O agravamento da pandemia de covid-19 na Índia deve impactar diretamente o calendário vacinal brasileiro. Com o número de casos da doença em disparada, o governo indiano tende a reter a produção de vacinas do país para abastecer seu mercado interno. A medida atingirá exportações de imunizantes, com as quais o Brasil contava.
No mais recente calendário vacinal apresentado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no sábado, 24, a entrega de oito milhões de doses prontas da vacina de Oxford/Astrazeneca à Fiocruz foi postergada para o terceiro trimestre deste ano. A previsão de que viesse em quatro lotes, entre abril e julho, não será cumprida. Esses imunizantes são produzidos no Laboratório Serum, na Índia.
Em janeiro, diante da demora da chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) da China para a produção da vacina de Oxford/AstraZeneca na Fiocruz, a instituição negociou com o Serum dois milhões de doses prontas para o Brasil. No mês seguinte, foram compradas mais dez milhões. Destas, oito milhões ainda não foram entregues.
Com explosão da covid, Índia não vai exportar vacinas, diz embaixador do Brasil
Segundo a AstraZeneca, essa negociação éconduzida diretamente pela Fiocruz com o Laboratório Serum. A Fiocruz informou que a negociação está a cargo da diplomacia dos dois países. Afirmou também que não poderia dar mais informações sobre o atraso.
Em entrevista à Rede Globo na manhã dessa segunda-feira, 26, o embaixador do Brasil na Índia, André Aranha Correia do Lago, afirmou que o país deve suspender a exportação de vacinas diante do momento dramático que enfrenta.
“Nas circunstâncias atuais, a Índia não vai exportar vacinas”, disse o diplomata. “Com a explosão de casos, acho natural que reserve as doses para sua própria vacinação.”
A AstraZeneca também é o principal fornecedor do consórcio Covax/Facility, da Organização Mundial da Sáúde. Boa parte das doses fornecidas a essa iniciativa da OMS também é produzida na Índia. Isso pode causar algum impacto em países africanos.
No caso do Brasil, as oito milhões de doses prometidas pelo consórcio para entrega em maio são da AstraZeneca, mas fabricadas em um laboratório da Coreia do Sul.