‘Chip da beleza’: efeitos colaterais preocupam médicos e entidades; entenda


Do tamanho de um palito de fósforo, dispositivo de silicone é implantado no corpo com a promessa de ganho de massa muscular e emagrecimento

Por Ítalo Lo Re

Com nome atraente, o chamado "chip da beleza" vem se difundindo ao longo dos últimos anos no País. Do tamanho de um palito de fósforo, o dispositivo de silicone é implantado no corpo para liberar continuamente hormônios como a gestrinona, esteroide com ações anabolizantes. A promessa é que, com os efeitos androgênicos do hormônio, ocorra emagrecimento, ganho de massa muscular e aumento na disposição física.

Costuma-se omitir, contudo, que o "chip da beleza" não é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pode gerar efeitos colaterais graves. Apesar das contraindicações de tratamentos subcutâneos com a gestrinona, hormônio cuja aplicação é a mais frequente, os relatos médicos sobre efeitos colaterais envolvendo os chips têm crescido.

Roberta Mori passou a enfrentar muitos problemas após realizar o procedimento em São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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Recentemente, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) se posicionou contra o implante de gestrinona. “Nós somos 5 mil endocrinologistas no Brasil, tinha profissionais de todo o País mandando denúncias sobre o 'chip da beleza' para a gente”, disse o presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM, Alexandre Hohl.

Segundo ele, a entidade enviou ofícios à Anvisa e ao Conselho Federal de Medicina (CFM) demandando atenção para o assunto.

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O médico explica que, em um primeiro momento, o dispositivo com gestrinona era injetado no corpo sob a justificativa de tratar a endometriose, distúrbio ligado ao crescimento de tecidos do útero. De uns cinco anos para cá, porém, percebeu-se que o uso do dispositivo para fins estéticos e a combinação com outros tipos de hormônios passou a se intensificar. O nome "chip da beleza" veio no meio desse processo.

“Quando se viu, estavam colocando todo tipo de anabolizante nos chips, principalmente com a justificativa de aumentar massa magra e diminuir massa gorda. Mas não há indicação médica para benefício estético”, conta Hohl. “Pode dar acne, problemas no fígado, no coração, na mama, aumentar colesterol e gerar uma série de outros efeitos.”

À medida que o diagnóstico dessas consequências se intensificou nos consultórios, o médico explica que começou um movimento coletivo das entidades médicas, uma vez que mastologistas, por exemplo, começaram a observar mulheres que usaram o chip com o problemas de mama.

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'Deu tudo de ruim que poderia dar'

Triatleta, a bancária Roberta Mori, de 40 anos, ficou sabendo o que era o "chip da beleza" no início do ano passado, quando procurava novas formas de melhorar sua performance no esporte. Roberta pagou R$ 5 mil antecipadamente para um tratamento com chips de gestrinona que duraria 12 meses.

Com auxílio de anestesia local, teve cinco tubos de silicone de aproximadamente 3 centímetros implantados na região dos glúteos. Pouco após o procedimento, a experiência passou a ser marcada por complicações.

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“Tive inchaço, meu corpo reteve líquido, deu tudo de ruim que poderia dar”, conta a bancária, que relata ter engordado cerca de 7 kg. Os médicos responsáveis, então, receitaram um diurético, que não foi suficiente para evitar que a situação se complicasse ainda mais.

Ao ir a uma consulta com um nutrólogo, Roberta conta ter descoberto que seus “exames de sangue bagunçaram absurdamente”, aparecendo inclusive taxas de colesterol alto. “Nunca tinha tido até então, até por conta da prática de esportes”, diz. A bancária relata também ter perdido a libido e o ânimo para a prática de esportes.

“Acabei ficando dez meses com o implante no corpo, tirei só no meio deste ano”, explica Roberta, que precisou procurar um outro médico para fazer a extração de forma antecipada. “Teve que fazer um corte de três dedos para tirar tudo, ficou até uma cicatriz”, acrescenta.

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Após a extração, para tentar que as taxas de insulina voltem ao mesmo patamar de antes, por exemplo, ela passa agora por dietas mais restritivas e faz um acompanhamento periódico. “Fiz muito mais pela questão de performance. Prometiam maior disposição para praticar esportes, disseram que com a gestrinona eu teria uma espécie de estímulo, mas foi uma decepção”, conta Roberta.

Anvisa está tomando 'medidas necessárias'

O médico Alexandre Hohl explica que atualmente os "chips da beleza" estão em um “limbo”, uma vez que não há normas específicas para regulamentar o uso do dispositivo no País. “A SBEM quer normatizar, que existam regras, que determinem que o implante seja limitado só para determinados casos”, explica o médico.

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A entidade realizou uma reunião inicial com a Anvisa para, entre outros pontos, solicitar a inclusão da gestrinona na lista C5, que regula os anabolizantes utilizados no País, e a criação de outras formas de controle. Na nota divulgada, a SBEM reforça que a gestrinona está na lista de substâncias proibidas no esporte e que não é recomendada por entidades americanas. O documento foi endossado pela Associação Médica Brasileira (AMB).

Em posicionamento recente, a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) reforçou que não há dados suficientes que apontem eficácia e segurança na implementação dos chips.

A Anvisa informou, em nota, que não há medicamento registrado no Brasil contendo o princípio ativo gestrinona. Complementou, porém, que está a par de propagandas de implantes e que está tomando as “medidas necessárias para investigação e apuração dos fatos”.

Com nome atraente, o chamado "chip da beleza" vem se difundindo ao longo dos últimos anos no País. Do tamanho de um palito de fósforo, o dispositivo de silicone é implantado no corpo para liberar continuamente hormônios como a gestrinona, esteroide com ações anabolizantes. A promessa é que, com os efeitos androgênicos do hormônio, ocorra emagrecimento, ganho de massa muscular e aumento na disposição física.

Costuma-se omitir, contudo, que o "chip da beleza" não é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pode gerar efeitos colaterais graves. Apesar das contraindicações de tratamentos subcutâneos com a gestrinona, hormônio cuja aplicação é a mais frequente, os relatos médicos sobre efeitos colaterais envolvendo os chips têm crescido.

Roberta Mori passou a enfrentar muitos problemas após realizar o procedimento em São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) se posicionou contra o implante de gestrinona. “Nós somos 5 mil endocrinologistas no Brasil, tinha profissionais de todo o País mandando denúncias sobre o 'chip da beleza' para a gente”, disse o presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM, Alexandre Hohl.

Segundo ele, a entidade enviou ofícios à Anvisa e ao Conselho Federal de Medicina (CFM) demandando atenção para o assunto.

O médico explica que, em um primeiro momento, o dispositivo com gestrinona era injetado no corpo sob a justificativa de tratar a endometriose, distúrbio ligado ao crescimento de tecidos do útero. De uns cinco anos para cá, porém, percebeu-se que o uso do dispositivo para fins estéticos e a combinação com outros tipos de hormônios passou a se intensificar. O nome "chip da beleza" veio no meio desse processo.

“Quando se viu, estavam colocando todo tipo de anabolizante nos chips, principalmente com a justificativa de aumentar massa magra e diminuir massa gorda. Mas não há indicação médica para benefício estético”, conta Hohl. “Pode dar acne, problemas no fígado, no coração, na mama, aumentar colesterol e gerar uma série de outros efeitos.”

À medida que o diagnóstico dessas consequências se intensificou nos consultórios, o médico explica que começou um movimento coletivo das entidades médicas, uma vez que mastologistas, por exemplo, começaram a observar mulheres que usaram o chip com o problemas de mama.

'Deu tudo de ruim que poderia dar'

Triatleta, a bancária Roberta Mori, de 40 anos, ficou sabendo o que era o "chip da beleza" no início do ano passado, quando procurava novas formas de melhorar sua performance no esporte. Roberta pagou R$ 5 mil antecipadamente para um tratamento com chips de gestrinona que duraria 12 meses.

Com auxílio de anestesia local, teve cinco tubos de silicone de aproximadamente 3 centímetros implantados na região dos glúteos. Pouco após o procedimento, a experiência passou a ser marcada por complicações.

“Tive inchaço, meu corpo reteve líquido, deu tudo de ruim que poderia dar”, conta a bancária, que relata ter engordado cerca de 7 kg. Os médicos responsáveis, então, receitaram um diurético, que não foi suficiente para evitar que a situação se complicasse ainda mais.

Ao ir a uma consulta com um nutrólogo, Roberta conta ter descoberto que seus “exames de sangue bagunçaram absurdamente”, aparecendo inclusive taxas de colesterol alto. “Nunca tinha tido até então, até por conta da prática de esportes”, diz. A bancária relata também ter perdido a libido e o ânimo para a prática de esportes.

“Acabei ficando dez meses com o implante no corpo, tirei só no meio deste ano”, explica Roberta, que precisou procurar um outro médico para fazer a extração de forma antecipada. “Teve que fazer um corte de três dedos para tirar tudo, ficou até uma cicatriz”, acrescenta.

Após a extração, para tentar que as taxas de insulina voltem ao mesmo patamar de antes, por exemplo, ela passa agora por dietas mais restritivas e faz um acompanhamento periódico. “Fiz muito mais pela questão de performance. Prometiam maior disposição para praticar esportes, disseram que com a gestrinona eu teria uma espécie de estímulo, mas foi uma decepção”, conta Roberta.

Anvisa está tomando 'medidas necessárias'

O médico Alexandre Hohl explica que atualmente os "chips da beleza" estão em um “limbo”, uma vez que não há normas específicas para regulamentar o uso do dispositivo no País. “A SBEM quer normatizar, que existam regras, que determinem que o implante seja limitado só para determinados casos”, explica o médico.

A entidade realizou uma reunião inicial com a Anvisa para, entre outros pontos, solicitar a inclusão da gestrinona na lista C5, que regula os anabolizantes utilizados no País, e a criação de outras formas de controle. Na nota divulgada, a SBEM reforça que a gestrinona está na lista de substâncias proibidas no esporte e que não é recomendada por entidades americanas. O documento foi endossado pela Associação Médica Brasileira (AMB).

Em posicionamento recente, a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) reforçou que não há dados suficientes que apontem eficácia e segurança na implementação dos chips.

A Anvisa informou, em nota, que não há medicamento registrado no Brasil contendo o princípio ativo gestrinona. Complementou, porém, que está a par de propagandas de implantes e que está tomando as “medidas necessárias para investigação e apuração dos fatos”.

Com nome atraente, o chamado "chip da beleza" vem se difundindo ao longo dos últimos anos no País. Do tamanho de um palito de fósforo, o dispositivo de silicone é implantado no corpo para liberar continuamente hormônios como a gestrinona, esteroide com ações anabolizantes. A promessa é que, com os efeitos androgênicos do hormônio, ocorra emagrecimento, ganho de massa muscular e aumento na disposição física.

Costuma-se omitir, contudo, que o "chip da beleza" não é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pode gerar efeitos colaterais graves. Apesar das contraindicações de tratamentos subcutâneos com a gestrinona, hormônio cuja aplicação é a mais frequente, os relatos médicos sobre efeitos colaterais envolvendo os chips têm crescido.

Roberta Mori passou a enfrentar muitos problemas após realizar o procedimento em São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) se posicionou contra o implante de gestrinona. “Nós somos 5 mil endocrinologistas no Brasil, tinha profissionais de todo o País mandando denúncias sobre o 'chip da beleza' para a gente”, disse o presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM, Alexandre Hohl.

Segundo ele, a entidade enviou ofícios à Anvisa e ao Conselho Federal de Medicina (CFM) demandando atenção para o assunto.

O médico explica que, em um primeiro momento, o dispositivo com gestrinona era injetado no corpo sob a justificativa de tratar a endometriose, distúrbio ligado ao crescimento de tecidos do útero. De uns cinco anos para cá, porém, percebeu-se que o uso do dispositivo para fins estéticos e a combinação com outros tipos de hormônios passou a se intensificar. O nome "chip da beleza" veio no meio desse processo.

“Quando se viu, estavam colocando todo tipo de anabolizante nos chips, principalmente com a justificativa de aumentar massa magra e diminuir massa gorda. Mas não há indicação médica para benefício estético”, conta Hohl. “Pode dar acne, problemas no fígado, no coração, na mama, aumentar colesterol e gerar uma série de outros efeitos.”

À medida que o diagnóstico dessas consequências se intensificou nos consultórios, o médico explica que começou um movimento coletivo das entidades médicas, uma vez que mastologistas, por exemplo, começaram a observar mulheres que usaram o chip com o problemas de mama.

'Deu tudo de ruim que poderia dar'

Triatleta, a bancária Roberta Mori, de 40 anos, ficou sabendo o que era o "chip da beleza" no início do ano passado, quando procurava novas formas de melhorar sua performance no esporte. Roberta pagou R$ 5 mil antecipadamente para um tratamento com chips de gestrinona que duraria 12 meses.

Com auxílio de anestesia local, teve cinco tubos de silicone de aproximadamente 3 centímetros implantados na região dos glúteos. Pouco após o procedimento, a experiência passou a ser marcada por complicações.

“Tive inchaço, meu corpo reteve líquido, deu tudo de ruim que poderia dar”, conta a bancária, que relata ter engordado cerca de 7 kg. Os médicos responsáveis, então, receitaram um diurético, que não foi suficiente para evitar que a situação se complicasse ainda mais.

Ao ir a uma consulta com um nutrólogo, Roberta conta ter descoberto que seus “exames de sangue bagunçaram absurdamente”, aparecendo inclusive taxas de colesterol alto. “Nunca tinha tido até então, até por conta da prática de esportes”, diz. A bancária relata também ter perdido a libido e o ânimo para a prática de esportes.

“Acabei ficando dez meses com o implante no corpo, tirei só no meio deste ano”, explica Roberta, que precisou procurar um outro médico para fazer a extração de forma antecipada. “Teve que fazer um corte de três dedos para tirar tudo, ficou até uma cicatriz”, acrescenta.

Após a extração, para tentar que as taxas de insulina voltem ao mesmo patamar de antes, por exemplo, ela passa agora por dietas mais restritivas e faz um acompanhamento periódico. “Fiz muito mais pela questão de performance. Prometiam maior disposição para praticar esportes, disseram que com a gestrinona eu teria uma espécie de estímulo, mas foi uma decepção”, conta Roberta.

Anvisa está tomando 'medidas necessárias'

O médico Alexandre Hohl explica que atualmente os "chips da beleza" estão em um “limbo”, uma vez que não há normas específicas para regulamentar o uso do dispositivo no País. “A SBEM quer normatizar, que existam regras, que determinem que o implante seja limitado só para determinados casos”, explica o médico.

A entidade realizou uma reunião inicial com a Anvisa para, entre outros pontos, solicitar a inclusão da gestrinona na lista C5, que regula os anabolizantes utilizados no País, e a criação de outras formas de controle. Na nota divulgada, a SBEM reforça que a gestrinona está na lista de substâncias proibidas no esporte e que não é recomendada por entidades americanas. O documento foi endossado pela Associação Médica Brasileira (AMB).

Em posicionamento recente, a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) reforçou que não há dados suficientes que apontem eficácia e segurança na implementação dos chips.

A Anvisa informou, em nota, que não há medicamento registrado no Brasil contendo o princípio ativo gestrinona. Complementou, porém, que está a par de propagandas de implantes e que está tomando as “medidas necessárias para investigação e apuração dos fatos”.

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