Barulho de festa prejudica atendimento de pacientes com covid e médico faz desabafo de desespero


Vídeo foi gravado em UPA de Itaquera, na zona leste da capital paulista; PM informou que foi acionada e foi ao local para impedir a chegada de mais participantes

Por Paula Felix

Neste domingo, 28, o desabafo de um médico que trabalha na linha de frente no combate à covid-19 correu as redes sociais. Em tom indignado, o médico emergencista Nelson Müzel, de 39 anos, que atua na área de cuidados paliativos, reclamou do desrespeito aos pacientes na porta da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 26 de agosto, em Itaquera, na zona leste, que era invadida pela música ensurdecedora vinda de uma festa clandestina nas imediações.

"A gente não consegue falar com os pacientes dentro do quarto, porque o barulho é tão grande lá dentro que a gente não consegue se ouvir nem ouvir o que o paciente está falando."

Médico emergencista Nelson Müzel reclamou da falta de respeito aos pacientes. Foto: Reprodução/ Youtube
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Müzel disse que a Polícia Militar foi acionada, mas a situação não foi resolvida. E cobrou uma atitude do governador João Doria e do prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB.

"Isso é uma falta de respeito com a gente que está aqui dando o sangue para poder promover para esses pacientes qualidade de vida. Isso é insustentável, não tem a menor condição de dar qualidade para esses pacientes. A gente exige respeito, a gente exige resposta. A gente sai da nossa casa, corre o risco de estar aqui", diz, no vídeo.

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Em depoimento ao Estadão, Müzel diz que o som alto já era um problema e continuou durante a pandemia. A sua revolta naquele momento surgiu ao se ver diante de uma paciente de 62 anos, que estava infectada, tendo de contar que a mãe dela, de 84, teria de receber cuidados paliativos. Naquela situação delicada, ele teve de gritar para ser compreendido e precisou se esforçar para ouvir a mulher, que estava com dificuldade para falar por causa da falta de ar.

Profissional do Sistema Único de Saúde (SUS) há 11 anos, o médico, que também é psicanalista, critica a insensibilidade de quem se aglomera em um momento tão grave da pandemia, com hospitais lotados e alastramento do vírus. "É uma coisa desumana, é olhar para o risco e não estar nem aí, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente não respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social."

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que a PM, por meio da Operação Paz e Proteção, mapeia locais onde são realizados pancadões e os policiais vão para os pontos antes que as pessoas se aglomerem.

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"Em relação ao endereço citado, a PM foi acionada e, por meio de denúncia anônima, encaminhou equipes para o local. Foi realizado o policiamento no entorno a fim de proteger a vizinhança, coibir a chegada de mais participantes e evitar a prática de delitos."

A secretaria disse ainda que entre a noite de sexta-feira, 26, e a madrugada desta segunda, 29, a corporação realizou 1.052 ações de dispersão na capital.

Leia depoimento do médico Nelson Müzel:

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O dia da gravação foi no último sábado, dia 27, mas isso acontece todos os finais de semana. É que estava insustentável. Foi na UPA 26 de Agosto, onde faço parte da OSS que faz a gestão de lá desde 2013.

Estava no meu limite, não aguentava mais, porque a situação era muito complicada. Estava com uma paciente de 62 anos e a mãe de 84 na mesma enfermaria, uma do lado da outra, explicando para a filha sobre os cuidados paliativos. Enquanto conversava sobre o prognóstico ruim, sobre a possibilidade de a mãe dela morrer com covid-19, sabendo que era um caso grave, ela estava com uma máscara de nebulização, não conseguia falar direito por causa da falta de ar. Com a música, não dava para escutá-la. E eu estava praticamente gritando. Fiquei transtornado com o que estava acontecendo.

Estamos vivendo uma guerra e, teoricamente, não poderia oferecer esse tipo de atendimento (cuidados paliativos), mas a gente tem feito isso com muita frequência.

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A festa continuou até as 5 horas da manhã. A unidade atende diversos casos de covid e tem alas estratificadas: verde, amarela, vermelha. Pacientes aguardando transferência para UTI. Eram 73 pacientes naquele dia. Por causa da pandemia, todos estão indo para a UPA para cobrir escala e encher de médico lá.

A polícia é acionada e nada é feito. Falam que vão encaminhar para o setor responsável e a gente fica de 15 a 20 minutos esperando. No sábado, tinha uma viatura na frente da UPA, mas não sabemos onde é a festa. Fica dentro de um bolsão, dentro do bolsão da comunidade. Quando dá intervalo de uma música e outra, dá para ouvir. É um nível de distanciamento da realidade.

Antes de postar o vídeo, postei no stories no Instagram, fiz dentro da sala, preservando a identidade dos pacientes. Quando terminei de publicar, os pacientes aplaudiam.

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Nunca tinha visto uma situação como essa. Estou no SUS há 11 anos, sou um grande apaixonado. Sempre trabalhei em comunidade, sempre trabalhei com os menos favorecidos. 

Aqui na UPA, a gente está vivendo uma situação que o Brasil inteiro está vivendo. A quantidade de gente que se infecta é maior do que a que tem alta, por melhorar ou por óbito. Isso me entristece, porque muita gente precisa sair para trabalhar, não sai porque quer, se tivesse a opção de não sair, ficaria em casa.

O problema são as pessoas que se aglomeram em festas clandestinas. 

É uma coisa desumana, é olhar para o risco e não estar nem aí, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente não respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social. As pessoas que precisam trabalhar e pais de família que têm de ficar na rua estão morrendo de medo. Mas tem uma classe de brasileiro que não está nem aí. Essa classe não respeita regra.

Neste domingo, 28, o desabafo de um médico que trabalha na linha de frente no combate à covid-19 correu as redes sociais. Em tom indignado, o médico emergencista Nelson Müzel, de 39 anos, que atua na área de cuidados paliativos, reclamou do desrespeito aos pacientes na porta da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 26 de agosto, em Itaquera, na zona leste, que era invadida pela música ensurdecedora vinda de uma festa clandestina nas imediações.

"A gente não consegue falar com os pacientes dentro do quarto, porque o barulho é tão grande lá dentro que a gente não consegue se ouvir nem ouvir o que o paciente está falando."

Médico emergencista Nelson Müzel reclamou da falta de respeito aos pacientes. Foto: Reprodução/ Youtube

Müzel disse que a Polícia Militar foi acionada, mas a situação não foi resolvida. E cobrou uma atitude do governador João Doria e do prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB.

"Isso é uma falta de respeito com a gente que está aqui dando o sangue para poder promover para esses pacientes qualidade de vida. Isso é insustentável, não tem a menor condição de dar qualidade para esses pacientes. A gente exige respeito, a gente exige resposta. A gente sai da nossa casa, corre o risco de estar aqui", diz, no vídeo.

Em depoimento ao Estadão, Müzel diz que o som alto já era um problema e continuou durante a pandemia. A sua revolta naquele momento surgiu ao se ver diante de uma paciente de 62 anos, que estava infectada, tendo de contar que a mãe dela, de 84, teria de receber cuidados paliativos. Naquela situação delicada, ele teve de gritar para ser compreendido e precisou se esforçar para ouvir a mulher, que estava com dificuldade para falar por causa da falta de ar.

Profissional do Sistema Único de Saúde (SUS) há 11 anos, o médico, que também é psicanalista, critica a insensibilidade de quem se aglomera em um momento tão grave da pandemia, com hospitais lotados e alastramento do vírus. "É uma coisa desumana, é olhar para o risco e não estar nem aí, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente não respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social."

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que a PM, por meio da Operação Paz e Proteção, mapeia locais onde são realizados pancadões e os policiais vão para os pontos antes que as pessoas se aglomerem.

"Em relação ao endereço citado, a PM foi acionada e, por meio de denúncia anônima, encaminhou equipes para o local. Foi realizado o policiamento no entorno a fim de proteger a vizinhança, coibir a chegada de mais participantes e evitar a prática de delitos."

A secretaria disse ainda que entre a noite de sexta-feira, 26, e a madrugada desta segunda, 29, a corporação realizou 1.052 ações de dispersão na capital.

Leia depoimento do médico Nelson Müzel:

O dia da gravação foi no último sábado, dia 27, mas isso acontece todos os finais de semana. É que estava insustentável. Foi na UPA 26 de Agosto, onde faço parte da OSS que faz a gestão de lá desde 2013.

Estava no meu limite, não aguentava mais, porque a situação era muito complicada. Estava com uma paciente de 62 anos e a mãe de 84 na mesma enfermaria, uma do lado da outra, explicando para a filha sobre os cuidados paliativos. Enquanto conversava sobre o prognóstico ruim, sobre a possibilidade de a mãe dela morrer com covid-19, sabendo que era um caso grave, ela estava com uma máscara de nebulização, não conseguia falar direito por causa da falta de ar. Com a música, não dava para escutá-la. E eu estava praticamente gritando. Fiquei transtornado com o que estava acontecendo.

Estamos vivendo uma guerra e, teoricamente, não poderia oferecer esse tipo de atendimento (cuidados paliativos), mas a gente tem feito isso com muita frequência.

A festa continuou até as 5 horas da manhã. A unidade atende diversos casos de covid e tem alas estratificadas: verde, amarela, vermelha. Pacientes aguardando transferência para UTI. Eram 73 pacientes naquele dia. Por causa da pandemia, todos estão indo para a UPA para cobrir escala e encher de médico lá.

A polícia é acionada e nada é feito. Falam que vão encaminhar para o setor responsável e a gente fica de 15 a 20 minutos esperando. No sábado, tinha uma viatura na frente da UPA, mas não sabemos onde é a festa. Fica dentro de um bolsão, dentro do bolsão da comunidade. Quando dá intervalo de uma música e outra, dá para ouvir. É um nível de distanciamento da realidade.

Antes de postar o vídeo, postei no stories no Instagram, fiz dentro da sala, preservando a identidade dos pacientes. Quando terminei de publicar, os pacientes aplaudiam.

Nunca tinha visto uma situação como essa. Estou no SUS há 11 anos, sou um grande apaixonado. Sempre trabalhei em comunidade, sempre trabalhei com os menos favorecidos. 

Aqui na UPA, a gente está vivendo uma situação que o Brasil inteiro está vivendo. A quantidade de gente que se infecta é maior do que a que tem alta, por melhorar ou por óbito. Isso me entristece, porque muita gente precisa sair para trabalhar, não sai porque quer, se tivesse a opção de não sair, ficaria em casa.

O problema são as pessoas que se aglomeram em festas clandestinas. 

É uma coisa desumana, é olhar para o risco e não estar nem aí, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente não respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social. As pessoas que precisam trabalhar e pais de família que têm de ficar na rua estão morrendo de medo. Mas tem uma classe de brasileiro que não está nem aí. Essa classe não respeita regra.

Neste domingo, 28, o desabafo de um médico que trabalha na linha de frente no combate à covid-19 correu as redes sociais. Em tom indignado, o médico emergencista Nelson Müzel, de 39 anos, que atua na área de cuidados paliativos, reclamou do desrespeito aos pacientes na porta da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 26 de agosto, em Itaquera, na zona leste, que era invadida pela música ensurdecedora vinda de uma festa clandestina nas imediações.

"A gente não consegue falar com os pacientes dentro do quarto, porque o barulho é tão grande lá dentro que a gente não consegue se ouvir nem ouvir o que o paciente está falando."

Médico emergencista Nelson Müzel reclamou da falta de respeito aos pacientes. Foto: Reprodução/ Youtube

Müzel disse que a Polícia Militar foi acionada, mas a situação não foi resolvida. E cobrou uma atitude do governador João Doria e do prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB.

"Isso é uma falta de respeito com a gente que está aqui dando o sangue para poder promover para esses pacientes qualidade de vida. Isso é insustentável, não tem a menor condição de dar qualidade para esses pacientes. A gente exige respeito, a gente exige resposta. A gente sai da nossa casa, corre o risco de estar aqui", diz, no vídeo.

Em depoimento ao Estadão, Müzel diz que o som alto já era um problema e continuou durante a pandemia. A sua revolta naquele momento surgiu ao se ver diante de uma paciente de 62 anos, que estava infectada, tendo de contar que a mãe dela, de 84, teria de receber cuidados paliativos. Naquela situação delicada, ele teve de gritar para ser compreendido e precisou se esforçar para ouvir a mulher, que estava com dificuldade para falar por causa da falta de ar.

Profissional do Sistema Único de Saúde (SUS) há 11 anos, o médico, que também é psicanalista, critica a insensibilidade de quem se aglomera em um momento tão grave da pandemia, com hospitais lotados e alastramento do vírus. "É uma coisa desumana, é olhar para o risco e não estar nem aí, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente não respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social."

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que a PM, por meio da Operação Paz e Proteção, mapeia locais onde são realizados pancadões e os policiais vão para os pontos antes que as pessoas se aglomerem.

"Em relação ao endereço citado, a PM foi acionada e, por meio de denúncia anônima, encaminhou equipes para o local. Foi realizado o policiamento no entorno a fim de proteger a vizinhança, coibir a chegada de mais participantes e evitar a prática de delitos."

A secretaria disse ainda que entre a noite de sexta-feira, 26, e a madrugada desta segunda, 29, a corporação realizou 1.052 ações de dispersão na capital.

Leia depoimento do médico Nelson Müzel:

O dia da gravação foi no último sábado, dia 27, mas isso acontece todos os finais de semana. É que estava insustentável. Foi na UPA 26 de Agosto, onde faço parte da OSS que faz a gestão de lá desde 2013.

Estava no meu limite, não aguentava mais, porque a situação era muito complicada. Estava com uma paciente de 62 anos e a mãe de 84 na mesma enfermaria, uma do lado da outra, explicando para a filha sobre os cuidados paliativos. Enquanto conversava sobre o prognóstico ruim, sobre a possibilidade de a mãe dela morrer com covid-19, sabendo que era um caso grave, ela estava com uma máscara de nebulização, não conseguia falar direito por causa da falta de ar. Com a música, não dava para escutá-la. E eu estava praticamente gritando. Fiquei transtornado com o que estava acontecendo.

Estamos vivendo uma guerra e, teoricamente, não poderia oferecer esse tipo de atendimento (cuidados paliativos), mas a gente tem feito isso com muita frequência.

A festa continuou até as 5 horas da manhã. A unidade atende diversos casos de covid e tem alas estratificadas: verde, amarela, vermelha. Pacientes aguardando transferência para UTI. Eram 73 pacientes naquele dia. Por causa da pandemia, todos estão indo para a UPA para cobrir escala e encher de médico lá.

A polícia é acionada e nada é feito. Falam que vão encaminhar para o setor responsável e a gente fica de 15 a 20 minutos esperando. No sábado, tinha uma viatura na frente da UPA, mas não sabemos onde é a festa. Fica dentro de um bolsão, dentro do bolsão da comunidade. Quando dá intervalo de uma música e outra, dá para ouvir. É um nível de distanciamento da realidade.

Antes de postar o vídeo, postei no stories no Instagram, fiz dentro da sala, preservando a identidade dos pacientes. Quando terminei de publicar, os pacientes aplaudiam.

Nunca tinha visto uma situação como essa. Estou no SUS há 11 anos, sou um grande apaixonado. Sempre trabalhei em comunidade, sempre trabalhei com os menos favorecidos. 

Aqui na UPA, a gente está vivendo uma situação que o Brasil inteiro está vivendo. A quantidade de gente que se infecta é maior do que a que tem alta, por melhorar ou por óbito. Isso me entristece, porque muita gente precisa sair para trabalhar, não sai porque quer, se tivesse a opção de não sair, ficaria em casa.

O problema são as pessoas que se aglomeram em festas clandestinas. 

É uma coisa desumana, é olhar para o risco e não estar nem aí, olhar para o nosso trabalho e fazer com que a gente enxugue gelo. Enquanto a gente não respeitar isso, a gente vai se tornar o epicentro por uma irresponsabilidade social. As pessoas que precisam trabalhar e pais de família que têm de ficar na rua estão morrendo de medo. Mas tem uma classe de brasileiro que não está nem aí. Essa classe não respeita regra.

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