Butantã diz que é 'impossível' evento grave em voluntário da Coronavac ter ligação com a vacina


Testes do imunizante foram interrompidos na noite de segunda-feira; governo de SP diz que informou isso à Anvisa e que não houve motivo para interrupção do estudo

Por Fabiana Cambricoli e João Ker

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, afirmou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10, que o "evento adverso grave" observado em um voluntário brasileiro da Coronavac não teve nenhuma relação com os testes do imunizante. "O evento adverso foi analisado e não teve relação com a vacina. E essa informação está de posse da Anvisa desde o dia 6", afirmou. Ele disse esperar que a agência reguladora autorize a retomada dos testes no País entre esta terça e quarta-feira.

Covas e membros do governo estadual disseram estar chocados e indignados com a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em paralisar o estudo. "Não seria mais justo, mais ético, mais compreensível marcar a reunião para discutir isso?", questionou, após dizer que foi notificado da decisão por e-mail na noite desta segunda, 9, apenas 20 minutos antes de a notícia ter sido divulgada pela imprensa, por onde ele afirma que ficou ciente da ordem.

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Segundo o governo de São Paulo, a Anvisa foi informada do evento adverso no último dia 6, já com a declaração de que ele não tinha nenhuma relação com a vacina. "Quero acreditar que a Anvisa seja técnica e independente. Desde a sua constituição, essa independência e parte técnica do órgão é fundamental. A Anvisa é a guardiã sanitária do País e tem de se preocupar, sim, com tudo o que é relacionado à saúde, e ter critérios", defendeu Covas. "Se esse episódio representa alguma mudança [na postura técnica], não creio e não quero acreditar. Vou atribuir isso a uma dificuldade de comunicação, preocupação exagerada e fatores que podem ser resolvidos rapidamente. Quero acreditar nisso."

"A Anvisa recebe um formulário padronizado por envio eletrônico e, hoje, solicitou dentre os dados, esclarecimentos adicionais e detalhes das investigações que foram feitas. Agora, foram fornecidos todos os elementos disponíveis para que ela possa concluir rapidamente o caso”, explicou o presidente do instituto, que disse não entender o critério da agência para não aceitar os dados apresentados pelo Butantã. “Nós oferecemos os elementos para que não ocorresse a suspensão do estudo. Quem tomou a decisão foi a Anvisa, ela que precisa dizer porque suspendeu. Ela está apta a tomar a decisão de retomar o estudo o quanto antes possível."

O presidente do Butantã voltou a afirmar que a Coronavac é "a vacina mais segura das que estão em estudo até o momento". O instituto disse ainda que não pode divulgar detalhes sobre o evento adverso por regras de sigilo e que cabe à Anvisa revelar isso, já que a agência teria todas as informações. Ele também garantiu que os outros voluntários brasileiros que participam dessa fase não terão nenhuma reação adversa. "Eu afianço isso." A única informação divulgada é que o voluntário era do centro de estudo do Hospital das Clínicas da USP e o evento teria ocorrido 25 dias após ele ter participado do teste.  

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"Se vocês pudessem ter acesso às informações que temos, poderiam identificar o quão injusto está sendo essa penalidade e suspensão de continuidade dos estudos da fase 3 da vacina desenvolvida pelo Butantã", frisou João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo. Covas explicou que um "evento adverso" não é o mesmo que "reação adversa", esta sim em geral relacionada à própria vacina. Ele e o secretário de Saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, exemplificaram que um evento adverso poderia ser um atropelamento. "Uma pessoa é atropelada quando sai de casa e morre - não estou dizendo que foi esse o caso - é um evento adverso. Isso é reportado, mas é um óbito pelo acidente, pela causa externa, sem nenhuma relação com a vacina."

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP

De acordo com comunicado divulgado pelo infectologista Esper Kallás, principal pesquisador do estudo, a equipe de investigadores fez análises criteriosas sobre o ocorrido e também concluiu que o evento não está relacionado à vacina em teste. "Fomentar esse descrédito gratuito a troco de quê?", questionou o presidente do Butantã sobre a interrupção dos testes. "Mesmo com posse desses dados, a Anvisa nos avisou às 20h40, marcando uma reunião para hoje de manhã e avisando sobre a suspensão do estudo. É uma decisão que causa medo e incerteza."

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"Nesse estudo clínico tivemos reações adversas, eu mesmo as apresentei, foram leves. Não tivemos nenhuma reação grave. Não tivemos e continuamos a não ter. E podemos ter eventos adversos na população do estudo. É um acontecimento, mas que não tem relação direta com a vacina. São mais de 10 mil pessoas em acompanhamento e podemos ter os eventos mais diversos possíveis", afirmou.

"É impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina", frisou Covas. "O efeito de determinado medicamento no organismo tem um tempo até que ele possa agir. A partir de um determinado período, ele não tem mais efeito. O intervalo entre a tomada da suposta vacina, que pode ser placebo, e o evento foi maior do que três semanas", reforçou Gabbardo.

Após a medida da Anvisa, a Coronavac não pode mais ser aplicada em nenhum dos voluntários. A vacina, entretanto, continua sendo testada em outros países. Na Indonésia, a farmacêutica estatal Bio Farm afirmou que o imunizante seguirá na fase clínica de testes, que envolvem 1,6 mil pessoas na província de West Java.

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Em comunicado divulgado nesta terça, a Sinovac diz que entrou em contato com o Butantã após descobrir sobre a suspensão dos testes pela imprensa. "O diretor do Instituto nos disse que acredita que esse evento adverso grave não tem relação com a vacina. A Sinovac vai continuar falando com o Brasil sobre o assunto. O estudo clínico no Brasil é feito de acordo com o padrão internacional de Boas Práticas Clínicas (GCP, na sigla em inglês) e estamos confiantes na segurança da vacina", afirmou.

Bolsonaro ironiza Doria ao responder questionamento de seguidor no Facebook Foto: Facebook

A paralisação da Coronavac no Brasil foi celebrada por Jair Bolsonaro por meio de um comentário publicado em seu perfil oficial nas redes sociais. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou. Ainda não foi confirmado se o voluntário teria recebido placebo ou o imunizante. 

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Desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantã, a Coronavac já foi aplicada em mais de 10 mil voluntários pelo País. Sua suspensão foi anunciada no mesmo dia que o governador João Doria afirmou que o primeiro lote dos imunizantes chegaria a São Paulo no próximo dia 20. 

Em dados divulgados no mês passado, o Butantã afirmou que a incidência de eventos adversos entre os voluntários foi de 35% ante pelo menos 70% nas outras vacinas testadas. A comparação foi feita com dados das pesquisas de outros quatro imunizantes em estudos: Moderna, Pfizer/BioNTech, Oxford/AstraZeneca e CanSino.

A coronavac é a vacina desenvolvida pela China e que terá produção pelo Instituto Butantan em São Paulo Foto: Gabriela Biló/Estadão
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De acordo com especialistas, o registro de eventos adversos é comum nesta etapa de pesquisas de imunizantes, mas sempre precisam ser investigados para se determinar a origem do problema. A pesquisa da vacina da Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, também teve os testes interrompidos pelo menos duas vezes por causa de efeitos adversos graves, mas os estudos foram retomados após análises de comitê independente de cientistas.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, afirmou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10, que o "evento adverso grave" observado em um voluntário brasileiro da Coronavac não teve nenhuma relação com os testes do imunizante. "O evento adverso foi analisado e não teve relação com a vacina. E essa informação está de posse da Anvisa desde o dia 6", afirmou. Ele disse esperar que a agência reguladora autorize a retomada dos testes no País entre esta terça e quarta-feira.

Covas e membros do governo estadual disseram estar chocados e indignados com a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em paralisar o estudo. "Não seria mais justo, mais ético, mais compreensível marcar a reunião para discutir isso?", questionou, após dizer que foi notificado da decisão por e-mail na noite desta segunda, 9, apenas 20 minutos antes de a notícia ter sido divulgada pela imprensa, por onde ele afirma que ficou ciente da ordem.

Segundo o governo de São Paulo, a Anvisa foi informada do evento adverso no último dia 6, já com a declaração de que ele não tinha nenhuma relação com a vacina. "Quero acreditar que a Anvisa seja técnica e independente. Desde a sua constituição, essa independência e parte técnica do órgão é fundamental. A Anvisa é a guardiã sanitária do País e tem de se preocupar, sim, com tudo o que é relacionado à saúde, e ter critérios", defendeu Covas. "Se esse episódio representa alguma mudança [na postura técnica], não creio e não quero acreditar. Vou atribuir isso a uma dificuldade de comunicação, preocupação exagerada e fatores que podem ser resolvidos rapidamente. Quero acreditar nisso."

"A Anvisa recebe um formulário padronizado por envio eletrônico e, hoje, solicitou dentre os dados, esclarecimentos adicionais e detalhes das investigações que foram feitas. Agora, foram fornecidos todos os elementos disponíveis para que ela possa concluir rapidamente o caso”, explicou o presidente do instituto, que disse não entender o critério da agência para não aceitar os dados apresentados pelo Butantã. “Nós oferecemos os elementos para que não ocorresse a suspensão do estudo. Quem tomou a decisão foi a Anvisa, ela que precisa dizer porque suspendeu. Ela está apta a tomar a decisão de retomar o estudo o quanto antes possível."

O presidente do Butantã voltou a afirmar que a Coronavac é "a vacina mais segura das que estão em estudo até o momento". O instituto disse ainda que não pode divulgar detalhes sobre o evento adverso por regras de sigilo e que cabe à Anvisa revelar isso, já que a agência teria todas as informações. Ele também garantiu que os outros voluntários brasileiros que participam dessa fase não terão nenhuma reação adversa. "Eu afianço isso." A única informação divulgada é que o voluntário era do centro de estudo do Hospital das Clínicas da USP e o evento teria ocorrido 25 dias após ele ter participado do teste.  

"Se vocês pudessem ter acesso às informações que temos, poderiam identificar o quão injusto está sendo essa penalidade e suspensão de continuidade dos estudos da fase 3 da vacina desenvolvida pelo Butantã", frisou João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo. Covas explicou que um "evento adverso" não é o mesmo que "reação adversa", esta sim em geral relacionada à própria vacina. Ele e o secretário de Saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, exemplificaram que um evento adverso poderia ser um atropelamento. "Uma pessoa é atropelada quando sai de casa e morre - não estou dizendo que foi esse o caso - é um evento adverso. Isso é reportado, mas é um óbito pelo acidente, pela causa externa, sem nenhuma relação com a vacina."

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP

De acordo com comunicado divulgado pelo infectologista Esper Kallás, principal pesquisador do estudo, a equipe de investigadores fez análises criteriosas sobre o ocorrido e também concluiu que o evento não está relacionado à vacina em teste. "Fomentar esse descrédito gratuito a troco de quê?", questionou o presidente do Butantã sobre a interrupção dos testes. "Mesmo com posse desses dados, a Anvisa nos avisou às 20h40, marcando uma reunião para hoje de manhã e avisando sobre a suspensão do estudo. É uma decisão que causa medo e incerteza."

"Nesse estudo clínico tivemos reações adversas, eu mesmo as apresentei, foram leves. Não tivemos nenhuma reação grave. Não tivemos e continuamos a não ter. E podemos ter eventos adversos na população do estudo. É um acontecimento, mas que não tem relação direta com a vacina. São mais de 10 mil pessoas em acompanhamento e podemos ter os eventos mais diversos possíveis", afirmou.

"É impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina", frisou Covas. "O efeito de determinado medicamento no organismo tem um tempo até que ele possa agir. A partir de um determinado período, ele não tem mais efeito. O intervalo entre a tomada da suposta vacina, que pode ser placebo, e o evento foi maior do que três semanas", reforçou Gabbardo.

Após a medida da Anvisa, a Coronavac não pode mais ser aplicada em nenhum dos voluntários. A vacina, entretanto, continua sendo testada em outros países. Na Indonésia, a farmacêutica estatal Bio Farm afirmou que o imunizante seguirá na fase clínica de testes, que envolvem 1,6 mil pessoas na província de West Java.

Em comunicado divulgado nesta terça, a Sinovac diz que entrou em contato com o Butantã após descobrir sobre a suspensão dos testes pela imprensa. "O diretor do Instituto nos disse que acredita que esse evento adverso grave não tem relação com a vacina. A Sinovac vai continuar falando com o Brasil sobre o assunto. O estudo clínico no Brasil é feito de acordo com o padrão internacional de Boas Práticas Clínicas (GCP, na sigla em inglês) e estamos confiantes na segurança da vacina", afirmou.

Bolsonaro ironiza Doria ao responder questionamento de seguidor no Facebook Foto: Facebook

A paralisação da Coronavac no Brasil foi celebrada por Jair Bolsonaro por meio de um comentário publicado em seu perfil oficial nas redes sociais. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou. Ainda não foi confirmado se o voluntário teria recebido placebo ou o imunizante. 

Desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantã, a Coronavac já foi aplicada em mais de 10 mil voluntários pelo País. Sua suspensão foi anunciada no mesmo dia que o governador João Doria afirmou que o primeiro lote dos imunizantes chegaria a São Paulo no próximo dia 20. 

Em dados divulgados no mês passado, o Butantã afirmou que a incidência de eventos adversos entre os voluntários foi de 35% ante pelo menos 70% nas outras vacinas testadas. A comparação foi feita com dados das pesquisas de outros quatro imunizantes em estudos: Moderna, Pfizer/BioNTech, Oxford/AstraZeneca e CanSino.

A coronavac é a vacina desenvolvida pela China e que terá produção pelo Instituto Butantan em São Paulo Foto: Gabriela Biló/Estadão

De acordo com especialistas, o registro de eventos adversos é comum nesta etapa de pesquisas de imunizantes, mas sempre precisam ser investigados para se determinar a origem do problema. A pesquisa da vacina da Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, também teve os testes interrompidos pelo menos duas vezes por causa de efeitos adversos graves, mas os estudos foram retomados após análises de comitê independente de cientistas.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, afirmou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10, que o "evento adverso grave" observado em um voluntário brasileiro da Coronavac não teve nenhuma relação com os testes do imunizante. "O evento adverso foi analisado e não teve relação com a vacina. E essa informação está de posse da Anvisa desde o dia 6", afirmou. Ele disse esperar que a agência reguladora autorize a retomada dos testes no País entre esta terça e quarta-feira.

Covas e membros do governo estadual disseram estar chocados e indignados com a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em paralisar o estudo. "Não seria mais justo, mais ético, mais compreensível marcar a reunião para discutir isso?", questionou, após dizer que foi notificado da decisão por e-mail na noite desta segunda, 9, apenas 20 minutos antes de a notícia ter sido divulgada pela imprensa, por onde ele afirma que ficou ciente da ordem.

Segundo o governo de São Paulo, a Anvisa foi informada do evento adverso no último dia 6, já com a declaração de que ele não tinha nenhuma relação com a vacina. "Quero acreditar que a Anvisa seja técnica e independente. Desde a sua constituição, essa independência e parte técnica do órgão é fundamental. A Anvisa é a guardiã sanitária do País e tem de se preocupar, sim, com tudo o que é relacionado à saúde, e ter critérios", defendeu Covas. "Se esse episódio representa alguma mudança [na postura técnica], não creio e não quero acreditar. Vou atribuir isso a uma dificuldade de comunicação, preocupação exagerada e fatores que podem ser resolvidos rapidamente. Quero acreditar nisso."

"A Anvisa recebe um formulário padronizado por envio eletrônico e, hoje, solicitou dentre os dados, esclarecimentos adicionais e detalhes das investigações que foram feitas. Agora, foram fornecidos todos os elementos disponíveis para que ela possa concluir rapidamente o caso”, explicou o presidente do instituto, que disse não entender o critério da agência para não aceitar os dados apresentados pelo Butantã. “Nós oferecemos os elementos para que não ocorresse a suspensão do estudo. Quem tomou a decisão foi a Anvisa, ela que precisa dizer porque suspendeu. Ela está apta a tomar a decisão de retomar o estudo o quanto antes possível."

O presidente do Butantã voltou a afirmar que a Coronavac é "a vacina mais segura das que estão em estudo até o momento". O instituto disse ainda que não pode divulgar detalhes sobre o evento adverso por regras de sigilo e que cabe à Anvisa revelar isso, já que a agência teria todas as informações. Ele também garantiu que os outros voluntários brasileiros que participam dessa fase não terão nenhuma reação adversa. "Eu afianço isso." A única informação divulgada é que o voluntário era do centro de estudo do Hospital das Clínicas da USP e o evento teria ocorrido 25 dias após ele ter participado do teste.  

"Se vocês pudessem ter acesso às informações que temos, poderiam identificar o quão injusto está sendo essa penalidade e suspensão de continuidade dos estudos da fase 3 da vacina desenvolvida pelo Butantã", frisou João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo. Covas explicou que um "evento adverso" não é o mesmo que "reação adversa", esta sim em geral relacionada à própria vacina. Ele e o secretário de Saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, exemplificaram que um evento adverso poderia ser um atropelamento. "Uma pessoa é atropelada quando sai de casa e morre - não estou dizendo que foi esse o caso - é um evento adverso. Isso é reportado, mas é um óbito pelo acidente, pela causa externa, sem nenhuma relação com a vacina."

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP

De acordo com comunicado divulgado pelo infectologista Esper Kallás, principal pesquisador do estudo, a equipe de investigadores fez análises criteriosas sobre o ocorrido e também concluiu que o evento não está relacionado à vacina em teste. "Fomentar esse descrédito gratuito a troco de quê?", questionou o presidente do Butantã sobre a interrupção dos testes. "Mesmo com posse desses dados, a Anvisa nos avisou às 20h40, marcando uma reunião para hoje de manhã e avisando sobre a suspensão do estudo. É uma decisão que causa medo e incerteza."

"Nesse estudo clínico tivemos reações adversas, eu mesmo as apresentei, foram leves. Não tivemos nenhuma reação grave. Não tivemos e continuamos a não ter. E podemos ter eventos adversos na população do estudo. É um acontecimento, mas que não tem relação direta com a vacina. São mais de 10 mil pessoas em acompanhamento e podemos ter os eventos mais diversos possíveis", afirmou.

"É impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina", frisou Covas. "O efeito de determinado medicamento no organismo tem um tempo até que ele possa agir. A partir de um determinado período, ele não tem mais efeito. O intervalo entre a tomada da suposta vacina, que pode ser placebo, e o evento foi maior do que três semanas", reforçou Gabbardo.

Após a medida da Anvisa, a Coronavac não pode mais ser aplicada em nenhum dos voluntários. A vacina, entretanto, continua sendo testada em outros países. Na Indonésia, a farmacêutica estatal Bio Farm afirmou que o imunizante seguirá na fase clínica de testes, que envolvem 1,6 mil pessoas na província de West Java.

Em comunicado divulgado nesta terça, a Sinovac diz que entrou em contato com o Butantã após descobrir sobre a suspensão dos testes pela imprensa. "O diretor do Instituto nos disse que acredita que esse evento adverso grave não tem relação com a vacina. A Sinovac vai continuar falando com o Brasil sobre o assunto. O estudo clínico no Brasil é feito de acordo com o padrão internacional de Boas Práticas Clínicas (GCP, na sigla em inglês) e estamos confiantes na segurança da vacina", afirmou.

Bolsonaro ironiza Doria ao responder questionamento de seguidor no Facebook Foto: Facebook

A paralisação da Coronavac no Brasil foi celebrada por Jair Bolsonaro por meio de um comentário publicado em seu perfil oficial nas redes sociais. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou. Ainda não foi confirmado se o voluntário teria recebido placebo ou o imunizante. 

Desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantã, a Coronavac já foi aplicada em mais de 10 mil voluntários pelo País. Sua suspensão foi anunciada no mesmo dia que o governador João Doria afirmou que o primeiro lote dos imunizantes chegaria a São Paulo no próximo dia 20. 

Em dados divulgados no mês passado, o Butantã afirmou que a incidência de eventos adversos entre os voluntários foi de 35% ante pelo menos 70% nas outras vacinas testadas. A comparação foi feita com dados das pesquisas de outros quatro imunizantes em estudos: Moderna, Pfizer/BioNTech, Oxford/AstraZeneca e CanSino.

A coronavac é a vacina desenvolvida pela China e que terá produção pelo Instituto Butantan em São Paulo Foto: Gabriela Biló/Estadão

De acordo com especialistas, o registro de eventos adversos é comum nesta etapa de pesquisas de imunizantes, mas sempre precisam ser investigados para se determinar a origem do problema. A pesquisa da vacina da Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, também teve os testes interrompidos pelo menos duas vezes por causa de efeitos adversos graves, mas os estudos foram retomados após análises de comitê independente de cientistas.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, afirmou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10, que o "evento adverso grave" observado em um voluntário brasileiro da Coronavac não teve nenhuma relação com os testes do imunizante. "O evento adverso foi analisado e não teve relação com a vacina. E essa informação está de posse da Anvisa desde o dia 6", afirmou. Ele disse esperar que a agência reguladora autorize a retomada dos testes no País entre esta terça e quarta-feira.

Covas e membros do governo estadual disseram estar chocados e indignados com a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em paralisar o estudo. "Não seria mais justo, mais ético, mais compreensível marcar a reunião para discutir isso?", questionou, após dizer que foi notificado da decisão por e-mail na noite desta segunda, 9, apenas 20 minutos antes de a notícia ter sido divulgada pela imprensa, por onde ele afirma que ficou ciente da ordem.

Segundo o governo de São Paulo, a Anvisa foi informada do evento adverso no último dia 6, já com a declaração de que ele não tinha nenhuma relação com a vacina. "Quero acreditar que a Anvisa seja técnica e independente. Desde a sua constituição, essa independência e parte técnica do órgão é fundamental. A Anvisa é a guardiã sanitária do País e tem de se preocupar, sim, com tudo o que é relacionado à saúde, e ter critérios", defendeu Covas. "Se esse episódio representa alguma mudança [na postura técnica], não creio e não quero acreditar. Vou atribuir isso a uma dificuldade de comunicação, preocupação exagerada e fatores que podem ser resolvidos rapidamente. Quero acreditar nisso."

"A Anvisa recebe um formulário padronizado por envio eletrônico e, hoje, solicitou dentre os dados, esclarecimentos adicionais e detalhes das investigações que foram feitas. Agora, foram fornecidos todos os elementos disponíveis para que ela possa concluir rapidamente o caso”, explicou o presidente do instituto, que disse não entender o critério da agência para não aceitar os dados apresentados pelo Butantã. “Nós oferecemos os elementos para que não ocorresse a suspensão do estudo. Quem tomou a decisão foi a Anvisa, ela que precisa dizer porque suspendeu. Ela está apta a tomar a decisão de retomar o estudo o quanto antes possível."

O presidente do Butantã voltou a afirmar que a Coronavac é "a vacina mais segura das que estão em estudo até o momento". O instituto disse ainda que não pode divulgar detalhes sobre o evento adverso por regras de sigilo e que cabe à Anvisa revelar isso, já que a agência teria todas as informações. Ele também garantiu que os outros voluntários brasileiros que participam dessa fase não terão nenhuma reação adversa. "Eu afianço isso." A única informação divulgada é que o voluntário era do centro de estudo do Hospital das Clínicas da USP e o evento teria ocorrido 25 dias após ele ter participado do teste.  

"Se vocês pudessem ter acesso às informações que temos, poderiam identificar o quão injusto está sendo essa penalidade e suspensão de continuidade dos estudos da fase 3 da vacina desenvolvida pelo Butantã", frisou João Gabbardo, coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo. Covas explicou que um "evento adverso" não é o mesmo que "reação adversa", esta sim em geral relacionada à própria vacina. Ele e o secretário de Saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, exemplificaram que um evento adverso poderia ser um atropelamento. "Uma pessoa é atropelada quando sai de casa e morre - não estou dizendo que foi esse o caso - é um evento adverso. Isso é reportado, mas é um óbito pelo acidente, pela causa externa, sem nenhuma relação com a vacina."

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP

De acordo com comunicado divulgado pelo infectologista Esper Kallás, principal pesquisador do estudo, a equipe de investigadores fez análises criteriosas sobre o ocorrido e também concluiu que o evento não está relacionado à vacina em teste. "Fomentar esse descrédito gratuito a troco de quê?", questionou o presidente do Butantã sobre a interrupção dos testes. "Mesmo com posse desses dados, a Anvisa nos avisou às 20h40, marcando uma reunião para hoje de manhã e avisando sobre a suspensão do estudo. É uma decisão que causa medo e incerteza."

"Nesse estudo clínico tivemos reações adversas, eu mesmo as apresentei, foram leves. Não tivemos nenhuma reação grave. Não tivemos e continuamos a não ter. E podemos ter eventos adversos na população do estudo. É um acontecimento, mas que não tem relação direta com a vacina. São mais de 10 mil pessoas em acompanhamento e podemos ter os eventos mais diversos possíveis", afirmou.

"É impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina", frisou Covas. "O efeito de determinado medicamento no organismo tem um tempo até que ele possa agir. A partir de um determinado período, ele não tem mais efeito. O intervalo entre a tomada da suposta vacina, que pode ser placebo, e o evento foi maior do que três semanas", reforçou Gabbardo.

Após a medida da Anvisa, a Coronavac não pode mais ser aplicada em nenhum dos voluntários. A vacina, entretanto, continua sendo testada em outros países. Na Indonésia, a farmacêutica estatal Bio Farm afirmou que o imunizante seguirá na fase clínica de testes, que envolvem 1,6 mil pessoas na província de West Java.

Em comunicado divulgado nesta terça, a Sinovac diz que entrou em contato com o Butantã após descobrir sobre a suspensão dos testes pela imprensa. "O diretor do Instituto nos disse que acredita que esse evento adverso grave não tem relação com a vacina. A Sinovac vai continuar falando com o Brasil sobre o assunto. O estudo clínico no Brasil é feito de acordo com o padrão internacional de Boas Práticas Clínicas (GCP, na sigla em inglês) e estamos confiantes na segurança da vacina", afirmou.

Bolsonaro ironiza Doria ao responder questionamento de seguidor no Facebook Foto: Facebook

A paralisação da Coronavac no Brasil foi celebrada por Jair Bolsonaro por meio de um comentário publicado em seu perfil oficial nas redes sociais. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou. Ainda não foi confirmado se o voluntário teria recebido placebo ou o imunizante. 

Desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantã, a Coronavac já foi aplicada em mais de 10 mil voluntários pelo País. Sua suspensão foi anunciada no mesmo dia que o governador João Doria afirmou que o primeiro lote dos imunizantes chegaria a São Paulo no próximo dia 20. 

Em dados divulgados no mês passado, o Butantã afirmou que a incidência de eventos adversos entre os voluntários foi de 35% ante pelo menos 70% nas outras vacinas testadas. A comparação foi feita com dados das pesquisas de outros quatro imunizantes em estudos: Moderna, Pfizer/BioNTech, Oxford/AstraZeneca e CanSino.

A coronavac é a vacina desenvolvida pela China e que terá produção pelo Instituto Butantan em São Paulo Foto: Gabriela Biló/Estadão

De acordo com especialistas, o registro de eventos adversos é comum nesta etapa de pesquisas de imunizantes, mas sempre precisam ser investigados para se determinar a origem do problema. A pesquisa da vacina da Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, também teve os testes interrompidos pelo menos duas vezes por causa de efeitos adversos graves, mas os estudos foram retomados após análises de comitê independente de cientistas.

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