Até que idade dá para transar? Como é o sexo na terceira idade


Superar preconceitos, tratar-se quando necessário, saber ouvir o corpo: especialistas e idosos dão dicas para prolongar o prazer

Por Kátia Arima
Atualização:

Tesão não tem idade, mas quem passou dos 50 anos pode enfrentar alguns obstáculos biológicos, sociais e psicológicos para uma vida sexual satisfatória. Falta de lubrificação, sintomas do climatério, vergonha do corpo, no caso das mulheres, e problemas de ereção, para os homens, são os desafios mais comuns. Mas os especialistas da área de saúde garantem: superados os preconceitos, com algumas adaptações para ajudar o corpo – e esquentar o clima – e muito diálogo entre parceiros, não é preciso se aposentar do sexo.

Sexualidade e velhice são dois temas tabus. No entanto, temos de conversar sobre esse corpo que não responde mais da mesma forma, mas que dá prazer. É preciso que a pessoa na maturidade se reorganize para lidar com essas transformações”, avisa a psicóloga Raíssa Silveira.

No seu consultório, ela atende muitos idosos que têm dificuldade de aceitar a mudança no desempenho físico, não só no que se refere ao sexo. “Aparece a vergonha desse corpo, que tem rugas, e a dúvida quanto a ele ser suficiente para satisfazer o outro”, observa. Segundo ela, a sociedade contemporânea idealiza uma performance sem falhas com um corpo numa imagem perfeita.

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“Quanto maior essa idealização, maior a cobrança, culpa e vergonha, que trazem conflitos internos”, avalia. Para que as pessoas, especialmente as mais velhas, possam desfrutar de uma vida sexual satisfatória, é preciso entender que a sexualidade não se resume ao genital, diz Raíssa. “É preciso encontrar alternativas para operar a sexualidade.”

Liça (82 anos) e Luiz Rocha (91), casados há 11 anos: o erotismo se mantém no dia a dia do casal, com liberdade e muitas brincadeiras.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Brincadeiras

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A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. “Temos algumas brincadeiras eróticas, sem foco na penetração. O afeto é a base de tudo, que traz a libido à tona”, declara Liça. Com Luiz há 11 anos, Liça afirma que atingiu a plenitude sexual. Logo no primeiro encontro presencial, sem perder tempo, ele a convidou para ir a um motel. “Eu já gostei dela no primeiro encontro”, lembra Luiz, que procurava uma nova esposa num site de relacionamento.

Liça preferiu conhecê-lo melhor antes de evoluir para uma experiência mais íntima. Um mês depois, eles viajaram juntos, quando aconteceu a primeira transa, que fluiu muito bem, mesmo após 14 anos de abstinência sexual de Liça, que foi casada por 32 anos, mas se separou. “Por 8 anos, tivemos uma vida sexual como a dos jovens, em qualidade e frequência. Deixei minha sacola de preconceitos do lado de fora e me permiti satisfazer as minhas fantasias, viver um sexo libertário”, conta Liça, que cresceu ouvindo que “sexo era pecaminoso”.

Para a psicóloga Liça, geralmente os homens se apegam demais à penetração e ficam rabugentos quando a ereção falha – o que não é o caso de seu marido. “Eu vejo, no consultório e na vida, que essa vaidade dos homens atrapalha a relação. Eles precisam aceitar as mudanças no corpo e apelar para outras coisas que ajudem a dar satisfação”, adverte. Nas primeiras transas com Liça, Luiz usou comprimidos para garantir a ereção, mas depois resolveu largar o medicamento. “Na hora que a ereção não acontece é complicado, mas a Liça é criativa e encara tudo com naturalidade. A gente sempre dá um jeito”, conta Luiz.

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O casal acredita que tem como missão disseminar a mensagem de que os idosos podem reivindicar o direito de curtir plenamente a vida amorosa. “Queremos que os velhos não percam tempo e percebam que têm direito a curtir a sexualidade sem medo de parecer sem-vergonha”, pondera.

O preconceito é um dos principais obstáculos para uma vida sexual plena na maturidade, na visão do geriatra Milton Crenitte, do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da USP. “O etarismo está enraizado na sociedade, inclusive em profissionais de saúde. E se este assunto não for abordado de forma natural, isso causa sofrimento aos idosos com problemas na vida sexual”, ressalta.

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Desmitificar

Para Crenitte, é importante desmistificar a sexualidade. “É preciso pensar além da penetração: tem a masturbação, a carícia, o sexo oral, anal e outras ações entre parceiros que podem ser praticadas depois de 80 anos”, argumenta.

Lamentavelmente, a sexualidade das pessoas maduras não é devidamente discutida, observa Kika Gama Lobo, de 58 anos, influenciadora focada no público de mais de 50. “Está muito associada à juventude, como se a pessoa de cabelo branco não tivesse tesão.” Há 10 anos, ela entrou na menopausa, após um tratamento quimioterápico que fez para enfrentar um câncer de endométrio – e, por isso, não pode fazer reposição hormonal. As mudanças do corpo pós-menopausa atrapalharam, mas ela se adaptou. “Tive de desconstruir a visão de sexo que aprendi lá atrás. Precisei aprender a usar o cérebro como o maior órgão sexual”, garante ela, que acaba de lançar o livro Kikando na Maturidade, em que aborda os desafios diante do seu “tsunami” pessoal.

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Após dois casamentos e duas separações, Kika namora o ex-marido. No sexo, “o parceiro inteligente encontra atalhos, traz brinquedos, usa o humor ao seu favor quando o falo está flácido”, explica. Na visão de Kika, o envelhecimento é uma oportunidade para que as pessoas busquem um novo repertório de sexualidade. “Vivências mais excitantes de casal, relacionamentos abertos ou com pessoas de outro sexo e até o fim da vida sexual devem entrar na discussão sobre sexualidade livre na maturidade.”

Segundo o médico e terapeuta sexual Théo Lerner, não existe “padrão normal” de comportamento sexual na maturidade, embora muitos pacientes busquem essa referência. Ele percebe que as pessoas que tinham uma vida sexual satisfatória na juventude têm maior chance de se adaptar e seguir na ativa quando mais velhos, enquanto para algumas pessoas pode ser um alívio “se aposentar” do sexo.

“Mulheres que transavam por obrigação com os maridos usam a menopausa como uma desculpa para parar. E não há nada de errado nisso”, adverte. No consultório, Lerner recebe principalmente mulheres com queixa de baixa libido, baixa lubrificação e dor na relação, problemas geralmente interligados. São pacientes encaminhadas por ginecologistas que já descartaram problemas biológicos. “Tento descobrir, na terapia, o que está atrapalhando o desejo.”

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A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O estresse do envelhecimento pode interferir na sexualidade, “já que nessa fase há mudanças como perda de autonomia e aposentadoria”. “Essa pessoa fragilizada se pergunta: como vou namorar? Eu sugiro que ela exercite a sexualidade de acordo com o contexto, sem se apegar a padrões. O importante é relaxar e brincar.”

Menos libido

A libido de Susanne Neumann, de 62 anos, não é mais a mesma de antes da menopausa. “Tudo ficou mais brando, mais suave, mas não vejo isso como ponto negativo. Ficar menos fogosa faz parte do ciclo da vida”, declara ela, que está casada há 14 anos com Juergen Neumann, de 66 anos. Após o tratamento de um câncer de mama, ela não pode fazer reposição hormonal para ajudar com os sintomas do climatério – entre eles, a falta de lubrificação vaginal. “O jeito é ter um tubinho de gel sempre à mão, para não doer”, recorda.

Entre as mulheres de mais de 60 anos, 40% se queixam de falta de lubrificação, o que está relacionado, nessa faixa etária, à dificuldade de ter orgasmo e a falta de libido, lembra a ginecologista Andrea Sclowitz. “Se essa mulher não receber apoio, vai evitar ter relações sexuais por causa do desconforto.” Para as pacientes com esse quadro, fisioterapia pélvica e terapia hormonal são possibilidades de tratamento. “O uso de testosterona, por exemplo, já tem grande aceitação na comunidade acadêmica e pode ajudar a mulher nessa fase.”

Buscar o autoconhecimento do corpo e estimular fantasias também ajudam a melhorar a vida sexual na maturidade. “Há várias formas de se estimular: por meio de leituras, filmes”, indica.

Mudanças hormonais

A psicóloga Sâmara Irumé, que administra o perfil Diário da Menopausa, atende mulheres com mudanças hormonais do climatério que afetam negativamente a qualidade de vida. “Se ela vive com calores, dorme mal e não consegue descansar, como vai estar animada para o sexo?”, indaga. Ela conta que precisou se redescobrir com a chegada da menopausa, com a parceria do marido, Luiz Eduardo Irumé, consultor de tecnologia de 55 anos.

“A gente era igual coelho quando éramos mais novos, mas hoje temos mais calma e mais alma.” Aos seguidores e pacientes, ela recomenda deixar de lado os preconceitos e brincar com aquilo que sente vontade. “A menopausa é um portal, uma oportunidade para a mulher se redescobrir. E cada pessoa vai encontrar o que gosta, sejam brinquedos sexuais, como vibradores, ou uma massagem”, sugere.

Para a maquiadora Adriana Marberger Tabuti, de 52 anos, a menopausa teve um grande impacto. No seu perfil no Instagram, Drica Divina, como prefere ser chamada, procura falar do tema de forma natural. “Eu vivia cansada, não conseguia mais fazer exercício, comia demais e não me amava. Não me via sexy”, admite. Procurou, então, sua ginecologista, que conduziu o tratamento de reposição hormonal. “Voltei a ficar lubrificada, mas não o suficiente. Eu tinha resistência ao uso de gel lubrificante, mas entendi a importância e aceitei.”

Após a menopausa, ela também percebeu que demorava mais para atingir o orgasmo. Resolveu, então, apimentar a relação com o marido, Fábio Tabuti, de 47 anos, com o uso de vibradores e fantasias. “Ele não tem preconceito e permitiu que eu me libertasse. Tem homem que é machista e reprime a mulher, pois acha que é coisa de depravada. Hoje tenho vida sexual melhor”, assegura.

Ereção

Homens com mais de 50 anos que procuram o urologista costumam se queixar de problemas de ereção, informa Celso Heitor Júnior, urologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP). Ele explica que os problemas de iniciar, alcançar e manter a ereção podem surgir em qualquer idade, mas que se intensificam após os 50 anos. “Para isso, sempre há um tratamento”, completa.

Na avaliação clínica inicial, o urologista investiga se o paciente está estressado, se tem diabete, se está tomando alguma medicação que cause disfunção erétil como efeito colateral, se a obesidade pode ser relevante ou se ele tem problemas cardiovasculares. “Entre 80% e 85% dos casos de disfunção erétil são de origem psicogênica”, afirma Celso Heitor. Quando ele percebe sinais de estresse, já receita um medicamento para favorecer a ereção, se não houver contraindicação. “O homem quando não consegue a ereção fica com isso no subconsciente e, na próxima vez que tenta, tem uma descarga de adrenalina que contrai os vasos sanguíneos e dificulta a ereção. Por isso, introduzo a medicação, como um teste terapêutico.” Segundo ele, o remédio para disfunção erétil geralmente traz bom resultado e não cria problemas no longo prazo.

A minoria dos casos de problemas de ereção, quando não causada por fatores psicológicos, pode se dever a problemas hormonais, cardiovasculares, doenças como diabete e complicações cirúrgicas. Se a disfunção erétil decorre de uma cirurgia de câncer de próstata, a prótese peniana pode ser a solução. “Por ser um procedimento invasivo, é a última opção, mas a satisfação é de 92%”, destaca o urologista.

Empreendedor focado no público sênior, Ricardo Mucci, de 70 anos, garante nunca ter apelado para esse tipo de medicação, mas assume que a sua ereção já não é a mesma. Isso não impede que ele desfrute de prazer sexual com as mulheres com que se relaciona. “O sexo hoje é num ritmo mais lento, com muita intimidade e troca. Tem muita vontade, mas sem aquela urgência.”

Nesta fase da vida, Mucci diz que é mais seletivo com suas parceiras e investe no relacionamento. “Gosto de ter alguém para apreciar comigo uma vida mais calma. Curtir a natureza, uma viagem, um vinho, uma piada. O sexo é decorrência dessa relação leve.”

Tesão não tem idade, mas quem passou dos 50 anos pode enfrentar alguns obstáculos biológicos, sociais e psicológicos para uma vida sexual satisfatória. Falta de lubrificação, sintomas do climatério, vergonha do corpo, no caso das mulheres, e problemas de ereção, para os homens, são os desafios mais comuns. Mas os especialistas da área de saúde garantem: superados os preconceitos, com algumas adaptações para ajudar o corpo – e esquentar o clima – e muito diálogo entre parceiros, não é preciso se aposentar do sexo.

Sexualidade e velhice são dois temas tabus. No entanto, temos de conversar sobre esse corpo que não responde mais da mesma forma, mas que dá prazer. É preciso que a pessoa na maturidade se reorganize para lidar com essas transformações”, avisa a psicóloga Raíssa Silveira.

No seu consultório, ela atende muitos idosos que têm dificuldade de aceitar a mudança no desempenho físico, não só no que se refere ao sexo. “Aparece a vergonha desse corpo, que tem rugas, e a dúvida quanto a ele ser suficiente para satisfazer o outro”, observa. Segundo ela, a sociedade contemporânea idealiza uma performance sem falhas com um corpo numa imagem perfeita.

“Quanto maior essa idealização, maior a cobrança, culpa e vergonha, que trazem conflitos internos”, avalia. Para que as pessoas, especialmente as mais velhas, possam desfrutar de uma vida sexual satisfatória, é preciso entender que a sexualidade não se resume ao genital, diz Raíssa. “É preciso encontrar alternativas para operar a sexualidade.”

Liça (82 anos) e Luiz Rocha (91), casados há 11 anos: o erotismo se mantém no dia a dia do casal, com liberdade e muitas brincadeiras.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Brincadeiras

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. “Temos algumas brincadeiras eróticas, sem foco na penetração. O afeto é a base de tudo, que traz a libido à tona”, declara Liça. Com Luiz há 11 anos, Liça afirma que atingiu a plenitude sexual. Logo no primeiro encontro presencial, sem perder tempo, ele a convidou para ir a um motel. “Eu já gostei dela no primeiro encontro”, lembra Luiz, que procurava uma nova esposa num site de relacionamento.

Liça preferiu conhecê-lo melhor antes de evoluir para uma experiência mais íntima. Um mês depois, eles viajaram juntos, quando aconteceu a primeira transa, que fluiu muito bem, mesmo após 14 anos de abstinência sexual de Liça, que foi casada por 32 anos, mas se separou. “Por 8 anos, tivemos uma vida sexual como a dos jovens, em qualidade e frequência. Deixei minha sacola de preconceitos do lado de fora e me permiti satisfazer as minhas fantasias, viver um sexo libertário”, conta Liça, que cresceu ouvindo que “sexo era pecaminoso”.

Para a psicóloga Liça, geralmente os homens se apegam demais à penetração e ficam rabugentos quando a ereção falha – o que não é o caso de seu marido. “Eu vejo, no consultório e na vida, que essa vaidade dos homens atrapalha a relação. Eles precisam aceitar as mudanças no corpo e apelar para outras coisas que ajudem a dar satisfação”, adverte. Nas primeiras transas com Liça, Luiz usou comprimidos para garantir a ereção, mas depois resolveu largar o medicamento. “Na hora que a ereção não acontece é complicado, mas a Liça é criativa e encara tudo com naturalidade. A gente sempre dá um jeito”, conta Luiz.

O casal acredita que tem como missão disseminar a mensagem de que os idosos podem reivindicar o direito de curtir plenamente a vida amorosa. “Queremos que os velhos não percam tempo e percebam que têm direito a curtir a sexualidade sem medo de parecer sem-vergonha”, pondera.

O preconceito é um dos principais obstáculos para uma vida sexual plena na maturidade, na visão do geriatra Milton Crenitte, do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da USP. “O etarismo está enraizado na sociedade, inclusive em profissionais de saúde. E se este assunto não for abordado de forma natural, isso causa sofrimento aos idosos com problemas na vida sexual”, ressalta.

Desmitificar

Para Crenitte, é importante desmistificar a sexualidade. “É preciso pensar além da penetração: tem a masturbação, a carícia, o sexo oral, anal e outras ações entre parceiros que podem ser praticadas depois de 80 anos”, argumenta.

Lamentavelmente, a sexualidade das pessoas maduras não é devidamente discutida, observa Kika Gama Lobo, de 58 anos, influenciadora focada no público de mais de 50. “Está muito associada à juventude, como se a pessoa de cabelo branco não tivesse tesão.” Há 10 anos, ela entrou na menopausa, após um tratamento quimioterápico que fez para enfrentar um câncer de endométrio – e, por isso, não pode fazer reposição hormonal. As mudanças do corpo pós-menopausa atrapalharam, mas ela se adaptou. “Tive de desconstruir a visão de sexo que aprendi lá atrás. Precisei aprender a usar o cérebro como o maior órgão sexual”, garante ela, que acaba de lançar o livro Kikando na Maturidade, em que aborda os desafios diante do seu “tsunami” pessoal.

Após dois casamentos e duas separações, Kika namora o ex-marido. No sexo, “o parceiro inteligente encontra atalhos, traz brinquedos, usa o humor ao seu favor quando o falo está flácido”, explica. Na visão de Kika, o envelhecimento é uma oportunidade para que as pessoas busquem um novo repertório de sexualidade. “Vivências mais excitantes de casal, relacionamentos abertos ou com pessoas de outro sexo e até o fim da vida sexual devem entrar na discussão sobre sexualidade livre na maturidade.”

Segundo o médico e terapeuta sexual Théo Lerner, não existe “padrão normal” de comportamento sexual na maturidade, embora muitos pacientes busquem essa referência. Ele percebe que as pessoas que tinham uma vida sexual satisfatória na juventude têm maior chance de se adaptar e seguir na ativa quando mais velhos, enquanto para algumas pessoas pode ser um alívio “se aposentar” do sexo.

“Mulheres que transavam por obrigação com os maridos usam a menopausa como uma desculpa para parar. E não há nada de errado nisso”, adverte. No consultório, Lerner recebe principalmente mulheres com queixa de baixa libido, baixa lubrificação e dor na relação, problemas geralmente interligados. São pacientes encaminhadas por ginecologistas que já descartaram problemas biológicos. “Tento descobrir, na terapia, o que está atrapalhando o desejo.”

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O estresse do envelhecimento pode interferir na sexualidade, “já que nessa fase há mudanças como perda de autonomia e aposentadoria”. “Essa pessoa fragilizada se pergunta: como vou namorar? Eu sugiro que ela exercite a sexualidade de acordo com o contexto, sem se apegar a padrões. O importante é relaxar e brincar.”

Menos libido

A libido de Susanne Neumann, de 62 anos, não é mais a mesma de antes da menopausa. “Tudo ficou mais brando, mais suave, mas não vejo isso como ponto negativo. Ficar menos fogosa faz parte do ciclo da vida”, declara ela, que está casada há 14 anos com Juergen Neumann, de 66 anos. Após o tratamento de um câncer de mama, ela não pode fazer reposição hormonal para ajudar com os sintomas do climatério – entre eles, a falta de lubrificação vaginal. “O jeito é ter um tubinho de gel sempre à mão, para não doer”, recorda.

Entre as mulheres de mais de 60 anos, 40% se queixam de falta de lubrificação, o que está relacionado, nessa faixa etária, à dificuldade de ter orgasmo e a falta de libido, lembra a ginecologista Andrea Sclowitz. “Se essa mulher não receber apoio, vai evitar ter relações sexuais por causa do desconforto.” Para as pacientes com esse quadro, fisioterapia pélvica e terapia hormonal são possibilidades de tratamento. “O uso de testosterona, por exemplo, já tem grande aceitação na comunidade acadêmica e pode ajudar a mulher nessa fase.”

Buscar o autoconhecimento do corpo e estimular fantasias também ajudam a melhorar a vida sexual na maturidade. “Há várias formas de se estimular: por meio de leituras, filmes”, indica.

Mudanças hormonais

A psicóloga Sâmara Irumé, que administra o perfil Diário da Menopausa, atende mulheres com mudanças hormonais do climatério que afetam negativamente a qualidade de vida. “Se ela vive com calores, dorme mal e não consegue descansar, como vai estar animada para o sexo?”, indaga. Ela conta que precisou se redescobrir com a chegada da menopausa, com a parceria do marido, Luiz Eduardo Irumé, consultor de tecnologia de 55 anos.

“A gente era igual coelho quando éramos mais novos, mas hoje temos mais calma e mais alma.” Aos seguidores e pacientes, ela recomenda deixar de lado os preconceitos e brincar com aquilo que sente vontade. “A menopausa é um portal, uma oportunidade para a mulher se redescobrir. E cada pessoa vai encontrar o que gosta, sejam brinquedos sexuais, como vibradores, ou uma massagem”, sugere.

Para a maquiadora Adriana Marberger Tabuti, de 52 anos, a menopausa teve um grande impacto. No seu perfil no Instagram, Drica Divina, como prefere ser chamada, procura falar do tema de forma natural. “Eu vivia cansada, não conseguia mais fazer exercício, comia demais e não me amava. Não me via sexy”, admite. Procurou, então, sua ginecologista, que conduziu o tratamento de reposição hormonal. “Voltei a ficar lubrificada, mas não o suficiente. Eu tinha resistência ao uso de gel lubrificante, mas entendi a importância e aceitei.”

Após a menopausa, ela também percebeu que demorava mais para atingir o orgasmo. Resolveu, então, apimentar a relação com o marido, Fábio Tabuti, de 47 anos, com o uso de vibradores e fantasias. “Ele não tem preconceito e permitiu que eu me libertasse. Tem homem que é machista e reprime a mulher, pois acha que é coisa de depravada. Hoje tenho vida sexual melhor”, assegura.

Ereção

Homens com mais de 50 anos que procuram o urologista costumam se queixar de problemas de ereção, informa Celso Heitor Júnior, urologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP). Ele explica que os problemas de iniciar, alcançar e manter a ereção podem surgir em qualquer idade, mas que se intensificam após os 50 anos. “Para isso, sempre há um tratamento”, completa.

Na avaliação clínica inicial, o urologista investiga se o paciente está estressado, se tem diabete, se está tomando alguma medicação que cause disfunção erétil como efeito colateral, se a obesidade pode ser relevante ou se ele tem problemas cardiovasculares. “Entre 80% e 85% dos casos de disfunção erétil são de origem psicogênica”, afirma Celso Heitor. Quando ele percebe sinais de estresse, já receita um medicamento para favorecer a ereção, se não houver contraindicação. “O homem quando não consegue a ereção fica com isso no subconsciente e, na próxima vez que tenta, tem uma descarga de adrenalina que contrai os vasos sanguíneos e dificulta a ereção. Por isso, introduzo a medicação, como um teste terapêutico.” Segundo ele, o remédio para disfunção erétil geralmente traz bom resultado e não cria problemas no longo prazo.

A minoria dos casos de problemas de ereção, quando não causada por fatores psicológicos, pode se dever a problemas hormonais, cardiovasculares, doenças como diabete e complicações cirúrgicas. Se a disfunção erétil decorre de uma cirurgia de câncer de próstata, a prótese peniana pode ser a solução. “Por ser um procedimento invasivo, é a última opção, mas a satisfação é de 92%”, destaca o urologista.

Empreendedor focado no público sênior, Ricardo Mucci, de 70 anos, garante nunca ter apelado para esse tipo de medicação, mas assume que a sua ereção já não é a mesma. Isso não impede que ele desfrute de prazer sexual com as mulheres com que se relaciona. “O sexo hoje é num ritmo mais lento, com muita intimidade e troca. Tem muita vontade, mas sem aquela urgência.”

Nesta fase da vida, Mucci diz que é mais seletivo com suas parceiras e investe no relacionamento. “Gosto de ter alguém para apreciar comigo uma vida mais calma. Curtir a natureza, uma viagem, um vinho, uma piada. O sexo é decorrência dessa relação leve.”

Tesão não tem idade, mas quem passou dos 50 anos pode enfrentar alguns obstáculos biológicos, sociais e psicológicos para uma vida sexual satisfatória. Falta de lubrificação, sintomas do climatério, vergonha do corpo, no caso das mulheres, e problemas de ereção, para os homens, são os desafios mais comuns. Mas os especialistas da área de saúde garantem: superados os preconceitos, com algumas adaptações para ajudar o corpo – e esquentar o clima – e muito diálogo entre parceiros, não é preciso se aposentar do sexo.

Sexualidade e velhice são dois temas tabus. No entanto, temos de conversar sobre esse corpo que não responde mais da mesma forma, mas que dá prazer. É preciso que a pessoa na maturidade se reorganize para lidar com essas transformações”, avisa a psicóloga Raíssa Silveira.

No seu consultório, ela atende muitos idosos que têm dificuldade de aceitar a mudança no desempenho físico, não só no que se refere ao sexo. “Aparece a vergonha desse corpo, que tem rugas, e a dúvida quanto a ele ser suficiente para satisfazer o outro”, observa. Segundo ela, a sociedade contemporânea idealiza uma performance sem falhas com um corpo numa imagem perfeita.

“Quanto maior essa idealização, maior a cobrança, culpa e vergonha, que trazem conflitos internos”, avalia. Para que as pessoas, especialmente as mais velhas, possam desfrutar de uma vida sexual satisfatória, é preciso entender que a sexualidade não se resume ao genital, diz Raíssa. “É preciso encontrar alternativas para operar a sexualidade.”

Liça (82 anos) e Luiz Rocha (91), casados há 11 anos: o erotismo se mantém no dia a dia do casal, com liberdade e muitas brincadeiras.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Brincadeiras

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. “Temos algumas brincadeiras eróticas, sem foco na penetração. O afeto é a base de tudo, que traz a libido à tona”, declara Liça. Com Luiz há 11 anos, Liça afirma que atingiu a plenitude sexual. Logo no primeiro encontro presencial, sem perder tempo, ele a convidou para ir a um motel. “Eu já gostei dela no primeiro encontro”, lembra Luiz, que procurava uma nova esposa num site de relacionamento.

Liça preferiu conhecê-lo melhor antes de evoluir para uma experiência mais íntima. Um mês depois, eles viajaram juntos, quando aconteceu a primeira transa, que fluiu muito bem, mesmo após 14 anos de abstinência sexual de Liça, que foi casada por 32 anos, mas se separou. “Por 8 anos, tivemos uma vida sexual como a dos jovens, em qualidade e frequência. Deixei minha sacola de preconceitos do lado de fora e me permiti satisfazer as minhas fantasias, viver um sexo libertário”, conta Liça, que cresceu ouvindo que “sexo era pecaminoso”.

Para a psicóloga Liça, geralmente os homens se apegam demais à penetração e ficam rabugentos quando a ereção falha – o que não é o caso de seu marido. “Eu vejo, no consultório e na vida, que essa vaidade dos homens atrapalha a relação. Eles precisam aceitar as mudanças no corpo e apelar para outras coisas que ajudem a dar satisfação”, adverte. Nas primeiras transas com Liça, Luiz usou comprimidos para garantir a ereção, mas depois resolveu largar o medicamento. “Na hora que a ereção não acontece é complicado, mas a Liça é criativa e encara tudo com naturalidade. A gente sempre dá um jeito”, conta Luiz.

O casal acredita que tem como missão disseminar a mensagem de que os idosos podem reivindicar o direito de curtir plenamente a vida amorosa. “Queremos que os velhos não percam tempo e percebam que têm direito a curtir a sexualidade sem medo de parecer sem-vergonha”, pondera.

O preconceito é um dos principais obstáculos para uma vida sexual plena na maturidade, na visão do geriatra Milton Crenitte, do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da USP. “O etarismo está enraizado na sociedade, inclusive em profissionais de saúde. E se este assunto não for abordado de forma natural, isso causa sofrimento aos idosos com problemas na vida sexual”, ressalta.

Desmitificar

Para Crenitte, é importante desmistificar a sexualidade. “É preciso pensar além da penetração: tem a masturbação, a carícia, o sexo oral, anal e outras ações entre parceiros que podem ser praticadas depois de 80 anos”, argumenta.

Lamentavelmente, a sexualidade das pessoas maduras não é devidamente discutida, observa Kika Gama Lobo, de 58 anos, influenciadora focada no público de mais de 50. “Está muito associada à juventude, como se a pessoa de cabelo branco não tivesse tesão.” Há 10 anos, ela entrou na menopausa, após um tratamento quimioterápico que fez para enfrentar um câncer de endométrio – e, por isso, não pode fazer reposição hormonal. As mudanças do corpo pós-menopausa atrapalharam, mas ela se adaptou. “Tive de desconstruir a visão de sexo que aprendi lá atrás. Precisei aprender a usar o cérebro como o maior órgão sexual”, garante ela, que acaba de lançar o livro Kikando na Maturidade, em que aborda os desafios diante do seu “tsunami” pessoal.

Após dois casamentos e duas separações, Kika namora o ex-marido. No sexo, “o parceiro inteligente encontra atalhos, traz brinquedos, usa o humor ao seu favor quando o falo está flácido”, explica. Na visão de Kika, o envelhecimento é uma oportunidade para que as pessoas busquem um novo repertório de sexualidade. “Vivências mais excitantes de casal, relacionamentos abertos ou com pessoas de outro sexo e até o fim da vida sexual devem entrar na discussão sobre sexualidade livre na maturidade.”

Segundo o médico e terapeuta sexual Théo Lerner, não existe “padrão normal” de comportamento sexual na maturidade, embora muitos pacientes busquem essa referência. Ele percebe que as pessoas que tinham uma vida sexual satisfatória na juventude têm maior chance de se adaptar e seguir na ativa quando mais velhos, enquanto para algumas pessoas pode ser um alívio “se aposentar” do sexo.

“Mulheres que transavam por obrigação com os maridos usam a menopausa como uma desculpa para parar. E não há nada de errado nisso”, adverte. No consultório, Lerner recebe principalmente mulheres com queixa de baixa libido, baixa lubrificação e dor na relação, problemas geralmente interligados. São pacientes encaminhadas por ginecologistas que já descartaram problemas biológicos. “Tento descobrir, na terapia, o que está atrapalhando o desejo.”

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O estresse do envelhecimento pode interferir na sexualidade, “já que nessa fase há mudanças como perda de autonomia e aposentadoria”. “Essa pessoa fragilizada se pergunta: como vou namorar? Eu sugiro que ela exercite a sexualidade de acordo com o contexto, sem se apegar a padrões. O importante é relaxar e brincar.”

Menos libido

A libido de Susanne Neumann, de 62 anos, não é mais a mesma de antes da menopausa. “Tudo ficou mais brando, mais suave, mas não vejo isso como ponto negativo. Ficar menos fogosa faz parte do ciclo da vida”, declara ela, que está casada há 14 anos com Juergen Neumann, de 66 anos. Após o tratamento de um câncer de mama, ela não pode fazer reposição hormonal para ajudar com os sintomas do climatério – entre eles, a falta de lubrificação vaginal. “O jeito é ter um tubinho de gel sempre à mão, para não doer”, recorda.

Entre as mulheres de mais de 60 anos, 40% se queixam de falta de lubrificação, o que está relacionado, nessa faixa etária, à dificuldade de ter orgasmo e a falta de libido, lembra a ginecologista Andrea Sclowitz. “Se essa mulher não receber apoio, vai evitar ter relações sexuais por causa do desconforto.” Para as pacientes com esse quadro, fisioterapia pélvica e terapia hormonal são possibilidades de tratamento. “O uso de testosterona, por exemplo, já tem grande aceitação na comunidade acadêmica e pode ajudar a mulher nessa fase.”

Buscar o autoconhecimento do corpo e estimular fantasias também ajudam a melhorar a vida sexual na maturidade. “Há várias formas de se estimular: por meio de leituras, filmes”, indica.

Mudanças hormonais

A psicóloga Sâmara Irumé, que administra o perfil Diário da Menopausa, atende mulheres com mudanças hormonais do climatério que afetam negativamente a qualidade de vida. “Se ela vive com calores, dorme mal e não consegue descansar, como vai estar animada para o sexo?”, indaga. Ela conta que precisou se redescobrir com a chegada da menopausa, com a parceria do marido, Luiz Eduardo Irumé, consultor de tecnologia de 55 anos.

“A gente era igual coelho quando éramos mais novos, mas hoje temos mais calma e mais alma.” Aos seguidores e pacientes, ela recomenda deixar de lado os preconceitos e brincar com aquilo que sente vontade. “A menopausa é um portal, uma oportunidade para a mulher se redescobrir. E cada pessoa vai encontrar o que gosta, sejam brinquedos sexuais, como vibradores, ou uma massagem”, sugere.

Para a maquiadora Adriana Marberger Tabuti, de 52 anos, a menopausa teve um grande impacto. No seu perfil no Instagram, Drica Divina, como prefere ser chamada, procura falar do tema de forma natural. “Eu vivia cansada, não conseguia mais fazer exercício, comia demais e não me amava. Não me via sexy”, admite. Procurou, então, sua ginecologista, que conduziu o tratamento de reposição hormonal. “Voltei a ficar lubrificada, mas não o suficiente. Eu tinha resistência ao uso de gel lubrificante, mas entendi a importância e aceitei.”

Após a menopausa, ela também percebeu que demorava mais para atingir o orgasmo. Resolveu, então, apimentar a relação com o marido, Fábio Tabuti, de 47 anos, com o uso de vibradores e fantasias. “Ele não tem preconceito e permitiu que eu me libertasse. Tem homem que é machista e reprime a mulher, pois acha que é coisa de depravada. Hoje tenho vida sexual melhor”, assegura.

Ereção

Homens com mais de 50 anos que procuram o urologista costumam se queixar de problemas de ereção, informa Celso Heitor Júnior, urologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP). Ele explica que os problemas de iniciar, alcançar e manter a ereção podem surgir em qualquer idade, mas que se intensificam após os 50 anos. “Para isso, sempre há um tratamento”, completa.

Na avaliação clínica inicial, o urologista investiga se o paciente está estressado, se tem diabete, se está tomando alguma medicação que cause disfunção erétil como efeito colateral, se a obesidade pode ser relevante ou se ele tem problemas cardiovasculares. “Entre 80% e 85% dos casos de disfunção erétil são de origem psicogênica”, afirma Celso Heitor. Quando ele percebe sinais de estresse, já receita um medicamento para favorecer a ereção, se não houver contraindicação. “O homem quando não consegue a ereção fica com isso no subconsciente e, na próxima vez que tenta, tem uma descarga de adrenalina que contrai os vasos sanguíneos e dificulta a ereção. Por isso, introduzo a medicação, como um teste terapêutico.” Segundo ele, o remédio para disfunção erétil geralmente traz bom resultado e não cria problemas no longo prazo.

A minoria dos casos de problemas de ereção, quando não causada por fatores psicológicos, pode se dever a problemas hormonais, cardiovasculares, doenças como diabete e complicações cirúrgicas. Se a disfunção erétil decorre de uma cirurgia de câncer de próstata, a prótese peniana pode ser a solução. “Por ser um procedimento invasivo, é a última opção, mas a satisfação é de 92%”, destaca o urologista.

Empreendedor focado no público sênior, Ricardo Mucci, de 70 anos, garante nunca ter apelado para esse tipo de medicação, mas assume que a sua ereção já não é a mesma. Isso não impede que ele desfrute de prazer sexual com as mulheres com que se relaciona. “O sexo hoje é num ritmo mais lento, com muita intimidade e troca. Tem muita vontade, mas sem aquela urgência.”

Nesta fase da vida, Mucci diz que é mais seletivo com suas parceiras e investe no relacionamento. “Gosto de ter alguém para apreciar comigo uma vida mais calma. Curtir a natureza, uma viagem, um vinho, uma piada. O sexo é decorrência dessa relação leve.”

Tesão não tem idade, mas quem passou dos 50 anos pode enfrentar alguns obstáculos biológicos, sociais e psicológicos para uma vida sexual satisfatória. Falta de lubrificação, sintomas do climatério, vergonha do corpo, no caso das mulheres, e problemas de ereção, para os homens, são os desafios mais comuns. Mas os especialistas da área de saúde garantem: superados os preconceitos, com algumas adaptações para ajudar o corpo – e esquentar o clima – e muito diálogo entre parceiros, não é preciso se aposentar do sexo.

Sexualidade e velhice são dois temas tabus. No entanto, temos de conversar sobre esse corpo que não responde mais da mesma forma, mas que dá prazer. É preciso que a pessoa na maturidade se reorganize para lidar com essas transformações”, avisa a psicóloga Raíssa Silveira.

No seu consultório, ela atende muitos idosos que têm dificuldade de aceitar a mudança no desempenho físico, não só no que se refere ao sexo. “Aparece a vergonha desse corpo, que tem rugas, e a dúvida quanto a ele ser suficiente para satisfazer o outro”, observa. Segundo ela, a sociedade contemporânea idealiza uma performance sem falhas com um corpo numa imagem perfeita.

“Quanto maior essa idealização, maior a cobrança, culpa e vergonha, que trazem conflitos internos”, avalia. Para que as pessoas, especialmente as mais velhas, possam desfrutar de uma vida sexual satisfatória, é preciso entender que a sexualidade não se resume ao genital, diz Raíssa. “É preciso encontrar alternativas para operar a sexualidade.”

Liça (82 anos) e Luiz Rocha (91), casados há 11 anos: o erotismo se mantém no dia a dia do casal, com liberdade e muitas brincadeiras.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Brincadeiras

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. “Temos algumas brincadeiras eróticas, sem foco na penetração. O afeto é a base de tudo, que traz a libido à tona”, declara Liça. Com Luiz há 11 anos, Liça afirma que atingiu a plenitude sexual. Logo no primeiro encontro presencial, sem perder tempo, ele a convidou para ir a um motel. “Eu já gostei dela no primeiro encontro”, lembra Luiz, que procurava uma nova esposa num site de relacionamento.

Liça preferiu conhecê-lo melhor antes de evoluir para uma experiência mais íntima. Um mês depois, eles viajaram juntos, quando aconteceu a primeira transa, que fluiu muito bem, mesmo após 14 anos de abstinência sexual de Liça, que foi casada por 32 anos, mas se separou. “Por 8 anos, tivemos uma vida sexual como a dos jovens, em qualidade e frequência. Deixei minha sacola de preconceitos do lado de fora e me permiti satisfazer as minhas fantasias, viver um sexo libertário”, conta Liça, que cresceu ouvindo que “sexo era pecaminoso”.

Para a psicóloga Liça, geralmente os homens se apegam demais à penetração e ficam rabugentos quando a ereção falha – o que não é o caso de seu marido. “Eu vejo, no consultório e na vida, que essa vaidade dos homens atrapalha a relação. Eles precisam aceitar as mudanças no corpo e apelar para outras coisas que ajudem a dar satisfação”, adverte. Nas primeiras transas com Liça, Luiz usou comprimidos para garantir a ereção, mas depois resolveu largar o medicamento. “Na hora que a ereção não acontece é complicado, mas a Liça é criativa e encara tudo com naturalidade. A gente sempre dá um jeito”, conta Luiz.

O casal acredita que tem como missão disseminar a mensagem de que os idosos podem reivindicar o direito de curtir plenamente a vida amorosa. “Queremos que os velhos não percam tempo e percebam que têm direito a curtir a sexualidade sem medo de parecer sem-vergonha”, pondera.

O preconceito é um dos principais obstáculos para uma vida sexual plena na maturidade, na visão do geriatra Milton Crenitte, do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da USP. “O etarismo está enraizado na sociedade, inclusive em profissionais de saúde. E se este assunto não for abordado de forma natural, isso causa sofrimento aos idosos com problemas na vida sexual”, ressalta.

Desmitificar

Para Crenitte, é importante desmistificar a sexualidade. “É preciso pensar além da penetração: tem a masturbação, a carícia, o sexo oral, anal e outras ações entre parceiros que podem ser praticadas depois de 80 anos”, argumenta.

Lamentavelmente, a sexualidade das pessoas maduras não é devidamente discutida, observa Kika Gama Lobo, de 58 anos, influenciadora focada no público de mais de 50. “Está muito associada à juventude, como se a pessoa de cabelo branco não tivesse tesão.” Há 10 anos, ela entrou na menopausa, após um tratamento quimioterápico que fez para enfrentar um câncer de endométrio – e, por isso, não pode fazer reposição hormonal. As mudanças do corpo pós-menopausa atrapalharam, mas ela se adaptou. “Tive de desconstruir a visão de sexo que aprendi lá atrás. Precisei aprender a usar o cérebro como o maior órgão sexual”, garante ela, que acaba de lançar o livro Kikando na Maturidade, em que aborda os desafios diante do seu “tsunami” pessoal.

Após dois casamentos e duas separações, Kika namora o ex-marido. No sexo, “o parceiro inteligente encontra atalhos, traz brinquedos, usa o humor ao seu favor quando o falo está flácido”, explica. Na visão de Kika, o envelhecimento é uma oportunidade para que as pessoas busquem um novo repertório de sexualidade. “Vivências mais excitantes de casal, relacionamentos abertos ou com pessoas de outro sexo e até o fim da vida sexual devem entrar na discussão sobre sexualidade livre na maturidade.”

Segundo o médico e terapeuta sexual Théo Lerner, não existe “padrão normal” de comportamento sexual na maturidade, embora muitos pacientes busquem essa referência. Ele percebe que as pessoas que tinham uma vida sexual satisfatória na juventude têm maior chance de se adaptar e seguir na ativa quando mais velhos, enquanto para algumas pessoas pode ser um alívio “se aposentar” do sexo.

“Mulheres que transavam por obrigação com os maridos usam a menopausa como uma desculpa para parar. E não há nada de errado nisso”, adverte. No consultório, Lerner recebe principalmente mulheres com queixa de baixa libido, baixa lubrificação e dor na relação, problemas geralmente interligados. São pacientes encaminhadas por ginecologistas que já descartaram problemas biológicos. “Tento descobrir, na terapia, o que está atrapalhando o desejo.”

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O estresse do envelhecimento pode interferir na sexualidade, “já que nessa fase há mudanças como perda de autonomia e aposentadoria”. “Essa pessoa fragilizada se pergunta: como vou namorar? Eu sugiro que ela exercite a sexualidade de acordo com o contexto, sem se apegar a padrões. O importante é relaxar e brincar.”

Menos libido

A libido de Susanne Neumann, de 62 anos, não é mais a mesma de antes da menopausa. “Tudo ficou mais brando, mais suave, mas não vejo isso como ponto negativo. Ficar menos fogosa faz parte do ciclo da vida”, declara ela, que está casada há 14 anos com Juergen Neumann, de 66 anos. Após o tratamento de um câncer de mama, ela não pode fazer reposição hormonal para ajudar com os sintomas do climatério – entre eles, a falta de lubrificação vaginal. “O jeito é ter um tubinho de gel sempre à mão, para não doer”, recorda.

Entre as mulheres de mais de 60 anos, 40% se queixam de falta de lubrificação, o que está relacionado, nessa faixa etária, à dificuldade de ter orgasmo e a falta de libido, lembra a ginecologista Andrea Sclowitz. “Se essa mulher não receber apoio, vai evitar ter relações sexuais por causa do desconforto.” Para as pacientes com esse quadro, fisioterapia pélvica e terapia hormonal são possibilidades de tratamento. “O uso de testosterona, por exemplo, já tem grande aceitação na comunidade acadêmica e pode ajudar a mulher nessa fase.”

Buscar o autoconhecimento do corpo e estimular fantasias também ajudam a melhorar a vida sexual na maturidade. “Há várias formas de se estimular: por meio de leituras, filmes”, indica.

Mudanças hormonais

A psicóloga Sâmara Irumé, que administra o perfil Diário da Menopausa, atende mulheres com mudanças hormonais do climatério que afetam negativamente a qualidade de vida. “Se ela vive com calores, dorme mal e não consegue descansar, como vai estar animada para o sexo?”, indaga. Ela conta que precisou se redescobrir com a chegada da menopausa, com a parceria do marido, Luiz Eduardo Irumé, consultor de tecnologia de 55 anos.

“A gente era igual coelho quando éramos mais novos, mas hoje temos mais calma e mais alma.” Aos seguidores e pacientes, ela recomenda deixar de lado os preconceitos e brincar com aquilo que sente vontade. “A menopausa é um portal, uma oportunidade para a mulher se redescobrir. E cada pessoa vai encontrar o que gosta, sejam brinquedos sexuais, como vibradores, ou uma massagem”, sugere.

Para a maquiadora Adriana Marberger Tabuti, de 52 anos, a menopausa teve um grande impacto. No seu perfil no Instagram, Drica Divina, como prefere ser chamada, procura falar do tema de forma natural. “Eu vivia cansada, não conseguia mais fazer exercício, comia demais e não me amava. Não me via sexy”, admite. Procurou, então, sua ginecologista, que conduziu o tratamento de reposição hormonal. “Voltei a ficar lubrificada, mas não o suficiente. Eu tinha resistência ao uso de gel lubrificante, mas entendi a importância e aceitei.”

Após a menopausa, ela também percebeu que demorava mais para atingir o orgasmo. Resolveu, então, apimentar a relação com o marido, Fábio Tabuti, de 47 anos, com o uso de vibradores e fantasias. “Ele não tem preconceito e permitiu que eu me libertasse. Tem homem que é machista e reprime a mulher, pois acha que é coisa de depravada. Hoje tenho vida sexual melhor”, assegura.

Ereção

Homens com mais de 50 anos que procuram o urologista costumam se queixar de problemas de ereção, informa Celso Heitor Júnior, urologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP). Ele explica que os problemas de iniciar, alcançar e manter a ereção podem surgir em qualquer idade, mas que se intensificam após os 50 anos. “Para isso, sempre há um tratamento”, completa.

Na avaliação clínica inicial, o urologista investiga se o paciente está estressado, se tem diabete, se está tomando alguma medicação que cause disfunção erétil como efeito colateral, se a obesidade pode ser relevante ou se ele tem problemas cardiovasculares. “Entre 80% e 85% dos casos de disfunção erétil são de origem psicogênica”, afirma Celso Heitor. Quando ele percebe sinais de estresse, já receita um medicamento para favorecer a ereção, se não houver contraindicação. “O homem quando não consegue a ereção fica com isso no subconsciente e, na próxima vez que tenta, tem uma descarga de adrenalina que contrai os vasos sanguíneos e dificulta a ereção. Por isso, introduzo a medicação, como um teste terapêutico.” Segundo ele, o remédio para disfunção erétil geralmente traz bom resultado e não cria problemas no longo prazo.

A minoria dos casos de problemas de ereção, quando não causada por fatores psicológicos, pode se dever a problemas hormonais, cardiovasculares, doenças como diabete e complicações cirúrgicas. Se a disfunção erétil decorre de uma cirurgia de câncer de próstata, a prótese peniana pode ser a solução. “Por ser um procedimento invasivo, é a última opção, mas a satisfação é de 92%”, destaca o urologista.

Empreendedor focado no público sênior, Ricardo Mucci, de 70 anos, garante nunca ter apelado para esse tipo de medicação, mas assume que a sua ereção já não é a mesma. Isso não impede que ele desfrute de prazer sexual com as mulheres com que se relaciona. “O sexo hoje é num ritmo mais lento, com muita intimidade e troca. Tem muita vontade, mas sem aquela urgência.”

Nesta fase da vida, Mucci diz que é mais seletivo com suas parceiras e investe no relacionamento. “Gosto de ter alguém para apreciar comigo uma vida mais calma. Curtir a natureza, uma viagem, um vinho, uma piada. O sexo é decorrência dessa relação leve.”

Tesão não tem idade, mas quem passou dos 50 anos pode enfrentar alguns obstáculos biológicos, sociais e psicológicos para uma vida sexual satisfatória. Falta de lubrificação, sintomas do climatério, vergonha do corpo, no caso das mulheres, e problemas de ereção, para os homens, são os desafios mais comuns. Mas os especialistas da área de saúde garantem: superados os preconceitos, com algumas adaptações para ajudar o corpo – e esquentar o clima – e muito diálogo entre parceiros, não é preciso se aposentar do sexo.

Sexualidade e velhice são dois temas tabus. No entanto, temos de conversar sobre esse corpo que não responde mais da mesma forma, mas que dá prazer. É preciso que a pessoa na maturidade se reorganize para lidar com essas transformações”, avisa a psicóloga Raíssa Silveira.

No seu consultório, ela atende muitos idosos que têm dificuldade de aceitar a mudança no desempenho físico, não só no que se refere ao sexo. “Aparece a vergonha desse corpo, que tem rugas, e a dúvida quanto a ele ser suficiente para satisfazer o outro”, observa. Segundo ela, a sociedade contemporânea idealiza uma performance sem falhas com um corpo numa imagem perfeita.

“Quanto maior essa idealização, maior a cobrança, culpa e vergonha, que trazem conflitos internos”, avalia. Para que as pessoas, especialmente as mais velhas, possam desfrutar de uma vida sexual satisfatória, é preciso entender que a sexualidade não se resume ao genital, diz Raíssa. “É preciso encontrar alternativas para operar a sexualidade.”

Liça (82 anos) e Luiz Rocha (91), casados há 11 anos: o erotismo se mantém no dia a dia do casal, com liberdade e muitas brincadeiras.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Brincadeiras

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. “Temos algumas brincadeiras eróticas, sem foco na penetração. O afeto é a base de tudo, que traz a libido à tona”, declara Liça. Com Luiz há 11 anos, Liça afirma que atingiu a plenitude sexual. Logo no primeiro encontro presencial, sem perder tempo, ele a convidou para ir a um motel. “Eu já gostei dela no primeiro encontro”, lembra Luiz, que procurava uma nova esposa num site de relacionamento.

Liça preferiu conhecê-lo melhor antes de evoluir para uma experiência mais íntima. Um mês depois, eles viajaram juntos, quando aconteceu a primeira transa, que fluiu muito bem, mesmo após 14 anos de abstinência sexual de Liça, que foi casada por 32 anos, mas se separou. “Por 8 anos, tivemos uma vida sexual como a dos jovens, em qualidade e frequência. Deixei minha sacola de preconceitos do lado de fora e me permiti satisfazer as minhas fantasias, viver um sexo libertário”, conta Liça, que cresceu ouvindo que “sexo era pecaminoso”.

Para a psicóloga Liça, geralmente os homens se apegam demais à penetração e ficam rabugentos quando a ereção falha – o que não é o caso de seu marido. “Eu vejo, no consultório e na vida, que essa vaidade dos homens atrapalha a relação. Eles precisam aceitar as mudanças no corpo e apelar para outras coisas que ajudem a dar satisfação”, adverte. Nas primeiras transas com Liça, Luiz usou comprimidos para garantir a ereção, mas depois resolveu largar o medicamento. “Na hora que a ereção não acontece é complicado, mas a Liça é criativa e encara tudo com naturalidade. A gente sempre dá um jeito”, conta Luiz.

O casal acredita que tem como missão disseminar a mensagem de que os idosos podem reivindicar o direito de curtir plenamente a vida amorosa. “Queremos que os velhos não percam tempo e percebam que têm direito a curtir a sexualidade sem medo de parecer sem-vergonha”, pondera.

O preconceito é um dos principais obstáculos para uma vida sexual plena na maturidade, na visão do geriatra Milton Crenitte, do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da USP. “O etarismo está enraizado na sociedade, inclusive em profissionais de saúde. E se este assunto não for abordado de forma natural, isso causa sofrimento aos idosos com problemas na vida sexual”, ressalta.

Desmitificar

Para Crenitte, é importante desmistificar a sexualidade. “É preciso pensar além da penetração: tem a masturbação, a carícia, o sexo oral, anal e outras ações entre parceiros que podem ser praticadas depois de 80 anos”, argumenta.

Lamentavelmente, a sexualidade das pessoas maduras não é devidamente discutida, observa Kika Gama Lobo, de 58 anos, influenciadora focada no público de mais de 50. “Está muito associada à juventude, como se a pessoa de cabelo branco não tivesse tesão.” Há 10 anos, ela entrou na menopausa, após um tratamento quimioterápico que fez para enfrentar um câncer de endométrio – e, por isso, não pode fazer reposição hormonal. As mudanças do corpo pós-menopausa atrapalharam, mas ela se adaptou. “Tive de desconstruir a visão de sexo que aprendi lá atrás. Precisei aprender a usar o cérebro como o maior órgão sexual”, garante ela, que acaba de lançar o livro Kikando na Maturidade, em que aborda os desafios diante do seu “tsunami” pessoal.

Após dois casamentos e duas separações, Kika namora o ex-marido. No sexo, “o parceiro inteligente encontra atalhos, traz brinquedos, usa o humor ao seu favor quando o falo está flácido”, explica. Na visão de Kika, o envelhecimento é uma oportunidade para que as pessoas busquem um novo repertório de sexualidade. “Vivências mais excitantes de casal, relacionamentos abertos ou com pessoas de outro sexo e até o fim da vida sexual devem entrar na discussão sobre sexualidade livre na maturidade.”

Segundo o médico e terapeuta sexual Théo Lerner, não existe “padrão normal” de comportamento sexual na maturidade, embora muitos pacientes busquem essa referência. Ele percebe que as pessoas que tinham uma vida sexual satisfatória na juventude têm maior chance de se adaptar e seguir na ativa quando mais velhos, enquanto para algumas pessoas pode ser um alívio “se aposentar” do sexo.

“Mulheres que transavam por obrigação com os maridos usam a menopausa como uma desculpa para parar. E não há nada de errado nisso”, adverte. No consultório, Lerner recebe principalmente mulheres com queixa de baixa libido, baixa lubrificação e dor na relação, problemas geralmente interligados. São pacientes encaminhadas por ginecologistas que já descartaram problemas biológicos. “Tento descobrir, na terapia, o que está atrapalhando o desejo.”

A criatividade é aliada do casal Liça Bonfim, psicóloga de 82 anos, e Luiz Rocha, engenheiro aposentado de 91 anos, para manter uma vida sexual ativa. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O estresse do envelhecimento pode interferir na sexualidade, “já que nessa fase há mudanças como perda de autonomia e aposentadoria”. “Essa pessoa fragilizada se pergunta: como vou namorar? Eu sugiro que ela exercite a sexualidade de acordo com o contexto, sem se apegar a padrões. O importante é relaxar e brincar.”

Menos libido

A libido de Susanne Neumann, de 62 anos, não é mais a mesma de antes da menopausa. “Tudo ficou mais brando, mais suave, mas não vejo isso como ponto negativo. Ficar menos fogosa faz parte do ciclo da vida”, declara ela, que está casada há 14 anos com Juergen Neumann, de 66 anos. Após o tratamento de um câncer de mama, ela não pode fazer reposição hormonal para ajudar com os sintomas do climatério – entre eles, a falta de lubrificação vaginal. “O jeito é ter um tubinho de gel sempre à mão, para não doer”, recorda.

Entre as mulheres de mais de 60 anos, 40% se queixam de falta de lubrificação, o que está relacionado, nessa faixa etária, à dificuldade de ter orgasmo e a falta de libido, lembra a ginecologista Andrea Sclowitz. “Se essa mulher não receber apoio, vai evitar ter relações sexuais por causa do desconforto.” Para as pacientes com esse quadro, fisioterapia pélvica e terapia hormonal são possibilidades de tratamento. “O uso de testosterona, por exemplo, já tem grande aceitação na comunidade acadêmica e pode ajudar a mulher nessa fase.”

Buscar o autoconhecimento do corpo e estimular fantasias também ajudam a melhorar a vida sexual na maturidade. “Há várias formas de se estimular: por meio de leituras, filmes”, indica.

Mudanças hormonais

A psicóloga Sâmara Irumé, que administra o perfil Diário da Menopausa, atende mulheres com mudanças hormonais do climatério que afetam negativamente a qualidade de vida. “Se ela vive com calores, dorme mal e não consegue descansar, como vai estar animada para o sexo?”, indaga. Ela conta que precisou se redescobrir com a chegada da menopausa, com a parceria do marido, Luiz Eduardo Irumé, consultor de tecnologia de 55 anos.

“A gente era igual coelho quando éramos mais novos, mas hoje temos mais calma e mais alma.” Aos seguidores e pacientes, ela recomenda deixar de lado os preconceitos e brincar com aquilo que sente vontade. “A menopausa é um portal, uma oportunidade para a mulher se redescobrir. E cada pessoa vai encontrar o que gosta, sejam brinquedos sexuais, como vibradores, ou uma massagem”, sugere.

Para a maquiadora Adriana Marberger Tabuti, de 52 anos, a menopausa teve um grande impacto. No seu perfil no Instagram, Drica Divina, como prefere ser chamada, procura falar do tema de forma natural. “Eu vivia cansada, não conseguia mais fazer exercício, comia demais e não me amava. Não me via sexy”, admite. Procurou, então, sua ginecologista, que conduziu o tratamento de reposição hormonal. “Voltei a ficar lubrificada, mas não o suficiente. Eu tinha resistência ao uso de gel lubrificante, mas entendi a importância e aceitei.”

Após a menopausa, ela também percebeu que demorava mais para atingir o orgasmo. Resolveu, então, apimentar a relação com o marido, Fábio Tabuti, de 47 anos, com o uso de vibradores e fantasias. “Ele não tem preconceito e permitiu que eu me libertasse. Tem homem que é machista e reprime a mulher, pois acha que é coisa de depravada. Hoje tenho vida sexual melhor”, assegura.

Ereção

Homens com mais de 50 anos que procuram o urologista costumam se queixar de problemas de ereção, informa Celso Heitor Júnior, urologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP). Ele explica que os problemas de iniciar, alcançar e manter a ereção podem surgir em qualquer idade, mas que se intensificam após os 50 anos. “Para isso, sempre há um tratamento”, completa.

Na avaliação clínica inicial, o urologista investiga se o paciente está estressado, se tem diabete, se está tomando alguma medicação que cause disfunção erétil como efeito colateral, se a obesidade pode ser relevante ou se ele tem problemas cardiovasculares. “Entre 80% e 85% dos casos de disfunção erétil são de origem psicogênica”, afirma Celso Heitor. Quando ele percebe sinais de estresse, já receita um medicamento para favorecer a ereção, se não houver contraindicação. “O homem quando não consegue a ereção fica com isso no subconsciente e, na próxima vez que tenta, tem uma descarga de adrenalina que contrai os vasos sanguíneos e dificulta a ereção. Por isso, introduzo a medicação, como um teste terapêutico.” Segundo ele, o remédio para disfunção erétil geralmente traz bom resultado e não cria problemas no longo prazo.

A minoria dos casos de problemas de ereção, quando não causada por fatores psicológicos, pode se dever a problemas hormonais, cardiovasculares, doenças como diabete e complicações cirúrgicas. Se a disfunção erétil decorre de uma cirurgia de câncer de próstata, a prótese peniana pode ser a solução. “Por ser um procedimento invasivo, é a última opção, mas a satisfação é de 92%”, destaca o urologista.

Empreendedor focado no público sênior, Ricardo Mucci, de 70 anos, garante nunca ter apelado para esse tipo de medicação, mas assume que a sua ereção já não é a mesma. Isso não impede que ele desfrute de prazer sexual com as mulheres com que se relaciona. “O sexo hoje é num ritmo mais lento, com muita intimidade e troca. Tem muita vontade, mas sem aquela urgência.”

Nesta fase da vida, Mucci diz que é mais seletivo com suas parceiras e investe no relacionamento. “Gosto de ter alguém para apreciar comigo uma vida mais calma. Curtir a natureza, uma viagem, um vinho, uma piada. O sexo é decorrência dessa relação leve.”

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