Nesta terça-feira, 2 de abril, é comemorado o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para dar visibilidade, reduzir o preconceito e promover a inclusão de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA).
TEA é um distúrbio caracterizado por alterações no neurodesenvolvimento que afetam a capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês), a condição afeta 1 em cada 36 crianças no mundo. Estima-se que dois milhões de brasileiros vivem com algum nível de autismo, mas muitos deles ainda não têm diagnóstico.
Há, contudo, muita desinformação a respeito desse tema. É comum encontrar na internet diversas fake news sobre TEA, que prejudicam quem vive com essa condição. De olho nisso, o Estadão esclarece algumas crenças sobre o tema, apontando o que é mito e o que faz sentido. Confira:
“Autismo é doença”
Mito. O transtorno do espectro autista é uma condição de origem genética para a qual não há cura, remédio ou tratamento. Quando se fala em tratamento, ele é direcionado para as comorbidades que podem surgir a partir do quadro, como ansiedade e depressão.
“Autismo é hereditário”
Mito. Apesar de ter origem genética, isso não significa que o TEA seja hereditário.
Segundo o neuropediatra Abram Topczewski, presidente do Núcleo de Orientação para o Transtorno do Espectro Autista (Notea), que atende pessoas com TEA em situação de vulnerabilidade, a condição tem relação com uma mutação genética que independe de parentesco e pode acontecer com qualquer um.
O especialista destaca ainda que, além da causa genética – que é a mais determinante –, há fatores ambientais que podem aumentar as chances de alguém ter TEA. “Uso de álcool, tabaco e drogas durante a gestação, idade avançada do pai e exposição à poluição são alguns deles”, descreve.
“Autismo pode ser causado por falta de afeto”
Mito. Antigamente, chegou-se a cogitar que a falta de afeto materno pudesse ser uma das causas do autismo – essa hipótese ganhou o nome de “teoria da mãe geladeira”. Hoje, contudo, essa relação foi totalmente descartada e considerada sem fundamento científico.
“Existem diferentes graus de autismo”
Verdade. Há três graus de autismo que variam de acordo com a necessidade de suporte do paciente.
No grau 1, a pessoa tem necessidade de suporte; no 2, ela precisa de suporte substancial; e, no 3, de suporte muito substancial.
O nível é determinado no momento da avaliação. Ao longo da vida, dependendo de eventuais desconfortos emocionais, pessoas do nível 2 podem migrar para o nível 3 ou, ainda, para o nível 1.
Importante destacar também que não se usam mais os termos “leve”, “moderado” ou “severo” para categorizar a condição.
“Exames de laboratório ajudam no diagnóstico”
Mito. O diagnóstico do TEA acontece exclusivamente por meio de exames clínicos, de acordo com Topczewski. “Isso acontece através da observação e do monitoramento das etapas de desenvolvimento da criança por um especialista. Portanto, exames laboratoriais, como os de sangue, não têm função”, diz.
Leia Também:
“Adultos podem ser diagnosticados com autismo”
Verdade. Como há diferentes graus de autismo, é possível que a condição passe quase despercebida por anos e só seja confirmada na idade adulta.
“Há tratamento para autismo”
Mito. Como TEA não é uma doença, não há cura ou tratamento para a condição. Em contrapartida, existem terapias capazes de melhorar a qualidade de vida e promover a independência dos pacientes, segundo Topczewski.
“É importante contar com um tratamento psicológico”, destaca o médico. Ele ainda cita a relevância de atividades artísticas, esportes, entre outras. “Além de estimularem o desenvolvimento do paciente, elas podem despertar talentos e elevar a sua autoestima”, justifica.
Em alguns casos, os pacientes com TEA podem se beneficiar de acompanhamentos neurológico ou psiquiátrico. “Há distúrbios relacionados ao TEA, que necessitam acompanhamento profissional, como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo (TOC)”, exemplifica.
“Crianças com autismo devem ser matriculadas em escolas especiais”
Mito. É importante que as crianças com TEA sejam acompanhadas individualmente na escola. Isso não quer dizer, porém, que elas devam frequentar uma escola que só atenda pessoas com transtornos cognitivos — muito pelo contrário.
De acordo com Topczewski, para estimular o desenvolvimento de todas as crianças, e não só daquelas com TEA, é essencial garantir o contato com quem é diferente. “Dessa forma, elas aprendem sobre a realidade e inclusão”, pontua.