Camomila, hortelã, verde, erva-doce... conheça os benefícios de 8 tipos de chás


Além de aquecerem no inverno, infusões podem acalmar, melhorar a digestão e até contribuir para a saúde cardiovascular

Por Regina Célia Pereira
Atualização:

Não bastasse dar aquela esquentada, muito oportuna no inverno, certas bebidas feitas de plantas, como os chás, reúnem compostos benéficos, atestados pela ciência.

“A Camellia sinensis, dos chás verde, preto e branco, é a mais analisada”, diz a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT). Só nos últimos dez anos, somam-se mais de 3,5 mil artigos sobre a planta, catalogados no Pubmed – biblioteca eletrônica de trabalhos científicos, mantida pelo governo americano.

“Ervas populares como camomila, erva-doce, hortelã, entre outras, também têm seus princípios ativos esmiuçados nos laboratórios de pesquisa”, comenta o farmacêutico João Ernesto de Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entretanto, segundo o professor, ainda faltam ensaios clínicos, ou seja, não existe grande volume de estudos com seres humanos.

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Muito do que se comprova hoje, inclusive, já se conhecia há milhares de anos. “O costume de usar as folhas de chá para dar um bom sabor à água fervida surgiu na China, por volta de 2700 a.C.”, conta Raúl Cotes, tea master (expert em chá), da Tea Shop.

Aliás, cabe salientar que certas designações fazem diferença no mundo dos bules e xícaras – e nem tudo é chá. “O verdadeiro chá é feito a partir da Camellia sinensis”, afirma a gastrônoma Vera Rustomgy, professora de Tecnologia em Gastronomia do Senac EAD. Bebidas preparadas com outras espécies, como cidreira e boldo, são chamadas simplesmente de infusão.

Chás têm diferentes atributos terapêuticos e ajudam a aquecer no inverno Foto: DN6/Adobe Stock
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Confusões linguísticas à parte, alguns cuidados são necessários na escolha das ervas, como adquirir a planta em estabelecimentos conhecidos e, nas lojas com venda a granel, tentar sentir o cheiro e avaliar a aparência, observando possíveis sinais de mofo.

“Vale verificar se o produto tem algum tipo de identificação de qualidade, se traz o nome científico da planta e do farmacêutico ou agrônomo responsável, e atentar para a data de validade”, ensina Marchiori.

Alguns macetes no preparo garantem aromas, sabores e, claro, os atributos terapêuticos. “Como as espécies contêm muitos compostos voláteis, é fundamental tampar as preparações por alguns minutos para evitar que escapem”, explica Carvalho. A tendência é que tais substâncias sejam incorporadas ao líquido.

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“Para uma experiência de apreciação completa, a sugestão é não adicionar açúcar ou qualquer outro tipo de adoçante às bebidas”, acrescenta Rustomgy.

Confira a seguir os benefícios e dicas de como preparar oito tipos de chás que estão entre os mais populares nos quatro cantos do planeta:

Boldo – Peumus boldus

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“Esse não dá para beber todo dia”, brinca o professor João Ernesto. Amargo que só, pouca gente aprecia seu sabor, mas o boldo coleciona atributos e tem reconhecidas suas propriedades em prol da digestão.

Aqui vamos falar do chamado boldo-do-chile ou boldo-verdadeiro, que acumula evidências sobre seu papel hepatoprotetor, ou seja, como aliado do fígado. “A principal substância envolvida é a boldina”, diz Marchiori.

A sugestão da nutricionista é preparar uma infusão com a planta. “Ferva meio litro de água, desligue o fogo, acrescente uma colher (sopa) da folha picada e deixe descansando por 15 minutos”, ensina.

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Vale destacar que exageros no consumo do boldo são contraindicados. Os excessos podem desencadear danos a células do fígado conhecidas como hepatócitos.

Camomila - Matricaria chamomilla

Substâncias como alfa-bisabolol, apigenina e patuletina estão por trás da coloração amarela, do perfume e dos benefícios dessa planta, que aparece em trabalhos científicos por seu efeito calmante. Há também evidências de que seria uma aliada contra a tensão pré-menstrual (TPM).

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“Os compostos têm ação anti-inflamatória e antioxidante, atuando inclusive no trato digestório”, comenta Marchiori.

Novamente, uma dose de cautela com a quantidade é bem-vinda, já que o exagero no consumo favorece náuseas. A bebida também não é indicada para quem faz uso de anticoagulantes.

Para o preparo, a sugestão é ferver meio litro de água, desligar o fogo, adicionar uma colher (sopa) das florzinhas, tampar e deixar “descansando” por cerca de dez minutos.

Chá verde - Camellia sinensis

Considerados pelos especialistas os verdadeiros chás, o verde, o preto, o branco e o oolong são elaborados a partir da planta asiática Camellia sinensis. Fatores como o tempo de colheita e processos de produção determinam as variações de cores e sabores das bebidas.

A erva é rica em epigalocatequina galato ou EGCG, um potente antioxidante, e oferta ainda cafeína, dupla que desponta em estudos por proteger regiões cerebrais associadas com a memorização e o aprendizado

“Destaca-se também a L-teanina, substância que atua contra o estresse”, comenta Vanderlí. Existem indícios de que favoreça a produção de serotonina, uma promotora de sensações de bem-estar.

Fornece uma mistura de polifenois com comprovada ação anti-inflamatória, antiobesidade e de proteção cardiovascular.

“Na hora do preparo, jamais ferva a planta”, ensina a professora Vera, que recomenda deixar em infusão entre dois e cinco minutos.

Erva-cidreira – Melissa officinalis

Também conhecida como melissa, não deve ser confundida com o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), embora ambas reúnam compostos cítricos de aroma marcante e tenham comprovada ação calmante.

Seus feitos são cultuados na Europa, sua terra natal, por estudiosos gregos, desde o primeiro século. “Age no sistema nervoso central, atenuando o nervosismo”, diz Vanderlí. Também funciona como auxiliar na indução do sono. Além dos benefícios ao humor, tem função analgésica e digestiva.

Os principais componentes por trás disso tudo são citronelal, linalol, geraniale eácido rosmarínico. E o modo de preparo segue o padrão: aquecer meio litro de água, desligar o fogo, acrescentar uma colher (sopa) da planta, abafar por dez minutos.

Vanderlí também gosta do método conhecido como deccoção, que consiste em ferver a erva picada por alguns minutos, coar, tampar e beber.

Erva-doce – Pimpinella anisum

“Tem atuação semelhante aos medicamentos usados no combate aos gases intestinais”, diz o professor João Ernesto. Ajuda a combater contrações no estômago e intestino, evitando as temidas cólicas. Geralmente são utilizadas as sementes para o preparo da bebida. Um dos princípios ativos responsáveis é o anetol, que também confere aquele perfume intenso e o sabor adocicado. A espécie, da mesma família da cenoura e do aipo, é originária do sul da Ásia e usada desde a antiguidade.

Para a infusão, vale a mesma receita: meio litro de água fervente para uma colher (sopa) das sementes e deixar descansando por 10 minutos. Vanderlí lança mão de outro modo de preparo: “Ferva a mesma quantidade durante cinco minutos, espere amornar e beba em seguida”, sugere.

Erva-mate – Ilex paraguariensis

A planta é nativa da América do Sul e há relatos de que nossos indígenas guaranis teriam sido os primeiros a aproveitar seus benefícios.

Ácido caféico e clorogênico, kaempferol e quercetina são algumas substâncias oriundas da espécie, que concentra ainda a cafeína. A ciência reconhece seus atributos estimulantes e há evidências de que auxilia na redução das taxas de colesterol na circulação sanguínea. Especialistas pedem atenção para interações com sedativos anticonvulsivantes e anti-hipertensivos.

A infusão, apreciada nas xícaras, costuma ser feita com a erva torrada, escura e que tende a ser menos amarga. Já no chimarrão, a planta permanece verde, sem tostar. “Para o preparo, além de água quente, são essenciais a cuia e a bomba, utensílios característicos desse consumo comum ao sul do País”, diz a professora Vera. Na Região Centro-Oeste, é o tereré, bebida gelada, que faz sucesso.

Hortelã – Mentha piperita

O perfume marcante é resultado de um mix de compostos, com destaque para o mentol. Grande parte dos trabalhos sobre essa erva envolve a saúde do intestino. “Age com anti-inflamatória, reduz a formação de gases, melhora o trânsito intestinal”, lista Vanderlí que acrescenta ainda uma atuação na microbiota, favorecendo o equilíbrio de bactérias e outros micro-organismos que habitam a região do cólon.

Há indícios de que provoque o relaxamento em certas musculaturas do trato digestivo, por isso é contraindicada para quem sofre de refluxo gastroesofágico.

Existem versões em saquinhos, mas preparar uma bebida com a erva fresca é uma delícia. Que tal cultivar no jardim ou até mesmo em um vaso na varanda de casa?

Rooibos - Aspalathus linearis

“Trata-se de uma planta da família das leguminosas, de origem sul-africana”, diz Raúl Cotes. Embora seja parecido com o chá vermelho, feito da Camellia sinenses, o rooibos não contém cafeína em sua composição, por isso pode ser consumido em qualquer horário do dia.

Ele oferece um mix de flavonoides, com atuação antioxidante e protetora das células. Possui ainda sais minerais como potássio e magnésio, e estudos mostram que a bebida preparada com a espécie contribui para o equilíbrio dos níveis de glicose na circulação sanguínea. Por essas características, tem feito sucesso entre praticantes de atividade física.

Não bastasse dar aquela esquentada, muito oportuna no inverno, certas bebidas feitas de plantas, como os chás, reúnem compostos benéficos, atestados pela ciência.

“A Camellia sinensis, dos chás verde, preto e branco, é a mais analisada”, diz a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT). Só nos últimos dez anos, somam-se mais de 3,5 mil artigos sobre a planta, catalogados no Pubmed – biblioteca eletrônica de trabalhos científicos, mantida pelo governo americano.

“Ervas populares como camomila, erva-doce, hortelã, entre outras, também têm seus princípios ativos esmiuçados nos laboratórios de pesquisa”, comenta o farmacêutico João Ernesto de Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entretanto, segundo o professor, ainda faltam ensaios clínicos, ou seja, não existe grande volume de estudos com seres humanos.

Muito do que se comprova hoje, inclusive, já se conhecia há milhares de anos. “O costume de usar as folhas de chá para dar um bom sabor à água fervida surgiu na China, por volta de 2700 a.C.”, conta Raúl Cotes, tea master (expert em chá), da Tea Shop.

Aliás, cabe salientar que certas designações fazem diferença no mundo dos bules e xícaras – e nem tudo é chá. “O verdadeiro chá é feito a partir da Camellia sinensis”, afirma a gastrônoma Vera Rustomgy, professora de Tecnologia em Gastronomia do Senac EAD. Bebidas preparadas com outras espécies, como cidreira e boldo, são chamadas simplesmente de infusão.

Chás têm diferentes atributos terapêuticos e ajudam a aquecer no inverno Foto: DN6/Adobe Stock

Confusões linguísticas à parte, alguns cuidados são necessários na escolha das ervas, como adquirir a planta em estabelecimentos conhecidos e, nas lojas com venda a granel, tentar sentir o cheiro e avaliar a aparência, observando possíveis sinais de mofo.

“Vale verificar se o produto tem algum tipo de identificação de qualidade, se traz o nome científico da planta e do farmacêutico ou agrônomo responsável, e atentar para a data de validade”, ensina Marchiori.

Alguns macetes no preparo garantem aromas, sabores e, claro, os atributos terapêuticos. “Como as espécies contêm muitos compostos voláteis, é fundamental tampar as preparações por alguns minutos para evitar que escapem”, explica Carvalho. A tendência é que tais substâncias sejam incorporadas ao líquido.

“Para uma experiência de apreciação completa, a sugestão é não adicionar açúcar ou qualquer outro tipo de adoçante às bebidas”, acrescenta Rustomgy.

Confira a seguir os benefícios e dicas de como preparar oito tipos de chás que estão entre os mais populares nos quatro cantos do planeta:

Boldo – Peumus boldus

“Esse não dá para beber todo dia”, brinca o professor João Ernesto. Amargo que só, pouca gente aprecia seu sabor, mas o boldo coleciona atributos e tem reconhecidas suas propriedades em prol da digestão.

Aqui vamos falar do chamado boldo-do-chile ou boldo-verdadeiro, que acumula evidências sobre seu papel hepatoprotetor, ou seja, como aliado do fígado. “A principal substância envolvida é a boldina”, diz Marchiori.

A sugestão da nutricionista é preparar uma infusão com a planta. “Ferva meio litro de água, desligue o fogo, acrescente uma colher (sopa) da folha picada e deixe descansando por 15 minutos”, ensina.

Vale destacar que exageros no consumo do boldo são contraindicados. Os excessos podem desencadear danos a células do fígado conhecidas como hepatócitos.

Camomila - Matricaria chamomilla

Substâncias como alfa-bisabolol, apigenina e patuletina estão por trás da coloração amarela, do perfume e dos benefícios dessa planta, que aparece em trabalhos científicos por seu efeito calmante. Há também evidências de que seria uma aliada contra a tensão pré-menstrual (TPM).

“Os compostos têm ação anti-inflamatória e antioxidante, atuando inclusive no trato digestório”, comenta Marchiori.

Novamente, uma dose de cautela com a quantidade é bem-vinda, já que o exagero no consumo favorece náuseas. A bebida também não é indicada para quem faz uso de anticoagulantes.

Para o preparo, a sugestão é ferver meio litro de água, desligar o fogo, adicionar uma colher (sopa) das florzinhas, tampar e deixar “descansando” por cerca de dez minutos.

Chá verde - Camellia sinensis

Considerados pelos especialistas os verdadeiros chás, o verde, o preto, o branco e o oolong são elaborados a partir da planta asiática Camellia sinensis. Fatores como o tempo de colheita e processos de produção determinam as variações de cores e sabores das bebidas.

A erva é rica em epigalocatequina galato ou EGCG, um potente antioxidante, e oferta ainda cafeína, dupla que desponta em estudos por proteger regiões cerebrais associadas com a memorização e o aprendizado

“Destaca-se também a L-teanina, substância que atua contra o estresse”, comenta Vanderlí. Existem indícios de que favoreça a produção de serotonina, uma promotora de sensações de bem-estar.

Fornece uma mistura de polifenois com comprovada ação anti-inflamatória, antiobesidade e de proteção cardiovascular.

“Na hora do preparo, jamais ferva a planta”, ensina a professora Vera, que recomenda deixar em infusão entre dois e cinco minutos.

Erva-cidreira – Melissa officinalis

Também conhecida como melissa, não deve ser confundida com o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), embora ambas reúnam compostos cítricos de aroma marcante e tenham comprovada ação calmante.

Seus feitos são cultuados na Europa, sua terra natal, por estudiosos gregos, desde o primeiro século. “Age no sistema nervoso central, atenuando o nervosismo”, diz Vanderlí. Também funciona como auxiliar na indução do sono. Além dos benefícios ao humor, tem função analgésica e digestiva.

Os principais componentes por trás disso tudo são citronelal, linalol, geraniale eácido rosmarínico. E o modo de preparo segue o padrão: aquecer meio litro de água, desligar o fogo, acrescentar uma colher (sopa) da planta, abafar por dez minutos.

Vanderlí também gosta do método conhecido como deccoção, que consiste em ferver a erva picada por alguns minutos, coar, tampar e beber.

Erva-doce – Pimpinella anisum

“Tem atuação semelhante aos medicamentos usados no combate aos gases intestinais”, diz o professor João Ernesto. Ajuda a combater contrações no estômago e intestino, evitando as temidas cólicas. Geralmente são utilizadas as sementes para o preparo da bebida. Um dos princípios ativos responsáveis é o anetol, que também confere aquele perfume intenso e o sabor adocicado. A espécie, da mesma família da cenoura e do aipo, é originária do sul da Ásia e usada desde a antiguidade.

Para a infusão, vale a mesma receita: meio litro de água fervente para uma colher (sopa) das sementes e deixar descansando por 10 minutos. Vanderlí lança mão de outro modo de preparo: “Ferva a mesma quantidade durante cinco minutos, espere amornar e beba em seguida”, sugere.

Erva-mate – Ilex paraguariensis

A planta é nativa da América do Sul e há relatos de que nossos indígenas guaranis teriam sido os primeiros a aproveitar seus benefícios.

Ácido caféico e clorogênico, kaempferol e quercetina são algumas substâncias oriundas da espécie, que concentra ainda a cafeína. A ciência reconhece seus atributos estimulantes e há evidências de que auxilia na redução das taxas de colesterol na circulação sanguínea. Especialistas pedem atenção para interações com sedativos anticonvulsivantes e anti-hipertensivos.

A infusão, apreciada nas xícaras, costuma ser feita com a erva torrada, escura e que tende a ser menos amarga. Já no chimarrão, a planta permanece verde, sem tostar. “Para o preparo, além de água quente, são essenciais a cuia e a bomba, utensílios característicos desse consumo comum ao sul do País”, diz a professora Vera. Na Região Centro-Oeste, é o tereré, bebida gelada, que faz sucesso.

Hortelã – Mentha piperita

O perfume marcante é resultado de um mix de compostos, com destaque para o mentol. Grande parte dos trabalhos sobre essa erva envolve a saúde do intestino. “Age com anti-inflamatória, reduz a formação de gases, melhora o trânsito intestinal”, lista Vanderlí que acrescenta ainda uma atuação na microbiota, favorecendo o equilíbrio de bactérias e outros micro-organismos que habitam a região do cólon.

Há indícios de que provoque o relaxamento em certas musculaturas do trato digestivo, por isso é contraindicada para quem sofre de refluxo gastroesofágico.

Existem versões em saquinhos, mas preparar uma bebida com a erva fresca é uma delícia. Que tal cultivar no jardim ou até mesmo em um vaso na varanda de casa?

Rooibos - Aspalathus linearis

“Trata-se de uma planta da família das leguminosas, de origem sul-africana”, diz Raúl Cotes. Embora seja parecido com o chá vermelho, feito da Camellia sinenses, o rooibos não contém cafeína em sua composição, por isso pode ser consumido em qualquer horário do dia.

Ele oferece um mix de flavonoides, com atuação antioxidante e protetora das células. Possui ainda sais minerais como potássio e magnésio, e estudos mostram que a bebida preparada com a espécie contribui para o equilíbrio dos níveis de glicose na circulação sanguínea. Por essas características, tem feito sucesso entre praticantes de atividade física.

Não bastasse dar aquela esquentada, muito oportuna no inverno, certas bebidas feitas de plantas, como os chás, reúnem compostos benéficos, atestados pela ciência.

“A Camellia sinensis, dos chás verde, preto e branco, é a mais analisada”, diz a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT). Só nos últimos dez anos, somam-se mais de 3,5 mil artigos sobre a planta, catalogados no Pubmed – biblioteca eletrônica de trabalhos científicos, mantida pelo governo americano.

“Ervas populares como camomila, erva-doce, hortelã, entre outras, também têm seus princípios ativos esmiuçados nos laboratórios de pesquisa”, comenta o farmacêutico João Ernesto de Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entretanto, segundo o professor, ainda faltam ensaios clínicos, ou seja, não existe grande volume de estudos com seres humanos.

Muito do que se comprova hoje, inclusive, já se conhecia há milhares de anos. “O costume de usar as folhas de chá para dar um bom sabor à água fervida surgiu na China, por volta de 2700 a.C.”, conta Raúl Cotes, tea master (expert em chá), da Tea Shop.

Aliás, cabe salientar que certas designações fazem diferença no mundo dos bules e xícaras – e nem tudo é chá. “O verdadeiro chá é feito a partir da Camellia sinensis”, afirma a gastrônoma Vera Rustomgy, professora de Tecnologia em Gastronomia do Senac EAD. Bebidas preparadas com outras espécies, como cidreira e boldo, são chamadas simplesmente de infusão.

Chás têm diferentes atributos terapêuticos e ajudam a aquecer no inverno Foto: DN6/Adobe Stock

Confusões linguísticas à parte, alguns cuidados são necessários na escolha das ervas, como adquirir a planta em estabelecimentos conhecidos e, nas lojas com venda a granel, tentar sentir o cheiro e avaliar a aparência, observando possíveis sinais de mofo.

“Vale verificar se o produto tem algum tipo de identificação de qualidade, se traz o nome científico da planta e do farmacêutico ou agrônomo responsável, e atentar para a data de validade”, ensina Marchiori.

Alguns macetes no preparo garantem aromas, sabores e, claro, os atributos terapêuticos. “Como as espécies contêm muitos compostos voláteis, é fundamental tampar as preparações por alguns minutos para evitar que escapem”, explica Carvalho. A tendência é que tais substâncias sejam incorporadas ao líquido.

“Para uma experiência de apreciação completa, a sugestão é não adicionar açúcar ou qualquer outro tipo de adoçante às bebidas”, acrescenta Rustomgy.

Confira a seguir os benefícios e dicas de como preparar oito tipos de chás que estão entre os mais populares nos quatro cantos do planeta:

Boldo – Peumus boldus

“Esse não dá para beber todo dia”, brinca o professor João Ernesto. Amargo que só, pouca gente aprecia seu sabor, mas o boldo coleciona atributos e tem reconhecidas suas propriedades em prol da digestão.

Aqui vamos falar do chamado boldo-do-chile ou boldo-verdadeiro, que acumula evidências sobre seu papel hepatoprotetor, ou seja, como aliado do fígado. “A principal substância envolvida é a boldina”, diz Marchiori.

A sugestão da nutricionista é preparar uma infusão com a planta. “Ferva meio litro de água, desligue o fogo, acrescente uma colher (sopa) da folha picada e deixe descansando por 15 minutos”, ensina.

Vale destacar que exageros no consumo do boldo são contraindicados. Os excessos podem desencadear danos a células do fígado conhecidas como hepatócitos.

Camomila - Matricaria chamomilla

Substâncias como alfa-bisabolol, apigenina e patuletina estão por trás da coloração amarela, do perfume e dos benefícios dessa planta, que aparece em trabalhos científicos por seu efeito calmante. Há também evidências de que seria uma aliada contra a tensão pré-menstrual (TPM).

“Os compostos têm ação anti-inflamatória e antioxidante, atuando inclusive no trato digestório”, comenta Marchiori.

Novamente, uma dose de cautela com a quantidade é bem-vinda, já que o exagero no consumo favorece náuseas. A bebida também não é indicada para quem faz uso de anticoagulantes.

Para o preparo, a sugestão é ferver meio litro de água, desligar o fogo, adicionar uma colher (sopa) das florzinhas, tampar e deixar “descansando” por cerca de dez minutos.

Chá verde - Camellia sinensis

Considerados pelos especialistas os verdadeiros chás, o verde, o preto, o branco e o oolong são elaborados a partir da planta asiática Camellia sinensis. Fatores como o tempo de colheita e processos de produção determinam as variações de cores e sabores das bebidas.

A erva é rica em epigalocatequina galato ou EGCG, um potente antioxidante, e oferta ainda cafeína, dupla que desponta em estudos por proteger regiões cerebrais associadas com a memorização e o aprendizado

“Destaca-se também a L-teanina, substância que atua contra o estresse”, comenta Vanderlí. Existem indícios de que favoreça a produção de serotonina, uma promotora de sensações de bem-estar.

Fornece uma mistura de polifenois com comprovada ação anti-inflamatória, antiobesidade e de proteção cardiovascular.

“Na hora do preparo, jamais ferva a planta”, ensina a professora Vera, que recomenda deixar em infusão entre dois e cinco minutos.

Erva-cidreira – Melissa officinalis

Também conhecida como melissa, não deve ser confundida com o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), embora ambas reúnam compostos cítricos de aroma marcante e tenham comprovada ação calmante.

Seus feitos são cultuados na Europa, sua terra natal, por estudiosos gregos, desde o primeiro século. “Age no sistema nervoso central, atenuando o nervosismo”, diz Vanderlí. Também funciona como auxiliar na indução do sono. Além dos benefícios ao humor, tem função analgésica e digestiva.

Os principais componentes por trás disso tudo são citronelal, linalol, geraniale eácido rosmarínico. E o modo de preparo segue o padrão: aquecer meio litro de água, desligar o fogo, acrescentar uma colher (sopa) da planta, abafar por dez minutos.

Vanderlí também gosta do método conhecido como deccoção, que consiste em ferver a erva picada por alguns minutos, coar, tampar e beber.

Erva-doce – Pimpinella anisum

“Tem atuação semelhante aos medicamentos usados no combate aos gases intestinais”, diz o professor João Ernesto. Ajuda a combater contrações no estômago e intestino, evitando as temidas cólicas. Geralmente são utilizadas as sementes para o preparo da bebida. Um dos princípios ativos responsáveis é o anetol, que também confere aquele perfume intenso e o sabor adocicado. A espécie, da mesma família da cenoura e do aipo, é originária do sul da Ásia e usada desde a antiguidade.

Para a infusão, vale a mesma receita: meio litro de água fervente para uma colher (sopa) das sementes e deixar descansando por 10 minutos. Vanderlí lança mão de outro modo de preparo: “Ferva a mesma quantidade durante cinco minutos, espere amornar e beba em seguida”, sugere.

Erva-mate – Ilex paraguariensis

A planta é nativa da América do Sul e há relatos de que nossos indígenas guaranis teriam sido os primeiros a aproveitar seus benefícios.

Ácido caféico e clorogênico, kaempferol e quercetina são algumas substâncias oriundas da espécie, que concentra ainda a cafeína. A ciência reconhece seus atributos estimulantes e há evidências de que auxilia na redução das taxas de colesterol na circulação sanguínea. Especialistas pedem atenção para interações com sedativos anticonvulsivantes e anti-hipertensivos.

A infusão, apreciada nas xícaras, costuma ser feita com a erva torrada, escura e que tende a ser menos amarga. Já no chimarrão, a planta permanece verde, sem tostar. “Para o preparo, além de água quente, são essenciais a cuia e a bomba, utensílios característicos desse consumo comum ao sul do País”, diz a professora Vera. Na Região Centro-Oeste, é o tereré, bebida gelada, que faz sucesso.

Hortelã – Mentha piperita

O perfume marcante é resultado de um mix de compostos, com destaque para o mentol. Grande parte dos trabalhos sobre essa erva envolve a saúde do intestino. “Age com anti-inflamatória, reduz a formação de gases, melhora o trânsito intestinal”, lista Vanderlí que acrescenta ainda uma atuação na microbiota, favorecendo o equilíbrio de bactérias e outros micro-organismos que habitam a região do cólon.

Há indícios de que provoque o relaxamento em certas musculaturas do trato digestivo, por isso é contraindicada para quem sofre de refluxo gastroesofágico.

Existem versões em saquinhos, mas preparar uma bebida com a erva fresca é uma delícia. Que tal cultivar no jardim ou até mesmo em um vaso na varanda de casa?

Rooibos - Aspalathus linearis

“Trata-se de uma planta da família das leguminosas, de origem sul-africana”, diz Raúl Cotes. Embora seja parecido com o chá vermelho, feito da Camellia sinenses, o rooibos não contém cafeína em sua composição, por isso pode ser consumido em qualquer horário do dia.

Ele oferece um mix de flavonoides, com atuação antioxidante e protetora das células. Possui ainda sais minerais como potássio e magnésio, e estudos mostram que a bebida preparada com a espécie contribui para o equilíbrio dos níveis de glicose na circulação sanguínea. Por essas características, tem feito sucesso entre praticantes de atividade física.

Não bastasse dar aquela esquentada, muito oportuna no inverno, certas bebidas feitas de plantas, como os chás, reúnem compostos benéficos, atestados pela ciência.

“A Camellia sinensis, dos chás verde, preto e branco, é a mais analisada”, diz a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT). Só nos últimos dez anos, somam-se mais de 3,5 mil artigos sobre a planta, catalogados no Pubmed – biblioteca eletrônica de trabalhos científicos, mantida pelo governo americano.

“Ervas populares como camomila, erva-doce, hortelã, entre outras, também têm seus princípios ativos esmiuçados nos laboratórios de pesquisa”, comenta o farmacêutico João Ernesto de Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entretanto, segundo o professor, ainda faltam ensaios clínicos, ou seja, não existe grande volume de estudos com seres humanos.

Muito do que se comprova hoje, inclusive, já se conhecia há milhares de anos. “O costume de usar as folhas de chá para dar um bom sabor à água fervida surgiu na China, por volta de 2700 a.C.”, conta Raúl Cotes, tea master (expert em chá), da Tea Shop.

Aliás, cabe salientar que certas designações fazem diferença no mundo dos bules e xícaras – e nem tudo é chá. “O verdadeiro chá é feito a partir da Camellia sinensis”, afirma a gastrônoma Vera Rustomgy, professora de Tecnologia em Gastronomia do Senac EAD. Bebidas preparadas com outras espécies, como cidreira e boldo, são chamadas simplesmente de infusão.

Chás têm diferentes atributos terapêuticos e ajudam a aquecer no inverno Foto: DN6/Adobe Stock

Confusões linguísticas à parte, alguns cuidados são necessários na escolha das ervas, como adquirir a planta em estabelecimentos conhecidos e, nas lojas com venda a granel, tentar sentir o cheiro e avaliar a aparência, observando possíveis sinais de mofo.

“Vale verificar se o produto tem algum tipo de identificação de qualidade, se traz o nome científico da planta e do farmacêutico ou agrônomo responsável, e atentar para a data de validade”, ensina Marchiori.

Alguns macetes no preparo garantem aromas, sabores e, claro, os atributos terapêuticos. “Como as espécies contêm muitos compostos voláteis, é fundamental tampar as preparações por alguns minutos para evitar que escapem”, explica Carvalho. A tendência é que tais substâncias sejam incorporadas ao líquido.

“Para uma experiência de apreciação completa, a sugestão é não adicionar açúcar ou qualquer outro tipo de adoçante às bebidas”, acrescenta Rustomgy.

Confira a seguir os benefícios e dicas de como preparar oito tipos de chás que estão entre os mais populares nos quatro cantos do planeta:

Boldo – Peumus boldus

“Esse não dá para beber todo dia”, brinca o professor João Ernesto. Amargo que só, pouca gente aprecia seu sabor, mas o boldo coleciona atributos e tem reconhecidas suas propriedades em prol da digestão.

Aqui vamos falar do chamado boldo-do-chile ou boldo-verdadeiro, que acumula evidências sobre seu papel hepatoprotetor, ou seja, como aliado do fígado. “A principal substância envolvida é a boldina”, diz Marchiori.

A sugestão da nutricionista é preparar uma infusão com a planta. “Ferva meio litro de água, desligue o fogo, acrescente uma colher (sopa) da folha picada e deixe descansando por 15 minutos”, ensina.

Vale destacar que exageros no consumo do boldo são contraindicados. Os excessos podem desencadear danos a células do fígado conhecidas como hepatócitos.

Camomila - Matricaria chamomilla

Substâncias como alfa-bisabolol, apigenina e patuletina estão por trás da coloração amarela, do perfume e dos benefícios dessa planta, que aparece em trabalhos científicos por seu efeito calmante. Há também evidências de que seria uma aliada contra a tensão pré-menstrual (TPM).

“Os compostos têm ação anti-inflamatória e antioxidante, atuando inclusive no trato digestório”, comenta Marchiori.

Novamente, uma dose de cautela com a quantidade é bem-vinda, já que o exagero no consumo favorece náuseas. A bebida também não é indicada para quem faz uso de anticoagulantes.

Para o preparo, a sugestão é ferver meio litro de água, desligar o fogo, adicionar uma colher (sopa) das florzinhas, tampar e deixar “descansando” por cerca de dez minutos.

Chá verde - Camellia sinensis

Considerados pelos especialistas os verdadeiros chás, o verde, o preto, o branco e o oolong são elaborados a partir da planta asiática Camellia sinensis. Fatores como o tempo de colheita e processos de produção determinam as variações de cores e sabores das bebidas.

A erva é rica em epigalocatequina galato ou EGCG, um potente antioxidante, e oferta ainda cafeína, dupla que desponta em estudos por proteger regiões cerebrais associadas com a memorização e o aprendizado

“Destaca-se também a L-teanina, substância que atua contra o estresse”, comenta Vanderlí. Existem indícios de que favoreça a produção de serotonina, uma promotora de sensações de bem-estar.

Fornece uma mistura de polifenois com comprovada ação anti-inflamatória, antiobesidade e de proteção cardiovascular.

“Na hora do preparo, jamais ferva a planta”, ensina a professora Vera, que recomenda deixar em infusão entre dois e cinco minutos.

Erva-cidreira – Melissa officinalis

Também conhecida como melissa, não deve ser confundida com o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), embora ambas reúnam compostos cítricos de aroma marcante e tenham comprovada ação calmante.

Seus feitos são cultuados na Europa, sua terra natal, por estudiosos gregos, desde o primeiro século. “Age no sistema nervoso central, atenuando o nervosismo”, diz Vanderlí. Também funciona como auxiliar na indução do sono. Além dos benefícios ao humor, tem função analgésica e digestiva.

Os principais componentes por trás disso tudo são citronelal, linalol, geraniale eácido rosmarínico. E o modo de preparo segue o padrão: aquecer meio litro de água, desligar o fogo, acrescentar uma colher (sopa) da planta, abafar por dez minutos.

Vanderlí também gosta do método conhecido como deccoção, que consiste em ferver a erva picada por alguns minutos, coar, tampar e beber.

Erva-doce – Pimpinella anisum

“Tem atuação semelhante aos medicamentos usados no combate aos gases intestinais”, diz o professor João Ernesto. Ajuda a combater contrações no estômago e intestino, evitando as temidas cólicas. Geralmente são utilizadas as sementes para o preparo da bebida. Um dos princípios ativos responsáveis é o anetol, que também confere aquele perfume intenso e o sabor adocicado. A espécie, da mesma família da cenoura e do aipo, é originária do sul da Ásia e usada desde a antiguidade.

Para a infusão, vale a mesma receita: meio litro de água fervente para uma colher (sopa) das sementes e deixar descansando por 10 minutos. Vanderlí lança mão de outro modo de preparo: “Ferva a mesma quantidade durante cinco minutos, espere amornar e beba em seguida”, sugere.

Erva-mate – Ilex paraguariensis

A planta é nativa da América do Sul e há relatos de que nossos indígenas guaranis teriam sido os primeiros a aproveitar seus benefícios.

Ácido caféico e clorogênico, kaempferol e quercetina são algumas substâncias oriundas da espécie, que concentra ainda a cafeína. A ciência reconhece seus atributos estimulantes e há evidências de que auxilia na redução das taxas de colesterol na circulação sanguínea. Especialistas pedem atenção para interações com sedativos anticonvulsivantes e anti-hipertensivos.

A infusão, apreciada nas xícaras, costuma ser feita com a erva torrada, escura e que tende a ser menos amarga. Já no chimarrão, a planta permanece verde, sem tostar. “Para o preparo, além de água quente, são essenciais a cuia e a bomba, utensílios característicos desse consumo comum ao sul do País”, diz a professora Vera. Na Região Centro-Oeste, é o tereré, bebida gelada, que faz sucesso.

Hortelã – Mentha piperita

O perfume marcante é resultado de um mix de compostos, com destaque para o mentol. Grande parte dos trabalhos sobre essa erva envolve a saúde do intestino. “Age com anti-inflamatória, reduz a formação de gases, melhora o trânsito intestinal”, lista Vanderlí que acrescenta ainda uma atuação na microbiota, favorecendo o equilíbrio de bactérias e outros micro-organismos que habitam a região do cólon.

Há indícios de que provoque o relaxamento em certas musculaturas do trato digestivo, por isso é contraindicada para quem sofre de refluxo gastroesofágico.

Existem versões em saquinhos, mas preparar uma bebida com a erva fresca é uma delícia. Que tal cultivar no jardim ou até mesmo em um vaso na varanda de casa?

Rooibos - Aspalathus linearis

“Trata-se de uma planta da família das leguminosas, de origem sul-africana”, diz Raúl Cotes. Embora seja parecido com o chá vermelho, feito da Camellia sinenses, o rooibos não contém cafeína em sua composição, por isso pode ser consumido em qualquer horário do dia.

Ele oferece um mix de flavonoides, com atuação antioxidante e protetora das células. Possui ainda sais minerais como potássio e magnésio, e estudos mostram que a bebida preparada com a espécie contribui para o equilíbrio dos níveis de glicose na circulação sanguínea. Por essas características, tem feito sucesso entre praticantes de atividade física.

Não bastasse dar aquela esquentada, muito oportuna no inverno, certas bebidas feitas de plantas, como os chás, reúnem compostos benéficos, atestados pela ciência.

“A Camellia sinensis, dos chás verde, preto e branco, é a mais analisada”, diz a nutricionista e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT). Só nos últimos dez anos, somam-se mais de 3,5 mil artigos sobre a planta, catalogados no Pubmed – biblioteca eletrônica de trabalhos científicos, mantida pelo governo americano.

“Ervas populares como camomila, erva-doce, hortelã, entre outras, também têm seus princípios ativos esmiuçados nos laboratórios de pesquisa”, comenta o farmacêutico João Ernesto de Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entretanto, segundo o professor, ainda faltam ensaios clínicos, ou seja, não existe grande volume de estudos com seres humanos.

Muito do que se comprova hoje, inclusive, já se conhecia há milhares de anos. “O costume de usar as folhas de chá para dar um bom sabor à água fervida surgiu na China, por volta de 2700 a.C.”, conta Raúl Cotes, tea master (expert em chá), da Tea Shop.

Aliás, cabe salientar que certas designações fazem diferença no mundo dos bules e xícaras – e nem tudo é chá. “O verdadeiro chá é feito a partir da Camellia sinensis”, afirma a gastrônoma Vera Rustomgy, professora de Tecnologia em Gastronomia do Senac EAD. Bebidas preparadas com outras espécies, como cidreira e boldo, são chamadas simplesmente de infusão.

Chás têm diferentes atributos terapêuticos e ajudam a aquecer no inverno Foto: DN6/Adobe Stock

Confusões linguísticas à parte, alguns cuidados são necessários na escolha das ervas, como adquirir a planta em estabelecimentos conhecidos e, nas lojas com venda a granel, tentar sentir o cheiro e avaliar a aparência, observando possíveis sinais de mofo.

“Vale verificar se o produto tem algum tipo de identificação de qualidade, se traz o nome científico da planta e do farmacêutico ou agrônomo responsável, e atentar para a data de validade”, ensina Marchiori.

Alguns macetes no preparo garantem aromas, sabores e, claro, os atributos terapêuticos. “Como as espécies contêm muitos compostos voláteis, é fundamental tampar as preparações por alguns minutos para evitar que escapem”, explica Carvalho. A tendência é que tais substâncias sejam incorporadas ao líquido.

“Para uma experiência de apreciação completa, a sugestão é não adicionar açúcar ou qualquer outro tipo de adoçante às bebidas”, acrescenta Rustomgy.

Confira a seguir os benefícios e dicas de como preparar oito tipos de chás que estão entre os mais populares nos quatro cantos do planeta:

Boldo – Peumus boldus

“Esse não dá para beber todo dia”, brinca o professor João Ernesto. Amargo que só, pouca gente aprecia seu sabor, mas o boldo coleciona atributos e tem reconhecidas suas propriedades em prol da digestão.

Aqui vamos falar do chamado boldo-do-chile ou boldo-verdadeiro, que acumula evidências sobre seu papel hepatoprotetor, ou seja, como aliado do fígado. “A principal substância envolvida é a boldina”, diz Marchiori.

A sugestão da nutricionista é preparar uma infusão com a planta. “Ferva meio litro de água, desligue o fogo, acrescente uma colher (sopa) da folha picada e deixe descansando por 15 minutos”, ensina.

Vale destacar que exageros no consumo do boldo são contraindicados. Os excessos podem desencadear danos a células do fígado conhecidas como hepatócitos.

Camomila - Matricaria chamomilla

Substâncias como alfa-bisabolol, apigenina e patuletina estão por trás da coloração amarela, do perfume e dos benefícios dessa planta, que aparece em trabalhos científicos por seu efeito calmante. Há também evidências de que seria uma aliada contra a tensão pré-menstrual (TPM).

“Os compostos têm ação anti-inflamatória e antioxidante, atuando inclusive no trato digestório”, comenta Marchiori.

Novamente, uma dose de cautela com a quantidade é bem-vinda, já que o exagero no consumo favorece náuseas. A bebida também não é indicada para quem faz uso de anticoagulantes.

Para o preparo, a sugestão é ferver meio litro de água, desligar o fogo, adicionar uma colher (sopa) das florzinhas, tampar e deixar “descansando” por cerca de dez minutos.

Chá verde - Camellia sinensis

Considerados pelos especialistas os verdadeiros chás, o verde, o preto, o branco e o oolong são elaborados a partir da planta asiática Camellia sinensis. Fatores como o tempo de colheita e processos de produção determinam as variações de cores e sabores das bebidas.

A erva é rica em epigalocatequina galato ou EGCG, um potente antioxidante, e oferta ainda cafeína, dupla que desponta em estudos por proteger regiões cerebrais associadas com a memorização e o aprendizado

“Destaca-se também a L-teanina, substância que atua contra o estresse”, comenta Vanderlí. Existem indícios de que favoreça a produção de serotonina, uma promotora de sensações de bem-estar.

Fornece uma mistura de polifenois com comprovada ação anti-inflamatória, antiobesidade e de proteção cardiovascular.

“Na hora do preparo, jamais ferva a planta”, ensina a professora Vera, que recomenda deixar em infusão entre dois e cinco minutos.

Erva-cidreira – Melissa officinalis

Também conhecida como melissa, não deve ser confundida com o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), embora ambas reúnam compostos cítricos de aroma marcante e tenham comprovada ação calmante.

Seus feitos são cultuados na Europa, sua terra natal, por estudiosos gregos, desde o primeiro século. “Age no sistema nervoso central, atenuando o nervosismo”, diz Vanderlí. Também funciona como auxiliar na indução do sono. Além dos benefícios ao humor, tem função analgésica e digestiva.

Os principais componentes por trás disso tudo são citronelal, linalol, geraniale eácido rosmarínico. E o modo de preparo segue o padrão: aquecer meio litro de água, desligar o fogo, acrescentar uma colher (sopa) da planta, abafar por dez minutos.

Vanderlí também gosta do método conhecido como deccoção, que consiste em ferver a erva picada por alguns minutos, coar, tampar e beber.

Erva-doce – Pimpinella anisum

“Tem atuação semelhante aos medicamentos usados no combate aos gases intestinais”, diz o professor João Ernesto. Ajuda a combater contrações no estômago e intestino, evitando as temidas cólicas. Geralmente são utilizadas as sementes para o preparo da bebida. Um dos princípios ativos responsáveis é o anetol, que também confere aquele perfume intenso e o sabor adocicado. A espécie, da mesma família da cenoura e do aipo, é originária do sul da Ásia e usada desde a antiguidade.

Para a infusão, vale a mesma receita: meio litro de água fervente para uma colher (sopa) das sementes e deixar descansando por 10 minutos. Vanderlí lança mão de outro modo de preparo: “Ferva a mesma quantidade durante cinco minutos, espere amornar e beba em seguida”, sugere.

Erva-mate – Ilex paraguariensis

A planta é nativa da América do Sul e há relatos de que nossos indígenas guaranis teriam sido os primeiros a aproveitar seus benefícios.

Ácido caféico e clorogênico, kaempferol e quercetina são algumas substâncias oriundas da espécie, que concentra ainda a cafeína. A ciência reconhece seus atributos estimulantes e há evidências de que auxilia na redução das taxas de colesterol na circulação sanguínea. Especialistas pedem atenção para interações com sedativos anticonvulsivantes e anti-hipertensivos.

A infusão, apreciada nas xícaras, costuma ser feita com a erva torrada, escura e que tende a ser menos amarga. Já no chimarrão, a planta permanece verde, sem tostar. “Para o preparo, além de água quente, são essenciais a cuia e a bomba, utensílios característicos desse consumo comum ao sul do País”, diz a professora Vera. Na Região Centro-Oeste, é o tereré, bebida gelada, que faz sucesso.

Hortelã – Mentha piperita

O perfume marcante é resultado de um mix de compostos, com destaque para o mentol. Grande parte dos trabalhos sobre essa erva envolve a saúde do intestino. “Age com anti-inflamatória, reduz a formação de gases, melhora o trânsito intestinal”, lista Vanderlí que acrescenta ainda uma atuação na microbiota, favorecendo o equilíbrio de bactérias e outros micro-organismos que habitam a região do cólon.

Há indícios de que provoque o relaxamento em certas musculaturas do trato digestivo, por isso é contraindicada para quem sofre de refluxo gastroesofágico.

Existem versões em saquinhos, mas preparar uma bebida com a erva fresca é uma delícia. Que tal cultivar no jardim ou até mesmo em um vaso na varanda de casa?

Rooibos - Aspalathus linearis

“Trata-se de uma planta da família das leguminosas, de origem sul-africana”, diz Raúl Cotes. Embora seja parecido com o chá vermelho, feito da Camellia sinenses, o rooibos não contém cafeína em sua composição, por isso pode ser consumido em qualquer horário do dia.

Ele oferece um mix de flavonoides, com atuação antioxidante e protetora das células. Possui ainda sais minerais como potássio e magnésio, e estudos mostram que a bebida preparada com a espécie contribui para o equilíbrio dos níveis de glicose na circulação sanguínea. Por essas características, tem feito sucesso entre praticantes de atividade física.

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