Comer salada e frutas pode ajudar no tratamento contra o câncer?


Composição do microbioma intestinal de uma pessoa parece influenciar em alguns pacientes o sucesso de um tratamento inovador

Por Anahad O’Connor
Atualização:

WASHINGTON POST – Os pesquisadores do câncer acreditam ter encontrado uma explicação para o motivo pelo qual alguns medicamentos contra o câncer nem sempre funcionam. A resposta – e uma possível solução – talvez esteja no microbioma intestinal.

A composição do microbioma intestinal de uma pessoa – que consiste em trilhões de bactérias e outros micróbios – parece influenciar em alguns pacientes o sucesso de um tratamento inovador contra o câncer, chamado imunoterapia. Os cientistas descobriram que os pacientes que abrigam certas bactérias intestinais têm melhores respostas à imunoterapia do que os pacientes que não as possuem.

Ainda mais impressionante: os cientistas acreditam que dar aos pacientes uma dieta rica em fibras de frutas, leguminosas, nozes e grãos integrais para nutrir o microbioma pode melhorar as chances de o tratamento do câncer ser eficaz.

continua após a publicidade
Grãos, farelos e farinhas integrais são alguns dos alimentos ricos em fibras Foto: Pixabay

Um ensaio clínico que testa a teoria está em andamento no MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas, em Houston, o maior centro de câncer dos Estados Unidos.

O estudo inclui participantes como Hector Facton, pediatra de San Angelo que está passando por tratamentos de imunoterapia para melanoma de estágio 4.

continua após a publicidade

“Estou comendo o triplo da quantidade de frutas e vegetais que costumava comer”, disse Facton. “Eu tinha uma dieta saudável, mas não nos níveis que tenho agora. Boa parte do meu prato é sempre vegetais, muita quinoa – qualquer coisa que eu possa encontrar que tenha fibra”.

Os cientistas alertam que essa estratégia de usar uma dieta rica em fibras – ou qualquer outra dieta – para impulsionar a imunoterapia ainda não foi comprovada. Mas a pesquisa que está lançando uma nova luz sobre como o microbioma intestinal afeta nossa capacidade de combater doenças.

“Meus pacientes que estão iniciando o tratamento muitas vezes perguntam se há algo mais que eles podem fazer para aumentar suas chances de responder à imunoterapia”, disse Jennifer McQuade, professora assistente e cientista em oncologia médica de melanoma no MD Anderson. “Estamos tentando testar essa dieta com o mesmo rigor que usamos para testar drogas”.

continua após a publicidade

Desdobramentos do câncer

Os cientistas sabem há muito tempo que o microbioma é uma parte crucial do nosso sistema imunológico. De acordo com algumas estimativas, entre 60 e 80 por cento das células imunes de nossos corpos residem no intestino.

Mas só recentemente ficou claro que esses micróbios podem afetar aos desdobramentos do câncer. Cientistas da Universidade de Chicago descobriram que camundongos com uma cepa de bactérias intestinais conhecidas como Bifidobacterium tinham uma resposta imune mais forte contra tumores de melanoma do que camundongos que não a possuíam. Eles descobriram que dar Bifidobacterium aos camundongos deficientes retardou o crescimento do tumor. Além disso, a combinação da bactéria com um medicamento de imunoterapia conhecido como inibidor de pontos de controle quase aboliu os tumores.

continua após a publicidade

Estudos em humanos mostraram que esses inibidores também foram mais eficazes em pacientes com câncer cujos intestinos tinham mais diversidade microbiana, bem como uma maior abundância de vários micróbios, incluindo Akkermansia muciniphila e Bifidobacterium longum. Pacientes com baixos níveis destes e de outros micróbios eram menos propensos a responder ao tratamento.

Alguns pesquisadores estão tentando superar a resistência à imunoterapia fazendo transplantes fecais. Eles coletam amostras de fezes repletas de micróbios intestinais de pacientes que responderam às drogas e as transferem por colonoscopia para outro paciente. Em um estudo recente, os cientistas fizeram transplantes fecais em 15 pessoas com melanoma avançado que não respondiam à imunoterapia.

Com base em seus históricos, os 15 pacientes tinham menos de 10% de probabilidade de responder à imunoterapia. Mas, depois de passarem por transplantes de fezes, seis pacientes começaram a responder aos medicamentos. Hassane Zarour, imunologista de câncer que liderou o estudo, o caracterizou como “uma primeira evidência encorajadora” e disse que agora está recrutando pacientes com melanoma e câncer de pulmão para um estudo maior.

continua após a publicidade

“Não queremos dizer que o microbioma é o único mecanismo”, disse Zarour, um dos líderes do Programa de Imunologia e Imunoterapia de Câncer do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh. “Mas aprendemos que o microbioma pode definitivamente ser responsável pela incapacidade de alguns pacientes responderem”.

Zarour disse que o objetivo de seu trabalho é descobrir quais micróbios intestinais estão envolvidos e, em seguida, embalá-los em pílulas que os pacientes podem tomar para alterar seus microbiomas. “O ideal não são os transplantes fecais”, acrescentou. “Dar aos pacientes um coquetel de probióticos talvez seja a melhor opção”.

Hábitos alimentares

continua após a publicidade

Enquanto isso, no MD Anderson, McQuade e sua colega Jennifer Wargo, cirurgiã de câncer, exploraram um caminho diferente: por que não mudar o microbioma dos pacientes mudando o que eles comem?

McQuade apontou que alguns dos micróbios intestinais que parecem melhorar a forma como os pacientes respondem à imunoterapia são conhecidos por prosperarem com fibras. “São bactérias que nos ajudam a quebrar e utilizar amido e fibras”, disse ela.

A equipe examinou as dietas de 128 pacientes com melanoma e descobriu que aqueles que comiam regularmente grandes quantidades de fibras de frutas, legumes e outros alimentos vegetais tiveram melhores resultados na imunoterapia do que os pacientes que comiam menor quantidade de fibras. Suas descobertas, publicadas na Science em dezembro, mostraram que cada aumento de 5 gramas na ingestão diária de fibras estava associado a um risco 30% menor de morte ou progressão do câncer.

No novo estudo, os pacientes recebem refeições diárias que incluem até 50 gramas de fibra diária de alimentos como feijão, lentilha, arroz integral, frutas e vegetais – cerca de duas vezes a quantidade recomendada. O americano médio come apenas metade dessa quantidade, cerca de 15 gramas. (Um grupo de controle terá uma dieta saudável que segue as diretrizes da Sociedade Americana do Câncer).

Facton, o pediatra de San Angelo, foi diagnosticado em novembro de 2021 com um melanoma que se espalhou para os gânglios linfáticos depois que sua esposa notou um caroço do tamanho de uma bola de golfe nas suas costas. Ele começou a imunoterapia e se inscreveu no teste de dieta de três meses.

“Eram porções enormes, um prato cheio de brócolis, quinoa ou legumes”, disse ele. “Era uma quantidade impressionante – mais do que eu comia”.

Em janeiro, ele passou por uma cirurgia e soube que o tumor havia desaparecido. “Só tinha um monte de tecido cicatricial”, disse ele. “Não tinha mais câncer”.

Facton está continuando a imunoterapia por nove meses e decidiu seguir com sua nova maneira de comer. “Eu me sinto melhor e não vejo nenhuma desvantagem”, disse ele. “A dieta fez de mim uma pessoa mais saudável em geral – e agora, livre do câncer. É um belo bonus”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST – Os pesquisadores do câncer acreditam ter encontrado uma explicação para o motivo pelo qual alguns medicamentos contra o câncer nem sempre funcionam. A resposta – e uma possível solução – talvez esteja no microbioma intestinal.

A composição do microbioma intestinal de uma pessoa – que consiste em trilhões de bactérias e outros micróbios – parece influenciar em alguns pacientes o sucesso de um tratamento inovador contra o câncer, chamado imunoterapia. Os cientistas descobriram que os pacientes que abrigam certas bactérias intestinais têm melhores respostas à imunoterapia do que os pacientes que não as possuem.

Ainda mais impressionante: os cientistas acreditam que dar aos pacientes uma dieta rica em fibras de frutas, leguminosas, nozes e grãos integrais para nutrir o microbioma pode melhorar as chances de o tratamento do câncer ser eficaz.

Grãos, farelos e farinhas integrais são alguns dos alimentos ricos em fibras Foto: Pixabay

Um ensaio clínico que testa a teoria está em andamento no MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas, em Houston, o maior centro de câncer dos Estados Unidos.

O estudo inclui participantes como Hector Facton, pediatra de San Angelo que está passando por tratamentos de imunoterapia para melanoma de estágio 4.

“Estou comendo o triplo da quantidade de frutas e vegetais que costumava comer”, disse Facton. “Eu tinha uma dieta saudável, mas não nos níveis que tenho agora. Boa parte do meu prato é sempre vegetais, muita quinoa – qualquer coisa que eu possa encontrar que tenha fibra”.

Os cientistas alertam que essa estratégia de usar uma dieta rica em fibras – ou qualquer outra dieta – para impulsionar a imunoterapia ainda não foi comprovada. Mas a pesquisa que está lançando uma nova luz sobre como o microbioma intestinal afeta nossa capacidade de combater doenças.

“Meus pacientes que estão iniciando o tratamento muitas vezes perguntam se há algo mais que eles podem fazer para aumentar suas chances de responder à imunoterapia”, disse Jennifer McQuade, professora assistente e cientista em oncologia médica de melanoma no MD Anderson. “Estamos tentando testar essa dieta com o mesmo rigor que usamos para testar drogas”.

Desdobramentos do câncer

Os cientistas sabem há muito tempo que o microbioma é uma parte crucial do nosso sistema imunológico. De acordo com algumas estimativas, entre 60 e 80 por cento das células imunes de nossos corpos residem no intestino.

Mas só recentemente ficou claro que esses micróbios podem afetar aos desdobramentos do câncer. Cientistas da Universidade de Chicago descobriram que camundongos com uma cepa de bactérias intestinais conhecidas como Bifidobacterium tinham uma resposta imune mais forte contra tumores de melanoma do que camundongos que não a possuíam. Eles descobriram que dar Bifidobacterium aos camundongos deficientes retardou o crescimento do tumor. Além disso, a combinação da bactéria com um medicamento de imunoterapia conhecido como inibidor de pontos de controle quase aboliu os tumores.

Estudos em humanos mostraram que esses inibidores também foram mais eficazes em pacientes com câncer cujos intestinos tinham mais diversidade microbiana, bem como uma maior abundância de vários micróbios, incluindo Akkermansia muciniphila e Bifidobacterium longum. Pacientes com baixos níveis destes e de outros micróbios eram menos propensos a responder ao tratamento.

Alguns pesquisadores estão tentando superar a resistência à imunoterapia fazendo transplantes fecais. Eles coletam amostras de fezes repletas de micróbios intestinais de pacientes que responderam às drogas e as transferem por colonoscopia para outro paciente. Em um estudo recente, os cientistas fizeram transplantes fecais em 15 pessoas com melanoma avançado que não respondiam à imunoterapia.

Com base em seus históricos, os 15 pacientes tinham menos de 10% de probabilidade de responder à imunoterapia. Mas, depois de passarem por transplantes de fezes, seis pacientes começaram a responder aos medicamentos. Hassane Zarour, imunologista de câncer que liderou o estudo, o caracterizou como “uma primeira evidência encorajadora” e disse que agora está recrutando pacientes com melanoma e câncer de pulmão para um estudo maior.

“Não queremos dizer que o microbioma é o único mecanismo”, disse Zarour, um dos líderes do Programa de Imunologia e Imunoterapia de Câncer do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh. “Mas aprendemos que o microbioma pode definitivamente ser responsável pela incapacidade de alguns pacientes responderem”.

Zarour disse que o objetivo de seu trabalho é descobrir quais micróbios intestinais estão envolvidos e, em seguida, embalá-los em pílulas que os pacientes podem tomar para alterar seus microbiomas. “O ideal não são os transplantes fecais”, acrescentou. “Dar aos pacientes um coquetel de probióticos talvez seja a melhor opção”.

Hábitos alimentares

Enquanto isso, no MD Anderson, McQuade e sua colega Jennifer Wargo, cirurgiã de câncer, exploraram um caminho diferente: por que não mudar o microbioma dos pacientes mudando o que eles comem?

McQuade apontou que alguns dos micróbios intestinais que parecem melhorar a forma como os pacientes respondem à imunoterapia são conhecidos por prosperarem com fibras. “São bactérias que nos ajudam a quebrar e utilizar amido e fibras”, disse ela.

A equipe examinou as dietas de 128 pacientes com melanoma e descobriu que aqueles que comiam regularmente grandes quantidades de fibras de frutas, legumes e outros alimentos vegetais tiveram melhores resultados na imunoterapia do que os pacientes que comiam menor quantidade de fibras. Suas descobertas, publicadas na Science em dezembro, mostraram que cada aumento de 5 gramas na ingestão diária de fibras estava associado a um risco 30% menor de morte ou progressão do câncer.

No novo estudo, os pacientes recebem refeições diárias que incluem até 50 gramas de fibra diária de alimentos como feijão, lentilha, arroz integral, frutas e vegetais – cerca de duas vezes a quantidade recomendada. O americano médio come apenas metade dessa quantidade, cerca de 15 gramas. (Um grupo de controle terá uma dieta saudável que segue as diretrizes da Sociedade Americana do Câncer).

Facton, o pediatra de San Angelo, foi diagnosticado em novembro de 2021 com um melanoma que se espalhou para os gânglios linfáticos depois que sua esposa notou um caroço do tamanho de uma bola de golfe nas suas costas. Ele começou a imunoterapia e se inscreveu no teste de dieta de três meses.

“Eram porções enormes, um prato cheio de brócolis, quinoa ou legumes”, disse ele. “Era uma quantidade impressionante – mais do que eu comia”.

Em janeiro, ele passou por uma cirurgia e soube que o tumor havia desaparecido. “Só tinha um monte de tecido cicatricial”, disse ele. “Não tinha mais câncer”.

Facton está continuando a imunoterapia por nove meses e decidiu seguir com sua nova maneira de comer. “Eu me sinto melhor e não vejo nenhuma desvantagem”, disse ele. “A dieta fez de mim uma pessoa mais saudável em geral – e agora, livre do câncer. É um belo bonus”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST – Os pesquisadores do câncer acreditam ter encontrado uma explicação para o motivo pelo qual alguns medicamentos contra o câncer nem sempre funcionam. A resposta – e uma possível solução – talvez esteja no microbioma intestinal.

A composição do microbioma intestinal de uma pessoa – que consiste em trilhões de bactérias e outros micróbios – parece influenciar em alguns pacientes o sucesso de um tratamento inovador contra o câncer, chamado imunoterapia. Os cientistas descobriram que os pacientes que abrigam certas bactérias intestinais têm melhores respostas à imunoterapia do que os pacientes que não as possuem.

Ainda mais impressionante: os cientistas acreditam que dar aos pacientes uma dieta rica em fibras de frutas, leguminosas, nozes e grãos integrais para nutrir o microbioma pode melhorar as chances de o tratamento do câncer ser eficaz.

Grãos, farelos e farinhas integrais são alguns dos alimentos ricos em fibras Foto: Pixabay

Um ensaio clínico que testa a teoria está em andamento no MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas, em Houston, o maior centro de câncer dos Estados Unidos.

O estudo inclui participantes como Hector Facton, pediatra de San Angelo que está passando por tratamentos de imunoterapia para melanoma de estágio 4.

“Estou comendo o triplo da quantidade de frutas e vegetais que costumava comer”, disse Facton. “Eu tinha uma dieta saudável, mas não nos níveis que tenho agora. Boa parte do meu prato é sempre vegetais, muita quinoa – qualquer coisa que eu possa encontrar que tenha fibra”.

Os cientistas alertam que essa estratégia de usar uma dieta rica em fibras – ou qualquer outra dieta – para impulsionar a imunoterapia ainda não foi comprovada. Mas a pesquisa que está lançando uma nova luz sobre como o microbioma intestinal afeta nossa capacidade de combater doenças.

“Meus pacientes que estão iniciando o tratamento muitas vezes perguntam se há algo mais que eles podem fazer para aumentar suas chances de responder à imunoterapia”, disse Jennifer McQuade, professora assistente e cientista em oncologia médica de melanoma no MD Anderson. “Estamos tentando testar essa dieta com o mesmo rigor que usamos para testar drogas”.

Desdobramentos do câncer

Os cientistas sabem há muito tempo que o microbioma é uma parte crucial do nosso sistema imunológico. De acordo com algumas estimativas, entre 60 e 80 por cento das células imunes de nossos corpos residem no intestino.

Mas só recentemente ficou claro que esses micróbios podem afetar aos desdobramentos do câncer. Cientistas da Universidade de Chicago descobriram que camundongos com uma cepa de bactérias intestinais conhecidas como Bifidobacterium tinham uma resposta imune mais forte contra tumores de melanoma do que camundongos que não a possuíam. Eles descobriram que dar Bifidobacterium aos camundongos deficientes retardou o crescimento do tumor. Além disso, a combinação da bactéria com um medicamento de imunoterapia conhecido como inibidor de pontos de controle quase aboliu os tumores.

Estudos em humanos mostraram que esses inibidores também foram mais eficazes em pacientes com câncer cujos intestinos tinham mais diversidade microbiana, bem como uma maior abundância de vários micróbios, incluindo Akkermansia muciniphila e Bifidobacterium longum. Pacientes com baixos níveis destes e de outros micróbios eram menos propensos a responder ao tratamento.

Alguns pesquisadores estão tentando superar a resistência à imunoterapia fazendo transplantes fecais. Eles coletam amostras de fezes repletas de micróbios intestinais de pacientes que responderam às drogas e as transferem por colonoscopia para outro paciente. Em um estudo recente, os cientistas fizeram transplantes fecais em 15 pessoas com melanoma avançado que não respondiam à imunoterapia.

Com base em seus históricos, os 15 pacientes tinham menos de 10% de probabilidade de responder à imunoterapia. Mas, depois de passarem por transplantes de fezes, seis pacientes começaram a responder aos medicamentos. Hassane Zarour, imunologista de câncer que liderou o estudo, o caracterizou como “uma primeira evidência encorajadora” e disse que agora está recrutando pacientes com melanoma e câncer de pulmão para um estudo maior.

“Não queremos dizer que o microbioma é o único mecanismo”, disse Zarour, um dos líderes do Programa de Imunologia e Imunoterapia de Câncer do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh. “Mas aprendemos que o microbioma pode definitivamente ser responsável pela incapacidade de alguns pacientes responderem”.

Zarour disse que o objetivo de seu trabalho é descobrir quais micróbios intestinais estão envolvidos e, em seguida, embalá-los em pílulas que os pacientes podem tomar para alterar seus microbiomas. “O ideal não são os transplantes fecais”, acrescentou. “Dar aos pacientes um coquetel de probióticos talvez seja a melhor opção”.

Hábitos alimentares

Enquanto isso, no MD Anderson, McQuade e sua colega Jennifer Wargo, cirurgiã de câncer, exploraram um caminho diferente: por que não mudar o microbioma dos pacientes mudando o que eles comem?

McQuade apontou que alguns dos micróbios intestinais que parecem melhorar a forma como os pacientes respondem à imunoterapia são conhecidos por prosperarem com fibras. “São bactérias que nos ajudam a quebrar e utilizar amido e fibras”, disse ela.

A equipe examinou as dietas de 128 pacientes com melanoma e descobriu que aqueles que comiam regularmente grandes quantidades de fibras de frutas, legumes e outros alimentos vegetais tiveram melhores resultados na imunoterapia do que os pacientes que comiam menor quantidade de fibras. Suas descobertas, publicadas na Science em dezembro, mostraram que cada aumento de 5 gramas na ingestão diária de fibras estava associado a um risco 30% menor de morte ou progressão do câncer.

No novo estudo, os pacientes recebem refeições diárias que incluem até 50 gramas de fibra diária de alimentos como feijão, lentilha, arroz integral, frutas e vegetais – cerca de duas vezes a quantidade recomendada. O americano médio come apenas metade dessa quantidade, cerca de 15 gramas. (Um grupo de controle terá uma dieta saudável que segue as diretrizes da Sociedade Americana do Câncer).

Facton, o pediatra de San Angelo, foi diagnosticado em novembro de 2021 com um melanoma que se espalhou para os gânglios linfáticos depois que sua esposa notou um caroço do tamanho de uma bola de golfe nas suas costas. Ele começou a imunoterapia e se inscreveu no teste de dieta de três meses.

“Eram porções enormes, um prato cheio de brócolis, quinoa ou legumes”, disse ele. “Era uma quantidade impressionante – mais do que eu comia”.

Em janeiro, ele passou por uma cirurgia e soube que o tumor havia desaparecido. “Só tinha um monte de tecido cicatricial”, disse ele. “Não tinha mais câncer”.

Facton está continuando a imunoterapia por nove meses e decidiu seguir com sua nova maneira de comer. “Eu me sinto melhor e não vejo nenhuma desvantagem”, disse ele. “A dieta fez de mim uma pessoa mais saudável em geral – e agora, livre do câncer. É um belo bonus”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.