Brasil quer doar 1 milhão de testes de covid quase vencidos ao Haiti


Pacote é parte dos cerca de 5 milhões de testes que ainda se encontram encalhados em um armazém federal; Itamaraty e Ministério da Saúde dizem que pedido foi feito pelo governo caribenho, mas ainda se avalia a capacidade local de processar as análises

Por Mateus Vargas

 

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BRASÍLIA - O Ministério da Saúde tenta doar parte dos cerca de 5 milhões de testes para detecção da covid encalhados em um armazém federal e que vencem a partir de abril. Num esforço de reduzir o estoque e evitar mais desgaste à imagem do general Eduardo Pazuello, chefe da pasta, o governo pretende entregar ao Haiti um 1 milhão desses exames. Outro lote foi oferecido a hospitais filantrópicos e Santas Casas, que devem recusar.

Como o Estadão revelou em novembro, o ministério guardava 7,1 milhões de exames do tipo RT-PCR, o mais indicado para diagnóstico da doença, e a maior parte (96%) teria de ir ao lixo entre dezembro e janeiro. O produto ganhou mais 4 meses de validade e 2,1 milhões de exames foram entregues até agora, mas a gestão de Pazuello continua com dificuldade para consumir o estoque.

O processo de detecção da doença exige também a disponibilidade de cotonetes swab, tubos coletores, reagentes de extração do RNA e outros insumos que nem sequer o Brasil conseguiu comprar em grande escala. Uma equipe de Pazuello está em Porto Príncipe para negociar a entrega e avaliar se o país tem condições de receber o material. 

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No estoque. O produto ganhou mais 4 meses de validade e 2,1 milhões de exames foram entregues até agora, mas há dificuldade em encontrar destinação Foto: Felipe Rau/Estadão

A negociação para a entrega dos exames ocorre no momento em que Pazuello está sob pressão e tenta evitar novos fracassos de logística. O general é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta omissão na ajuda ao Amazonas e precisou depor à Polícia Federal. Além disso, recebe críticas pela demora para comprar vacinas, pelo avanço da pandemia no País e por causa da aposta em medicamentos sem eficácia, como a cloroquina.

O Itamaraty e o Ministério da Saúde afirmam que o governo haitiano pediu a doação dos testes. Não está claro se a quantidade ofertada foi proposta pelo Brasil ou pelo país caribenho. “A área da saúde, por estar entre os temas prioritários para a reconstrução e a estabilização do Haiti, constitui um dos principais eixos da cooperação com o país, bem como é objeto de diálogo constante entre os dois países. O governo do Haiti solicitou ao Brasil doação de testes para detecção e está finalizando os trâmites administrativos correspondentes”, afirma o Itamaraty, em nota.

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Com população cerca de 19 vezes maior que a do Haiti, o Brasil patina para realizar testes no Sistema Único de Saúde (SUS). A meta do governo era fechar 2020 com mais de 24 milhões de amostras analisadas, mas cerca de 10,2 milhões de exames RT-PCR foram feitos na rede pública até agora. Mesmo os exames entregues aos Estados e municípios não foram totalmente consumidos, entre outras razões pela falta de todos os insumos de análise. 

Além disso, o produto hoje encalhado não é compatível com toda a rede de laboratórios do SUS. Esse exame é da marca coreana Seegene e foi comprado por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), por R$ 42 a unidade. A validade original era de 8 meses, mas foi estendida por mais 4 meses pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com base em estudos da fabricante.

O Brasil tem fortes laços com o Haiti e chefiou uma missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no país caribenho, entre 2004 e 2017. Nesse período, generais que apoiam e têm cargos no governo Bolsonaro comandaram as tropas internacionais, como os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e o comandante do Exército, Edson Pujol. A Saúde também participou de ações para reconstruir o sistema de vigilância sanitária, destruído pelo terremoto de 2010.

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A Embaixada do Haiti no Brasil afirma que não “está a par” das conversas. O Estadão apurou que o diálogo está sendo feito entre o governo brasileiro e o Ministério da Saúde do Haiti. Depois de duas semanas sendo questionado sobre o tema, a pasta de Pazuello respondeu que o pedido de doação foi apresentado pelo governo caribenho. Disse ainda que pediu ao país para confirmar se tem estrutura.

O governo brasileiro não doará reagentes de extração e outros insumos usados durante as análises das amostras. “Se os haitianos não tiverem como fazer essas análises ou como realizar coletas, não será possível ao Brasil dar início a alguma eventual doação”, afirma nota do ministério. Auxiliares de Pazuello, reservadamente, negam que a ideia é empurrar ao país os exames que estão prestes a vencer. 

Na nota, a pasta afirma ainda que avaliará a quantidade que pode ser doada – a reportagem apurou que se fala, hoje, em 1 milhão de exames. “É necessário recordar que, desde o terremoto, o Brasil intensificou a cooperação humanitária em diversas frentes e três hospitais em território haitiano são mantidos com auxílio brasileiro”, afirma o ministério, que observa ainda que enviou 100 ventiladores pulmonares durante a pandemia ao Haiti.

 

BRASÍLIA - O Ministério da Saúde tenta doar parte dos cerca de 5 milhões de testes para detecção da covid encalhados em um armazém federal e que vencem a partir de abril. Num esforço de reduzir o estoque e evitar mais desgaste à imagem do general Eduardo Pazuello, chefe da pasta, o governo pretende entregar ao Haiti um 1 milhão desses exames. Outro lote foi oferecido a hospitais filantrópicos e Santas Casas, que devem recusar.

Como o Estadão revelou em novembro, o ministério guardava 7,1 milhões de exames do tipo RT-PCR, o mais indicado para diagnóstico da doença, e a maior parte (96%) teria de ir ao lixo entre dezembro e janeiro. O produto ganhou mais 4 meses de validade e 2,1 milhões de exames foram entregues até agora, mas a gestão de Pazuello continua com dificuldade para consumir o estoque.

O processo de detecção da doença exige também a disponibilidade de cotonetes swab, tubos coletores, reagentes de extração do RNA e outros insumos que nem sequer o Brasil conseguiu comprar em grande escala. Uma equipe de Pazuello está em Porto Príncipe para negociar a entrega e avaliar se o país tem condições de receber o material. 

No estoque. O produto ganhou mais 4 meses de validade e 2,1 milhões de exames foram entregues até agora, mas há dificuldade em encontrar destinação Foto: Felipe Rau/Estadão

A negociação para a entrega dos exames ocorre no momento em que Pazuello está sob pressão e tenta evitar novos fracassos de logística. O general é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta omissão na ajuda ao Amazonas e precisou depor à Polícia Federal. Além disso, recebe críticas pela demora para comprar vacinas, pelo avanço da pandemia no País e por causa da aposta em medicamentos sem eficácia, como a cloroquina.

O Itamaraty e o Ministério da Saúde afirmam que o governo haitiano pediu a doação dos testes. Não está claro se a quantidade ofertada foi proposta pelo Brasil ou pelo país caribenho. “A área da saúde, por estar entre os temas prioritários para a reconstrução e a estabilização do Haiti, constitui um dos principais eixos da cooperação com o país, bem como é objeto de diálogo constante entre os dois países. O governo do Haiti solicitou ao Brasil doação de testes para detecção e está finalizando os trâmites administrativos correspondentes”, afirma o Itamaraty, em nota.

Com população cerca de 19 vezes maior que a do Haiti, o Brasil patina para realizar testes no Sistema Único de Saúde (SUS). A meta do governo era fechar 2020 com mais de 24 milhões de amostras analisadas, mas cerca de 10,2 milhões de exames RT-PCR foram feitos na rede pública até agora. Mesmo os exames entregues aos Estados e municípios não foram totalmente consumidos, entre outras razões pela falta de todos os insumos de análise. 

Além disso, o produto hoje encalhado não é compatível com toda a rede de laboratórios do SUS. Esse exame é da marca coreana Seegene e foi comprado por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), por R$ 42 a unidade. A validade original era de 8 meses, mas foi estendida por mais 4 meses pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com base em estudos da fabricante.

O Brasil tem fortes laços com o Haiti e chefiou uma missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no país caribenho, entre 2004 e 2017. Nesse período, generais que apoiam e têm cargos no governo Bolsonaro comandaram as tropas internacionais, como os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e o comandante do Exército, Edson Pujol. A Saúde também participou de ações para reconstruir o sistema de vigilância sanitária, destruído pelo terremoto de 2010.

A Embaixada do Haiti no Brasil afirma que não “está a par” das conversas. O Estadão apurou que o diálogo está sendo feito entre o governo brasileiro e o Ministério da Saúde do Haiti. Depois de duas semanas sendo questionado sobre o tema, a pasta de Pazuello respondeu que o pedido de doação foi apresentado pelo governo caribenho. Disse ainda que pediu ao país para confirmar se tem estrutura.

O governo brasileiro não doará reagentes de extração e outros insumos usados durante as análises das amostras. “Se os haitianos não tiverem como fazer essas análises ou como realizar coletas, não será possível ao Brasil dar início a alguma eventual doação”, afirma nota do ministério. Auxiliares de Pazuello, reservadamente, negam que a ideia é empurrar ao país os exames que estão prestes a vencer. 

Na nota, a pasta afirma ainda que avaliará a quantidade que pode ser doada – a reportagem apurou que se fala, hoje, em 1 milhão de exames. “É necessário recordar que, desde o terremoto, o Brasil intensificou a cooperação humanitária em diversas frentes e três hospitais em território haitiano são mantidos com auxílio brasileiro”, afirma o ministério, que observa ainda que enviou 100 ventiladores pulmonares durante a pandemia ao Haiti.

 

BRASÍLIA - O Ministério da Saúde tenta doar parte dos cerca de 5 milhões de testes para detecção da covid encalhados em um armazém federal e que vencem a partir de abril. Num esforço de reduzir o estoque e evitar mais desgaste à imagem do general Eduardo Pazuello, chefe da pasta, o governo pretende entregar ao Haiti um 1 milhão desses exames. Outro lote foi oferecido a hospitais filantrópicos e Santas Casas, que devem recusar.

Como o Estadão revelou em novembro, o ministério guardava 7,1 milhões de exames do tipo RT-PCR, o mais indicado para diagnóstico da doença, e a maior parte (96%) teria de ir ao lixo entre dezembro e janeiro. O produto ganhou mais 4 meses de validade e 2,1 milhões de exames foram entregues até agora, mas a gestão de Pazuello continua com dificuldade para consumir o estoque.

O processo de detecção da doença exige também a disponibilidade de cotonetes swab, tubos coletores, reagentes de extração do RNA e outros insumos que nem sequer o Brasil conseguiu comprar em grande escala. Uma equipe de Pazuello está em Porto Príncipe para negociar a entrega e avaliar se o país tem condições de receber o material. 

No estoque. O produto ganhou mais 4 meses de validade e 2,1 milhões de exames foram entregues até agora, mas há dificuldade em encontrar destinação Foto: Felipe Rau/Estadão

A negociação para a entrega dos exames ocorre no momento em que Pazuello está sob pressão e tenta evitar novos fracassos de logística. O general é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta omissão na ajuda ao Amazonas e precisou depor à Polícia Federal. Além disso, recebe críticas pela demora para comprar vacinas, pelo avanço da pandemia no País e por causa da aposta em medicamentos sem eficácia, como a cloroquina.

O Itamaraty e o Ministério da Saúde afirmam que o governo haitiano pediu a doação dos testes. Não está claro se a quantidade ofertada foi proposta pelo Brasil ou pelo país caribenho. “A área da saúde, por estar entre os temas prioritários para a reconstrução e a estabilização do Haiti, constitui um dos principais eixos da cooperação com o país, bem como é objeto de diálogo constante entre os dois países. O governo do Haiti solicitou ao Brasil doação de testes para detecção e está finalizando os trâmites administrativos correspondentes”, afirma o Itamaraty, em nota.

Com população cerca de 19 vezes maior que a do Haiti, o Brasil patina para realizar testes no Sistema Único de Saúde (SUS). A meta do governo era fechar 2020 com mais de 24 milhões de amostras analisadas, mas cerca de 10,2 milhões de exames RT-PCR foram feitos na rede pública até agora. Mesmo os exames entregues aos Estados e municípios não foram totalmente consumidos, entre outras razões pela falta de todos os insumos de análise. 

Além disso, o produto hoje encalhado não é compatível com toda a rede de laboratórios do SUS. Esse exame é da marca coreana Seegene e foi comprado por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), por R$ 42 a unidade. A validade original era de 8 meses, mas foi estendida por mais 4 meses pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com base em estudos da fabricante.

O Brasil tem fortes laços com o Haiti e chefiou uma missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no país caribenho, entre 2004 e 2017. Nesse período, generais que apoiam e têm cargos no governo Bolsonaro comandaram as tropas internacionais, como os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e o comandante do Exército, Edson Pujol. A Saúde também participou de ações para reconstruir o sistema de vigilância sanitária, destruído pelo terremoto de 2010.

A Embaixada do Haiti no Brasil afirma que não “está a par” das conversas. O Estadão apurou que o diálogo está sendo feito entre o governo brasileiro e o Ministério da Saúde do Haiti. Depois de duas semanas sendo questionado sobre o tema, a pasta de Pazuello respondeu que o pedido de doação foi apresentado pelo governo caribenho. Disse ainda que pediu ao país para confirmar se tem estrutura.

O governo brasileiro não doará reagentes de extração e outros insumos usados durante as análises das amostras. “Se os haitianos não tiverem como fazer essas análises ou como realizar coletas, não será possível ao Brasil dar início a alguma eventual doação”, afirma nota do ministério. Auxiliares de Pazuello, reservadamente, negam que a ideia é empurrar ao país os exames que estão prestes a vencer. 

Na nota, a pasta afirma ainda que avaliará a quantidade que pode ser doada – a reportagem apurou que se fala, hoje, em 1 milhão de exames. “É necessário recordar que, desde o terremoto, o Brasil intensificou a cooperação humanitária em diversas frentes e três hospitais em território haitiano são mantidos com auxílio brasileiro”, afirma o ministério, que observa ainda que enviou 100 ventiladores pulmonares durante a pandemia ao Haiti.

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