Perceber um ombro mais alto que o outro, certa diferença entre os lados do quadril ou dor na região lombar. Esses podem ser sintomas comuns de quem sofre com escoliose, uma deformidade na coluna vertebral que a deixa em formato de “S”. Muitas vezes, nos casos de curvatura leve, não é possível ser percebida rapidamente, mas quanto antes os tratamentos forem iniciados, melhor será o resultado em conter o avanço da doença.
O ortopedista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), médico do grupo de escoliose da AACD, organização que oferece assistência a crianças com deficiência, Alexandre Fogaça, explica quais são os tipos da escoliose: congênita, sindrômica, neuromuscular e idiopática, sendo a última a mais comum.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que cerca de 4% da população mundial possui escoliose idiopática, desvio de coluna progressivo e sem causa aparente. No Brasil, são aproximadamente 6 milhões de pessoas convivendo com a escoliose, em especial, adolescentes do sexo feminino, faixa etária com maior prevalência.
Quais são os tratamentos para escoliose?
“Ela incide, principalmente, na época da adolescência, porque coincide com o estirão do crescimento. As pesquisas mostraram que existe tratamento conservador pra escoliose, por isso é muito importante o diagnóstico precoce, pois se pegarmos nas fases iniciais tem tratamento”, diz o médico, coordenador do núcleo de coluna do Hospital Sírio-Libanês.
A curvatura da coluna é chamada escoliose quando passa de dez graus. Uma das formas de tratamento é a de *exercícios específicos para escoliose*, que oferecem melhora na postura e até impedem a progressão da curva. Além do acompanhamento com médico ortopedista, os exercícios precisam ser feitos sob supervisão de um fisioterapeuta.
Outra opção, como explica o ortopedista, é fazer o uso de coletes, que se apresentam eficientes para conter o avanço de curvaturas com maior grau em adolescentes, quando a coluna ainda está em fase de desenvolvimento. A estudante de direito Fernanda Prado, 22 anos, moradora de Campo Grande (MS), foi diagnosticada com escoliose ainda na infância, aos 8 anos, e experimentou algumas das opções de tratamento disponíveis.
Ela iniciou o tratamento com colete aos 14 anos, quando a coluna já estava com 38 graus. As dores, conta Fernanda, sentia desde os 13 anos. Depois de dois anos em busca de aliviar os sintomas e amenizar a escoliose, Fernanda retirou o colete ortopédico. Nessa época, sua coluna já estava com 47 graus de curvatura.
Além do colete, ela conta que faz tratamentos desde o início do diagnóstico e, ao decorrer dos anos, praticou atividades como pilates, natação, musculação e Reeducação Postural Global (RPG).
“Foi positivo pra mim, porque consegui ter uma consciência corporal de como eu deveria ficar, por mais que ao tirar não tenha ficado da maneira que deveria. Eu me respeitava muito e respeitava muito a doença que eu tinha. Mas eu não achava a cirurgia como algo que fosse acontecer comigo, até eu ver que ficou algo insustentável”, lembra a jovem.
Quais são os problemas causados pela escoliose?
Mas além das dores e impactos na autoestima, outros reflexos dessa deformidade são o maior problema, como explica o médico Adriano Esperidião, especialista em Endoscopia de coluna e Doenças e Deformidades da coluna, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot).
“Quanto maior a deformidade, maior a implicação na compressão de algum órgão interno. Por exemplo, pulmão, coração. Quando esse ângulo é muito agudo ou muito aumentado, aí começa a comprimir. A partir de quarenta graus de angulação, só tem indicação de operar, porque ela vai piorar. Quando opera é possível corrigir a curva e fazer com que ela pare de piorar”, alertou o médico.
Em abril deste ano, já com 55 graus, Fernanda optou por fazer a cirurgia. Ela lembra que as dores intensas foram um dos motivos para em ir busca do procedimento cirúrgico para correção da coluna. Depois de passar pela cirurgia em agosto, com o ortopedista Alexandre Fogaça, em São Paulo, Fernanda celebra por não sentir mais qualquer tipo de dor.
“No começo do ano eu comecei a sentir muito mais dores. Eu tinha dor o dia todo, não aguentava de dor. Tive que parar algumas vezes de dirigir, porque eu estava com dor”, recorda sobre a decisão de optar pela cirurgia.
Ou seja, o tratamento é feito de acordo com a gravidade da deformidade da coluna e varia entre procedimentos não cirúrgicos, como o uso de coletes, os exercícios específicos com fisioterapia e até tratamentos mais invasivos, como cirurgias.
Fisioterapia e escoliose, uma combinação importante
“Dependendo da sintomatologia e do grau da deformidade, a gente sempre tenta o tratamento conservador antes de optar pela operação. No exercício específico pra escoliose, pensando na criança, o fisioterapeuta vai ensinar ela a contrair uma parte da musculatura a alongar outras, junto de fisioterapia, o exercício físico e melhora da postura como um todo”, salientou Fogaça.
A fisioterapeuta e presidente da Associação de Fisioterapeutas do Brasil (AFB), Denise Flavio de Carvalho, ressalta que na busca pelo tratamento é necessário realizar uma avaliação criteriosa das condições de vida da pessoa, como com o que trabalha e como desenvolve suas atividades no dia a dia.
“Dependendo da causa, é possível reduzir ou cessar o desvio através de exercícios específicos, alongamentos, mas há situações que necessitam de intervenção cirúrgica. O acompanhamento com fisioterapeuta poderá ajudar a melhorar a condição do paciente com escoliose, com métodos e técnicas próprias, atividades ligadas à fisioterapia aquática, além de outras que são definidas com base na avaliação individual”, disse.