Pela primeira vez, a sociedade brasileira conhece as dimensões da conta anual gerada pelos tumores de pulmão, entre custos diretos e indiretos. De acordo com o relatório O Custo Econômico do Câncer de Pulmão e a Importância do Rastreamento e Diagnóstico Precoce , liderado pelo Insper, com o apoio da biofarmacêutica AstraZeneca, a maior parcela do gasto, equivalente a 78%, é resultado do impacto indireto da doença.
A mortalidade precoce provocada pelos tumores de pulmão atinge muitas pessoas que ainda estão em plena produtividade. O levantamento feito com base em números válidos para 2019 mostra que dentro do Sistema Único de Saúde, entre internações em UTI, com vários tipos de terapias e cirurgia, um total de R$ 127,5 milhões foi consumido diretamente do orçamento público.
Enquanto as estimativas dos custos indiretos, decorrentes principalmente da perda de produtividade dos pacientes, são da ordem de R$ 1 bilhão. “Os dados mostram que a doença de câncer de pulmão é muito cara para o País, não apenas do ponto de vista essencialmente econômico, mas também social”, afirma a economista Vanessa Boarati, professora do Insper e uma das autoras da pesquisa. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), por volta de 32,5 mil casos de tumor de pulmão deverão ser diagnosticados em 2023 no País.
Anualmente, a doença mata cerca de 28 mil brasileiros e é o tipo de câncer com o maior número de vítimas entre as neoplasias. “Hoje, dados comprovam que, se você diagnostica o paciente no estágio 1 (aquele inicial, em que o tumor está localizado), existe a possibilidade de cura com apenas um tratamento – cirurgia ou radioterapia – de 80% a 90%; já em casos avançados, as possibilidades são muito menores”, salienta Clarissa Baldotto, presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica.
As informações econômicas e sociais sobre a doença ganham ainda maior peso ao serem combinadas com as da área de saúde. O consenso científico formado a favor do rastreamento preventivo dos cânceres de pulmão está explicitado em um documento elaborado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT) e pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).
O projeto fruto desse consenso, segundo Gustavo Prado, médico pneumologista do Instituto do Coração (InCor) e professor da Faculdade de Medicina da USP, engloba vários aspectos fundamentais para o enfrentamento do câncer de pulmão. “A ideia inclui não apenas a síntese das evidências em favor da estratégia do diagnóstico precoce, mas também um plano estruturado que inclui a prevenção, com o tratamento de cessação do tabagismo, o delineamento da população elegível para o rastreamento, requisitos mínimos de estrutura, equipamentos e especificações técnicas da tomografia com baixa dose de radiação e, por fim, como interpretar os resultados e referenciar pacientes com achados relevantes nos exames de imagem a uma linha de cuidado de diagnóstico, estadiamento e tratamento em centros especializados”, afirma o cientista da USP.
Os esforços para baixar as mortes decorrentes do câncer de pulmão também se espalham pelo setor privado, afirma Karina Fontão, diretora médica executiva da multinacional AstraZeneca. “Nós estamos liderando ações cujo objetivo é aumentar a sustentabilidade do sistema de saúde, seja por meio da criação de protocolos de screening, ou da implementação de ferramentas fundamentais para permitir o diagnóstico cada vez mais precoce.”
De acordo com Boarati, professora do Insper, experiências internacionais também ajudam a dar lastro à ideia de o Brasil implementar um programa de rastreamento preventivo do câncer de mama. “Não é uma tarefa simples. Existem desafios, mas isso não significa que eles não devem ser enfrentados.”
Devido aos vários gargalos que a saúde pública brasileira apresenta, o relatório do Insper também deixa claro como cada passo deve ser dado, para que uma implementação paulatina e segura do programa de rastreamento possa ocorrer. “No curto prazo, o ideal seria começar em centros de excelência para a doença que são mais bem preparados e equipados para atender as pessoas. Outro ponto importante, ainda mais com a penetração dos cigarros eletrônicos na sociedade, é a intensificação das campanhas antitabagismo”, defende Boarati.
Como melhorar o prognóstico dos pacientes brasileiros?
O câncer de pulmão foi discutido no Summit Saúde 2023 em painel realizado pelo Blue Studio com o patrocínio de AstraZeneca. Intitulado Câncer de Pulmão: como melhorar o prognóstico dos pacientes brasileiros, o debate discutiu estratégias para rastrear antecipadamente a silenciosa doença. Mediada pela jornalista Rita Lisauskas, a conversa contou com a participação de Gustavo Prado, membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, e Clarissa Baldotto, presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT)