores. Entre as principais justificativas dos pais para refutar a proteção, estavam o medo de efeitos adversos das vacinas (19,83%) e a falta de confiança na segurança dos imunizantes (19,65%).
A Associação Médicos pela Vida foi criada em 2020, durante a pandemia, para defender drogas como a hidroxicloroquina e a ivermectina para tratar pacientes com covid. Em 2021, chegou a publicar na imprensa informe publicitário defendendo a prescrição do chamado “kit covid”, conjunto de drogas que, segundo diversos estudos científicos internacionais e autoridades sanitárias, não têm eficácia contra a doença.
Durante a CPI da pandemia no Senado, em 2021, a comissão descobriu que a publicação do anúncio havia sido bancada pela Vitamedic, uma das farmacêuticas que produzem a ivermectina no Brasil. A empresa gastou mais de R$ 700 mil para financiar os informes publicitários, conforme apurou a CPI.
O Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPF-RS) moveu ação contra a associação e a empresa pelo episódio e, em maio, a Justiça condenou ambas ao pagamento de multa que chega a R$ 55 milhões - R$ 10 milhões pela associação e R$ 45 milhões pela Vitamedic e outras duas empresas do mesmo grupo empresarial (Grupo José Alves e Unialfa). Todos recorrem da decisão.
“Mostramos que esse informe caracterizava propaganda irregular que causou dano coletivo. Ela induzia uma automedicação, fazia com que as pessoas não seguissem medidas recomendadas pelas autoridades, além de não trazer as advertências sobre os medicamentos”, diz Ana Paula Carvalho de Medeiros, procuradora da República do MPF-RS e uma das autoras da ação. Para ela, a decisão judicial é importante para mostrar que os propagadores de desinformação não ficam impunes.
Apesar da condenação, análise feita pelo Estadão em mais de 200 vídeos e documentos divulgados no site e nas redes sociais do MPV mostra que cursos e lives feitas pelo grupo seguem desinformando sobre medicamentos e vacinas, inclusive com apoio de organizações de médicos de fora do País e de empresários brasileiros.
Congresso tem palestrantes internacionais antivacina e defensores da ivermectina
Entre os maiores eventos da “nova fase” do MPV, está um congresso realizado em julho do ano passado, em Foz do Iguaçu (PR). Durante quatro dias, centenas de profissionais participaram de painéis em que palestrantes nacionais e internacionais promoviam remédios como a ivermectina e criticavam as vacinas anticovid.
Na lista de palestrantes estavam médicos da Front Line Covid-19 Critical Care Alliance (FLCCC), entidade que, na pandemia, atuou de forma similar ao MPV, só que nos Estados Unidos. Por lá, eles oferecem protocolos de tratamento da covid com drogas não validadas pela comunidade científica e terapias para reverter supostos danos causados por vacinas. Estes protocolos incluem uma lista de dezenas de medicamentos e suplementos que vão da ivermectina a melatonina, vitaminas e meditação.
A receita da organização americana cresceu mais de 13 vezes entre 2020 e 2021. Uma consulta online com o presidente da entidade, Pierre Kory, segundo o jornal The Washington Post, custa até R$ 8,1 mil e é focada na prescrição de ivermectina não só para covid, mas outras doenças respiratórias, o que também não tem comprovação. Além de Kory, palestraram no evento em Foz do Iguaçu 38 profissionais estrangeiros.
No congresso, palestrantes brasileiros seguiram o exemplo de colegas estrangeiros e conduziram sessões para defender o uso da ivermectina e de terapias naturais para “reverter” supostos danos causados pelas vacinas. Uma das palestras foi da representante do Instituto Biofao, entidade que promove um tipo de homeopatia sob a promessa de “proporcionar ao indivíduo a capacidade de se auto-organizar energeticamente nos níveis físico, mental e espiritual”.
O instituto não tem fins lucrativos nem vende diretamente os produtos homeopáticos, mas seus sócios são donos de dois laboratórios de produtos farmacêuticos e de um consultório médico. No site da entidade, que vende livros e promove cursos sobre os métodos, há uma lista de médicos e farmácias que oferecem os produtos e serviços. A entidade foi uma das patrocinadoras do congresso do MPV.
A presidente e sócia do Biofao, Míria de Amorim, foi quem conduziu a palestra do instituto no evento. Na apresentação, ela citou como uma das indicações do método homeopático o tratamento de supostas reações de vacinas - uma espécie de “detox vacinal”. “Se o indivíduo foi afetado por uma vacina ou por uma nóxia qualquer de um veneno [...], quando você repassa uma informação coerente na forma de um medicamento homeopático, você organiza esse campo e apaga aquela informação”, afirmou.
A diretora da Biofao, Eline Dias, disse ao Estadão que o instituto pagou de R$ 7 mil a R$ 8 mil de patrocínio, mas negou que a organização seja antivacina e disse que não sabia que o congresso teria conteúdos desse tipo quando aceitou financiar o evento. “Temos médicos Biofao que são a favor e outros que são contra a vacina. Não podemos ter um posicionamento”, disse.
Eline reconhece, porém, que o instituto viu nos profissionais antivacina uma oportunidade de promover o método homeopático. “Muitos médicos que estão decepcionados com a história da vacina procuram uma forma mais natural de tratar seus pacientes, não para substituir a vacina, mas para substituir outras formas de alopatia. É muito nessa linha que buscam uma forma natural. Por isso acho que tem essa complementaridade.” Não há evidências científicas da eficácia da homeopatia (leia mais abaixo).
O Instituto Biofao não foi a única instituição de “terapias alternativas” a patrocinar o evento do MPV. A FisioQuantic, empresa paranaense que vende “florais quânticos”, foi outra patrocinadora que aproveitou o evento para promover seus produtos e serviços. A companhia, assim como os outros financiadores, tinha estande no congresso no qual seus representantes abordavam os médicos para incentivá-los a prescreverem seus produtos.
“Era feita a abordagem, perguntavam de onde era o médico, já passavam o contato do representante da empresa no Estado. Era uma abordagem bem comercial”, diz a cientista social Isaura Wayhs Ferrari, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que desenvolve doutorado sobre a Associação Médicos pela Vida e esteve no evento.
De acordo com a microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), tanto a homeopatia quanto a chamada medicina quântica já foram refutadas pela comunidade científica internacional. “No caso da homeopatia, estudos sérios já demonstraram que ela não funciona melhor do que um placebo. Os estudos usados pelos médicos que defendem esse método têm sérias falhas metodológicas, como demonstramos em um dossiê sobre o tema feito pelo IQC”, afirma.
No caso da terapia quântica, conceitos da Física são usados indevidamente para tentar validar tratamentos sem eficácia comprovada, conforme explica Marcelo Takeshi Yamashita, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e diretor científico do IQC. Segundo ele, os promotores dessas terapias usam regras e conceitos da Física que valem só para átomos e extrapolam isso de forma indevida para “o mundo macroscópico” - pessoas, equipamentos etc. “Isso é feito para confundir a opinião pública e dizer que esses tratamentos funcionam, mas eles não têm lastro teórico nem clínico.”
O Ministério da Saúde diz que ataques a vacinas, especialmente os vindos de médicos, ampliam o cenário de hesitação vacinal observado há alguns anos no País. “É ainda mais grave quando são profissionais da saúde propagando essas mensagens porque contam com a confiança das pessoas e o discurso ganha tom de autoridade”, disse ao Estadão a ministra da Saúde, Nísia Trindade.
‘Há mensagens antivacinação importadas’, diz especialista
Para Isaura, pesquisadora da UFSC, o MPV replica conduta já observada em grupos internacionais que se valem de discurso de medicina “mais natural” para atacar vacinas e promover terapias alternativas sem evidências científicas.
Segundo Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a conexão entre o antivacinismo e a venda de terapias naturais é antiga e tem bastante força nos Estados Unidos, onde o movimento contra a imunização é mais forte. “Há mensagens antivacinação importadas de lá. Fizemos um relatório em 2019 mostrando que o maior site de notícias falsas sobre saúde no Brasil traduzia conteúdos de sites americanos e tinha relação com lojas desses produtos alternativos.”
Natalia Pasternak concorda que o mercado das chamadas curas naturais e energéticas geralmente vem acompanhado de vendas de produtos e serviços e rejeição das vacinas. “É um mercado perverso que lucra com a desinformação.”
Questionado sobre o impacto da desinformação em saúde sobre as coberturas vacinais, o Ministério da Saúde afirmou que o governo federal prepara iniciativa “para combater e mitigar os efeitos nocivos da desinformação e fake news contra vacinas”.
O ministério ficará responsável pela frente da comunicação com a população e mobilização de públicos estratégicos, como profissionais de saúde e líderes religiosos, mas ressalta que também estão previstas ações conjuntas com órgãos do âmbito jurídico para penalizar quem propaga desinformação.
O órgão ressalta que as vacinas disponíveis no Programa Nacional de Imunizações (PNI) são eficazes e seguras e que eventos adversos são raríssimos. Diz ainda que os riscos das vacinas são inferiores aos das doenças contra as quais os imunizantes protegem.
Lista de patrocinadores inclui ainda Havan e empresa de telemedicina
Além das empresas de terapias naturais, fazia parte da lista de patrocinadores do congresso do MPV a rede varejista Havan, comandada pelo empresário catarinense Luciano Hang. A empresa não só aparece como patrocinadora nos materiais do evento como o próprio empresário mandou recado aos participantes durante o congresso.
“Queria parabenizar a comissão organizadora, os palestrantes e a todos os médicos pelo excelente trabalho que tem sido feito. Continuem fazendo o trabalho [...] pela liberdade do médico e principalmente por vocês lutarem pela saúde do povo brasileiro e do povo de todo mundo”, disse Hang.
Segundo o próprio empresário informou ao Estadão por meio de sua assessoria, o patrocínio foi de R$ 11 mil. Ele nega ter financiado outras atividades do grupo e diz que a empresa contribuiu com o evento assim como apoia “centenas e centenas de eventos de interesse cultural, científico, social e esportivos”.
Outra patrocinadora que recebeu agradecimento público dos organizadores foi a Doctor8, startup fundada em Minas que atua no ramo da telemedicina e que cresceu na pandemia oferecendo serviço grátis a médicos e pacientes que queriam ter acesso ao “tratamento precoce” (protocolo de drogas sem eficácia contra a covid). A companhia tem entre seus sócios Diego Albs Passos, investigado pela Polícia Federal por ajudar a manter acampamentos de manifestantes golpistas em Brasília em janeiro.
O vínculo das patrocinadoras com a associação não se limitou ao congresso. Depois do evento, quase todas essas empresas estiveram em eventos online do MPV. A representante da Biofao fez live sobre o método na página do MPV em fevereiro de 2023, na qual citou informações inverídicas sobre vacinas (como a falsa relação dos imunizantes com a alta de casos de autismo) e promoveu o seu método terapêutico para “proteger as crianças dos efeitos colaterais das vacinas”.
Já Hang foi mediador de uma live no site da associação em setembro de 2022 para promover candidaturas eleitorais de médicas do grupo, como a de Nise Yamaguchi.
Os médicos da associação usam, em diversas lives, o argumento de que cientistas e pesquisadores não são confiáveis porque seriam influenciados pelos interesses da “big pharma” (grandes indústrias farmacêuticas), mas o próprio MPV teve apoio do grupo empresarial da farmacêutica Vitamedic, conforme demonstrado na CPI da pandemia e na investigação do MPF, e, segundo apurou o Estadão, esse vínculo se mantém por meio de plataforma criada no site da associação de uso exclusivo de médicos cadastrados.
Como mostrou o Estadão em 2021, o Grupo José Alves, dono da Vitamedic, arcou com despesas da construção da plataforma por meio da Unialfa, instituição educacional que também pertence ao grupo empresarial. A Unialfa segue dando suporte técnico para a manutenção da plataforma.
Além disso, ao entrar em contato com o número de WhatsApp disponibilizado no site do MPV, o Estadão foi informado que a assessoria de imprensa do MPV é feita por duas profissionais do marketing da Unialfa.
Associação nega espalhar desinformação
Após ser questionado pelo Estadão, o MPV afirmou, em nota pública no seu site, repudiar “a acusação descabida de desinformação”, disse fazer um “debate científico sério” e noticiar o que é “benéfico aos pacientes”. Na resposta, também acusou outros setores de espalharem desinformações, entre eles a imprensa, e citou estudos e textos que demonstrariam os males da vacina da covid-19.
Os documentos, porém, foram rebatidos por especialistas em imunizações ouvidos pelo Estadão. Um deles cita de forma distorcida um estudo que mostraria proteção reduzida da vacina bivalente contra novas variantes. O MPV usou o estudo para dizer que “quanto mais doses de vacina contra a covid-19 forem recebidas, maiores as chances de contrair a doença”.
“Há uma discussão sobre um fenômeno do que seria uma tolerância imunológica, no qual muitas doses da vacina poderiam ter resposta menor do que a esperada, mas jamais foi demonstrado em nenhum estudo que isso aumenta o risco de infecção”, diz Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
“A vigilância do Ministério da Saúde já demonstrou que eventos adversos possivelmente relacionados à vacinação são raríssimos. A vacina é segura e eficaz”, diz Eder Gatti, diretor do Departamento de Imunizações do ministério.
Questionada sobre o patrocínio de empresas ao congresso e possível conflito de interesses, o MPV diz que a verba serviu “para cobrir custos de estrutura do congresso, como telões, iluminação, transmissão, entre outras coisas do gênero”. A entidade afirma ainda ter ter custos baixos e que nenhum médico da entidade recebe remuneração, mas não informou quanto cada empresa repassou de patrocínio ao evento.
A entidade é financiada, conforme a nota, “por associados, médicos e não médicos adeptos à causa, além de doações espontâneas”. O MPV disse que a Vitamedic “foi uma entre as várias empresas que ajudaram na republicação” do manifesto em formato de informe publicitário.
Justifica que o informe publicitário defende também remédios que não são fabricados pela empresa. O MPV não comentou, porém, o fato de a Unialfa, empresa do mesmo grupo da Vitamedic, cuidar da sua plataforma online e da sua assessoria de imprensa.
Eline Dias, da Biofao, disse que não sabia que o congresso teria como foco painéis contra a vacina e que o instituto não emite posicionamento sobre imunizações. Disse ainda que o instituto não tem nenhum vínculo com a associação, além do apoio financeiro pontual ao congresso e da participação esporádica em lives, nas quais a representante do instituto fala somente sobre o método homeopático.
Luciano Hang, da Havan, disse, por meio de sua assessoria, que não tinha conhecimento dos conteúdos do congresso nem da condenação da associação e que o único vínculo da empresa com o MPV foi o patrocínio ao congresso.
Diego Albs Passos, da Doctor8, não retornou as ligações e mensagens. A Doctor8 e a FisioQuantic foram procuradas por meio de telefonemas e e-mails institucionais, mas não responderam. A reportagem também não obteve retorno da Vitamedic, do Grupo José Alves e da Unialfa.
A FLCCC afirmou que, apesar da participação de vários de seus líderes no congresso do MPV, não tem “relação formal” com a associação brasileira nem fornece suporte financeiro ao grupo. A entidade disse que muitos dos seus membros “são ativos em outras organizações com objetivos e filosofias comuns”, mas que isso não significa que a FLCCC também esteja envolvida ou endosse essas organizações. A entidade americana defendeu o uso de ivermectina contra a covid citando como principais evidências dois estudos: um deles feito pelo presidente da entidade e outro realizado por pesquisadores brasileiros e que já foi desqualificado como evidência.
Procurado para comentar a disseminação de desinformação por meio de perfis em sua plataforma, o Gettr informou que a direção da companhia “se orgulha da liberdade de expressão para todos os usuários” e que crê que “cancelar certas vozes não é o caminho”. Disse também que “emprega um processo de moderação rígido” para garantir que os usuários cumpram as diretrizes da comunidade.
O BitChute, por sua vez, também evocou a liberdade de expressão para defender seu posicionamento de “divulgar todas as ideias”. “Acreditamos que os seres humanos florescem melhor quando assumem a responsabilidade de pensar por si mesmos. Não categorizamos o conteúdo como verdadeiro, falso ou arbitrário”, declarou, em nota. O Estadão procurou ainda o Telegram e o Rumble para comentarem a divulgação de desinformação em suas plataformas, mas não recebeu resposta.
A reportagem também procurou o Conselho Federal de Medicina (CFM) para saber quais medidas são tomadas contra médicos que propagam desinformação ou conteúdos prejudiciais à saúde pública, mas o órgão informou que por funcionar como “uma instância de julgamento em grau de recurso, não comenta casos concretos com o intuito de manter sua isenção”. Afirmou ainda que “denúncias envolvendo médicos podem ser feitas junto ao Conselho Regional de Medicina onde ocorreu a situação”.
*Esta reportagem foi produzida com o apoio do programa Disarming Disinformation, do International Center for Journalists (ICFJ), e financiada pelo Instituto Serrapilheira. O Disarming Disinformation é um esforço global de três anos com financiamento principal do Scripps Howard Fund.
A investigação foi feita pelo Estadão em parceria com o podcast Ciência Suja e análise de dados de Álvaro Justen, do portal de dados abertos Brasil.io. Colaborou com esta reportagem nos Estados Unidos a jornalista Natasha Madov.