Breves explosões de raiva já aumentam o risco cardíaco, alerta estudo; entenda os motivos


Pesquisa mostra que passar oito minutos dominado por esse sentimento traz impactos negativos nos vasos sanguíneos; especialistas se preocupam com efeito cumulativo e sugerem soluções

Por Layla Shasta

A relação entre emoções negativas e o risco aumentado de problemas cardíacos é bastante conhecida pela ciência. Agora, um novo estudo revela que a raiva pode ser o pior sentimento nesse aspecto, já mesmo breves momentos de explosão já colocariam o sistema cardiovascular em perigo, contribuindo para a ocorrência de um infarto ou derrame, por exemplo.

Publicada na quarta-feira, 1, no Journal of the American Heart Association, a pesquisa mostrou que um episódio de fúria com duração de oito minutos pode prejudicar temporariamente a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos. O resultado seria um enrijecimento dessas estruturas, o que tem relação direta com eventos cardíacos.

Alguns minutos de raiva já são capazes de favorecer o enrijecimento de vasos sanguíneos, o que pode aumentar o risco de infartos e derrames. Foto: didesign/Adobe Stock
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Para chegar a essa conclusão, os cientistas reuniram 280 jovens adultos saudáveis, sem histórico de doenças cardíacas ou outros fatores de risco. Inicialmente, todos relaxaram por 30 minutos e, na sequência, passaram por uma avaliação da pressão arterial, da frequência cardíaca e das condições das células do endotélio, uma espécie de tapete que reveste os vasos sanguíneos.

Depois, os participantes foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos, e cada um passou por uma experiência diferente: por oito minutos, um dos grupos relembrou em voz alta memórias que evocassem raiva; outro pensou em lembranças que geravam ansiedade; o terceiro leu frases tristes em voz alta, e o último grupo, que funcionou como controle, precisou contar em voz alta para permanecer emocionalmente neutro.

Depois das tarefas, a pressão arterial, a frequência cardíaca e as condições das células do endotélio foram avaliadas novamente – as medições aconteceram 3, 40, 70 e 100 minutos após o fim das atividades emocionais.

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Em comparação com o grupo emocionalmente neutro, os irritados apresentaram uma diminuição em mais da metade da capacidade de dilatação dos seus vasos sanguíneos. Esse efeito atingiu o pico 40 minutos após a tarefa de recordação da raiva e, então, a função voltou ao normal. Já os sentimentos de ansiedade e tristeza não tiveram repercussões estatisticamente significativas.

Efeito cumulativo preocupa

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O cardiologista Álvaro Avezum, diretor do centro de pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e assessor científico do tema Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), explica que, embora as informações não sejam absolutamente inéditas, o estudo é importante porque chama a atenção para os danos da raiva especificamente no revestimento das artérias, ou seja, no endotélio.

“Esse trabalho mostrou que a raiva compromete a função endotelial. Uma vez que a artéria fica comprometida, uma placa de gordura ou um coágulo podem se desenvolver dentro dela, promovendo o que nós chamamos de aterosclerose coronária, ou mesmo um evento cardíaco, como o infarto”, descreve o médico, que não participou da pesquisa.

Ainda que o efeito mostrado na pesquisa tenha sido temporário, o principal autor do estudo aponta a importância da reflexão sobre o impacto cumulativo da raiva na função dos vasos sanguíneos durante um longo período de tempo. “E se você ficar com raiva 10 mil vezes ao longo da vida? Esse insulto crônico às suas artérias pode, eventualmente, levar a danos permanentes. É isso o que achamos que está acontecendo”, comentou Daichi Shimbo, cardiologista da Universidade de Columbia, em comunicado divulgado pela Associação Americana do Coração.

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Segundo Fábio Fernandes, cardiologista e diretor da divisão de miocardiopatias do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), vasos e artérias não são estruturas fixas, mas, sim, dinâmicas, que podem sofrer alterações causadas pelo aumento de substâncias ligadas ao estresse no corpo, como cortisol e catecolaminas.

Avezum também acha que os efeitos da raiva são cumulativos e potencialmente mais perigosos para pessoas que possuem comorbidades. No entanto, o médico alerta que mesmo indivíduos aparentemente saudáveis não estão totalmente protegidos – e mesmo situações pontuais de raiva excessiva são ameaçadoras. “Existem pessoas que, mesmo sem outros fatores de risco, podem infartar ou ter um AVC em um momento de raiva extrema, devido a uma oclusão coronária”.

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Como amenizar os impactos negativos da raiva?

A atividade física, meditação e ioga são aliados na busca por mais qualidade de vida e controle das emoções. Avezum destaca ainda o papel da espiritualidade e, em alguns casos, o uso de medicamentos como mais elementos positivos. “Pode estar tudo associado. Isso é a ciência do bem viver”, completa.

Na visão de Fernandes, um passo essencial para a saúde é a tomada de consciência sobre o papel das emoções na condição cardiovascular. “Devemos tratar não só o corpo, mas também a alma”, resume.

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O cardiologista aponta a importância de buscar apoio psicológico, autoconhecimento e tentar manter o bom humor: “Esse trabalho viu como o coração reage às emoções olhando apenas para o aspecto negativo. Por outro lado, as emoções boas, como o riso e a felicidade, promovem a vasodilatação do endotélio”, reforça.

A relação entre emoções negativas e o risco aumentado de problemas cardíacos é bastante conhecida pela ciência. Agora, um novo estudo revela que a raiva pode ser o pior sentimento nesse aspecto, já mesmo breves momentos de explosão já colocariam o sistema cardiovascular em perigo, contribuindo para a ocorrência de um infarto ou derrame, por exemplo.

Publicada na quarta-feira, 1, no Journal of the American Heart Association, a pesquisa mostrou que um episódio de fúria com duração de oito minutos pode prejudicar temporariamente a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos. O resultado seria um enrijecimento dessas estruturas, o que tem relação direta com eventos cardíacos.

Alguns minutos de raiva já são capazes de favorecer o enrijecimento de vasos sanguíneos, o que pode aumentar o risco de infartos e derrames. Foto: didesign/Adobe Stock

Para chegar a essa conclusão, os cientistas reuniram 280 jovens adultos saudáveis, sem histórico de doenças cardíacas ou outros fatores de risco. Inicialmente, todos relaxaram por 30 minutos e, na sequência, passaram por uma avaliação da pressão arterial, da frequência cardíaca e das condições das células do endotélio, uma espécie de tapete que reveste os vasos sanguíneos.

Depois, os participantes foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos, e cada um passou por uma experiência diferente: por oito minutos, um dos grupos relembrou em voz alta memórias que evocassem raiva; outro pensou em lembranças que geravam ansiedade; o terceiro leu frases tristes em voz alta, e o último grupo, que funcionou como controle, precisou contar em voz alta para permanecer emocionalmente neutro.

Depois das tarefas, a pressão arterial, a frequência cardíaca e as condições das células do endotélio foram avaliadas novamente – as medições aconteceram 3, 40, 70 e 100 minutos após o fim das atividades emocionais.

Em comparação com o grupo emocionalmente neutro, os irritados apresentaram uma diminuição em mais da metade da capacidade de dilatação dos seus vasos sanguíneos. Esse efeito atingiu o pico 40 minutos após a tarefa de recordação da raiva e, então, a função voltou ao normal. Já os sentimentos de ansiedade e tristeza não tiveram repercussões estatisticamente significativas.

Efeito cumulativo preocupa

O cardiologista Álvaro Avezum, diretor do centro de pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e assessor científico do tema Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), explica que, embora as informações não sejam absolutamente inéditas, o estudo é importante porque chama a atenção para os danos da raiva especificamente no revestimento das artérias, ou seja, no endotélio.

“Esse trabalho mostrou que a raiva compromete a função endotelial. Uma vez que a artéria fica comprometida, uma placa de gordura ou um coágulo podem se desenvolver dentro dela, promovendo o que nós chamamos de aterosclerose coronária, ou mesmo um evento cardíaco, como o infarto”, descreve o médico, que não participou da pesquisa.

Ainda que o efeito mostrado na pesquisa tenha sido temporário, o principal autor do estudo aponta a importância da reflexão sobre o impacto cumulativo da raiva na função dos vasos sanguíneos durante um longo período de tempo. “E se você ficar com raiva 10 mil vezes ao longo da vida? Esse insulto crônico às suas artérias pode, eventualmente, levar a danos permanentes. É isso o que achamos que está acontecendo”, comentou Daichi Shimbo, cardiologista da Universidade de Columbia, em comunicado divulgado pela Associação Americana do Coração.

Segundo Fábio Fernandes, cardiologista e diretor da divisão de miocardiopatias do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), vasos e artérias não são estruturas fixas, mas, sim, dinâmicas, que podem sofrer alterações causadas pelo aumento de substâncias ligadas ao estresse no corpo, como cortisol e catecolaminas.

Avezum também acha que os efeitos da raiva são cumulativos e potencialmente mais perigosos para pessoas que possuem comorbidades. No entanto, o médico alerta que mesmo indivíduos aparentemente saudáveis não estão totalmente protegidos – e mesmo situações pontuais de raiva excessiva são ameaçadoras. “Existem pessoas que, mesmo sem outros fatores de risco, podem infartar ou ter um AVC em um momento de raiva extrema, devido a uma oclusão coronária”.

Como amenizar os impactos negativos da raiva?

A atividade física, meditação e ioga são aliados na busca por mais qualidade de vida e controle das emoções. Avezum destaca ainda o papel da espiritualidade e, em alguns casos, o uso de medicamentos como mais elementos positivos. “Pode estar tudo associado. Isso é a ciência do bem viver”, completa.

Na visão de Fernandes, um passo essencial para a saúde é a tomada de consciência sobre o papel das emoções na condição cardiovascular. “Devemos tratar não só o corpo, mas também a alma”, resume.

O cardiologista aponta a importância de buscar apoio psicológico, autoconhecimento e tentar manter o bom humor: “Esse trabalho viu como o coração reage às emoções olhando apenas para o aspecto negativo. Por outro lado, as emoções boas, como o riso e a felicidade, promovem a vasodilatação do endotélio”, reforça.

A relação entre emoções negativas e o risco aumentado de problemas cardíacos é bastante conhecida pela ciência. Agora, um novo estudo revela que a raiva pode ser o pior sentimento nesse aspecto, já mesmo breves momentos de explosão já colocariam o sistema cardiovascular em perigo, contribuindo para a ocorrência de um infarto ou derrame, por exemplo.

Publicada na quarta-feira, 1, no Journal of the American Heart Association, a pesquisa mostrou que um episódio de fúria com duração de oito minutos pode prejudicar temporariamente a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos. O resultado seria um enrijecimento dessas estruturas, o que tem relação direta com eventos cardíacos.

Alguns minutos de raiva já são capazes de favorecer o enrijecimento de vasos sanguíneos, o que pode aumentar o risco de infartos e derrames. Foto: didesign/Adobe Stock

Para chegar a essa conclusão, os cientistas reuniram 280 jovens adultos saudáveis, sem histórico de doenças cardíacas ou outros fatores de risco. Inicialmente, todos relaxaram por 30 minutos e, na sequência, passaram por uma avaliação da pressão arterial, da frequência cardíaca e das condições das células do endotélio, uma espécie de tapete que reveste os vasos sanguíneos.

Depois, os participantes foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos, e cada um passou por uma experiência diferente: por oito minutos, um dos grupos relembrou em voz alta memórias que evocassem raiva; outro pensou em lembranças que geravam ansiedade; o terceiro leu frases tristes em voz alta, e o último grupo, que funcionou como controle, precisou contar em voz alta para permanecer emocionalmente neutro.

Depois das tarefas, a pressão arterial, a frequência cardíaca e as condições das células do endotélio foram avaliadas novamente – as medições aconteceram 3, 40, 70 e 100 minutos após o fim das atividades emocionais.

Em comparação com o grupo emocionalmente neutro, os irritados apresentaram uma diminuição em mais da metade da capacidade de dilatação dos seus vasos sanguíneos. Esse efeito atingiu o pico 40 minutos após a tarefa de recordação da raiva e, então, a função voltou ao normal. Já os sentimentos de ansiedade e tristeza não tiveram repercussões estatisticamente significativas.

Efeito cumulativo preocupa

O cardiologista Álvaro Avezum, diretor do centro de pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e assessor científico do tema Espiritualidade e Medicina Cardiovascular da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), explica que, embora as informações não sejam absolutamente inéditas, o estudo é importante porque chama a atenção para os danos da raiva especificamente no revestimento das artérias, ou seja, no endotélio.

“Esse trabalho mostrou que a raiva compromete a função endotelial. Uma vez que a artéria fica comprometida, uma placa de gordura ou um coágulo podem se desenvolver dentro dela, promovendo o que nós chamamos de aterosclerose coronária, ou mesmo um evento cardíaco, como o infarto”, descreve o médico, que não participou da pesquisa.

Ainda que o efeito mostrado na pesquisa tenha sido temporário, o principal autor do estudo aponta a importância da reflexão sobre o impacto cumulativo da raiva na função dos vasos sanguíneos durante um longo período de tempo. “E se você ficar com raiva 10 mil vezes ao longo da vida? Esse insulto crônico às suas artérias pode, eventualmente, levar a danos permanentes. É isso o que achamos que está acontecendo”, comentou Daichi Shimbo, cardiologista da Universidade de Columbia, em comunicado divulgado pela Associação Americana do Coração.

Segundo Fábio Fernandes, cardiologista e diretor da divisão de miocardiopatias do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), vasos e artérias não são estruturas fixas, mas, sim, dinâmicas, que podem sofrer alterações causadas pelo aumento de substâncias ligadas ao estresse no corpo, como cortisol e catecolaminas.

Avezum também acha que os efeitos da raiva são cumulativos e potencialmente mais perigosos para pessoas que possuem comorbidades. No entanto, o médico alerta que mesmo indivíduos aparentemente saudáveis não estão totalmente protegidos – e mesmo situações pontuais de raiva excessiva são ameaçadoras. “Existem pessoas que, mesmo sem outros fatores de risco, podem infartar ou ter um AVC em um momento de raiva extrema, devido a uma oclusão coronária”.

Como amenizar os impactos negativos da raiva?

A atividade física, meditação e ioga são aliados na busca por mais qualidade de vida e controle das emoções. Avezum destaca ainda o papel da espiritualidade e, em alguns casos, o uso de medicamentos como mais elementos positivos. “Pode estar tudo associado. Isso é a ciência do bem viver”, completa.

Na visão de Fernandes, um passo essencial para a saúde é a tomada de consciência sobre o papel das emoções na condição cardiovascular. “Devemos tratar não só o corpo, mas também a alma”, resume.

O cardiologista aponta a importância de buscar apoio psicológico, autoconhecimento e tentar manter o bom humor: “Esse trabalho viu como o coração reage às emoções olhando apenas para o aspecto negativo. Por outro lado, as emoções boas, como o riso e a felicidade, promovem a vasodilatação do endotélio”, reforça.

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