Entidades médicas têm se articulado por uma política nacional de rastreamento do câncer de pulmão, o terceiro tipo mais comum entre os homens e o quarto entre as mulheres no Brasil. A ação é justificada por dados robustos e preocupantes. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que serão cerca de 32,5 mil casos de tumor de pulmão diagnosticados no País em 2023. E estimativas indicam que 70% dos diagnósticos ocorrem em estágio avançado da doença.
“O paciente tem chegado ao sistema de saúde cada vez mais com a fase avançada da doença. Para os homens, em especial (por se consultarem menos), é preciso que o cardiologista ou o clínico geral também faça essa abordagem. E, para que o rastreamento aconteça, a porta de entrada é a atenção primária em saúde”, observa Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida durante o Summit de Saúde e Bem-Estar 2023 do Estadão.
O diagnóstico tardio diminui a qualidade e a expectativa de vida de muitos pacientes, além de onerar os sistemas de saúde pública e suplementar. “É muito mais barato tratar um paciente com doença inicial, tanto pelo custo direto, o do tratamento, quanto o indireto, pois ele volta a trabalhar, a produzir”, explica a oncologista Clarissa Baldotto, presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT). Segundo a médica, um tumor encontrado no primeiro estágio pode chegar a 90% de possibilidade de cura.
A metodologia sugerida para esse rastreamento é o exame anual de tomografia com baixa dose de radiação para o público de alto risco. No caso, pessoas de 50 a 80 anos, fumantes atuais, ex-fumantes há menos de 15 anos e ainda quem tem a chamada carga tabágica (o número de cigarros consumidos por dia dividido por 20 e multiplicado pela quantidade de anos de tabagismo, com resultado igual ou superior a 20).
“Com o rastreamento, conseguiremos reduzir a mortalidade de 20% a 25%”, estima Gustavo Faibischew Prado, coordenador da Comissão Científica de Câncer da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Um dos trunfos da medida é alcançar pessoas que não apresentam sintomas, pois a fase inicial da doença costuma ser silenciosa.
Inibir o início do hábito de fumar é uma ação conjunta fundamental. Afinal, 80% dos diagnósticos no País estão relacionados ao tabagismo. Apesar da redução do consumo nas últimas décadas, há um novo vilão, o cigarro eletrônico, usado com a ideia equivocada de que é menos nocivo – mas já é sabido que ele pode causar, por exemplo, câncer bucal.
“O sucesso que o Brasil teve, desde o final dos anos 1980 até hoje, de reduzir em 75% a prevalência de tabagismo, aconteceu sem cigarro eletrônico”, afirma Prado, destacando que esse dispositivo não é um redutor de danos.