SOROCABA - Cinco semanas após a vacinação em massa com a vacina Oxford/Astrazeneca, a cidade de Botucatu, no interior de São Paulo, registrou queda de 48% na média de casos positivos de covid-19. Na semana de 13 a 19, a média diária foi de 73 casos, enquanto na anterior tinha sido de 141. A média semanal é a mais baixa desde o início de maio. Conforme a secretaria municipal de Saúde, o número de testes positivos teve redução de 50% e as internações caíram 40%.
Cidades da mesma região de Botucatu que não tiveram vacinação em massa registraram aumento de casos no período considerado. Em Avaré, cidade vizinha de 92 mil habitantes, a média diária subiu 34% na semana de 6 a 12 de junho ao período de 13 a 19 do mesmo mês. Em Bauru, a alta foi de 5,76% no mesmo período.
Números do governo estadual indicam que, ao contrário do que aconteceu em Botucatu, no Estado, os casos positivos de covid-19, aumentaram no mesmo período. Na semana de 6 a 12 de junho, a média móvel foi de 13.482 casos (94.370 nos sete dias). Na semana de 13 a 19, enquanto Botucatu, registrava queda, a média móvel do estado subia para 17.661 casos diários (123.633 na semana), alta de 31%.
Para o secretário André Spadaro, esses indicadores de queda nos números da pandemia podem ser atribuídos diretamente à vacinação e estão dentro do cronograma esperado. “Se considerarmos de hoje a 14 dias atrás, a queda nos casos positivos é da ordem de 60%, indicando que a tendência de redução persiste. A pressão por leitos no Hospital das Clínicas (referência para covid-19) continua elevada, visto que atende a mais de 30 municípios da região. Infelizmente, a transmissão segue elevada em todo o interior do Estado”, disse.
A vacinação em massa da população adulta, uma aposta de outras duas cidades - Serrana, no interior de SP, e Paquetá, no Rio -, aconteceu no dia 16 de maio e imunizou 71 mil pessoas com a primeira dose da Astrazeneca. A segunda aplicação está prevista para agosto. Considerando os idosos e grupos que não entraram na campanha, Botucatu já tem 80,53% dos 148 mil habitantes vacinados. A cidade participa de um estudo sobre a eficácia da vacina quando aplicada em toda a população e sua efetividade contra variantes do vírus. Especialistas já previam que os primeiros efeitos positivos aconteceriam a partir da segunda quinzena de junho.
Conforme o infectologista Carlos Magno Fortaleza, docente da Faculdade de Medicina de Botucatu e responsável pelo estudo, os efeitos da vacina diminuem a transmissibilidade do vírus, reduzindo os casos positivos. Em seguida, segundo ele, devem diminuir os casos graves, reduzindo a taxa de internações e mortes. “A expectativa é de que, após quatro semanas da primeira dose, o organismo comece a criar os anticorpos, fazendo com que haja um número menor de pessoas com sintomas da infecção”, disse.
No caso de Botucatu, essa redução já é sensível, no entanto, ainda é preciso comparar os números da cidade com os do Estado para saber se a redução ocorre só em Botucatu ou é maior na cidade. “Isso é esperado e coerente com o histórico da vacina, mas precisamos ver se Botucatu se descolou do estado nessa redução. De qualquer forma, estamos começando a respirar mais aliviados.”
Ele conta que, em sua enfermaria para covid-19 no HC de Botucatu, há duas semanas havia 18 pacientes internados, dos quais quatro esperavam vaga em UTI. “Hoje (quarta-feira, 23), temos oito pacientes e nenhum intubado ou esperando por UTI”, disse.
O projeto de estudo da vacina Astrazeneca envolve parcerias entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que mantém a Faculdade de Medicina e o HC de Botucatu, a Universidade de Oxford e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que produz a vacina, além da prefeitura local, Ministério da Saúde e Fundação Gates.
Em parceria inédita, a vacinação foi realizada com apoio da Justiça Eleitoral, como se fosse uma eleição. Os vacinados estão sendo acompanhados. Os resultados do estudo devem ser divulgados ainda este ano.