Comer menos pode ajudar você a viver mais?


A restrição calórica e o jejum intermitente aumentam a longevidade em animais, segundo especialistas em envelhecimento; veja o que isso significa para você

Por Dana G. Smith

Se você forçar um rato de laboratório a fazer dieta, reduzindo a ingestão calórica do animal em 30% a 40%, ele vai viver cerca de 30% mais, em média. A restrição calórica, nome técnico dessa intervenção, não pode ser extrema a ponto de desnutri-lo, mas deve ser agressiva o bastante para desencadear algumas alterações biológicas importantes.

Os cientistas descobriram esse fenômeno na década de 1930 e, ao longo dos últimos noventa anos, vem replicando o experimento em espécies que vão de vermes a macacos. Estudos subsequentes também revelaram que muitos dos animais sob restrição calórica tinham menos probabilidade de desenvolver câncer e outras doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento.

Mas, apesar de todas as pesquisas com animais, ainda há muitas incógnitas. Os especialistas ainda estão discutindo como o fenômeno funciona e se o que importa mais é a quantidade de calorias consumidas ou o período de tempo em que elas são ingeridas (também conhecido como jejum intermitente).

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E ainda não se sabe ao certo se comer menos também pode ajudar as pessoas a viver mais. Os especialistas em envelhecimento costumam fazer experimentos com dietas diferentes em si mesmos, mas os estudos de longevidade mais sérios são escassos e difíceis porque, bem, levam muito tempo.

Aqui está um panorama sobre o que os cientistas descobriram até agora, sobretudo por meio de estudos com animais, e o que eles acham que tudo isso pode significar para os humanos.

Restrição calórica parece prolongar a vida de animais, mas há muitas incógnitas por trás desse efeito, incluindo o real impacto em seres humanos. Foto: Mike Ellis/The New York Times
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Por que o corte de calorias aumentaria a longevidade?

Os cientistas não sabem exatamente por que comer menos faria com que um animal ou uma pessoa vivesse mais, mas muitas hipóteses têm um viés evolutivo. Na natureza, os animais passam por períodos de fartura e de fome, assim como nossos ancestrais humanos. Portanto, a biologia deles (e, possivelmente, a nossa) evoluiu para sobreviver e prosperar não apenas em épocas de abundância, mas também em tempos de privação.

Uma teoria diz que, no nível celular, a restrição calórica deixa os animais mais resistentes a fatores de estresse físico. Por exemplo, os camundongos sob restrição calórica têm maior resistência a toxinas e se recuperam mais rapidamente de lesões, diz James Nelson, professor de fisiologia celular e integrativa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio.

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Outra explicação envolve o fato de que, tanto em humanos quanto em animais, comer menos calorias desacelera o metabolismo. É possível que “quanto menos você fizer seu corpo metabolizar, mais tempo ele vai viver”, observa Kim Huffman, professora associada de medicina da Escola de Medicina da Duke University, que estudou a restrição calórica em pessoas. “Se você rodar menos com seu carro, os pneus vão durar mais”.

A restrição calórica também força o corpo a buscar outras fontes de combustível além da glicose, o que os especialistas em envelhecimento acreditam ser benéfico para a saúde metabólica e, em última análise, para a longevidade. Vários pesquisadores mencionaram um processo conhecido como autofagia, no qual o corpo consome partes defeituosas das células e as utiliza como energia. Isso ajuda as células a funcionar melhor e reduz o risco de várias doenças relacionadas à idade.

Na verdade, os cientistas acreditam que uma das principais razões pelas quais as dietas com restrição calórica fazem com que os camundongos vivam mais é porque os animais não adoecem tão cedo, descreve Richard Miller, professor de patologia da Universidade de Michigan.

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Há algumas exceções notáveis às descobertas sobre longevidade e restrição calórica. A mais impressionante foi um estudo que Nelson publicou em 2010 sobre camundongos geneticamente diferentes. Ele descobriu que alguns dos camundongos viviam mais quando comiam menos, mas uma porcentagem maior vivia menos.

Outros pesquisadores contestaram a importância das descobertas de Nelson. “As pessoas citam esse estudo como se fosse uma evidência geral de que a restrição calórica funciona apenas para uns poucos indivíduos, ou durante pouco tempo”, diz Miller. “Mas você só pode chegar a essa conclusão se ignorar cinquenta anos de fortes evidências publicadas dizendo que ela funciona quase o tempo todo”.

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No entanto, o estudo de Nelson não foi o único a não encontrar os benefícios universais da restrição calórica para a longevidade. Por exemplo, dois estudos realizados em macacos por mais de vinte anos, publicados em 2009 e 2012, relataram resultados conflitantes. Os animais em ambos os experimentos mostraram alguns benefícios associados à restrição calórica, mas apenas um grupo viveu mais e teve taxas mais baixas de problemas relacionados à idade, como doenças cardiovasculares e diabetes.

O que o jejum intermitente tem a ver com isso?

Diante desses resultados conflitantes, alguns pesquisadores se perguntam se não há outra variável que seja tão ou mais importante do que a quantidade de calorias ingeridas pelo animal: o intervalo de tempo em que ele as ingere.

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Uma diferença importante entre os dois estudos com macacos foi que, no experimento de 2009, realizado na Universidade de Wisconsin, os animais sob restrição calórica recebiam apenas uma refeição por dia, e os pesquisadores retiravam os restos de comida no final da tarde, de modo que os macacos eram forçados a jejuar por cerca de 16 horas. No estudo de 2012, realizado pelo Instituto Nacional do Envelhecimento, os animais foram alimentados duas vezes por dia, e a comida continuava disponível durante a noite. Os macacos de Wisconsin foram os que viveram mais.

Um estudo mais recente com camundongos testou explicitamente os efeitos da restrição calórica com e sem jejum intermitente. Os cientistas deram aos animais a mesma dieta de baixa caloria, mas alguns tiveram acesso ao alimento por apenas 2 horas, outros por 12 horas e outro grupo por 24 horas. Em comparação com um grupo de controle de camundongos que podiam comer uma dieta completa a qualquer momento, os camundongos sob restrição calórica e com acesso 24 horas por dia viveram 10% mais, enquanto os camundongos na dieta de baixa caloria que comiam em janelas de tempo específicas tiveram um aumento de até 35% no tempo de vida.

Com base nesse conjunto de descobertas, Rafael de Cabo, pesquisador sênior do Instituto Nacional do Envelhecimento que ajudou a liderar o estudo com macacos, agora acredita que, embora a restrição calórica seja importante para a longevidade, a quantidade de tempo comendo – e não comendo – todos os dias é igualmente essencial. E isso pode acontecer não apenas com os animais, mas também com os seres humanos.

O que isso significa para mim?

É difícil responder de forma definitiva se o jejum intermitente, a restrição calórica ou uma combinação dos dois pode fazer com que as pessoas vivam mais.

“Acho que não temos nenhuma evidência de que esses métodos prolonguem a vida dos seres humanos”, relata Nelson. Isso não significa que não funcionem, acrescentou ele, apenas que “é muito difícil juntar evidências, porque leva uma vida inteira para coletarmos esses dados”.

Um ensaio clínico – chamado estudo Calerie – tentou responder a essa pergunta examinando como uma redução de 25% nas calorias durante dois anos afetaria uma série de medidas relacionadas ao envelhecimento. Mais de 100 adultos saudáveis foram orientados sobre o planejamento das refeições e receberam sessões periódicas de aconselhamento para ajudá-los a atingir suas metas de dieta. Mas, como é muito difícil reduzir calorias, os participantes só conseguiram cortar sua ingestão em cerca de 11%.

Em comparação com os participantes do grupo de controle, as pessoas que fizeram dieta melhoraram vários aspectos da saúde cardiometabólica, como pressão arterial e sensibilidade à insulina, e apresentaram níveis mais baixos de alguns marcadores de inflamação.

O estudo também incluiu três medidas de “idade biológica”, comparando exames de sangue feitos no início e ao final dos dois anos. Dois dos testes não apresentaram melhora em nenhum dos grupos, mas o terceiro, que tenta medir a rapidez com que as pessoas envelhecem, mostrou uma diferença entre as que fizeram dieta. A restrição calórica “não deixou as pessoas mais jovens, mas diminuiu a velocidade com que envelheceram”, explica Huffman, que trabalhou no estudo.

Para Miller, a conclusão mais significativa desse estudo é que a restrição calórica de 25% a 40%, que já se demonstrou benéfica para animais, simplesmente não é realista para humanos. “Fizeram de tudo para ajudar as pessoas a cortar calorias”, disse ele, mas os participantes ainda ficaram aquém da meta de 25%.

De Cabo apresenta uma opinião diferente: “Mesmo que só tenham alcançado 11% de restrição calórica, os participantes apresentaram benefícios”.

Outras pesquisas se concentraram nos efeitos de curto prazo do jejum intermitente em pessoas com diferentes índices de massa corporal (IMC). Alguns estudos que testaram diferentes cronogramas de jejum mostraram melhora na saúde metabólica e redução da inflamação. Mas um estudo com 116 pessoas cujo IMC as classificava como obesas ou com sobrepeso não encontrou nenhum benefício entre aquelas que comeram dentro de uma janela de 8 horas, mas não reduziram as calorias, em comparação com um grupo de controle.

E ainda temos uma reviravolta final: há um conjunto notável de evidências que parecem contradizer diretamente a ideia de que a restrição calórica ou o jejum, que normalmente levam à perda de peso, prolonguem a vida humana.

Pesquisas constataram consistentemente que as pessoas classificadas como acima do peso têm um risco de morte menor do que as pessoas com peso normal ou abaixo do peso. Uma hipótese é que as pessoas com IMC mais baixo podem ser magras porque são mais velhas ou têm alguma doença crônica. Outra é que as pessoas com IMC mais alto têm mais músculos, que pesam mais do que a gordura. Mas também é possível que, especialmente mais tarde na vida, ter mais massa corporal seja de fato uma proteção, informa Huffman.

Apesar de quase um século de pesquisas, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que os especialistas possam dizer com certeza se os benefícios da longevidade observados em animais se traduzem para os seres humanos. Alguns estudos apresentam razões para acreditar que a restrição calórica e o jejum intermitente ajudarão você a viver mais tempo, e é provável que haja benefícios a curto prazo, principalmente no que se refere à saúde cardíaca e metabólica. Mas também é possível que comer menos não faça muito mais do que deixar você com fome.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Se você forçar um rato de laboratório a fazer dieta, reduzindo a ingestão calórica do animal em 30% a 40%, ele vai viver cerca de 30% mais, em média. A restrição calórica, nome técnico dessa intervenção, não pode ser extrema a ponto de desnutri-lo, mas deve ser agressiva o bastante para desencadear algumas alterações biológicas importantes.

Os cientistas descobriram esse fenômeno na década de 1930 e, ao longo dos últimos noventa anos, vem replicando o experimento em espécies que vão de vermes a macacos. Estudos subsequentes também revelaram que muitos dos animais sob restrição calórica tinham menos probabilidade de desenvolver câncer e outras doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento.

Mas, apesar de todas as pesquisas com animais, ainda há muitas incógnitas. Os especialistas ainda estão discutindo como o fenômeno funciona e se o que importa mais é a quantidade de calorias consumidas ou o período de tempo em que elas são ingeridas (também conhecido como jejum intermitente).

E ainda não se sabe ao certo se comer menos também pode ajudar as pessoas a viver mais. Os especialistas em envelhecimento costumam fazer experimentos com dietas diferentes em si mesmos, mas os estudos de longevidade mais sérios são escassos e difíceis porque, bem, levam muito tempo.

Aqui está um panorama sobre o que os cientistas descobriram até agora, sobretudo por meio de estudos com animais, e o que eles acham que tudo isso pode significar para os humanos.

Restrição calórica parece prolongar a vida de animais, mas há muitas incógnitas por trás desse efeito, incluindo o real impacto em seres humanos. Foto: Mike Ellis/The New York Times

Por que o corte de calorias aumentaria a longevidade?

Os cientistas não sabem exatamente por que comer menos faria com que um animal ou uma pessoa vivesse mais, mas muitas hipóteses têm um viés evolutivo. Na natureza, os animais passam por períodos de fartura e de fome, assim como nossos ancestrais humanos. Portanto, a biologia deles (e, possivelmente, a nossa) evoluiu para sobreviver e prosperar não apenas em épocas de abundância, mas também em tempos de privação.

Uma teoria diz que, no nível celular, a restrição calórica deixa os animais mais resistentes a fatores de estresse físico. Por exemplo, os camundongos sob restrição calórica têm maior resistência a toxinas e se recuperam mais rapidamente de lesões, diz James Nelson, professor de fisiologia celular e integrativa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio.

Outra explicação envolve o fato de que, tanto em humanos quanto em animais, comer menos calorias desacelera o metabolismo. É possível que “quanto menos você fizer seu corpo metabolizar, mais tempo ele vai viver”, observa Kim Huffman, professora associada de medicina da Escola de Medicina da Duke University, que estudou a restrição calórica em pessoas. “Se você rodar menos com seu carro, os pneus vão durar mais”.

A restrição calórica também força o corpo a buscar outras fontes de combustível além da glicose, o que os especialistas em envelhecimento acreditam ser benéfico para a saúde metabólica e, em última análise, para a longevidade. Vários pesquisadores mencionaram um processo conhecido como autofagia, no qual o corpo consome partes defeituosas das células e as utiliza como energia. Isso ajuda as células a funcionar melhor e reduz o risco de várias doenças relacionadas à idade.

Na verdade, os cientistas acreditam que uma das principais razões pelas quais as dietas com restrição calórica fazem com que os camundongos vivam mais é porque os animais não adoecem tão cedo, descreve Richard Miller, professor de patologia da Universidade de Michigan.

Há algumas exceções notáveis às descobertas sobre longevidade e restrição calórica. A mais impressionante foi um estudo que Nelson publicou em 2010 sobre camundongos geneticamente diferentes. Ele descobriu que alguns dos camundongos viviam mais quando comiam menos, mas uma porcentagem maior vivia menos.

Outros pesquisadores contestaram a importância das descobertas de Nelson. “As pessoas citam esse estudo como se fosse uma evidência geral de que a restrição calórica funciona apenas para uns poucos indivíduos, ou durante pouco tempo”, diz Miller. “Mas você só pode chegar a essa conclusão se ignorar cinquenta anos de fortes evidências publicadas dizendo que ela funciona quase o tempo todo”.

No entanto, o estudo de Nelson não foi o único a não encontrar os benefícios universais da restrição calórica para a longevidade. Por exemplo, dois estudos realizados em macacos por mais de vinte anos, publicados em 2009 e 2012, relataram resultados conflitantes. Os animais em ambos os experimentos mostraram alguns benefícios associados à restrição calórica, mas apenas um grupo viveu mais e teve taxas mais baixas de problemas relacionados à idade, como doenças cardiovasculares e diabetes.

O que o jejum intermitente tem a ver com isso?

Diante desses resultados conflitantes, alguns pesquisadores se perguntam se não há outra variável que seja tão ou mais importante do que a quantidade de calorias ingeridas pelo animal: o intervalo de tempo em que ele as ingere.

Uma diferença importante entre os dois estudos com macacos foi que, no experimento de 2009, realizado na Universidade de Wisconsin, os animais sob restrição calórica recebiam apenas uma refeição por dia, e os pesquisadores retiravam os restos de comida no final da tarde, de modo que os macacos eram forçados a jejuar por cerca de 16 horas. No estudo de 2012, realizado pelo Instituto Nacional do Envelhecimento, os animais foram alimentados duas vezes por dia, e a comida continuava disponível durante a noite. Os macacos de Wisconsin foram os que viveram mais.

Um estudo mais recente com camundongos testou explicitamente os efeitos da restrição calórica com e sem jejum intermitente. Os cientistas deram aos animais a mesma dieta de baixa caloria, mas alguns tiveram acesso ao alimento por apenas 2 horas, outros por 12 horas e outro grupo por 24 horas. Em comparação com um grupo de controle de camundongos que podiam comer uma dieta completa a qualquer momento, os camundongos sob restrição calórica e com acesso 24 horas por dia viveram 10% mais, enquanto os camundongos na dieta de baixa caloria que comiam em janelas de tempo específicas tiveram um aumento de até 35% no tempo de vida.

Com base nesse conjunto de descobertas, Rafael de Cabo, pesquisador sênior do Instituto Nacional do Envelhecimento que ajudou a liderar o estudo com macacos, agora acredita que, embora a restrição calórica seja importante para a longevidade, a quantidade de tempo comendo – e não comendo – todos os dias é igualmente essencial. E isso pode acontecer não apenas com os animais, mas também com os seres humanos.

O que isso significa para mim?

É difícil responder de forma definitiva se o jejum intermitente, a restrição calórica ou uma combinação dos dois pode fazer com que as pessoas vivam mais.

“Acho que não temos nenhuma evidência de que esses métodos prolonguem a vida dos seres humanos”, relata Nelson. Isso não significa que não funcionem, acrescentou ele, apenas que “é muito difícil juntar evidências, porque leva uma vida inteira para coletarmos esses dados”.

Um ensaio clínico – chamado estudo Calerie – tentou responder a essa pergunta examinando como uma redução de 25% nas calorias durante dois anos afetaria uma série de medidas relacionadas ao envelhecimento. Mais de 100 adultos saudáveis foram orientados sobre o planejamento das refeições e receberam sessões periódicas de aconselhamento para ajudá-los a atingir suas metas de dieta. Mas, como é muito difícil reduzir calorias, os participantes só conseguiram cortar sua ingestão em cerca de 11%.

Em comparação com os participantes do grupo de controle, as pessoas que fizeram dieta melhoraram vários aspectos da saúde cardiometabólica, como pressão arterial e sensibilidade à insulina, e apresentaram níveis mais baixos de alguns marcadores de inflamação.

O estudo também incluiu três medidas de “idade biológica”, comparando exames de sangue feitos no início e ao final dos dois anos. Dois dos testes não apresentaram melhora em nenhum dos grupos, mas o terceiro, que tenta medir a rapidez com que as pessoas envelhecem, mostrou uma diferença entre as que fizeram dieta. A restrição calórica “não deixou as pessoas mais jovens, mas diminuiu a velocidade com que envelheceram”, explica Huffman, que trabalhou no estudo.

Para Miller, a conclusão mais significativa desse estudo é que a restrição calórica de 25% a 40%, que já se demonstrou benéfica para animais, simplesmente não é realista para humanos. “Fizeram de tudo para ajudar as pessoas a cortar calorias”, disse ele, mas os participantes ainda ficaram aquém da meta de 25%.

De Cabo apresenta uma opinião diferente: “Mesmo que só tenham alcançado 11% de restrição calórica, os participantes apresentaram benefícios”.

Outras pesquisas se concentraram nos efeitos de curto prazo do jejum intermitente em pessoas com diferentes índices de massa corporal (IMC). Alguns estudos que testaram diferentes cronogramas de jejum mostraram melhora na saúde metabólica e redução da inflamação. Mas um estudo com 116 pessoas cujo IMC as classificava como obesas ou com sobrepeso não encontrou nenhum benefício entre aquelas que comeram dentro de uma janela de 8 horas, mas não reduziram as calorias, em comparação com um grupo de controle.

E ainda temos uma reviravolta final: há um conjunto notável de evidências que parecem contradizer diretamente a ideia de que a restrição calórica ou o jejum, que normalmente levam à perda de peso, prolonguem a vida humana.

Pesquisas constataram consistentemente que as pessoas classificadas como acima do peso têm um risco de morte menor do que as pessoas com peso normal ou abaixo do peso. Uma hipótese é que as pessoas com IMC mais baixo podem ser magras porque são mais velhas ou têm alguma doença crônica. Outra é que as pessoas com IMC mais alto têm mais músculos, que pesam mais do que a gordura. Mas também é possível que, especialmente mais tarde na vida, ter mais massa corporal seja de fato uma proteção, informa Huffman.

Apesar de quase um século de pesquisas, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que os especialistas possam dizer com certeza se os benefícios da longevidade observados em animais se traduzem para os seres humanos. Alguns estudos apresentam razões para acreditar que a restrição calórica e o jejum intermitente ajudarão você a viver mais tempo, e é provável que haja benefícios a curto prazo, principalmente no que se refere à saúde cardíaca e metabólica. Mas também é possível que comer menos não faça muito mais do que deixar você com fome.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Se você forçar um rato de laboratório a fazer dieta, reduzindo a ingestão calórica do animal em 30% a 40%, ele vai viver cerca de 30% mais, em média. A restrição calórica, nome técnico dessa intervenção, não pode ser extrema a ponto de desnutri-lo, mas deve ser agressiva o bastante para desencadear algumas alterações biológicas importantes.

Os cientistas descobriram esse fenômeno na década de 1930 e, ao longo dos últimos noventa anos, vem replicando o experimento em espécies que vão de vermes a macacos. Estudos subsequentes também revelaram que muitos dos animais sob restrição calórica tinham menos probabilidade de desenvolver câncer e outras doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento.

Mas, apesar de todas as pesquisas com animais, ainda há muitas incógnitas. Os especialistas ainda estão discutindo como o fenômeno funciona e se o que importa mais é a quantidade de calorias consumidas ou o período de tempo em que elas são ingeridas (também conhecido como jejum intermitente).

E ainda não se sabe ao certo se comer menos também pode ajudar as pessoas a viver mais. Os especialistas em envelhecimento costumam fazer experimentos com dietas diferentes em si mesmos, mas os estudos de longevidade mais sérios são escassos e difíceis porque, bem, levam muito tempo.

Aqui está um panorama sobre o que os cientistas descobriram até agora, sobretudo por meio de estudos com animais, e o que eles acham que tudo isso pode significar para os humanos.

Restrição calórica parece prolongar a vida de animais, mas há muitas incógnitas por trás desse efeito, incluindo o real impacto em seres humanos. Foto: Mike Ellis/The New York Times

Por que o corte de calorias aumentaria a longevidade?

Os cientistas não sabem exatamente por que comer menos faria com que um animal ou uma pessoa vivesse mais, mas muitas hipóteses têm um viés evolutivo. Na natureza, os animais passam por períodos de fartura e de fome, assim como nossos ancestrais humanos. Portanto, a biologia deles (e, possivelmente, a nossa) evoluiu para sobreviver e prosperar não apenas em épocas de abundância, mas também em tempos de privação.

Uma teoria diz que, no nível celular, a restrição calórica deixa os animais mais resistentes a fatores de estresse físico. Por exemplo, os camundongos sob restrição calórica têm maior resistência a toxinas e se recuperam mais rapidamente de lesões, diz James Nelson, professor de fisiologia celular e integrativa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio.

Outra explicação envolve o fato de que, tanto em humanos quanto em animais, comer menos calorias desacelera o metabolismo. É possível que “quanto menos você fizer seu corpo metabolizar, mais tempo ele vai viver”, observa Kim Huffman, professora associada de medicina da Escola de Medicina da Duke University, que estudou a restrição calórica em pessoas. “Se você rodar menos com seu carro, os pneus vão durar mais”.

A restrição calórica também força o corpo a buscar outras fontes de combustível além da glicose, o que os especialistas em envelhecimento acreditam ser benéfico para a saúde metabólica e, em última análise, para a longevidade. Vários pesquisadores mencionaram um processo conhecido como autofagia, no qual o corpo consome partes defeituosas das células e as utiliza como energia. Isso ajuda as células a funcionar melhor e reduz o risco de várias doenças relacionadas à idade.

Na verdade, os cientistas acreditam que uma das principais razões pelas quais as dietas com restrição calórica fazem com que os camundongos vivam mais é porque os animais não adoecem tão cedo, descreve Richard Miller, professor de patologia da Universidade de Michigan.

Há algumas exceções notáveis às descobertas sobre longevidade e restrição calórica. A mais impressionante foi um estudo que Nelson publicou em 2010 sobre camundongos geneticamente diferentes. Ele descobriu que alguns dos camundongos viviam mais quando comiam menos, mas uma porcentagem maior vivia menos.

Outros pesquisadores contestaram a importância das descobertas de Nelson. “As pessoas citam esse estudo como se fosse uma evidência geral de que a restrição calórica funciona apenas para uns poucos indivíduos, ou durante pouco tempo”, diz Miller. “Mas você só pode chegar a essa conclusão se ignorar cinquenta anos de fortes evidências publicadas dizendo que ela funciona quase o tempo todo”.

No entanto, o estudo de Nelson não foi o único a não encontrar os benefícios universais da restrição calórica para a longevidade. Por exemplo, dois estudos realizados em macacos por mais de vinte anos, publicados em 2009 e 2012, relataram resultados conflitantes. Os animais em ambos os experimentos mostraram alguns benefícios associados à restrição calórica, mas apenas um grupo viveu mais e teve taxas mais baixas de problemas relacionados à idade, como doenças cardiovasculares e diabetes.

O que o jejum intermitente tem a ver com isso?

Diante desses resultados conflitantes, alguns pesquisadores se perguntam se não há outra variável que seja tão ou mais importante do que a quantidade de calorias ingeridas pelo animal: o intervalo de tempo em que ele as ingere.

Uma diferença importante entre os dois estudos com macacos foi que, no experimento de 2009, realizado na Universidade de Wisconsin, os animais sob restrição calórica recebiam apenas uma refeição por dia, e os pesquisadores retiravam os restos de comida no final da tarde, de modo que os macacos eram forçados a jejuar por cerca de 16 horas. No estudo de 2012, realizado pelo Instituto Nacional do Envelhecimento, os animais foram alimentados duas vezes por dia, e a comida continuava disponível durante a noite. Os macacos de Wisconsin foram os que viveram mais.

Um estudo mais recente com camundongos testou explicitamente os efeitos da restrição calórica com e sem jejum intermitente. Os cientistas deram aos animais a mesma dieta de baixa caloria, mas alguns tiveram acesso ao alimento por apenas 2 horas, outros por 12 horas e outro grupo por 24 horas. Em comparação com um grupo de controle de camundongos que podiam comer uma dieta completa a qualquer momento, os camundongos sob restrição calórica e com acesso 24 horas por dia viveram 10% mais, enquanto os camundongos na dieta de baixa caloria que comiam em janelas de tempo específicas tiveram um aumento de até 35% no tempo de vida.

Com base nesse conjunto de descobertas, Rafael de Cabo, pesquisador sênior do Instituto Nacional do Envelhecimento que ajudou a liderar o estudo com macacos, agora acredita que, embora a restrição calórica seja importante para a longevidade, a quantidade de tempo comendo – e não comendo – todos os dias é igualmente essencial. E isso pode acontecer não apenas com os animais, mas também com os seres humanos.

O que isso significa para mim?

É difícil responder de forma definitiva se o jejum intermitente, a restrição calórica ou uma combinação dos dois pode fazer com que as pessoas vivam mais.

“Acho que não temos nenhuma evidência de que esses métodos prolonguem a vida dos seres humanos”, relata Nelson. Isso não significa que não funcionem, acrescentou ele, apenas que “é muito difícil juntar evidências, porque leva uma vida inteira para coletarmos esses dados”.

Um ensaio clínico – chamado estudo Calerie – tentou responder a essa pergunta examinando como uma redução de 25% nas calorias durante dois anos afetaria uma série de medidas relacionadas ao envelhecimento. Mais de 100 adultos saudáveis foram orientados sobre o planejamento das refeições e receberam sessões periódicas de aconselhamento para ajudá-los a atingir suas metas de dieta. Mas, como é muito difícil reduzir calorias, os participantes só conseguiram cortar sua ingestão em cerca de 11%.

Em comparação com os participantes do grupo de controle, as pessoas que fizeram dieta melhoraram vários aspectos da saúde cardiometabólica, como pressão arterial e sensibilidade à insulina, e apresentaram níveis mais baixos de alguns marcadores de inflamação.

O estudo também incluiu três medidas de “idade biológica”, comparando exames de sangue feitos no início e ao final dos dois anos. Dois dos testes não apresentaram melhora em nenhum dos grupos, mas o terceiro, que tenta medir a rapidez com que as pessoas envelhecem, mostrou uma diferença entre as que fizeram dieta. A restrição calórica “não deixou as pessoas mais jovens, mas diminuiu a velocidade com que envelheceram”, explica Huffman, que trabalhou no estudo.

Para Miller, a conclusão mais significativa desse estudo é que a restrição calórica de 25% a 40%, que já se demonstrou benéfica para animais, simplesmente não é realista para humanos. “Fizeram de tudo para ajudar as pessoas a cortar calorias”, disse ele, mas os participantes ainda ficaram aquém da meta de 25%.

De Cabo apresenta uma opinião diferente: “Mesmo que só tenham alcançado 11% de restrição calórica, os participantes apresentaram benefícios”.

Outras pesquisas se concentraram nos efeitos de curto prazo do jejum intermitente em pessoas com diferentes índices de massa corporal (IMC). Alguns estudos que testaram diferentes cronogramas de jejum mostraram melhora na saúde metabólica e redução da inflamação. Mas um estudo com 116 pessoas cujo IMC as classificava como obesas ou com sobrepeso não encontrou nenhum benefício entre aquelas que comeram dentro de uma janela de 8 horas, mas não reduziram as calorias, em comparação com um grupo de controle.

E ainda temos uma reviravolta final: há um conjunto notável de evidências que parecem contradizer diretamente a ideia de que a restrição calórica ou o jejum, que normalmente levam à perda de peso, prolonguem a vida humana.

Pesquisas constataram consistentemente que as pessoas classificadas como acima do peso têm um risco de morte menor do que as pessoas com peso normal ou abaixo do peso. Uma hipótese é que as pessoas com IMC mais baixo podem ser magras porque são mais velhas ou têm alguma doença crônica. Outra é que as pessoas com IMC mais alto têm mais músculos, que pesam mais do que a gordura. Mas também é possível que, especialmente mais tarde na vida, ter mais massa corporal seja de fato uma proteção, informa Huffman.

Apesar de quase um século de pesquisas, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que os especialistas possam dizer com certeza se os benefícios da longevidade observados em animais se traduzem para os seres humanos. Alguns estudos apresentam razões para acreditar que a restrição calórica e o jejum intermitente ajudarão você a viver mais tempo, e é provável que haja benefícios a curto prazo, principalmente no que se refere à saúde cardíaca e metabólica. Mas também é possível que comer menos não faça muito mais do que deixar você com fome.

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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