No dia em que completa um ano do primeiro caso da covid-19, o Brasil registrou recorde do número de mortes em 24 horas desde o início da pandemia, com 1.582 novos óbitos e mais 67.878 casos, segundo o consórcio de veículos de imprensa. O pico da crise do novo coronavírus no País ocorre no momento em que vários Estados se aproximam do colapso do sistema de saúde, surgem variantes mais contagiosas do Sars-CoV-2 e o governo Jair Bolsonaro tem dificuldades de acelerar o ritmo da campanha nacional de vacinação.
O recorde do balanço diário havia sido em 29 de julho, mas em um contexto diferente. No dia anterior, haviam sido 897 registros de óbitos, o que indica uma elevada notificação. Na ocasião, o represamento ocorreu no Estado de São Paulo, que incluiu 713 mortes em um único dia. Agora, o pico vem após uma sequência de balanços altos. Também pela primeira vez nesta quinta, seis Estados tiveram 100 ou mais registros em um só dia: São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia.
A média móvel de mortes pela doença também foi a mais alta em um ano: 1.150. O cálculo leva em consideração as oscilações dos últimos sete dias e elimina distorções entre um número alto de meio de semana e baixo de fim de semana. Já são 36 dias com média móvel acima de mil vítimas. No total são 251.661 mortes e 10.393.886 pessoas contaminadas no País, segundo o balanço mais recente do consórcio formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL junto das 27 secretarias estaduais de Saúde.
Ainda nesta quinta, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reuniu representantes de secretarias de saúde para alertar sobre uma fase mais grave da pandemia, com aumento de casos e internações por todo o País. "Na nossa visão estamos enfrentando a nova etapa dessa pandemia. Tem hoje o vírus mutado. Ele nos dá 3 vezes mais a contaminação", disse Pazuello, sem citar a fonte que detalha o cálculo do poder de contágio da nova cepa do Sars-CoV-2, identificada em Manaus.
O general sugeriu ainda ter sido pego de surpresa com a nova alta, embora infectologistas venham alertando sobre a tendência crescente, agravada pelas aglomerações das festas de fim de ano, nos últimos meses. E apesar do avanço da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro, Pazuello e lideranças políticas de Brasília têm ignorado as recomendações médicas e lotado reuniões no Planalto e Congresso, onde o uso de máscaras é raro.
O Estado de São Paulo ultrapassou a marca de 2 milhões de casos confirmados e chegou a 58.873 óbitos nesta quinta-feira. As taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 70% na Grande São Paulo e 69,7% no Estado. O número de pacientes internados é de 14.809, sendo 8.042 em enfermaria e 6.767 em unidades de terapia intensiva.
O alto número de internações tem levado governadores e prefeitos a adotarem medidas mais rígidas de isolamento social. A gestão João Doria (PSDB) anunciou uma restrição de circulação em todo o Estado, das 23 horas às 5 horas, para conter o avanço do coronavírus em São Paulo. Em Araraquara, no interior paulista, o lockdown foi prorrogado até esta sexta-feira, 26. Outros Estados - como Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul - também endureceram a quarentena na tentativa de frear o vírus.
E em meio á piora da pandemia, o total de vacinados ainda é baixo: menos de 3% da população recebeu a primeira dose. Nesta semana, com o envio de novos lotes da Coronavac e do imunizante Oxford/AstraZeneca, cidades como Rio e São Paulo puderam retomar as campanhas e anunciar a ampliação do público-alvo.
Consórcio dos veículos de imprensa
O balanço de óbitos e casos é resultado da parceria entre os seis meios de comunicação que passaram a trabalhar, desde o dia 8 de junho, de forma colaborativa para reunir as informações necessárias nos 26 Estados e no Distrito Federal. A iniciativa inédita é uma resposta à decisão do governo Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia, mas foi mantida após os registros governamentais continuarem a ser divulgados.
Conforme o balanço do Ministério da Saúde, foram registrados 65.998 novos casos e mais 1.541 mortes pela covid-19 nas últimas 24 horas. No total, segundo a pasta, são 10.390.461 infectados e 251.498 óbitos. Os números são diferentes do compilado pelo consórcio de veículos de imprensa principalmente por causa do horário de coleta dos dados.