Capacidade funcional garante independência e autonomia ao envelhecer; faça testes e avalie a sua


Há habilidades físicas e mentais indispensáveis para que uma pessoa seja considerada capaz de cuidar de si própria com o passar do tempo; medi-las é essencial para buscar melhorias e ganhar longevidade

Por André Bernardo

No dia 14 de fevereiro, Marineth Huback completou 87 anos. Quem tentou parabenizá-la por telefone não conseguiu – seu celular estava “fora da área de cobertura”. Há dez anos, ela comemora a data escalando picos. O mais recente foi o das Ilhas Tijucas, entre a Barra e São Conrado, no Rio de Janeiro. A “comemoração” incluiu uma escalada de 50 metros, uma descida de rapel, um nado em fosso profundo, um bolo de aniversário e – ufa! – o tradicional “Parabéns pra você”, cantado por membros do Centro Excursionista Brasileiro (CEB), seu clube de montanhismo.

Marineth Huback, 87 anos, na trilha da Pedra Bonita, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“Como toda escalada, a Pontuda, nas Ilhas Tijucas, requer atenção. Qualquer vacilo, você despenca e cai no mar. Mas o visual compensa qualquer sacrifício. É mágico!”, descreve uma das mais experientes montanhistas do Brasil.

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Nascida em Nova Friburgo, na região serrana do Estado, Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos. Hoje, aos 87, já escalou 125 picos – o mais alto, o da Bandeira, entre Minas e Espírito Santo, tem 2.891 metros de altitude. Já o da Pedra da Gávea, no Rio, gostou tanto que escalou 17 vezes.

“No montanhismo, nunca sofri etarismo. Mas, no trânsito, já ouvi cada coisa! Muita gente me pergunta: ‘Você ainda dirige?’ Nessas horas, respondo: ‘Ué, se tenho carteira de habilitação, por que eu não vou dirigir?’ Querem impor limites onde não há”.

Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos e já escalou 125 picos. Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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Marineth Huback é o que os geriatras e gerontólogos chamam de independente e autônoma. O idoso é independente quando, fisicamente, é capaz de executar tarefas básicas da vida diária, como tomar banho, se vestir e comer. E autônomo quando, cognitivamente, consegue realizar atividades instrumentais, mais complexas que as básicas, como usar o telefone, fazer compras ou cuidar das finanças.

No primeiro caso, também chamado de “autocuidado”, o idoso precisa desempenhar as funções sozinho, sem ajuda de familiares, acompanhantes ou cuidadores. No segundo, o “autogoverno”, ele pode recorrer, quando necessário, a dispositivos, como óculos, próteses auditivas e bengalas, ou a estratégias, como agendas ou post-its.

“Se o idoso tem artrose no joelho, que o impede de sair de casa para comprar remédio na farmácia, ele tem sua independência comprometida. Mas, se ele consegue executar essa tarefa com o auxílio de uma bengala, mantém sua independência”, explica o geriatra Fábio Nasri, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).

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Ao conjunto de habilidades físicas e mentais indispensáveis para cuidar de si próprio e para viver em sociedade de forma independente e autônoma, os especialistas em longevidade dão o nome de capacidade funcional do idoso.

Termômetros da funcionalidade

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Há, pelo menos, duas escalas para avaliar a capacidade funcional de um idoso: a de Katz e a da Lawton (faça esta ao final da reportagem).

A primeira, criada pelo geriatra americano Sidney Katz (1924-2012) na década de 1950, avalia as atividades básicas da vida diária (ABVD). Já a segunda, desenvolvida pelos gerontólogos Mortimer Powell Lawton (1923-2001) e Elaine Marjorie Brody (1922-2014) em 1969, investiga as instrumentais (AIVD).

Além dos exemplos citados no parágrafo anterior, o questionário de Katz inclui higiene pessoal, transferência (consegue deitar na cama, sentar na cadeira e ficar de pé) e continência (controla urina e fezes). Já a escala de Lawton analisa tarefas como preparar a própria refeição, usar transporte público ou tomar remédio na dose certa e no horário correto.

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Se o idoso é capaz de realizar essas tarefas sem ajuda de terceiros, é independente. Mas, se precisa de uma mão ou se não consegue executá-las sozinho, semidependente e totalmente dependente.

“As atividades da vida diária são um termômetro da nossa saúde e funcionalidade. A perda de atividade é sinal de que algo não vai bem”, alerta o geriatra Omar Jaluul, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “À medida que envelhecemos, perdemos reserva funcional, isto é, capacidade de lidar com traumas e infecções. Por isso, é importante aumentar essa reserva com hábitos saudáveis como alimentação equilibrada e atividade física. Na velhice, colhemos o que plantamos”.

A capacidade funcional do idoso também pode ser avaliada por meio de certos testes. Dois deles, de tão simples, podem ser feitos em casa – basta um tapete antiderrapante. São o teste de sentar e levantar do chão sem ajuda das mãos (ou de qualquer outro tipo de apoio) e o de se equilibrar sobre uma perna só por 10 segundos.

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O criador deles é o cardiologista Cláudio Gil Araújo, diretor da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex), no Rio. “São indicados para pessoas que não têm limitação locomotora ou neurológica. Se o sujeito tem prótese no quadril ou fez cirurgia abdominal, por exemplo, não deve tentar”, adverte o médico.

Pessoas de 40 e 50 anos devem ser capazes, explica o médico, de sentar e levantar do chão sem usar a mão ou perder o equilíbrio. E pessoas com menos de 70, de ficar em pé por 10 segundos numa perna só. Mas, e se eu não conseguir? Quer dizer que vou morrer amanhã? “Nada disso! O resultado deve servir apenas de alerta. Estou com excesso de peso? Não faço exercício físico? O que preciso mudar em minha vida para melhorar o resultado do meu teste?”, orienta o médico que, para treinar o equilíbrio, costuma escovar os dentes numa perna só.

Os testes que avaliam o grau de funcionalidade do idoso não terminam por aí. Há mais dois: o da velocidade da marcha e o da preensão palmar.

O da marcha é tão simples quanto o de sentar e levantar ou o de permanecer em pé sobre uma perna só. Consiste em caminhar quatro metros em linha reta. A geriatra Kelem de Negreiros Cabral, do Hospital Sírio-Libanês, explica como funciona: “O idoso percorre essa distância numa velocidade segura enquanto o examinador avalia o modo de execução e o tempo de realização. Idosos mais velozes (que percorrem 1 metro ou mais por segundo) apresentam melhores condições de saúde. E os mais lentificados (que fazem menos de 60 centímetros por segundo), declínio funcional e cognitivo e maior risco de queda e morte”.

O outro teste, o da preensão palmar, também precisa ser feito em um consultório porque demanda o uso de um aparelho chamado dinamômetro, que avalia a força dos músculos da mão e do antebraço.

Independência hoje para garantir o amanhã

Mas, por que é tão importante avaliar a capacidade funcional? Porque é um preditor de morbidade e mortalidade. O que isso quer dizer? Ajuda a predizer, isto é, a dizer antecipadamente, quais as chances daquele idoso adoecer ou morrer em um futuro próximo.

Quem explica melhor é a geriatra Luiza Blanco, do Hospital Santa Paula: “A perda de capacidade funcional está, muitas vezes, associada ao início de uma doença ou à evolução de outra, pré-existente. Quanto mais dependente for o idoso, maior o risco de ele sofrer quedas ou de contrair infecções”, acrescenta.

Em caso de perda funcional, o médico deve ajustar o tratamento para evitar a progressão da doença ou recuperar a independência perdida.

Há programas de reabilitação, como fisioterapia e fonoterapia, e acompanhamentos médico e nutricional, para controle de doenças e consumo adequado de proteínas e calorias. Para manter a independência física, o geriatra Luiz Antônio Gil Júnior, do Hospital Nove de Julho, recomenda atividade física e alimentação saudável e, para proteger a autonomia cognitiva, convívio social e propósito de vida.

Outro dado importante: quanto antes detectar o declínio funcional, melhor. Isso aumenta as chances de sucesso de uma eventual recuperação.

A geriatra Gabriela Fagundes, do Einstein, dá um exemplo: imagine um idoso que fratura o quadril após uma queda no banheiro e passa por cirurgia e, na sequência, reabilitação. Mesmo que os procedimentos sejam um sucesso, há um grande risco de ele não se recuperar totalmente. “Se o motivo que o levou à queda tivesse sido identificado e tratado lá atrás, muito provavelmente nós teríamos conseguido evitá-lo. Quanto mais cedo identificamos o problema, maiores as chances de prevenirmos o declínio funcional”, observa.

Por essas e outras, não devemos esperar soprar 65 velinhas para começar a pensar em envelhecimento saudável. Devemos começar o quanto antes. “É fundamental ter uma vida ativa e saudável desde cedo. Ter um sono de qualidade, aprender coisas novas e desenvolver a resiliência são dicas infalíveis para envelhecer bem”, recomenda.

Sempre é tempo de sair do sedentarismo

Marineth Huback não começou a praticar atividade física ontem. Desde os 10 anos, ela faz exercício ouvindo o programa Hora da Ginástica, apresentado pelo professor de educação física Oswaldo Diniz Magalhães (1904-1998). “Naquele tempo, não havia academia”, recorda. “O único problema é que, se você fizesse errado, não tinha ninguém para corrigir”. Hoje, além de rapel e montanhismo, ela pratica tai chi chuan, pilates e musculação.

A atividade física ideal, pondera Kelem Cabral, do Sírio-Libanês, obedece a dois critérios: indicação técnica e preferência pessoal. Não se deve prescrever corrida para quem sofre de problemas nas articulações. O melhor exercício, neste caso, é a hidroginástica. Tampouco é indicado recomendar ciclismo para quem gosta de caminhada ou natação para quem curte tênis. “Nunca é tarde para começar a fazer exercício. O melhor dia é hoje!”, avisa.

Durante a trilha da Pedra Bonita, Marineth é reconhecida por outros trilheiros, que pedem fotos.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No domingo, 3 de março, Marineth tirou a manhã de sol para fazer trilha na Pedra Bonita, no Rio. Quase não conseguiu. A todo instante, era abordada por adeptos do esporte ou seguidores do Instagram à caça de selfies. “Quando crescer, quero ser igual à você”, derreteu-se uma. “Já fizemos rapel juntos!”, festejou outro.

“Volta e meia, me dizem: ‘Marineth, escalar montanha é perigoso!’. Me limito a responder: ‘Cair no banheiro também!’”, ironiza a intrépida montanhista que está à procura de um patrocinador para realizar o sonho de conhecer o Grand Canyon, nos Estados Unidos: “Ainda vou fazer trilha e voar de balão no deserto do Arizona!”. Alguém duvida?

Escala de Lawton

Depois de realizar o questionário sobre atividades instrumentais da vida diária, confira a pontuação e o gabarito.

1. Você consegue usar o telefone?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

2. Consegue ir a locais distantes, usando transporte público ou próprio?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

3. Fazer compras?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

4. Preparar sua refeição?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

5. Arrumar a casa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

6. Fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

7. Lavar e passar roupa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

8. Tomar remédio na dose certa e no horário correto?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

9. Cuidar de suas finanças?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

Pontuação:

  • Sem ajuda: 3 pontos
  • Com ajuda parcial: 2 pontos
  • Não consegue: 1 ponto

Gabarito:

  • 27 pontos: Independente
  • De 18 a 26: Semidependente (ou parcialmente dependente)
  • Menos de 17 pontos: Totalmente dependente

Fonte: Escala de Lawton

No dia 14 de fevereiro, Marineth Huback completou 87 anos. Quem tentou parabenizá-la por telefone não conseguiu – seu celular estava “fora da área de cobertura”. Há dez anos, ela comemora a data escalando picos. O mais recente foi o das Ilhas Tijucas, entre a Barra e São Conrado, no Rio de Janeiro. A “comemoração” incluiu uma escalada de 50 metros, uma descida de rapel, um nado em fosso profundo, um bolo de aniversário e – ufa! – o tradicional “Parabéns pra você”, cantado por membros do Centro Excursionista Brasileiro (CEB), seu clube de montanhismo.

Marineth Huback, 87 anos, na trilha da Pedra Bonita, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“Como toda escalada, a Pontuda, nas Ilhas Tijucas, requer atenção. Qualquer vacilo, você despenca e cai no mar. Mas o visual compensa qualquer sacrifício. É mágico!”, descreve uma das mais experientes montanhistas do Brasil.

Nascida em Nova Friburgo, na região serrana do Estado, Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos. Hoje, aos 87, já escalou 125 picos – o mais alto, o da Bandeira, entre Minas e Espírito Santo, tem 2.891 metros de altitude. Já o da Pedra da Gávea, no Rio, gostou tanto que escalou 17 vezes.

“No montanhismo, nunca sofri etarismo. Mas, no trânsito, já ouvi cada coisa! Muita gente me pergunta: ‘Você ainda dirige?’ Nessas horas, respondo: ‘Ué, se tenho carteira de habilitação, por que eu não vou dirigir?’ Querem impor limites onde não há”.

Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos e já escalou 125 picos. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Marineth Huback é o que os geriatras e gerontólogos chamam de independente e autônoma. O idoso é independente quando, fisicamente, é capaz de executar tarefas básicas da vida diária, como tomar banho, se vestir e comer. E autônomo quando, cognitivamente, consegue realizar atividades instrumentais, mais complexas que as básicas, como usar o telefone, fazer compras ou cuidar das finanças.

No primeiro caso, também chamado de “autocuidado”, o idoso precisa desempenhar as funções sozinho, sem ajuda de familiares, acompanhantes ou cuidadores. No segundo, o “autogoverno”, ele pode recorrer, quando necessário, a dispositivos, como óculos, próteses auditivas e bengalas, ou a estratégias, como agendas ou post-its.

“Se o idoso tem artrose no joelho, que o impede de sair de casa para comprar remédio na farmácia, ele tem sua independência comprometida. Mas, se ele consegue executar essa tarefa com o auxílio de uma bengala, mantém sua independência”, explica o geriatra Fábio Nasri, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).

Ao conjunto de habilidades físicas e mentais indispensáveis para cuidar de si próprio e para viver em sociedade de forma independente e autônoma, os especialistas em longevidade dão o nome de capacidade funcional do idoso.

Termômetros da funcionalidade

Há, pelo menos, duas escalas para avaliar a capacidade funcional de um idoso: a de Katz e a da Lawton (faça esta ao final da reportagem).

A primeira, criada pelo geriatra americano Sidney Katz (1924-2012) na década de 1950, avalia as atividades básicas da vida diária (ABVD). Já a segunda, desenvolvida pelos gerontólogos Mortimer Powell Lawton (1923-2001) e Elaine Marjorie Brody (1922-2014) em 1969, investiga as instrumentais (AIVD).

Além dos exemplos citados no parágrafo anterior, o questionário de Katz inclui higiene pessoal, transferência (consegue deitar na cama, sentar na cadeira e ficar de pé) e continência (controla urina e fezes). Já a escala de Lawton analisa tarefas como preparar a própria refeição, usar transporte público ou tomar remédio na dose certa e no horário correto.

Se o idoso é capaz de realizar essas tarefas sem ajuda de terceiros, é independente. Mas, se precisa de uma mão ou se não consegue executá-las sozinho, semidependente e totalmente dependente.

“As atividades da vida diária são um termômetro da nossa saúde e funcionalidade. A perda de atividade é sinal de que algo não vai bem”, alerta o geriatra Omar Jaluul, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “À medida que envelhecemos, perdemos reserva funcional, isto é, capacidade de lidar com traumas e infecções. Por isso, é importante aumentar essa reserva com hábitos saudáveis como alimentação equilibrada e atividade física. Na velhice, colhemos o que plantamos”.

A capacidade funcional do idoso também pode ser avaliada por meio de certos testes. Dois deles, de tão simples, podem ser feitos em casa – basta um tapete antiderrapante. São o teste de sentar e levantar do chão sem ajuda das mãos (ou de qualquer outro tipo de apoio) e o de se equilibrar sobre uma perna só por 10 segundos.

O criador deles é o cardiologista Cláudio Gil Araújo, diretor da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex), no Rio. “São indicados para pessoas que não têm limitação locomotora ou neurológica. Se o sujeito tem prótese no quadril ou fez cirurgia abdominal, por exemplo, não deve tentar”, adverte o médico.

Pessoas de 40 e 50 anos devem ser capazes, explica o médico, de sentar e levantar do chão sem usar a mão ou perder o equilíbrio. E pessoas com menos de 70, de ficar em pé por 10 segundos numa perna só. Mas, e se eu não conseguir? Quer dizer que vou morrer amanhã? “Nada disso! O resultado deve servir apenas de alerta. Estou com excesso de peso? Não faço exercício físico? O que preciso mudar em minha vida para melhorar o resultado do meu teste?”, orienta o médico que, para treinar o equilíbrio, costuma escovar os dentes numa perna só.

Os testes que avaliam o grau de funcionalidade do idoso não terminam por aí. Há mais dois: o da velocidade da marcha e o da preensão palmar.

O da marcha é tão simples quanto o de sentar e levantar ou o de permanecer em pé sobre uma perna só. Consiste em caminhar quatro metros em linha reta. A geriatra Kelem de Negreiros Cabral, do Hospital Sírio-Libanês, explica como funciona: “O idoso percorre essa distância numa velocidade segura enquanto o examinador avalia o modo de execução e o tempo de realização. Idosos mais velozes (que percorrem 1 metro ou mais por segundo) apresentam melhores condições de saúde. E os mais lentificados (que fazem menos de 60 centímetros por segundo), declínio funcional e cognitivo e maior risco de queda e morte”.

O outro teste, o da preensão palmar, também precisa ser feito em um consultório porque demanda o uso de um aparelho chamado dinamômetro, que avalia a força dos músculos da mão e do antebraço.

Independência hoje para garantir o amanhã

Mas, por que é tão importante avaliar a capacidade funcional? Porque é um preditor de morbidade e mortalidade. O que isso quer dizer? Ajuda a predizer, isto é, a dizer antecipadamente, quais as chances daquele idoso adoecer ou morrer em um futuro próximo.

Quem explica melhor é a geriatra Luiza Blanco, do Hospital Santa Paula: “A perda de capacidade funcional está, muitas vezes, associada ao início de uma doença ou à evolução de outra, pré-existente. Quanto mais dependente for o idoso, maior o risco de ele sofrer quedas ou de contrair infecções”, acrescenta.

Em caso de perda funcional, o médico deve ajustar o tratamento para evitar a progressão da doença ou recuperar a independência perdida.

Há programas de reabilitação, como fisioterapia e fonoterapia, e acompanhamentos médico e nutricional, para controle de doenças e consumo adequado de proteínas e calorias. Para manter a independência física, o geriatra Luiz Antônio Gil Júnior, do Hospital Nove de Julho, recomenda atividade física e alimentação saudável e, para proteger a autonomia cognitiva, convívio social e propósito de vida.

Outro dado importante: quanto antes detectar o declínio funcional, melhor. Isso aumenta as chances de sucesso de uma eventual recuperação.

A geriatra Gabriela Fagundes, do Einstein, dá um exemplo: imagine um idoso que fratura o quadril após uma queda no banheiro e passa por cirurgia e, na sequência, reabilitação. Mesmo que os procedimentos sejam um sucesso, há um grande risco de ele não se recuperar totalmente. “Se o motivo que o levou à queda tivesse sido identificado e tratado lá atrás, muito provavelmente nós teríamos conseguido evitá-lo. Quanto mais cedo identificamos o problema, maiores as chances de prevenirmos o declínio funcional”, observa.

Por essas e outras, não devemos esperar soprar 65 velinhas para começar a pensar em envelhecimento saudável. Devemos começar o quanto antes. “É fundamental ter uma vida ativa e saudável desde cedo. Ter um sono de qualidade, aprender coisas novas e desenvolver a resiliência são dicas infalíveis para envelhecer bem”, recomenda.

Sempre é tempo de sair do sedentarismo

Marineth Huback não começou a praticar atividade física ontem. Desde os 10 anos, ela faz exercício ouvindo o programa Hora da Ginástica, apresentado pelo professor de educação física Oswaldo Diniz Magalhães (1904-1998). “Naquele tempo, não havia academia”, recorda. “O único problema é que, se você fizesse errado, não tinha ninguém para corrigir”. Hoje, além de rapel e montanhismo, ela pratica tai chi chuan, pilates e musculação.

A atividade física ideal, pondera Kelem Cabral, do Sírio-Libanês, obedece a dois critérios: indicação técnica e preferência pessoal. Não se deve prescrever corrida para quem sofre de problemas nas articulações. O melhor exercício, neste caso, é a hidroginástica. Tampouco é indicado recomendar ciclismo para quem gosta de caminhada ou natação para quem curte tênis. “Nunca é tarde para começar a fazer exercício. O melhor dia é hoje!”, avisa.

Durante a trilha da Pedra Bonita, Marineth é reconhecida por outros trilheiros, que pedem fotos.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No domingo, 3 de março, Marineth tirou a manhã de sol para fazer trilha na Pedra Bonita, no Rio. Quase não conseguiu. A todo instante, era abordada por adeptos do esporte ou seguidores do Instagram à caça de selfies. “Quando crescer, quero ser igual à você”, derreteu-se uma. “Já fizemos rapel juntos!”, festejou outro.

“Volta e meia, me dizem: ‘Marineth, escalar montanha é perigoso!’. Me limito a responder: ‘Cair no banheiro também!’”, ironiza a intrépida montanhista que está à procura de um patrocinador para realizar o sonho de conhecer o Grand Canyon, nos Estados Unidos: “Ainda vou fazer trilha e voar de balão no deserto do Arizona!”. Alguém duvida?

Escala de Lawton

Depois de realizar o questionário sobre atividades instrumentais da vida diária, confira a pontuação e o gabarito.

1. Você consegue usar o telefone?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

2. Consegue ir a locais distantes, usando transporte público ou próprio?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

3. Fazer compras?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

4. Preparar sua refeição?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

5. Arrumar a casa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

6. Fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

7. Lavar e passar roupa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

8. Tomar remédio na dose certa e no horário correto?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

9. Cuidar de suas finanças?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

Pontuação:

  • Sem ajuda: 3 pontos
  • Com ajuda parcial: 2 pontos
  • Não consegue: 1 ponto

Gabarito:

  • 27 pontos: Independente
  • De 18 a 26: Semidependente (ou parcialmente dependente)
  • Menos de 17 pontos: Totalmente dependente

Fonte: Escala de Lawton

No dia 14 de fevereiro, Marineth Huback completou 87 anos. Quem tentou parabenizá-la por telefone não conseguiu – seu celular estava “fora da área de cobertura”. Há dez anos, ela comemora a data escalando picos. O mais recente foi o das Ilhas Tijucas, entre a Barra e São Conrado, no Rio de Janeiro. A “comemoração” incluiu uma escalada de 50 metros, uma descida de rapel, um nado em fosso profundo, um bolo de aniversário e – ufa! – o tradicional “Parabéns pra você”, cantado por membros do Centro Excursionista Brasileiro (CEB), seu clube de montanhismo.

Marineth Huback, 87 anos, na trilha da Pedra Bonita, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“Como toda escalada, a Pontuda, nas Ilhas Tijucas, requer atenção. Qualquer vacilo, você despenca e cai no mar. Mas o visual compensa qualquer sacrifício. É mágico!”, descreve uma das mais experientes montanhistas do Brasil.

Nascida em Nova Friburgo, na região serrana do Estado, Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos. Hoje, aos 87, já escalou 125 picos – o mais alto, o da Bandeira, entre Minas e Espírito Santo, tem 2.891 metros de altitude. Já o da Pedra da Gávea, no Rio, gostou tanto que escalou 17 vezes.

“No montanhismo, nunca sofri etarismo. Mas, no trânsito, já ouvi cada coisa! Muita gente me pergunta: ‘Você ainda dirige?’ Nessas horas, respondo: ‘Ué, se tenho carteira de habilitação, por que eu não vou dirigir?’ Querem impor limites onde não há”.

Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos e já escalou 125 picos. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Marineth Huback é o que os geriatras e gerontólogos chamam de independente e autônoma. O idoso é independente quando, fisicamente, é capaz de executar tarefas básicas da vida diária, como tomar banho, se vestir e comer. E autônomo quando, cognitivamente, consegue realizar atividades instrumentais, mais complexas que as básicas, como usar o telefone, fazer compras ou cuidar das finanças.

No primeiro caso, também chamado de “autocuidado”, o idoso precisa desempenhar as funções sozinho, sem ajuda de familiares, acompanhantes ou cuidadores. No segundo, o “autogoverno”, ele pode recorrer, quando necessário, a dispositivos, como óculos, próteses auditivas e bengalas, ou a estratégias, como agendas ou post-its.

“Se o idoso tem artrose no joelho, que o impede de sair de casa para comprar remédio na farmácia, ele tem sua independência comprometida. Mas, se ele consegue executar essa tarefa com o auxílio de uma bengala, mantém sua independência”, explica o geriatra Fábio Nasri, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).

Ao conjunto de habilidades físicas e mentais indispensáveis para cuidar de si próprio e para viver em sociedade de forma independente e autônoma, os especialistas em longevidade dão o nome de capacidade funcional do idoso.

Termômetros da funcionalidade

Há, pelo menos, duas escalas para avaliar a capacidade funcional de um idoso: a de Katz e a da Lawton (faça esta ao final da reportagem).

A primeira, criada pelo geriatra americano Sidney Katz (1924-2012) na década de 1950, avalia as atividades básicas da vida diária (ABVD). Já a segunda, desenvolvida pelos gerontólogos Mortimer Powell Lawton (1923-2001) e Elaine Marjorie Brody (1922-2014) em 1969, investiga as instrumentais (AIVD).

Além dos exemplos citados no parágrafo anterior, o questionário de Katz inclui higiene pessoal, transferência (consegue deitar na cama, sentar na cadeira e ficar de pé) e continência (controla urina e fezes). Já a escala de Lawton analisa tarefas como preparar a própria refeição, usar transporte público ou tomar remédio na dose certa e no horário correto.

Se o idoso é capaz de realizar essas tarefas sem ajuda de terceiros, é independente. Mas, se precisa de uma mão ou se não consegue executá-las sozinho, semidependente e totalmente dependente.

“As atividades da vida diária são um termômetro da nossa saúde e funcionalidade. A perda de atividade é sinal de que algo não vai bem”, alerta o geriatra Omar Jaluul, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “À medida que envelhecemos, perdemos reserva funcional, isto é, capacidade de lidar com traumas e infecções. Por isso, é importante aumentar essa reserva com hábitos saudáveis como alimentação equilibrada e atividade física. Na velhice, colhemos o que plantamos”.

A capacidade funcional do idoso também pode ser avaliada por meio de certos testes. Dois deles, de tão simples, podem ser feitos em casa – basta um tapete antiderrapante. São o teste de sentar e levantar do chão sem ajuda das mãos (ou de qualquer outro tipo de apoio) e o de se equilibrar sobre uma perna só por 10 segundos.

O criador deles é o cardiologista Cláudio Gil Araújo, diretor da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex), no Rio. “São indicados para pessoas que não têm limitação locomotora ou neurológica. Se o sujeito tem prótese no quadril ou fez cirurgia abdominal, por exemplo, não deve tentar”, adverte o médico.

Pessoas de 40 e 50 anos devem ser capazes, explica o médico, de sentar e levantar do chão sem usar a mão ou perder o equilíbrio. E pessoas com menos de 70, de ficar em pé por 10 segundos numa perna só. Mas, e se eu não conseguir? Quer dizer que vou morrer amanhã? “Nada disso! O resultado deve servir apenas de alerta. Estou com excesso de peso? Não faço exercício físico? O que preciso mudar em minha vida para melhorar o resultado do meu teste?”, orienta o médico que, para treinar o equilíbrio, costuma escovar os dentes numa perna só.

Os testes que avaliam o grau de funcionalidade do idoso não terminam por aí. Há mais dois: o da velocidade da marcha e o da preensão palmar.

O da marcha é tão simples quanto o de sentar e levantar ou o de permanecer em pé sobre uma perna só. Consiste em caminhar quatro metros em linha reta. A geriatra Kelem de Negreiros Cabral, do Hospital Sírio-Libanês, explica como funciona: “O idoso percorre essa distância numa velocidade segura enquanto o examinador avalia o modo de execução e o tempo de realização. Idosos mais velozes (que percorrem 1 metro ou mais por segundo) apresentam melhores condições de saúde. E os mais lentificados (que fazem menos de 60 centímetros por segundo), declínio funcional e cognitivo e maior risco de queda e morte”.

O outro teste, o da preensão palmar, também precisa ser feito em um consultório porque demanda o uso de um aparelho chamado dinamômetro, que avalia a força dos músculos da mão e do antebraço.

Independência hoje para garantir o amanhã

Mas, por que é tão importante avaliar a capacidade funcional? Porque é um preditor de morbidade e mortalidade. O que isso quer dizer? Ajuda a predizer, isto é, a dizer antecipadamente, quais as chances daquele idoso adoecer ou morrer em um futuro próximo.

Quem explica melhor é a geriatra Luiza Blanco, do Hospital Santa Paula: “A perda de capacidade funcional está, muitas vezes, associada ao início de uma doença ou à evolução de outra, pré-existente. Quanto mais dependente for o idoso, maior o risco de ele sofrer quedas ou de contrair infecções”, acrescenta.

Em caso de perda funcional, o médico deve ajustar o tratamento para evitar a progressão da doença ou recuperar a independência perdida.

Há programas de reabilitação, como fisioterapia e fonoterapia, e acompanhamentos médico e nutricional, para controle de doenças e consumo adequado de proteínas e calorias. Para manter a independência física, o geriatra Luiz Antônio Gil Júnior, do Hospital Nove de Julho, recomenda atividade física e alimentação saudável e, para proteger a autonomia cognitiva, convívio social e propósito de vida.

Outro dado importante: quanto antes detectar o declínio funcional, melhor. Isso aumenta as chances de sucesso de uma eventual recuperação.

A geriatra Gabriela Fagundes, do Einstein, dá um exemplo: imagine um idoso que fratura o quadril após uma queda no banheiro e passa por cirurgia e, na sequência, reabilitação. Mesmo que os procedimentos sejam um sucesso, há um grande risco de ele não se recuperar totalmente. “Se o motivo que o levou à queda tivesse sido identificado e tratado lá atrás, muito provavelmente nós teríamos conseguido evitá-lo. Quanto mais cedo identificamos o problema, maiores as chances de prevenirmos o declínio funcional”, observa.

Por essas e outras, não devemos esperar soprar 65 velinhas para começar a pensar em envelhecimento saudável. Devemos começar o quanto antes. “É fundamental ter uma vida ativa e saudável desde cedo. Ter um sono de qualidade, aprender coisas novas e desenvolver a resiliência são dicas infalíveis para envelhecer bem”, recomenda.

Sempre é tempo de sair do sedentarismo

Marineth Huback não começou a praticar atividade física ontem. Desde os 10 anos, ela faz exercício ouvindo o programa Hora da Ginástica, apresentado pelo professor de educação física Oswaldo Diniz Magalhães (1904-1998). “Naquele tempo, não havia academia”, recorda. “O único problema é que, se você fizesse errado, não tinha ninguém para corrigir”. Hoje, além de rapel e montanhismo, ela pratica tai chi chuan, pilates e musculação.

A atividade física ideal, pondera Kelem Cabral, do Sírio-Libanês, obedece a dois critérios: indicação técnica e preferência pessoal. Não se deve prescrever corrida para quem sofre de problemas nas articulações. O melhor exercício, neste caso, é a hidroginástica. Tampouco é indicado recomendar ciclismo para quem gosta de caminhada ou natação para quem curte tênis. “Nunca é tarde para começar a fazer exercício. O melhor dia é hoje!”, avisa.

Durante a trilha da Pedra Bonita, Marineth é reconhecida por outros trilheiros, que pedem fotos.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No domingo, 3 de março, Marineth tirou a manhã de sol para fazer trilha na Pedra Bonita, no Rio. Quase não conseguiu. A todo instante, era abordada por adeptos do esporte ou seguidores do Instagram à caça de selfies. “Quando crescer, quero ser igual à você”, derreteu-se uma. “Já fizemos rapel juntos!”, festejou outro.

“Volta e meia, me dizem: ‘Marineth, escalar montanha é perigoso!’. Me limito a responder: ‘Cair no banheiro também!’”, ironiza a intrépida montanhista que está à procura de um patrocinador para realizar o sonho de conhecer o Grand Canyon, nos Estados Unidos: “Ainda vou fazer trilha e voar de balão no deserto do Arizona!”. Alguém duvida?

Escala de Lawton

Depois de realizar o questionário sobre atividades instrumentais da vida diária, confira a pontuação e o gabarito.

1. Você consegue usar o telefone?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

2. Consegue ir a locais distantes, usando transporte público ou próprio?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

3. Fazer compras?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

4. Preparar sua refeição?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

5. Arrumar a casa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

6. Fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

7. Lavar e passar roupa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

8. Tomar remédio na dose certa e no horário correto?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

9. Cuidar de suas finanças?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

Pontuação:

  • Sem ajuda: 3 pontos
  • Com ajuda parcial: 2 pontos
  • Não consegue: 1 ponto

Gabarito:

  • 27 pontos: Independente
  • De 18 a 26: Semidependente (ou parcialmente dependente)
  • Menos de 17 pontos: Totalmente dependente

Fonte: Escala de Lawton

No dia 14 de fevereiro, Marineth Huback completou 87 anos. Quem tentou parabenizá-la por telefone não conseguiu – seu celular estava “fora da área de cobertura”. Há dez anos, ela comemora a data escalando picos. O mais recente foi o das Ilhas Tijucas, entre a Barra e São Conrado, no Rio de Janeiro. A “comemoração” incluiu uma escalada de 50 metros, uma descida de rapel, um nado em fosso profundo, um bolo de aniversário e – ufa! – o tradicional “Parabéns pra você”, cantado por membros do Centro Excursionista Brasileiro (CEB), seu clube de montanhismo.

Marineth Huback, 87 anos, na trilha da Pedra Bonita, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“Como toda escalada, a Pontuda, nas Ilhas Tijucas, requer atenção. Qualquer vacilo, você despenca e cai no mar. Mas o visual compensa qualquer sacrifício. É mágico!”, descreve uma das mais experientes montanhistas do Brasil.

Nascida em Nova Friburgo, na região serrana do Estado, Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos. Hoje, aos 87, já escalou 125 picos – o mais alto, o da Bandeira, entre Minas e Espírito Santo, tem 2.891 metros de altitude. Já o da Pedra da Gávea, no Rio, gostou tanto que escalou 17 vezes.

“No montanhismo, nunca sofri etarismo. Mas, no trânsito, já ouvi cada coisa! Muita gente me pergunta: ‘Você ainda dirige?’ Nessas horas, respondo: ‘Ué, se tenho carteira de habilitação, por que eu não vou dirigir?’ Querem impor limites onde não há”.

Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos e já escalou 125 picos. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Marineth Huback é o que os geriatras e gerontólogos chamam de independente e autônoma. O idoso é independente quando, fisicamente, é capaz de executar tarefas básicas da vida diária, como tomar banho, se vestir e comer. E autônomo quando, cognitivamente, consegue realizar atividades instrumentais, mais complexas que as básicas, como usar o telefone, fazer compras ou cuidar das finanças.

No primeiro caso, também chamado de “autocuidado”, o idoso precisa desempenhar as funções sozinho, sem ajuda de familiares, acompanhantes ou cuidadores. No segundo, o “autogoverno”, ele pode recorrer, quando necessário, a dispositivos, como óculos, próteses auditivas e bengalas, ou a estratégias, como agendas ou post-its.

“Se o idoso tem artrose no joelho, que o impede de sair de casa para comprar remédio na farmácia, ele tem sua independência comprometida. Mas, se ele consegue executar essa tarefa com o auxílio de uma bengala, mantém sua independência”, explica o geriatra Fábio Nasri, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).

Ao conjunto de habilidades físicas e mentais indispensáveis para cuidar de si próprio e para viver em sociedade de forma independente e autônoma, os especialistas em longevidade dão o nome de capacidade funcional do idoso.

Termômetros da funcionalidade

Há, pelo menos, duas escalas para avaliar a capacidade funcional de um idoso: a de Katz e a da Lawton (faça esta ao final da reportagem).

A primeira, criada pelo geriatra americano Sidney Katz (1924-2012) na década de 1950, avalia as atividades básicas da vida diária (ABVD). Já a segunda, desenvolvida pelos gerontólogos Mortimer Powell Lawton (1923-2001) e Elaine Marjorie Brody (1922-2014) em 1969, investiga as instrumentais (AIVD).

Além dos exemplos citados no parágrafo anterior, o questionário de Katz inclui higiene pessoal, transferência (consegue deitar na cama, sentar na cadeira e ficar de pé) e continência (controla urina e fezes). Já a escala de Lawton analisa tarefas como preparar a própria refeição, usar transporte público ou tomar remédio na dose certa e no horário correto.

Se o idoso é capaz de realizar essas tarefas sem ajuda de terceiros, é independente. Mas, se precisa de uma mão ou se não consegue executá-las sozinho, semidependente e totalmente dependente.

“As atividades da vida diária são um termômetro da nossa saúde e funcionalidade. A perda de atividade é sinal de que algo não vai bem”, alerta o geriatra Omar Jaluul, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “À medida que envelhecemos, perdemos reserva funcional, isto é, capacidade de lidar com traumas e infecções. Por isso, é importante aumentar essa reserva com hábitos saudáveis como alimentação equilibrada e atividade física. Na velhice, colhemos o que plantamos”.

A capacidade funcional do idoso também pode ser avaliada por meio de certos testes. Dois deles, de tão simples, podem ser feitos em casa – basta um tapete antiderrapante. São o teste de sentar e levantar do chão sem ajuda das mãos (ou de qualquer outro tipo de apoio) e o de se equilibrar sobre uma perna só por 10 segundos.

O criador deles é o cardiologista Cláudio Gil Araújo, diretor da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex), no Rio. “São indicados para pessoas que não têm limitação locomotora ou neurológica. Se o sujeito tem prótese no quadril ou fez cirurgia abdominal, por exemplo, não deve tentar”, adverte o médico.

Pessoas de 40 e 50 anos devem ser capazes, explica o médico, de sentar e levantar do chão sem usar a mão ou perder o equilíbrio. E pessoas com menos de 70, de ficar em pé por 10 segundos numa perna só. Mas, e se eu não conseguir? Quer dizer que vou morrer amanhã? “Nada disso! O resultado deve servir apenas de alerta. Estou com excesso de peso? Não faço exercício físico? O que preciso mudar em minha vida para melhorar o resultado do meu teste?”, orienta o médico que, para treinar o equilíbrio, costuma escovar os dentes numa perna só.

Os testes que avaliam o grau de funcionalidade do idoso não terminam por aí. Há mais dois: o da velocidade da marcha e o da preensão palmar.

O da marcha é tão simples quanto o de sentar e levantar ou o de permanecer em pé sobre uma perna só. Consiste em caminhar quatro metros em linha reta. A geriatra Kelem de Negreiros Cabral, do Hospital Sírio-Libanês, explica como funciona: “O idoso percorre essa distância numa velocidade segura enquanto o examinador avalia o modo de execução e o tempo de realização. Idosos mais velozes (que percorrem 1 metro ou mais por segundo) apresentam melhores condições de saúde. E os mais lentificados (que fazem menos de 60 centímetros por segundo), declínio funcional e cognitivo e maior risco de queda e morte”.

O outro teste, o da preensão palmar, também precisa ser feito em um consultório porque demanda o uso de um aparelho chamado dinamômetro, que avalia a força dos músculos da mão e do antebraço.

Independência hoje para garantir o amanhã

Mas, por que é tão importante avaliar a capacidade funcional? Porque é um preditor de morbidade e mortalidade. O que isso quer dizer? Ajuda a predizer, isto é, a dizer antecipadamente, quais as chances daquele idoso adoecer ou morrer em um futuro próximo.

Quem explica melhor é a geriatra Luiza Blanco, do Hospital Santa Paula: “A perda de capacidade funcional está, muitas vezes, associada ao início de uma doença ou à evolução de outra, pré-existente. Quanto mais dependente for o idoso, maior o risco de ele sofrer quedas ou de contrair infecções”, acrescenta.

Em caso de perda funcional, o médico deve ajustar o tratamento para evitar a progressão da doença ou recuperar a independência perdida.

Há programas de reabilitação, como fisioterapia e fonoterapia, e acompanhamentos médico e nutricional, para controle de doenças e consumo adequado de proteínas e calorias. Para manter a independência física, o geriatra Luiz Antônio Gil Júnior, do Hospital Nove de Julho, recomenda atividade física e alimentação saudável e, para proteger a autonomia cognitiva, convívio social e propósito de vida.

Outro dado importante: quanto antes detectar o declínio funcional, melhor. Isso aumenta as chances de sucesso de uma eventual recuperação.

A geriatra Gabriela Fagundes, do Einstein, dá um exemplo: imagine um idoso que fratura o quadril após uma queda no banheiro e passa por cirurgia e, na sequência, reabilitação. Mesmo que os procedimentos sejam um sucesso, há um grande risco de ele não se recuperar totalmente. “Se o motivo que o levou à queda tivesse sido identificado e tratado lá atrás, muito provavelmente nós teríamos conseguido evitá-lo. Quanto mais cedo identificamos o problema, maiores as chances de prevenirmos o declínio funcional”, observa.

Por essas e outras, não devemos esperar soprar 65 velinhas para começar a pensar em envelhecimento saudável. Devemos começar o quanto antes. “É fundamental ter uma vida ativa e saudável desde cedo. Ter um sono de qualidade, aprender coisas novas e desenvolver a resiliência são dicas infalíveis para envelhecer bem”, recomenda.

Sempre é tempo de sair do sedentarismo

Marineth Huback não começou a praticar atividade física ontem. Desde os 10 anos, ela faz exercício ouvindo o programa Hora da Ginástica, apresentado pelo professor de educação física Oswaldo Diniz Magalhães (1904-1998). “Naquele tempo, não havia academia”, recorda. “O único problema é que, se você fizesse errado, não tinha ninguém para corrigir”. Hoje, além de rapel e montanhismo, ela pratica tai chi chuan, pilates e musculação.

A atividade física ideal, pondera Kelem Cabral, do Sírio-Libanês, obedece a dois critérios: indicação técnica e preferência pessoal. Não se deve prescrever corrida para quem sofre de problemas nas articulações. O melhor exercício, neste caso, é a hidroginástica. Tampouco é indicado recomendar ciclismo para quem gosta de caminhada ou natação para quem curte tênis. “Nunca é tarde para começar a fazer exercício. O melhor dia é hoje!”, avisa.

Durante a trilha da Pedra Bonita, Marineth é reconhecida por outros trilheiros, que pedem fotos.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No domingo, 3 de março, Marineth tirou a manhã de sol para fazer trilha na Pedra Bonita, no Rio. Quase não conseguiu. A todo instante, era abordada por adeptos do esporte ou seguidores do Instagram à caça de selfies. “Quando crescer, quero ser igual à você”, derreteu-se uma. “Já fizemos rapel juntos!”, festejou outro.

“Volta e meia, me dizem: ‘Marineth, escalar montanha é perigoso!’. Me limito a responder: ‘Cair no banheiro também!’”, ironiza a intrépida montanhista que está à procura de um patrocinador para realizar o sonho de conhecer o Grand Canyon, nos Estados Unidos: “Ainda vou fazer trilha e voar de balão no deserto do Arizona!”. Alguém duvida?

Escala de Lawton

Depois de realizar o questionário sobre atividades instrumentais da vida diária, confira a pontuação e o gabarito.

1. Você consegue usar o telefone?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

2. Consegue ir a locais distantes, usando transporte público ou próprio?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

3. Fazer compras?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

4. Preparar sua refeição?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

5. Arrumar a casa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

6. Fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

7. Lavar e passar roupa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

8. Tomar remédio na dose certa e no horário correto?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

9. Cuidar de suas finanças?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

Pontuação:

  • Sem ajuda: 3 pontos
  • Com ajuda parcial: 2 pontos
  • Não consegue: 1 ponto

Gabarito:

  • 27 pontos: Independente
  • De 18 a 26: Semidependente (ou parcialmente dependente)
  • Menos de 17 pontos: Totalmente dependente

Fonte: Escala de Lawton

No dia 14 de fevereiro, Marineth Huback completou 87 anos. Quem tentou parabenizá-la por telefone não conseguiu – seu celular estava “fora da área de cobertura”. Há dez anos, ela comemora a data escalando picos. O mais recente foi o das Ilhas Tijucas, entre a Barra e São Conrado, no Rio de Janeiro. A “comemoração” incluiu uma escalada de 50 metros, uma descida de rapel, um nado em fosso profundo, um bolo de aniversário e – ufa! – o tradicional “Parabéns pra você”, cantado por membros do Centro Excursionista Brasileiro (CEB), seu clube de montanhismo.

Marineth Huback, 87 anos, na trilha da Pedra Bonita, na zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“Como toda escalada, a Pontuda, nas Ilhas Tijucas, requer atenção. Qualquer vacilo, você despenca e cai no mar. Mas o visual compensa qualquer sacrifício. É mágico!”, descreve uma das mais experientes montanhistas do Brasil.

Nascida em Nova Friburgo, na região serrana do Estado, Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos. Hoje, aos 87, já escalou 125 picos – o mais alto, o da Bandeira, entre Minas e Espírito Santo, tem 2.891 metros de altitude. Já o da Pedra da Gávea, no Rio, gostou tanto que escalou 17 vezes.

“No montanhismo, nunca sofri etarismo. Mas, no trânsito, já ouvi cada coisa! Muita gente me pergunta: ‘Você ainda dirige?’ Nessas horas, respondo: ‘Ué, se tenho carteira de habilitação, por que eu não vou dirigir?’ Querem impor limites onde não há”.

Marineth começou a praticar montanhismo aos 59 anos e já escalou 125 picos. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Marineth Huback é o que os geriatras e gerontólogos chamam de independente e autônoma. O idoso é independente quando, fisicamente, é capaz de executar tarefas básicas da vida diária, como tomar banho, se vestir e comer. E autônomo quando, cognitivamente, consegue realizar atividades instrumentais, mais complexas que as básicas, como usar o telefone, fazer compras ou cuidar das finanças.

No primeiro caso, também chamado de “autocuidado”, o idoso precisa desempenhar as funções sozinho, sem ajuda de familiares, acompanhantes ou cuidadores. No segundo, o “autogoverno”, ele pode recorrer, quando necessário, a dispositivos, como óculos, próteses auditivas e bengalas, ou a estratégias, como agendas ou post-its.

“Se o idoso tem artrose no joelho, que o impede de sair de casa para comprar remédio na farmácia, ele tem sua independência comprometida. Mas, se ele consegue executar essa tarefa com o auxílio de uma bengala, mantém sua independência”, explica o geriatra Fábio Nasri, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).

Ao conjunto de habilidades físicas e mentais indispensáveis para cuidar de si próprio e para viver em sociedade de forma independente e autônoma, os especialistas em longevidade dão o nome de capacidade funcional do idoso.

Termômetros da funcionalidade

Há, pelo menos, duas escalas para avaliar a capacidade funcional de um idoso: a de Katz e a da Lawton (faça esta ao final da reportagem).

A primeira, criada pelo geriatra americano Sidney Katz (1924-2012) na década de 1950, avalia as atividades básicas da vida diária (ABVD). Já a segunda, desenvolvida pelos gerontólogos Mortimer Powell Lawton (1923-2001) e Elaine Marjorie Brody (1922-2014) em 1969, investiga as instrumentais (AIVD).

Além dos exemplos citados no parágrafo anterior, o questionário de Katz inclui higiene pessoal, transferência (consegue deitar na cama, sentar na cadeira e ficar de pé) e continência (controla urina e fezes). Já a escala de Lawton analisa tarefas como preparar a própria refeição, usar transporte público ou tomar remédio na dose certa e no horário correto.

Se o idoso é capaz de realizar essas tarefas sem ajuda de terceiros, é independente. Mas, se precisa de uma mão ou se não consegue executá-las sozinho, semidependente e totalmente dependente.

“As atividades da vida diária são um termômetro da nossa saúde e funcionalidade. A perda de atividade é sinal de que algo não vai bem”, alerta o geriatra Omar Jaluul, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “À medida que envelhecemos, perdemos reserva funcional, isto é, capacidade de lidar com traumas e infecções. Por isso, é importante aumentar essa reserva com hábitos saudáveis como alimentação equilibrada e atividade física. Na velhice, colhemos o que plantamos”.

A capacidade funcional do idoso também pode ser avaliada por meio de certos testes. Dois deles, de tão simples, podem ser feitos em casa – basta um tapete antiderrapante. São o teste de sentar e levantar do chão sem ajuda das mãos (ou de qualquer outro tipo de apoio) e o de se equilibrar sobre uma perna só por 10 segundos.

O criador deles é o cardiologista Cláudio Gil Araújo, diretor da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex), no Rio. “São indicados para pessoas que não têm limitação locomotora ou neurológica. Se o sujeito tem prótese no quadril ou fez cirurgia abdominal, por exemplo, não deve tentar”, adverte o médico.

Pessoas de 40 e 50 anos devem ser capazes, explica o médico, de sentar e levantar do chão sem usar a mão ou perder o equilíbrio. E pessoas com menos de 70, de ficar em pé por 10 segundos numa perna só. Mas, e se eu não conseguir? Quer dizer que vou morrer amanhã? “Nada disso! O resultado deve servir apenas de alerta. Estou com excesso de peso? Não faço exercício físico? O que preciso mudar em minha vida para melhorar o resultado do meu teste?”, orienta o médico que, para treinar o equilíbrio, costuma escovar os dentes numa perna só.

Os testes que avaliam o grau de funcionalidade do idoso não terminam por aí. Há mais dois: o da velocidade da marcha e o da preensão palmar.

O da marcha é tão simples quanto o de sentar e levantar ou o de permanecer em pé sobre uma perna só. Consiste em caminhar quatro metros em linha reta. A geriatra Kelem de Negreiros Cabral, do Hospital Sírio-Libanês, explica como funciona: “O idoso percorre essa distância numa velocidade segura enquanto o examinador avalia o modo de execução e o tempo de realização. Idosos mais velozes (que percorrem 1 metro ou mais por segundo) apresentam melhores condições de saúde. E os mais lentificados (que fazem menos de 60 centímetros por segundo), declínio funcional e cognitivo e maior risco de queda e morte”.

O outro teste, o da preensão palmar, também precisa ser feito em um consultório porque demanda o uso de um aparelho chamado dinamômetro, que avalia a força dos músculos da mão e do antebraço.

Independência hoje para garantir o amanhã

Mas, por que é tão importante avaliar a capacidade funcional? Porque é um preditor de morbidade e mortalidade. O que isso quer dizer? Ajuda a predizer, isto é, a dizer antecipadamente, quais as chances daquele idoso adoecer ou morrer em um futuro próximo.

Quem explica melhor é a geriatra Luiza Blanco, do Hospital Santa Paula: “A perda de capacidade funcional está, muitas vezes, associada ao início de uma doença ou à evolução de outra, pré-existente. Quanto mais dependente for o idoso, maior o risco de ele sofrer quedas ou de contrair infecções”, acrescenta.

Em caso de perda funcional, o médico deve ajustar o tratamento para evitar a progressão da doença ou recuperar a independência perdida.

Há programas de reabilitação, como fisioterapia e fonoterapia, e acompanhamentos médico e nutricional, para controle de doenças e consumo adequado de proteínas e calorias. Para manter a independência física, o geriatra Luiz Antônio Gil Júnior, do Hospital Nove de Julho, recomenda atividade física e alimentação saudável e, para proteger a autonomia cognitiva, convívio social e propósito de vida.

Outro dado importante: quanto antes detectar o declínio funcional, melhor. Isso aumenta as chances de sucesso de uma eventual recuperação.

A geriatra Gabriela Fagundes, do Einstein, dá um exemplo: imagine um idoso que fratura o quadril após uma queda no banheiro e passa por cirurgia e, na sequência, reabilitação. Mesmo que os procedimentos sejam um sucesso, há um grande risco de ele não se recuperar totalmente. “Se o motivo que o levou à queda tivesse sido identificado e tratado lá atrás, muito provavelmente nós teríamos conseguido evitá-lo. Quanto mais cedo identificamos o problema, maiores as chances de prevenirmos o declínio funcional”, observa.

Por essas e outras, não devemos esperar soprar 65 velinhas para começar a pensar em envelhecimento saudável. Devemos começar o quanto antes. “É fundamental ter uma vida ativa e saudável desde cedo. Ter um sono de qualidade, aprender coisas novas e desenvolver a resiliência são dicas infalíveis para envelhecer bem”, recomenda.

Sempre é tempo de sair do sedentarismo

Marineth Huback não começou a praticar atividade física ontem. Desde os 10 anos, ela faz exercício ouvindo o programa Hora da Ginástica, apresentado pelo professor de educação física Oswaldo Diniz Magalhães (1904-1998). “Naquele tempo, não havia academia”, recorda. “O único problema é que, se você fizesse errado, não tinha ninguém para corrigir”. Hoje, além de rapel e montanhismo, ela pratica tai chi chuan, pilates e musculação.

A atividade física ideal, pondera Kelem Cabral, do Sírio-Libanês, obedece a dois critérios: indicação técnica e preferência pessoal. Não se deve prescrever corrida para quem sofre de problemas nas articulações. O melhor exercício, neste caso, é a hidroginástica. Tampouco é indicado recomendar ciclismo para quem gosta de caminhada ou natação para quem curte tênis. “Nunca é tarde para começar a fazer exercício. O melhor dia é hoje!”, avisa.

Durante a trilha da Pedra Bonita, Marineth é reconhecida por outros trilheiros, que pedem fotos.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No domingo, 3 de março, Marineth tirou a manhã de sol para fazer trilha na Pedra Bonita, no Rio. Quase não conseguiu. A todo instante, era abordada por adeptos do esporte ou seguidores do Instagram à caça de selfies. “Quando crescer, quero ser igual à você”, derreteu-se uma. “Já fizemos rapel juntos!”, festejou outro.

“Volta e meia, me dizem: ‘Marineth, escalar montanha é perigoso!’. Me limito a responder: ‘Cair no banheiro também!’”, ironiza a intrépida montanhista que está à procura de um patrocinador para realizar o sonho de conhecer o Grand Canyon, nos Estados Unidos: “Ainda vou fazer trilha e voar de balão no deserto do Arizona!”. Alguém duvida?

Escala de Lawton

Depois de realizar o questionário sobre atividades instrumentais da vida diária, confira a pontuação e o gabarito.

1. Você consegue usar o telefone?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

2. Consegue ir a locais distantes, usando transporte público ou próprio?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

3. Fazer compras?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

4. Preparar sua refeição?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

5. Arrumar a casa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

6. Fazer trabalhos manuais domésticos, como pequenos reparos?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

7. Lavar e passar roupa?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

8. Tomar remédio na dose certa e no horário correto?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

9. Cuidar de suas finanças?

( ) Sem ajuda

( ) Com ajuda parcial

( ) Não consegue

Pontuação:

  • Sem ajuda: 3 pontos
  • Com ajuda parcial: 2 pontos
  • Não consegue: 1 ponto

Gabarito:

  • 27 pontos: Independente
  • De 18 a 26: Semidependente (ou parcialmente dependente)
  • Menos de 17 pontos: Totalmente dependente

Fonte: Escala de Lawton

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