Como escolher a solitude pode libertar sua mente e melhorar seu humor


Passar um tempo sozinho também pode estimular a criatividade; veja como aproveitar esses momentos

Por Jamie Friedlander Serrano

Bill Gates é conhecido por suas “semanas de reflexão” consigo mesmo. A pintora Georgia O’Keeffe costumava passar dias sozinha, caminhando e trabalhando em seu rancho no Novo México. E a poeta Emily Dickinson escreveu muito sobre as revelações que podem advir dos tempos que passamos sozinhos.

Ao longo da história, artistas, filósofos e outros visionários tiveram uma queda pela solitude. Mas o resto de nós também pode se beneficiar de um tempo sozinho.

Atividades calmantes, como ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude Foto: Daniel/Adobe Stock
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“A solitude dá ao seu cérebro a chance de se reiniciar e se restaurar”, diz Robert Coplan, psicólogo do desenvolvimento e professor do departamento de psicologia da Universidade Carleton, em Ottawa. “É um bom espaço para empreendimentos criativos porque permite que nossa mente passeie. A solitude tende a nos acalmar porque elimina as emoções negativas. É a liberdade de todo contato social. Você está livre para fazer o que quiser, pensar o que quiser e ser quem quiser”.

Solitude não é solidão

Há uma diferença entre solidão e simplesmente estar sozinho. “É um ponto realmente importante: estar sozinho não é estar solitário”, diz Kira Birditt, professora de pesquisa do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan.

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Isso não quer dizer que a solidão não seja um problema: no ano passado, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek H. Murthy, emitiu um parecer sobre a solidão, sugerindo que ela representa uma ameaça à saúde pública tão significativa quanto o fumo e a obesidade.

Mas você pode ficar sozinho e não se sentir solitário, ou pode estar com outras pessoas e se sentir solitário. “A solidão tem a ver com a percepção da inadequação social dos relacionamentos”, diz Julie Bowker, psicóloga do desenvolvimento e professora do departamento de psicologia da Universidade de Buffalo, que estudou a solitude.

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A escolha também tem um papel crucial. A solitude é algo que escolhemos. Quando não a escolhemos, é só isolamento, diz Bowker. Recuperar-se de uma lesão ou se isolar porque você tem ansiedade social, por exemplo, não é a mesma coisa que escolher passar o dia fazendo uma caminhada nas montanhas.

“Uma das descobertas mais claras sobre a solitude é que, se ela for escolhida pelo valor que tem, será uma experiência mais positiva”, diz Netta Weinstein, professora de psicologia da Universidade de Reading, na Inglaterra, e coautora de Solitude: The Science and Power of Being Alone. “Se for obrigatória, será uma experiência menos positiva”.

O poder do tempo sozinho

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Embora poetas e filósofos tenham passado séculos escrevendo sobre o poder da solitude, só recentemente surgiram evidências empíricas sobre seus benefícios, diz Coplan. “Nos últimos anos, as pessoas realmente começaram a apresentar evidências concretas para apoiar a ideia de que a solitude pode ser uma coisa boa”, diz ela.

Quer tenhamos acabado de participar de uma atividade social de alta energia ou estejamos lidando com algo estressante, a solitude pode proporcionar uma oportunidade para nos acalmarmos e processarmos emoções fortes, diz Thuy-vy Nguyen, professora associada do departamento de psicologia da Universidade de Durham, na Inglaterra, e uma das coautoras de Weinstein em Solitude.

Um artigo de Nguyen publicado em 2017 na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin constatou que essa descompressão das emoções fortes, o que ela chamou de “efeito de desativação”, não acontecia quando as pessoas estavam com outras, mas sim quando estavam sozinhas.

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A solitude também pode nos permitir pensar de forma diferente e mais criativa, diz Weinstein.

Weinstein conduziu uma pesquisa qualitativa – um estudo não numérico que fez entrevistas aprofundadas sobre o assunto – e descobriu que as pessoas “falam sobre a solitude como o momento em que podem refletir, reorganizar os pensamentos, conectar-se a si mesmas, ouvir suas experiências e emoções internas e ser criativas de diferentes maneiras”.

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Um estudo com 295 estudantes universitários, publicado na revista Personality and Individual Differences, encontrou uma correlação positiva entre criatividade e pessoas que preferem a solitude.

Um estudo de 2019, publicado na revista Gerontologist, analisou o bem-estar e a solitude por meio de uma pesquisa com 313 adultos com mais de 65 anos. A cada três horas, durante cinco dias, os pesquisadores perguntaram aos participantes sobre seu humor e interações sociais.

Birditt, a principal autora do estudo, diz que os participantes tiveram menos afeto positivo e negativo durante o tempo em que ficaram sozinhos, o que significa que eles experimentaram menos emoções fortes em ambas as extremidades do espectro. Além disso, a irritação e o nervosismo ficaram muito menores entre as pessoas que tinham relacionamentos interpessoais tensos. Mas o interessante é que essas pessoas não se sentiram mais solitárias.

Equilíbrio

Nossas atitudes em relação à solitude variam muito. Algumas pessoas se sentem entediadas ou ficam ruminando pensamentos quando estão sozinhas, diz Coplan, enquanto outras acham que não há nada melhor que um dia sem ninguém. “Este é um dos paradoxos do estudo da solitude”, diz ele. “Para algumas pessoas, é um castigo. Para outras, é uma recompensa”.

As pesquisas indicam por que algumas pessoas preferem passar mais tempo sozinhas do que outras.

Pessoas que conseguem regular seus pensamentos e sentimentos; pessoas que têm um estilo de apego mais seguro; e pessoas que têm mais autonomia, o que significa que elas sabem naturalmente o que querem, têm maior probabilidade de desfrutar da solitude, diz Nguyen.

As pessoas otimistas, autocompassivas e curiosas sobre si mesmas e sobre o mundo também preferem ficar sozinhas, diz Weinstein.

Os adultos mais velhos também tendem a desfrutar e apreciar mais a solitude do que os jovens, de acordo com um artigo de 2021 publicado na revista científica Frontiers in Psychology. “Em geral, as pessoas relatam que se sentem mais tranquilas e confortáveis na terceira idade”, diz Weinstein. “Por outro lado, os jovens de vinte e poucos anos parecem não gostar muito da solitude”.

É de se esperar que os introvertidos apreciem mais a solitude do que os extrovertidos. No entanto, a pesquisa mostra que, apesar de os introvertidos passarem mais tempo sozinhos, há uma correlação mais forte entre extroversão e prazer com a solitude, diz Nguyen, que também dirige o Laboratório Solitude na Universidade de Durham.

Ela acrescenta que isso pode ocorrer porque os extrovertidos costumam ser mais felizes e mais bem ajustados em geral, e é provável que a felicidade e o bem-estar deles – e não a extroversão em si – seja o que os leva a gostar da solitude.

Embora um pouco de solitude seja bom para todo mundo, há uma correlação entre o tempo que as pessoas ficam sozinhas e a solidão, diz Nguyen. “Porque somos animais sociais e temos essa necessidade de interação social”.

É possível estar sozinho e não se sentir solitário Foto: VAKSMANV/Adobe Stock

Não existe uma regra rígida para determinar de quanta solitude precisamos, diz Coplan. “O que sabemos com certeza é que todo mundo precisa de um equilíbrio entre o tempo que passa sozinho e o tempo que passa com outras pessoas”, diz ele.

Como passar o tempo sozinho

Não importa se você tem meia hora ou um dia inteiro para si, você pode aproveitar ao máximo seu tempo sozinho com essas dicas apoiadas por especialistas.

  • Tenha um plano - Pesquisas descobriram que ter um plano para o que você vai fazer tende a estar associado a um resultado mais positivo, diz Birditt. Planeje algo que você queira muito fazer, “caso contrário, seu tempo sozinho pode ser gasto fazendo coisas que não são necessariamente gratificantes”, diz ela.
  • Opte pelo relaxamento - A pesquisa de Nguyen descobriu que atividades calmantes, como fazer jardinagem, ouvir música, ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude. Ela acrescenta que os jovens geralmente gostam de se envolver em hobbies que os fazem se sentir produtivos e competentes.
  • Deixe o celular de lado - O modo como as pessoas curtem a solitude é altamente individual: uma pessoa pode fazer crochê e se sentar à beira do lago, outra pode preferir jardinagem e sair para almoçar sozinha. A única “regra” que Coplan recomenda é prestar atenção ao uso do celular. Tudo bem ler ou ouvir música no telefone, diz ele, mas não fique nas redes sociais e tente silenciar as notificações.
  • Saiba quando é demais - Se você estiver se sentindo ansioso, ruminando pensamentos ou querendo a companhia das outras pessoas, você não está aproveitando a solitude ou está passando muito tempo sozinho, diz Bowker./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The Washington Post.

Bill Gates é conhecido por suas “semanas de reflexão” consigo mesmo. A pintora Georgia O’Keeffe costumava passar dias sozinha, caminhando e trabalhando em seu rancho no Novo México. E a poeta Emily Dickinson escreveu muito sobre as revelações que podem advir dos tempos que passamos sozinhos.

Ao longo da história, artistas, filósofos e outros visionários tiveram uma queda pela solitude. Mas o resto de nós também pode se beneficiar de um tempo sozinho.

Atividades calmantes, como ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude Foto: Daniel/Adobe Stock

“A solitude dá ao seu cérebro a chance de se reiniciar e se restaurar”, diz Robert Coplan, psicólogo do desenvolvimento e professor do departamento de psicologia da Universidade Carleton, em Ottawa. “É um bom espaço para empreendimentos criativos porque permite que nossa mente passeie. A solitude tende a nos acalmar porque elimina as emoções negativas. É a liberdade de todo contato social. Você está livre para fazer o que quiser, pensar o que quiser e ser quem quiser”.

Solitude não é solidão

Há uma diferença entre solidão e simplesmente estar sozinho. “É um ponto realmente importante: estar sozinho não é estar solitário”, diz Kira Birditt, professora de pesquisa do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan.

Isso não quer dizer que a solidão não seja um problema: no ano passado, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek H. Murthy, emitiu um parecer sobre a solidão, sugerindo que ela representa uma ameaça à saúde pública tão significativa quanto o fumo e a obesidade.

Mas você pode ficar sozinho e não se sentir solitário, ou pode estar com outras pessoas e se sentir solitário. “A solidão tem a ver com a percepção da inadequação social dos relacionamentos”, diz Julie Bowker, psicóloga do desenvolvimento e professora do departamento de psicologia da Universidade de Buffalo, que estudou a solitude.

A escolha também tem um papel crucial. A solitude é algo que escolhemos. Quando não a escolhemos, é só isolamento, diz Bowker. Recuperar-se de uma lesão ou se isolar porque você tem ansiedade social, por exemplo, não é a mesma coisa que escolher passar o dia fazendo uma caminhada nas montanhas.

“Uma das descobertas mais claras sobre a solitude é que, se ela for escolhida pelo valor que tem, será uma experiência mais positiva”, diz Netta Weinstein, professora de psicologia da Universidade de Reading, na Inglaterra, e coautora de Solitude: The Science and Power of Being Alone. “Se for obrigatória, será uma experiência menos positiva”.

O poder do tempo sozinho

Embora poetas e filósofos tenham passado séculos escrevendo sobre o poder da solitude, só recentemente surgiram evidências empíricas sobre seus benefícios, diz Coplan. “Nos últimos anos, as pessoas realmente começaram a apresentar evidências concretas para apoiar a ideia de que a solitude pode ser uma coisa boa”, diz ela.

Quer tenhamos acabado de participar de uma atividade social de alta energia ou estejamos lidando com algo estressante, a solitude pode proporcionar uma oportunidade para nos acalmarmos e processarmos emoções fortes, diz Thuy-vy Nguyen, professora associada do departamento de psicologia da Universidade de Durham, na Inglaterra, e uma das coautoras de Weinstein em Solitude.

Um artigo de Nguyen publicado em 2017 na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin constatou que essa descompressão das emoções fortes, o que ela chamou de “efeito de desativação”, não acontecia quando as pessoas estavam com outras, mas sim quando estavam sozinhas.

A solitude também pode nos permitir pensar de forma diferente e mais criativa, diz Weinstein.

Weinstein conduziu uma pesquisa qualitativa – um estudo não numérico que fez entrevistas aprofundadas sobre o assunto – e descobriu que as pessoas “falam sobre a solitude como o momento em que podem refletir, reorganizar os pensamentos, conectar-se a si mesmas, ouvir suas experiências e emoções internas e ser criativas de diferentes maneiras”.

Um estudo com 295 estudantes universitários, publicado na revista Personality and Individual Differences, encontrou uma correlação positiva entre criatividade e pessoas que preferem a solitude.

Um estudo de 2019, publicado na revista Gerontologist, analisou o bem-estar e a solitude por meio de uma pesquisa com 313 adultos com mais de 65 anos. A cada três horas, durante cinco dias, os pesquisadores perguntaram aos participantes sobre seu humor e interações sociais.

Birditt, a principal autora do estudo, diz que os participantes tiveram menos afeto positivo e negativo durante o tempo em que ficaram sozinhos, o que significa que eles experimentaram menos emoções fortes em ambas as extremidades do espectro. Além disso, a irritação e o nervosismo ficaram muito menores entre as pessoas que tinham relacionamentos interpessoais tensos. Mas o interessante é que essas pessoas não se sentiram mais solitárias.

Equilíbrio

Nossas atitudes em relação à solitude variam muito. Algumas pessoas se sentem entediadas ou ficam ruminando pensamentos quando estão sozinhas, diz Coplan, enquanto outras acham que não há nada melhor que um dia sem ninguém. “Este é um dos paradoxos do estudo da solitude”, diz ele. “Para algumas pessoas, é um castigo. Para outras, é uma recompensa”.

As pesquisas indicam por que algumas pessoas preferem passar mais tempo sozinhas do que outras.

Pessoas que conseguem regular seus pensamentos e sentimentos; pessoas que têm um estilo de apego mais seguro; e pessoas que têm mais autonomia, o que significa que elas sabem naturalmente o que querem, têm maior probabilidade de desfrutar da solitude, diz Nguyen.

As pessoas otimistas, autocompassivas e curiosas sobre si mesmas e sobre o mundo também preferem ficar sozinhas, diz Weinstein.

Os adultos mais velhos também tendem a desfrutar e apreciar mais a solitude do que os jovens, de acordo com um artigo de 2021 publicado na revista científica Frontiers in Psychology. “Em geral, as pessoas relatam que se sentem mais tranquilas e confortáveis na terceira idade”, diz Weinstein. “Por outro lado, os jovens de vinte e poucos anos parecem não gostar muito da solitude”.

É de se esperar que os introvertidos apreciem mais a solitude do que os extrovertidos. No entanto, a pesquisa mostra que, apesar de os introvertidos passarem mais tempo sozinhos, há uma correlação mais forte entre extroversão e prazer com a solitude, diz Nguyen, que também dirige o Laboratório Solitude na Universidade de Durham.

Ela acrescenta que isso pode ocorrer porque os extrovertidos costumam ser mais felizes e mais bem ajustados em geral, e é provável que a felicidade e o bem-estar deles – e não a extroversão em si – seja o que os leva a gostar da solitude.

Embora um pouco de solitude seja bom para todo mundo, há uma correlação entre o tempo que as pessoas ficam sozinhas e a solidão, diz Nguyen. “Porque somos animais sociais e temos essa necessidade de interação social”.

É possível estar sozinho e não se sentir solitário Foto: VAKSMANV/Adobe Stock

Não existe uma regra rígida para determinar de quanta solitude precisamos, diz Coplan. “O que sabemos com certeza é que todo mundo precisa de um equilíbrio entre o tempo que passa sozinho e o tempo que passa com outras pessoas”, diz ele.

Como passar o tempo sozinho

Não importa se você tem meia hora ou um dia inteiro para si, você pode aproveitar ao máximo seu tempo sozinho com essas dicas apoiadas por especialistas.

  • Tenha um plano - Pesquisas descobriram que ter um plano para o que você vai fazer tende a estar associado a um resultado mais positivo, diz Birditt. Planeje algo que você queira muito fazer, “caso contrário, seu tempo sozinho pode ser gasto fazendo coisas que não são necessariamente gratificantes”, diz ela.
  • Opte pelo relaxamento - A pesquisa de Nguyen descobriu que atividades calmantes, como fazer jardinagem, ouvir música, ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude. Ela acrescenta que os jovens geralmente gostam de se envolver em hobbies que os fazem se sentir produtivos e competentes.
  • Deixe o celular de lado - O modo como as pessoas curtem a solitude é altamente individual: uma pessoa pode fazer crochê e se sentar à beira do lago, outra pode preferir jardinagem e sair para almoçar sozinha. A única “regra” que Coplan recomenda é prestar atenção ao uso do celular. Tudo bem ler ou ouvir música no telefone, diz ele, mas não fique nas redes sociais e tente silenciar as notificações.
  • Saiba quando é demais - Se você estiver se sentindo ansioso, ruminando pensamentos ou querendo a companhia das outras pessoas, você não está aproveitando a solitude ou está passando muito tempo sozinho, diz Bowker./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The Washington Post.

Bill Gates é conhecido por suas “semanas de reflexão” consigo mesmo. A pintora Georgia O’Keeffe costumava passar dias sozinha, caminhando e trabalhando em seu rancho no Novo México. E a poeta Emily Dickinson escreveu muito sobre as revelações que podem advir dos tempos que passamos sozinhos.

Ao longo da história, artistas, filósofos e outros visionários tiveram uma queda pela solitude. Mas o resto de nós também pode se beneficiar de um tempo sozinho.

Atividades calmantes, como ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude Foto: Daniel/Adobe Stock

“A solitude dá ao seu cérebro a chance de se reiniciar e se restaurar”, diz Robert Coplan, psicólogo do desenvolvimento e professor do departamento de psicologia da Universidade Carleton, em Ottawa. “É um bom espaço para empreendimentos criativos porque permite que nossa mente passeie. A solitude tende a nos acalmar porque elimina as emoções negativas. É a liberdade de todo contato social. Você está livre para fazer o que quiser, pensar o que quiser e ser quem quiser”.

Solitude não é solidão

Há uma diferença entre solidão e simplesmente estar sozinho. “É um ponto realmente importante: estar sozinho não é estar solitário”, diz Kira Birditt, professora de pesquisa do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan.

Isso não quer dizer que a solidão não seja um problema: no ano passado, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek H. Murthy, emitiu um parecer sobre a solidão, sugerindo que ela representa uma ameaça à saúde pública tão significativa quanto o fumo e a obesidade.

Mas você pode ficar sozinho e não se sentir solitário, ou pode estar com outras pessoas e se sentir solitário. “A solidão tem a ver com a percepção da inadequação social dos relacionamentos”, diz Julie Bowker, psicóloga do desenvolvimento e professora do departamento de psicologia da Universidade de Buffalo, que estudou a solitude.

A escolha também tem um papel crucial. A solitude é algo que escolhemos. Quando não a escolhemos, é só isolamento, diz Bowker. Recuperar-se de uma lesão ou se isolar porque você tem ansiedade social, por exemplo, não é a mesma coisa que escolher passar o dia fazendo uma caminhada nas montanhas.

“Uma das descobertas mais claras sobre a solitude é que, se ela for escolhida pelo valor que tem, será uma experiência mais positiva”, diz Netta Weinstein, professora de psicologia da Universidade de Reading, na Inglaterra, e coautora de Solitude: The Science and Power of Being Alone. “Se for obrigatória, será uma experiência menos positiva”.

O poder do tempo sozinho

Embora poetas e filósofos tenham passado séculos escrevendo sobre o poder da solitude, só recentemente surgiram evidências empíricas sobre seus benefícios, diz Coplan. “Nos últimos anos, as pessoas realmente começaram a apresentar evidências concretas para apoiar a ideia de que a solitude pode ser uma coisa boa”, diz ela.

Quer tenhamos acabado de participar de uma atividade social de alta energia ou estejamos lidando com algo estressante, a solitude pode proporcionar uma oportunidade para nos acalmarmos e processarmos emoções fortes, diz Thuy-vy Nguyen, professora associada do departamento de psicologia da Universidade de Durham, na Inglaterra, e uma das coautoras de Weinstein em Solitude.

Um artigo de Nguyen publicado em 2017 na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin constatou que essa descompressão das emoções fortes, o que ela chamou de “efeito de desativação”, não acontecia quando as pessoas estavam com outras, mas sim quando estavam sozinhas.

A solitude também pode nos permitir pensar de forma diferente e mais criativa, diz Weinstein.

Weinstein conduziu uma pesquisa qualitativa – um estudo não numérico que fez entrevistas aprofundadas sobre o assunto – e descobriu que as pessoas “falam sobre a solitude como o momento em que podem refletir, reorganizar os pensamentos, conectar-se a si mesmas, ouvir suas experiências e emoções internas e ser criativas de diferentes maneiras”.

Um estudo com 295 estudantes universitários, publicado na revista Personality and Individual Differences, encontrou uma correlação positiva entre criatividade e pessoas que preferem a solitude.

Um estudo de 2019, publicado na revista Gerontologist, analisou o bem-estar e a solitude por meio de uma pesquisa com 313 adultos com mais de 65 anos. A cada três horas, durante cinco dias, os pesquisadores perguntaram aos participantes sobre seu humor e interações sociais.

Birditt, a principal autora do estudo, diz que os participantes tiveram menos afeto positivo e negativo durante o tempo em que ficaram sozinhos, o que significa que eles experimentaram menos emoções fortes em ambas as extremidades do espectro. Além disso, a irritação e o nervosismo ficaram muito menores entre as pessoas que tinham relacionamentos interpessoais tensos. Mas o interessante é que essas pessoas não se sentiram mais solitárias.

Equilíbrio

Nossas atitudes em relação à solitude variam muito. Algumas pessoas se sentem entediadas ou ficam ruminando pensamentos quando estão sozinhas, diz Coplan, enquanto outras acham que não há nada melhor que um dia sem ninguém. “Este é um dos paradoxos do estudo da solitude”, diz ele. “Para algumas pessoas, é um castigo. Para outras, é uma recompensa”.

As pesquisas indicam por que algumas pessoas preferem passar mais tempo sozinhas do que outras.

Pessoas que conseguem regular seus pensamentos e sentimentos; pessoas que têm um estilo de apego mais seguro; e pessoas que têm mais autonomia, o que significa que elas sabem naturalmente o que querem, têm maior probabilidade de desfrutar da solitude, diz Nguyen.

As pessoas otimistas, autocompassivas e curiosas sobre si mesmas e sobre o mundo também preferem ficar sozinhas, diz Weinstein.

Os adultos mais velhos também tendem a desfrutar e apreciar mais a solitude do que os jovens, de acordo com um artigo de 2021 publicado na revista científica Frontiers in Psychology. “Em geral, as pessoas relatam que se sentem mais tranquilas e confortáveis na terceira idade”, diz Weinstein. “Por outro lado, os jovens de vinte e poucos anos parecem não gostar muito da solitude”.

É de se esperar que os introvertidos apreciem mais a solitude do que os extrovertidos. No entanto, a pesquisa mostra que, apesar de os introvertidos passarem mais tempo sozinhos, há uma correlação mais forte entre extroversão e prazer com a solitude, diz Nguyen, que também dirige o Laboratório Solitude na Universidade de Durham.

Ela acrescenta que isso pode ocorrer porque os extrovertidos costumam ser mais felizes e mais bem ajustados em geral, e é provável que a felicidade e o bem-estar deles – e não a extroversão em si – seja o que os leva a gostar da solitude.

Embora um pouco de solitude seja bom para todo mundo, há uma correlação entre o tempo que as pessoas ficam sozinhas e a solidão, diz Nguyen. “Porque somos animais sociais e temos essa necessidade de interação social”.

É possível estar sozinho e não se sentir solitário Foto: VAKSMANV/Adobe Stock

Não existe uma regra rígida para determinar de quanta solitude precisamos, diz Coplan. “O que sabemos com certeza é que todo mundo precisa de um equilíbrio entre o tempo que passa sozinho e o tempo que passa com outras pessoas”, diz ele.

Como passar o tempo sozinho

Não importa se você tem meia hora ou um dia inteiro para si, você pode aproveitar ao máximo seu tempo sozinho com essas dicas apoiadas por especialistas.

  • Tenha um plano - Pesquisas descobriram que ter um plano para o que você vai fazer tende a estar associado a um resultado mais positivo, diz Birditt. Planeje algo que você queira muito fazer, “caso contrário, seu tempo sozinho pode ser gasto fazendo coisas que não são necessariamente gratificantes”, diz ela.
  • Opte pelo relaxamento - A pesquisa de Nguyen descobriu que atividades calmantes, como fazer jardinagem, ouvir música, ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude. Ela acrescenta que os jovens geralmente gostam de se envolver em hobbies que os fazem se sentir produtivos e competentes.
  • Deixe o celular de lado - O modo como as pessoas curtem a solitude é altamente individual: uma pessoa pode fazer crochê e se sentar à beira do lago, outra pode preferir jardinagem e sair para almoçar sozinha. A única “regra” que Coplan recomenda é prestar atenção ao uso do celular. Tudo bem ler ou ouvir música no telefone, diz ele, mas não fique nas redes sociais e tente silenciar as notificações.
  • Saiba quando é demais - Se você estiver se sentindo ansioso, ruminando pensamentos ou querendo a companhia das outras pessoas, você não está aproveitando a solitude ou está passando muito tempo sozinho, diz Bowker./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The Washington Post.

Bill Gates é conhecido por suas “semanas de reflexão” consigo mesmo. A pintora Georgia O’Keeffe costumava passar dias sozinha, caminhando e trabalhando em seu rancho no Novo México. E a poeta Emily Dickinson escreveu muito sobre as revelações que podem advir dos tempos que passamos sozinhos.

Ao longo da história, artistas, filósofos e outros visionários tiveram uma queda pela solitude. Mas o resto de nós também pode se beneficiar de um tempo sozinho.

Atividades calmantes, como ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude Foto: Daniel/Adobe Stock

“A solitude dá ao seu cérebro a chance de se reiniciar e se restaurar”, diz Robert Coplan, psicólogo do desenvolvimento e professor do departamento de psicologia da Universidade Carleton, em Ottawa. “É um bom espaço para empreendimentos criativos porque permite que nossa mente passeie. A solitude tende a nos acalmar porque elimina as emoções negativas. É a liberdade de todo contato social. Você está livre para fazer o que quiser, pensar o que quiser e ser quem quiser”.

Solitude não é solidão

Há uma diferença entre solidão e simplesmente estar sozinho. “É um ponto realmente importante: estar sozinho não é estar solitário”, diz Kira Birditt, professora de pesquisa do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan.

Isso não quer dizer que a solidão não seja um problema: no ano passado, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek H. Murthy, emitiu um parecer sobre a solidão, sugerindo que ela representa uma ameaça à saúde pública tão significativa quanto o fumo e a obesidade.

Mas você pode ficar sozinho e não se sentir solitário, ou pode estar com outras pessoas e se sentir solitário. “A solidão tem a ver com a percepção da inadequação social dos relacionamentos”, diz Julie Bowker, psicóloga do desenvolvimento e professora do departamento de psicologia da Universidade de Buffalo, que estudou a solitude.

A escolha também tem um papel crucial. A solitude é algo que escolhemos. Quando não a escolhemos, é só isolamento, diz Bowker. Recuperar-se de uma lesão ou se isolar porque você tem ansiedade social, por exemplo, não é a mesma coisa que escolher passar o dia fazendo uma caminhada nas montanhas.

“Uma das descobertas mais claras sobre a solitude é que, se ela for escolhida pelo valor que tem, será uma experiência mais positiva”, diz Netta Weinstein, professora de psicologia da Universidade de Reading, na Inglaterra, e coautora de Solitude: The Science and Power of Being Alone. “Se for obrigatória, será uma experiência menos positiva”.

O poder do tempo sozinho

Embora poetas e filósofos tenham passado séculos escrevendo sobre o poder da solitude, só recentemente surgiram evidências empíricas sobre seus benefícios, diz Coplan. “Nos últimos anos, as pessoas realmente começaram a apresentar evidências concretas para apoiar a ideia de que a solitude pode ser uma coisa boa”, diz ela.

Quer tenhamos acabado de participar de uma atividade social de alta energia ou estejamos lidando com algo estressante, a solitude pode proporcionar uma oportunidade para nos acalmarmos e processarmos emoções fortes, diz Thuy-vy Nguyen, professora associada do departamento de psicologia da Universidade de Durham, na Inglaterra, e uma das coautoras de Weinstein em Solitude.

Um artigo de Nguyen publicado em 2017 na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin constatou que essa descompressão das emoções fortes, o que ela chamou de “efeito de desativação”, não acontecia quando as pessoas estavam com outras, mas sim quando estavam sozinhas.

A solitude também pode nos permitir pensar de forma diferente e mais criativa, diz Weinstein.

Weinstein conduziu uma pesquisa qualitativa – um estudo não numérico que fez entrevistas aprofundadas sobre o assunto – e descobriu que as pessoas “falam sobre a solitude como o momento em que podem refletir, reorganizar os pensamentos, conectar-se a si mesmas, ouvir suas experiências e emoções internas e ser criativas de diferentes maneiras”.

Um estudo com 295 estudantes universitários, publicado na revista Personality and Individual Differences, encontrou uma correlação positiva entre criatividade e pessoas que preferem a solitude.

Um estudo de 2019, publicado na revista Gerontologist, analisou o bem-estar e a solitude por meio de uma pesquisa com 313 adultos com mais de 65 anos. A cada três horas, durante cinco dias, os pesquisadores perguntaram aos participantes sobre seu humor e interações sociais.

Birditt, a principal autora do estudo, diz que os participantes tiveram menos afeto positivo e negativo durante o tempo em que ficaram sozinhos, o que significa que eles experimentaram menos emoções fortes em ambas as extremidades do espectro. Além disso, a irritação e o nervosismo ficaram muito menores entre as pessoas que tinham relacionamentos interpessoais tensos. Mas o interessante é que essas pessoas não se sentiram mais solitárias.

Equilíbrio

Nossas atitudes em relação à solitude variam muito. Algumas pessoas se sentem entediadas ou ficam ruminando pensamentos quando estão sozinhas, diz Coplan, enquanto outras acham que não há nada melhor que um dia sem ninguém. “Este é um dos paradoxos do estudo da solitude”, diz ele. “Para algumas pessoas, é um castigo. Para outras, é uma recompensa”.

As pesquisas indicam por que algumas pessoas preferem passar mais tempo sozinhas do que outras.

Pessoas que conseguem regular seus pensamentos e sentimentos; pessoas que têm um estilo de apego mais seguro; e pessoas que têm mais autonomia, o que significa que elas sabem naturalmente o que querem, têm maior probabilidade de desfrutar da solitude, diz Nguyen.

As pessoas otimistas, autocompassivas e curiosas sobre si mesmas e sobre o mundo também preferem ficar sozinhas, diz Weinstein.

Os adultos mais velhos também tendem a desfrutar e apreciar mais a solitude do que os jovens, de acordo com um artigo de 2021 publicado na revista científica Frontiers in Psychology. “Em geral, as pessoas relatam que se sentem mais tranquilas e confortáveis na terceira idade”, diz Weinstein. “Por outro lado, os jovens de vinte e poucos anos parecem não gostar muito da solitude”.

É de se esperar que os introvertidos apreciem mais a solitude do que os extrovertidos. No entanto, a pesquisa mostra que, apesar de os introvertidos passarem mais tempo sozinhos, há uma correlação mais forte entre extroversão e prazer com a solitude, diz Nguyen, que também dirige o Laboratório Solitude na Universidade de Durham.

Ela acrescenta que isso pode ocorrer porque os extrovertidos costumam ser mais felizes e mais bem ajustados em geral, e é provável que a felicidade e o bem-estar deles – e não a extroversão em si – seja o que os leva a gostar da solitude.

Embora um pouco de solitude seja bom para todo mundo, há uma correlação entre o tempo que as pessoas ficam sozinhas e a solidão, diz Nguyen. “Porque somos animais sociais e temos essa necessidade de interação social”.

É possível estar sozinho e não se sentir solitário Foto: VAKSMANV/Adobe Stock

Não existe uma regra rígida para determinar de quanta solitude precisamos, diz Coplan. “O que sabemos com certeza é que todo mundo precisa de um equilíbrio entre o tempo que passa sozinho e o tempo que passa com outras pessoas”, diz ele.

Como passar o tempo sozinho

Não importa se você tem meia hora ou um dia inteiro para si, você pode aproveitar ao máximo seu tempo sozinho com essas dicas apoiadas por especialistas.

  • Tenha um plano - Pesquisas descobriram que ter um plano para o que você vai fazer tende a estar associado a um resultado mais positivo, diz Birditt. Planeje algo que você queira muito fazer, “caso contrário, seu tempo sozinho pode ser gasto fazendo coisas que não são necessariamente gratificantes”, diz ela.
  • Opte pelo relaxamento - A pesquisa de Nguyen descobriu que atividades calmantes, como fazer jardinagem, ouvir música, ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude. Ela acrescenta que os jovens geralmente gostam de se envolver em hobbies que os fazem se sentir produtivos e competentes.
  • Deixe o celular de lado - O modo como as pessoas curtem a solitude é altamente individual: uma pessoa pode fazer crochê e se sentar à beira do lago, outra pode preferir jardinagem e sair para almoçar sozinha. A única “regra” que Coplan recomenda é prestar atenção ao uso do celular. Tudo bem ler ou ouvir música no telefone, diz ele, mas não fique nas redes sociais e tente silenciar as notificações.
  • Saiba quando é demais - Se você estiver se sentindo ansioso, ruminando pensamentos ou querendo a companhia das outras pessoas, você não está aproveitando a solitude ou está passando muito tempo sozinho, diz Bowker./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The Washington Post.

Bill Gates é conhecido por suas “semanas de reflexão” consigo mesmo. A pintora Georgia O’Keeffe costumava passar dias sozinha, caminhando e trabalhando em seu rancho no Novo México. E a poeta Emily Dickinson escreveu muito sobre as revelações que podem advir dos tempos que passamos sozinhos.

Ao longo da história, artistas, filósofos e outros visionários tiveram uma queda pela solitude. Mas o resto de nós também pode se beneficiar de um tempo sozinho.

Atividades calmantes, como ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude Foto: Daniel/Adobe Stock

“A solitude dá ao seu cérebro a chance de se reiniciar e se restaurar”, diz Robert Coplan, psicólogo do desenvolvimento e professor do departamento de psicologia da Universidade Carleton, em Ottawa. “É um bom espaço para empreendimentos criativos porque permite que nossa mente passeie. A solitude tende a nos acalmar porque elimina as emoções negativas. É a liberdade de todo contato social. Você está livre para fazer o que quiser, pensar o que quiser e ser quem quiser”.

Solitude não é solidão

Há uma diferença entre solidão e simplesmente estar sozinho. “É um ponto realmente importante: estar sozinho não é estar solitário”, diz Kira Birditt, professora de pesquisa do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan.

Isso não quer dizer que a solidão não seja um problema: no ano passado, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek H. Murthy, emitiu um parecer sobre a solidão, sugerindo que ela representa uma ameaça à saúde pública tão significativa quanto o fumo e a obesidade.

Mas você pode ficar sozinho e não se sentir solitário, ou pode estar com outras pessoas e se sentir solitário. “A solidão tem a ver com a percepção da inadequação social dos relacionamentos”, diz Julie Bowker, psicóloga do desenvolvimento e professora do departamento de psicologia da Universidade de Buffalo, que estudou a solitude.

A escolha também tem um papel crucial. A solitude é algo que escolhemos. Quando não a escolhemos, é só isolamento, diz Bowker. Recuperar-se de uma lesão ou se isolar porque você tem ansiedade social, por exemplo, não é a mesma coisa que escolher passar o dia fazendo uma caminhada nas montanhas.

“Uma das descobertas mais claras sobre a solitude é que, se ela for escolhida pelo valor que tem, será uma experiência mais positiva”, diz Netta Weinstein, professora de psicologia da Universidade de Reading, na Inglaterra, e coautora de Solitude: The Science and Power of Being Alone. “Se for obrigatória, será uma experiência menos positiva”.

O poder do tempo sozinho

Embora poetas e filósofos tenham passado séculos escrevendo sobre o poder da solitude, só recentemente surgiram evidências empíricas sobre seus benefícios, diz Coplan. “Nos últimos anos, as pessoas realmente começaram a apresentar evidências concretas para apoiar a ideia de que a solitude pode ser uma coisa boa”, diz ela.

Quer tenhamos acabado de participar de uma atividade social de alta energia ou estejamos lidando com algo estressante, a solitude pode proporcionar uma oportunidade para nos acalmarmos e processarmos emoções fortes, diz Thuy-vy Nguyen, professora associada do departamento de psicologia da Universidade de Durham, na Inglaterra, e uma das coautoras de Weinstein em Solitude.

Um artigo de Nguyen publicado em 2017 na revista científica Personality and Social Psychology Bulletin constatou que essa descompressão das emoções fortes, o que ela chamou de “efeito de desativação”, não acontecia quando as pessoas estavam com outras, mas sim quando estavam sozinhas.

A solitude também pode nos permitir pensar de forma diferente e mais criativa, diz Weinstein.

Weinstein conduziu uma pesquisa qualitativa – um estudo não numérico que fez entrevistas aprofundadas sobre o assunto – e descobriu que as pessoas “falam sobre a solitude como o momento em que podem refletir, reorganizar os pensamentos, conectar-se a si mesmas, ouvir suas experiências e emoções internas e ser criativas de diferentes maneiras”.

Um estudo com 295 estudantes universitários, publicado na revista Personality and Individual Differences, encontrou uma correlação positiva entre criatividade e pessoas que preferem a solitude.

Um estudo de 2019, publicado na revista Gerontologist, analisou o bem-estar e a solitude por meio de uma pesquisa com 313 adultos com mais de 65 anos. A cada três horas, durante cinco dias, os pesquisadores perguntaram aos participantes sobre seu humor e interações sociais.

Birditt, a principal autora do estudo, diz que os participantes tiveram menos afeto positivo e negativo durante o tempo em que ficaram sozinhos, o que significa que eles experimentaram menos emoções fortes em ambas as extremidades do espectro. Além disso, a irritação e o nervosismo ficaram muito menores entre as pessoas que tinham relacionamentos interpessoais tensos. Mas o interessante é que essas pessoas não se sentiram mais solitárias.

Equilíbrio

Nossas atitudes em relação à solitude variam muito. Algumas pessoas se sentem entediadas ou ficam ruminando pensamentos quando estão sozinhas, diz Coplan, enquanto outras acham que não há nada melhor que um dia sem ninguém. “Este é um dos paradoxos do estudo da solitude”, diz ele. “Para algumas pessoas, é um castigo. Para outras, é uma recompensa”.

As pesquisas indicam por que algumas pessoas preferem passar mais tempo sozinhas do que outras.

Pessoas que conseguem regular seus pensamentos e sentimentos; pessoas que têm um estilo de apego mais seguro; e pessoas que têm mais autonomia, o que significa que elas sabem naturalmente o que querem, têm maior probabilidade de desfrutar da solitude, diz Nguyen.

As pessoas otimistas, autocompassivas e curiosas sobre si mesmas e sobre o mundo também preferem ficar sozinhas, diz Weinstein.

Os adultos mais velhos também tendem a desfrutar e apreciar mais a solitude do que os jovens, de acordo com um artigo de 2021 publicado na revista científica Frontiers in Psychology. “Em geral, as pessoas relatam que se sentem mais tranquilas e confortáveis na terceira idade”, diz Weinstein. “Por outro lado, os jovens de vinte e poucos anos parecem não gostar muito da solitude”.

É de se esperar que os introvertidos apreciem mais a solitude do que os extrovertidos. No entanto, a pesquisa mostra que, apesar de os introvertidos passarem mais tempo sozinhos, há uma correlação mais forte entre extroversão e prazer com a solitude, diz Nguyen, que também dirige o Laboratório Solitude na Universidade de Durham.

Ela acrescenta que isso pode ocorrer porque os extrovertidos costumam ser mais felizes e mais bem ajustados em geral, e é provável que a felicidade e o bem-estar deles – e não a extroversão em si – seja o que os leva a gostar da solitude.

Embora um pouco de solitude seja bom para todo mundo, há uma correlação entre o tempo que as pessoas ficam sozinhas e a solidão, diz Nguyen. “Porque somos animais sociais e temos essa necessidade de interação social”.

É possível estar sozinho e não se sentir solitário Foto: VAKSMANV/Adobe Stock

Não existe uma regra rígida para determinar de quanta solitude precisamos, diz Coplan. “O que sabemos com certeza é que todo mundo precisa de um equilíbrio entre o tempo que passa sozinho e o tempo que passa com outras pessoas”, diz ele.

Como passar o tempo sozinho

Não importa se você tem meia hora ou um dia inteiro para si, você pode aproveitar ao máximo seu tempo sozinho com essas dicas apoiadas por especialistas.

  • Tenha um plano - Pesquisas descobriram que ter um plano para o que você vai fazer tende a estar associado a um resultado mais positivo, diz Birditt. Planeje algo que você queira muito fazer, “caso contrário, seu tempo sozinho pode ser gasto fazendo coisas que não são necessariamente gratificantes”, diz ela.
  • Opte pelo relaxamento - A pesquisa de Nguyen descobriu que atividades calmantes, como fazer jardinagem, ouvir música, ler ou caminhar, tendem a ser mais compatíveis com a solitude. Ela acrescenta que os jovens geralmente gostam de se envolver em hobbies que os fazem se sentir produtivos e competentes.
  • Deixe o celular de lado - O modo como as pessoas curtem a solitude é altamente individual: uma pessoa pode fazer crochê e se sentar à beira do lago, outra pode preferir jardinagem e sair para almoçar sozinha. A única “regra” que Coplan recomenda é prestar atenção ao uso do celular. Tudo bem ler ou ouvir música no telefone, diz ele, mas não fique nas redes sociais e tente silenciar as notificações.
  • Saiba quando é demais - Se você estiver se sentindo ansioso, ruminando pensamentos ou querendo a companhia das outras pessoas, você não está aproveitando a solitude ou está passando muito tempo sozinho, diz Bowker./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The Washington Post.

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