Como o calor atípico do outono pode interferir no avanço da dengue?


Conjunção entre temperaturas elevadas e chuva ajudam na proliferação do mosquito; tamanho da população de insetos está intimamente ligada ao número de casos da doença

Por Leon Ferrari
Atualização:

Uma nova onda de calor vai afetar cidades de seis Estados até quarta-feira, 1°, já em meio a um outono atípico, com temperaturas mais elevadas do que o normal. Enquanto isso, o País enfrenta a pior epidemia de dengue da história, com mais de 4 milhões de casos prováveis registrados até agora.

As altas temperaturas que enfrentamos ajudam a explicar a explosão da dengue do País, e podem indicar a continuidade de uma transmissão elevada da doença? De forma direta, a resposta é sim, mas essa relação é complexa e depende também do regime de chuvas.

Proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, é facilitada quando há calor e chuvas. Foto: frank29052515/Adobe Stock
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“Essa onda de calor atípica vai estender a epidemia de dengue, porque o calor favorece a multiplicação dos mosquitos, que se desenvolvem mais rápido em temperaturas mais altas”, diz o virologista Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.

“Por outro lado, está diminuindo a chuva”, comenta o infectologista Celso Granato, professor livre-docente aposentado de infectologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Os ovos dos mosquitos eclodem com a água e com o calor. Se o tempo ficar muito seco, vai ser difícil o ovinho do mosquito eclodir.”

A previsão aponta para secura nas áreas que encaram a onda de calor, mas, no Sul, as chuvas do outono podem superar a média, o que não é boa notícia em termos de dengue.

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A dimensão da crise da dengue tem tudo a ver com o tamanho da população de mosquitos. Quanto mais mosquitos estão voando em uma dada área, maior a chance de acontecer um encontro com uma pessoa infectada e, por consequência, mais insetos sobrevivem ao período de incubação do vírus em seu próprio corpo. Nesse cenário, aumenta a chance, então, de encontrarem alguém não infectado para picar.

Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), comenta que, no Brasil, de uma maneira geral, já há uma tendência de queda no número de novos casos – ele exclui as duas últimas semanas desta análise, visto que os dados ainda podem ser atualizados. “Tem bastante número de casos notificados ainda, que inclusive superam o pico de 2023. Então, ainda vamos ter bastante casos notificados nas próximas semanas”

Ele lembra que o Brasil tem dimensões continentais, ou seja, as tendências mudam de região para região. “Vai depender dessas condições climáticas”, fala. “O efeito do El Niño se dá principalmente nas regiões Sul e Sudeste, relacionado ao aumento da temperatura e precipitação da chuva. Por isso, a gente observa uma epidemia mais concentrada na região centro-sul do País.”

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Os especialistas destacam que a transmissão deve começar a cair quando frentes frias chegarem. “Só vai começar a diminuir quando nós tivermos uma diminuição da temperatura média”, fala Nogueira.

O virologista também reforça que a temperatura não é o único fator por trás da epidemia recorde. “Tivemos também alterações importantes nos tipos de vírus de dengue circulando, como a (re)introdução de dengue 3, a introdução do dengue 2 do genótipo cosmopolita e a chegada do dengue 1 no interior do Rio Grande do Sul. Além de um hiato entre as últimas epidemias, que ocorrem a cada três ou quatro anos.”

“Somou tudo isso num ano só, e nós estamos vivendo no Brasil várias epidemias de dengue ao mesmo tempo.”

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Altas temperaturas e a dengue

O outono e o inverno deste ano no Brasil podem ter temperaturas de 2 a 4 ºC acima da média histórica, preveem cientistas com base em dados da agência climática americana (NOAA, na sigla em inglês) e do Instituto de Pesquisa em Clima da Universidade de Columbia (EUA).

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“Vamos ter um outono, principalmente nas primeiras duas semanas de maio, com a temperatura excepcionalmente acima da média. Tem modelo (meteorológico) indicando 10 ºC acima da média”, fala a meteorologista Estael Sias.

“Repete o que aconteceu na primavera de 2023. O que está por trás é o El Niño, o aquecimento do Oceano Pacífico Equatorial, que bloqueia as chuvas no Sul do Brasil, enquanto o Centro-Oeste e o Sudeste fervem dentro dessa onda de calor persistente, completamente atípica”, explica.

A previsão é de chuvas acima da média no Sul, entre SC e RS, e déficit de precipitação no Paraná, Sudeste e Centro-Oeste, segundo ela.

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Uma metanálise – tipo de estudo considerado padrão-ouro em nível de evidência –, que revisitou mais de 100 estudos sobre o tema, publicada na revista científica eBioMedicine, do grupo Lancet, mostrou que o risco de infecção por dengue aumenta em 13% para cada elevação de 1°C em situações de altas temperaturas acima dos valores médios.

Mas o impacto pode ser mais relevante a depender da zona climática analisada. No caso do clima tropical de monções, o aumento no risco de infecção é de 29% e no subtropical úmido, de 20% – o Brasil apresenta regiões em ambas as zonas. “Isso pode ser devido à alta umidade relativa, que é propícia à reprodução do mosquito”, escreveram os autores. “A combinação de alta temperatura e precipitação em zonas climáticas tropicais aumenta a umidade relativa, o que, por sua vez, aumenta a atividade de alimentação, sobrevivência e desenvolvimento de ovos do Aedes aegypti.”

“O impacto da temperatura na transmissão da dengue segue caminhos e mecanismos complexos, incluindo os impactos da temperatura no ciclo reprodutivo da fêmea do mosquito, nas atividades de alimentação e no período de incubação extrínseco (tempo entre o mosquito picar alguém com o vírus da dengue e se tornar capaz de infectar outras pessoas)”, explicam, no artigo, os pesquisadores australianos. Segundo eles, um estudo mostrou, por exemplo, que esse período de incubação extrínseco caiu de uma média de 15 dias para 6,5 dias conforme a temperatura aumentou de 25°C para 30°C.

Nesta meta-análise, os pesquisadores não conseguiram encontrar uma associação significativa entre incidência de dengue e ondas de calor, mas alertam que isso pode ter ocorrido porque é uma relação menos estudada do que as altas temperaturas e porque o conceito aparece de formas muito diferentes de um estudo para outro.

Uma pesquisa da Fiocruz publicada neste ano na Scientific Reports, da Nature, apontou que as constantes ondas de calor (anomalias positivas de temperaturas prolongadas) causadas pelas mudanças climáticas estão associadas, entre outros fatores, à expansão da dengue para o interior do País.

“Um estudo recente realizado na Argentina mostrou que as anomalias de temperatura desempenharam um papel mais importante na propagação da epidemia do que o aumento da temperatura média ou a precipitação total”, escreveram no artigo.

Uma nova onda de calor vai afetar cidades de seis Estados até quarta-feira, 1°, já em meio a um outono atípico, com temperaturas mais elevadas do que o normal. Enquanto isso, o País enfrenta a pior epidemia de dengue da história, com mais de 4 milhões de casos prováveis registrados até agora.

As altas temperaturas que enfrentamos ajudam a explicar a explosão da dengue do País, e podem indicar a continuidade de uma transmissão elevada da doença? De forma direta, a resposta é sim, mas essa relação é complexa e depende também do regime de chuvas.

Proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, é facilitada quando há calor e chuvas. Foto: frank29052515/Adobe Stock

“Essa onda de calor atípica vai estender a epidemia de dengue, porque o calor favorece a multiplicação dos mosquitos, que se desenvolvem mais rápido em temperaturas mais altas”, diz o virologista Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.

“Por outro lado, está diminuindo a chuva”, comenta o infectologista Celso Granato, professor livre-docente aposentado de infectologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Os ovos dos mosquitos eclodem com a água e com o calor. Se o tempo ficar muito seco, vai ser difícil o ovinho do mosquito eclodir.”

A previsão aponta para secura nas áreas que encaram a onda de calor, mas, no Sul, as chuvas do outono podem superar a média, o que não é boa notícia em termos de dengue.

A dimensão da crise da dengue tem tudo a ver com o tamanho da população de mosquitos. Quanto mais mosquitos estão voando em uma dada área, maior a chance de acontecer um encontro com uma pessoa infectada e, por consequência, mais insetos sobrevivem ao período de incubação do vírus em seu próprio corpo. Nesse cenário, aumenta a chance, então, de encontrarem alguém não infectado para picar.

Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), comenta que, no Brasil, de uma maneira geral, já há uma tendência de queda no número de novos casos – ele exclui as duas últimas semanas desta análise, visto que os dados ainda podem ser atualizados. “Tem bastante número de casos notificados ainda, que inclusive superam o pico de 2023. Então, ainda vamos ter bastante casos notificados nas próximas semanas”

Ele lembra que o Brasil tem dimensões continentais, ou seja, as tendências mudam de região para região. “Vai depender dessas condições climáticas”, fala. “O efeito do El Niño se dá principalmente nas regiões Sul e Sudeste, relacionado ao aumento da temperatura e precipitação da chuva. Por isso, a gente observa uma epidemia mais concentrada na região centro-sul do País.”

Os especialistas destacam que a transmissão deve começar a cair quando frentes frias chegarem. “Só vai começar a diminuir quando nós tivermos uma diminuição da temperatura média”, fala Nogueira.

O virologista também reforça que a temperatura não é o único fator por trás da epidemia recorde. “Tivemos também alterações importantes nos tipos de vírus de dengue circulando, como a (re)introdução de dengue 3, a introdução do dengue 2 do genótipo cosmopolita e a chegada do dengue 1 no interior do Rio Grande do Sul. Além de um hiato entre as últimas epidemias, que ocorrem a cada três ou quatro anos.”

“Somou tudo isso num ano só, e nós estamos vivendo no Brasil várias epidemias de dengue ao mesmo tempo.”

Altas temperaturas e a dengue

O outono e o inverno deste ano no Brasil podem ter temperaturas de 2 a 4 ºC acima da média histórica, preveem cientistas com base em dados da agência climática americana (NOAA, na sigla em inglês) e do Instituto de Pesquisa em Clima da Universidade de Columbia (EUA).

“Vamos ter um outono, principalmente nas primeiras duas semanas de maio, com a temperatura excepcionalmente acima da média. Tem modelo (meteorológico) indicando 10 ºC acima da média”, fala a meteorologista Estael Sias.

“Repete o que aconteceu na primavera de 2023. O que está por trás é o El Niño, o aquecimento do Oceano Pacífico Equatorial, que bloqueia as chuvas no Sul do Brasil, enquanto o Centro-Oeste e o Sudeste fervem dentro dessa onda de calor persistente, completamente atípica”, explica.

A previsão é de chuvas acima da média no Sul, entre SC e RS, e déficit de precipitação no Paraná, Sudeste e Centro-Oeste, segundo ela.

Uma metanálise – tipo de estudo considerado padrão-ouro em nível de evidência –, que revisitou mais de 100 estudos sobre o tema, publicada na revista científica eBioMedicine, do grupo Lancet, mostrou que o risco de infecção por dengue aumenta em 13% para cada elevação de 1°C em situações de altas temperaturas acima dos valores médios.

Mas o impacto pode ser mais relevante a depender da zona climática analisada. No caso do clima tropical de monções, o aumento no risco de infecção é de 29% e no subtropical úmido, de 20% – o Brasil apresenta regiões em ambas as zonas. “Isso pode ser devido à alta umidade relativa, que é propícia à reprodução do mosquito”, escreveram os autores. “A combinação de alta temperatura e precipitação em zonas climáticas tropicais aumenta a umidade relativa, o que, por sua vez, aumenta a atividade de alimentação, sobrevivência e desenvolvimento de ovos do Aedes aegypti.”

“O impacto da temperatura na transmissão da dengue segue caminhos e mecanismos complexos, incluindo os impactos da temperatura no ciclo reprodutivo da fêmea do mosquito, nas atividades de alimentação e no período de incubação extrínseco (tempo entre o mosquito picar alguém com o vírus da dengue e se tornar capaz de infectar outras pessoas)”, explicam, no artigo, os pesquisadores australianos. Segundo eles, um estudo mostrou, por exemplo, que esse período de incubação extrínseco caiu de uma média de 15 dias para 6,5 dias conforme a temperatura aumentou de 25°C para 30°C.

Nesta meta-análise, os pesquisadores não conseguiram encontrar uma associação significativa entre incidência de dengue e ondas de calor, mas alertam que isso pode ter ocorrido porque é uma relação menos estudada do que as altas temperaturas e porque o conceito aparece de formas muito diferentes de um estudo para outro.

Uma pesquisa da Fiocruz publicada neste ano na Scientific Reports, da Nature, apontou que as constantes ondas de calor (anomalias positivas de temperaturas prolongadas) causadas pelas mudanças climáticas estão associadas, entre outros fatores, à expansão da dengue para o interior do País.

“Um estudo recente realizado na Argentina mostrou que as anomalias de temperatura desempenharam um papel mais importante na propagação da epidemia do que o aumento da temperatura média ou a precipitação total”, escreveram no artigo.

Uma nova onda de calor vai afetar cidades de seis Estados até quarta-feira, 1°, já em meio a um outono atípico, com temperaturas mais elevadas do que o normal. Enquanto isso, o País enfrenta a pior epidemia de dengue da história, com mais de 4 milhões de casos prováveis registrados até agora.

As altas temperaturas que enfrentamos ajudam a explicar a explosão da dengue do País, e podem indicar a continuidade de uma transmissão elevada da doença? De forma direta, a resposta é sim, mas essa relação é complexa e depende também do regime de chuvas.

Proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, é facilitada quando há calor e chuvas. Foto: frank29052515/Adobe Stock

“Essa onda de calor atípica vai estender a epidemia de dengue, porque o calor favorece a multiplicação dos mosquitos, que se desenvolvem mais rápido em temperaturas mais altas”, diz o virologista Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.

“Por outro lado, está diminuindo a chuva”, comenta o infectologista Celso Granato, professor livre-docente aposentado de infectologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Os ovos dos mosquitos eclodem com a água e com o calor. Se o tempo ficar muito seco, vai ser difícil o ovinho do mosquito eclodir.”

A previsão aponta para secura nas áreas que encaram a onda de calor, mas, no Sul, as chuvas do outono podem superar a média, o que não é boa notícia em termos de dengue.

A dimensão da crise da dengue tem tudo a ver com o tamanho da população de mosquitos. Quanto mais mosquitos estão voando em uma dada área, maior a chance de acontecer um encontro com uma pessoa infectada e, por consequência, mais insetos sobrevivem ao período de incubação do vírus em seu próprio corpo. Nesse cenário, aumenta a chance, então, de encontrarem alguém não infectado para picar.

Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), comenta que, no Brasil, de uma maneira geral, já há uma tendência de queda no número de novos casos – ele exclui as duas últimas semanas desta análise, visto que os dados ainda podem ser atualizados. “Tem bastante número de casos notificados ainda, que inclusive superam o pico de 2023. Então, ainda vamos ter bastante casos notificados nas próximas semanas”

Ele lembra que o Brasil tem dimensões continentais, ou seja, as tendências mudam de região para região. “Vai depender dessas condições climáticas”, fala. “O efeito do El Niño se dá principalmente nas regiões Sul e Sudeste, relacionado ao aumento da temperatura e precipitação da chuva. Por isso, a gente observa uma epidemia mais concentrada na região centro-sul do País.”

Os especialistas destacam que a transmissão deve começar a cair quando frentes frias chegarem. “Só vai começar a diminuir quando nós tivermos uma diminuição da temperatura média”, fala Nogueira.

O virologista também reforça que a temperatura não é o único fator por trás da epidemia recorde. “Tivemos também alterações importantes nos tipos de vírus de dengue circulando, como a (re)introdução de dengue 3, a introdução do dengue 2 do genótipo cosmopolita e a chegada do dengue 1 no interior do Rio Grande do Sul. Além de um hiato entre as últimas epidemias, que ocorrem a cada três ou quatro anos.”

“Somou tudo isso num ano só, e nós estamos vivendo no Brasil várias epidemias de dengue ao mesmo tempo.”

Altas temperaturas e a dengue

O outono e o inverno deste ano no Brasil podem ter temperaturas de 2 a 4 ºC acima da média histórica, preveem cientistas com base em dados da agência climática americana (NOAA, na sigla em inglês) e do Instituto de Pesquisa em Clima da Universidade de Columbia (EUA).

“Vamos ter um outono, principalmente nas primeiras duas semanas de maio, com a temperatura excepcionalmente acima da média. Tem modelo (meteorológico) indicando 10 ºC acima da média”, fala a meteorologista Estael Sias.

“Repete o que aconteceu na primavera de 2023. O que está por trás é o El Niño, o aquecimento do Oceano Pacífico Equatorial, que bloqueia as chuvas no Sul do Brasil, enquanto o Centro-Oeste e o Sudeste fervem dentro dessa onda de calor persistente, completamente atípica”, explica.

A previsão é de chuvas acima da média no Sul, entre SC e RS, e déficit de precipitação no Paraná, Sudeste e Centro-Oeste, segundo ela.

Uma metanálise – tipo de estudo considerado padrão-ouro em nível de evidência –, que revisitou mais de 100 estudos sobre o tema, publicada na revista científica eBioMedicine, do grupo Lancet, mostrou que o risco de infecção por dengue aumenta em 13% para cada elevação de 1°C em situações de altas temperaturas acima dos valores médios.

Mas o impacto pode ser mais relevante a depender da zona climática analisada. No caso do clima tropical de monções, o aumento no risco de infecção é de 29% e no subtropical úmido, de 20% – o Brasil apresenta regiões em ambas as zonas. “Isso pode ser devido à alta umidade relativa, que é propícia à reprodução do mosquito”, escreveram os autores. “A combinação de alta temperatura e precipitação em zonas climáticas tropicais aumenta a umidade relativa, o que, por sua vez, aumenta a atividade de alimentação, sobrevivência e desenvolvimento de ovos do Aedes aegypti.”

“O impacto da temperatura na transmissão da dengue segue caminhos e mecanismos complexos, incluindo os impactos da temperatura no ciclo reprodutivo da fêmea do mosquito, nas atividades de alimentação e no período de incubação extrínseco (tempo entre o mosquito picar alguém com o vírus da dengue e se tornar capaz de infectar outras pessoas)”, explicam, no artigo, os pesquisadores australianos. Segundo eles, um estudo mostrou, por exemplo, que esse período de incubação extrínseco caiu de uma média de 15 dias para 6,5 dias conforme a temperatura aumentou de 25°C para 30°C.

Nesta meta-análise, os pesquisadores não conseguiram encontrar uma associação significativa entre incidência de dengue e ondas de calor, mas alertam que isso pode ter ocorrido porque é uma relação menos estudada do que as altas temperaturas e porque o conceito aparece de formas muito diferentes de um estudo para outro.

Uma pesquisa da Fiocruz publicada neste ano na Scientific Reports, da Nature, apontou que as constantes ondas de calor (anomalias positivas de temperaturas prolongadas) causadas pelas mudanças climáticas estão associadas, entre outros fatores, à expansão da dengue para o interior do País.

“Um estudo recente realizado na Argentina mostrou que as anomalias de temperatura desempenharam um papel mais importante na propagação da epidemia do que o aumento da temperatura média ou a precipitação total”, escreveram no artigo.

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