Esse atraso nas vacinas tem impactos na transmissão da doença, no alívio dos sistemas de saúde, mas, principalmente, na proteção da vida de alguém. Significa colocar mais pessoas em risco.
Estamos com esse problema enorme, principalmente da Coronavac, porque em março o Ministério da Saúde mandou Estados e municípios usarem as segundas doses que estavam guardadas para quem tinha tomado a primeira. Mandaram não ter estoque, disseram que não ia atrasar. Mas atrasou.
O ministério não pode fingir que o problema inexiste. Foi o outro ministro que fez, mas o erro está aí. Tem de sentar com o Butantan, ver os dados de pesquisa, inclusive de outros países que usam Coronavac, ver se não há prejuízo desse atraso de 15, 20 dias. Como resolver a questão diplomática? Já trocamos o ministro, mas parece não resolver. Ministro da Economia, presidente falando da China. O governo precisa entender que a China é um dos nossos maiores parceiros comerciais, somos dependentes do IFA. Se tivesse comprado as vacinas da Pfizer, não estaríamos chorando pelas migalhas. Mas o presidente não fez o trabalho dele.
Reduziremos o número de vacinados por dia, o que é péssimo – deveríamos aumentar. Estamos em situação crítica não é só pela vacina. Por não ter programa de testagem em massa nem de diminuição da circulação do vírus, como um lockdown nacional. Não temos controle nos aeroportos nem programa de vigilância genômica mais organizado, para ver os vírus que circulam. Com flexibilizações de medidas restritivas e queda de vacinação, caminhamos para uma reversão da curva de queda de casos – e para uma terceira onda no inverno.
É DOUTORA EM EPIDEMIOLOGIA E PROFESSORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO