Consumo de álcool no Brasil: estudo aponta milhares de mortes e perdas bilionárias


Para pesquisador, há uma normalização cultural do consumo de bebida no País e é preciso adotar novas estratégias, incluindo mais impostos

Por Stefhanie Piovezan
Atualização:

Pesquisas mostram o aumento na ingestão abusiva de bebidas alcoólicas no Brasil. Agora, um novo estudo quantifica os prejuízos do álcool para a saúde de homens e mulheres e seu impacto econômico para o País. Apenas em 2019, até 104,8 mil pessoas morreram em decorrência do consumo de álcool — o equivalente a 12 óbitos por hora — e perdemos até R$ 18,8 bilhões.

Consumo de álcool mata até 90 mil homens por ano no Brasil Foto: Photographee.eu/Adobe Stock

Intitulada Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil, a pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pedido da Vital Strategies e da ACT Promoção da Saúde, e foi conduzida por Eduardo Nilson, pesquisador do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP).

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Para realizar o estudo, Nilson utilizou duas bases de dados. A primeira é a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que parte das respostas dos entrevistados sobre a frequência de consumo de álcool para estimar a média nacional.

A segunda fonte foram as estimativas de consumo de álcool apresentadas no Global status report on alcohol and health, publicado neste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O documento considera os dados do mercado de bebidas alcoólicas para apontar o nível do consumo desses produtos, permitindo comparar a situação de cada País. Por conta dessa duplicidade de bases, há variação nos resultados (veja abaixo).

“Independentemente das estimativas de consumo, a carga epidemiológica e econômica do consumo de bebidas alcoólicas é muito expressiva no País, justificando políticas públicas para seu enfrentamento”, enfatiza Nilson.

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Além dos dados, o relatório traz questões sobre o mercado de bebidas no Brasil, como a facilidade de compra via aplicativos de delivery ou mercados automatizados, mesmo por aqueles que não possuem 18 anos de idade. “Outro ponto relevante em relação a essas novas formas de aquisição é que facilitam também o consumo regular e, eventualmente, excessivo”, comenta o pesquisador.

Para ele, existe uma normalização cultural do consumo de bebidas alcoólicas. Elas estão presentes nas letras das músicas, patrocinam shows e até mesmo eventos esportivos. “Essa normalização é bastante semelhante à que acontecia com o fumo há décadas atrás e, para mudar essa cultura, são necessárias múltiplas estratégias, começando pela maior conscientização da população e trazendo medidas como a taxação das bebidas, a regulação da publicidade e a limitação de horários e locais de venda e consumo”, defende.

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“Questões como o conflito de interesses nos patrocínios de eventos também devem ser enfrentadas”, acrescenta Nilson, explicando que não se trata de uma atuação proibicionista, mas da busca por uma mudança geracional em relação ao consumo de bebida. Nesse sentido, é preciso mais do que colocar no rótulo informações como “proibida para menores” e “beba com moderação” — até porque, ao contrário do propagado no passado, não existe um nível seguro de consumo de álcool.

“Existe um risco aumentado de mortes e custos por acidentes e violências entre os jovens e há custos desproporcionalmente elevados com o tratamento de canceres atribuíveis ao consumo de álcool entre as mulheres. Junto com outros elementos, informações como essas podem ser úteis na comunicação específica com esses grupos, tendo em vista que é neles que o consumo mais tem aumentado”, exemplifica.

Impacto segundo a PNS 2019

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Pelos dados da PNS, é possível atribuir 47,8 mil mortes ao consumo de álcool, com números significativamente maiores para a população masculina (43,1 mil) do que para a feminina (4,7 mil).

Entre os homens, a principal causa de mortes atribuíveis ao álcool foram os acidentes e violências (25,7%), seguidos pelas doenças cardiovasculares (21,4%) e os cânceres (14,0%). Entre as mulheres, o principal fator foram as doenças cardiovasculares (24,0%), seguidas pelos cânceres (24,6%) e acidentes e violências (13,4%).

Em relação aos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com os problemas decorrentes da bebida, a pesquisa indica prejuízos de R$ 10,1 bilhões, sendo:

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  • R$ 394,5 milhões gastos com hospitalizações, principalmente no atendimento de doenças do aparelho digestivo (cirrose e pancreatite) e doenças cardiovasculares;
  • R$ 88,9 milhões gastos com custos ambulatoriais;
  • R$ 9,3 bilhões em perdas para a economia devido às mortes prematuras atribuídas ao álcool;
  • R$ 23,4 milhões em custos previdenciários, considerando licenças médicas e aposentadorias precoces pagas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS);
  • R$ 299,1 milhões perdidos com dias de afastamento por licenças médicas e internações hospitalares.

Impacto a partir dos dados da OMS

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Considerando o documento da OMS, os números são ainda mais alarmantes: foram 104,8 mil mortes (90.028 homens e14.762 mulheres) por causas atribuíveis ao consumo de álcool. Entre os homens, quase metade das mortes atribuíveis foram por doenças cardiovasculares e acidentes e violências. Já entre as mulheres, mais de 60% das mortes tiveram como causa doenças cardiovasculares e cânceres.

Quanto ao prejuízo econômico, o estudo contabiliza R$ 18,8 bilhões em perdas, sendo:

  • R$ 903,4 milhões gastos com hospitalizações;
  • R$ 224 milhões com custos ambulatoriais;
  • R$ 17 bilhões em perdas devido à retirada de indivíduos em idade produtiva do mercado (mortes prematuras);
  • R$ 47,2 milhões em custos previdenciários;
  • R$ 644,3 milhões perdidos com absenteísmo.

Tanto os números obtidos via PNS quanto aqueles calculados a partir da OMS são conservadores, diz Nilson, porque a pesquisa considera apenas os gastos no nível federal. Não entraram na conta os desembolsos dos governos estaduais e municipais, nem o gasto da rede privada de saúde. “Portanto, embora quase R$ 19 bilhões por ano já seja uma cifra extremamente significativa, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira é provavelmente ainda muito maior.”

Para ele, a discussão da reforma tributária torna o momento oportuno para agir e modificar esse cenário. O pesquisador defende a proposta do Ministério da Fazenda de taxar todo o conjunto de bebidas e incluir uma taxação adicional segundo o teor alcoólico. “Assim, além de impactar o consumo de produtos como a cerveja, (o projeto) busca evitar a migração do consumo entre categorias”, comenta. “Por isso, é importante a manutenção da proposta no Senado e, posteriormente, definir alíquotas mais adequadas e efetivas.”

Pesquisas mostram o aumento na ingestão abusiva de bebidas alcoólicas no Brasil. Agora, um novo estudo quantifica os prejuízos do álcool para a saúde de homens e mulheres e seu impacto econômico para o País. Apenas em 2019, até 104,8 mil pessoas morreram em decorrência do consumo de álcool — o equivalente a 12 óbitos por hora — e perdemos até R$ 18,8 bilhões.

Consumo de álcool mata até 90 mil homens por ano no Brasil Foto: Photographee.eu/Adobe Stock

Intitulada Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil, a pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pedido da Vital Strategies e da ACT Promoção da Saúde, e foi conduzida por Eduardo Nilson, pesquisador do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP).

Para realizar o estudo, Nilson utilizou duas bases de dados. A primeira é a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que parte das respostas dos entrevistados sobre a frequência de consumo de álcool para estimar a média nacional.

A segunda fonte foram as estimativas de consumo de álcool apresentadas no Global status report on alcohol and health, publicado neste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O documento considera os dados do mercado de bebidas alcoólicas para apontar o nível do consumo desses produtos, permitindo comparar a situação de cada País. Por conta dessa duplicidade de bases, há variação nos resultados (veja abaixo).

“Independentemente das estimativas de consumo, a carga epidemiológica e econômica do consumo de bebidas alcoólicas é muito expressiva no País, justificando políticas públicas para seu enfrentamento”, enfatiza Nilson.

Além dos dados, o relatório traz questões sobre o mercado de bebidas no Brasil, como a facilidade de compra via aplicativos de delivery ou mercados automatizados, mesmo por aqueles que não possuem 18 anos de idade. “Outro ponto relevante em relação a essas novas formas de aquisição é que facilitam também o consumo regular e, eventualmente, excessivo”, comenta o pesquisador.

Para ele, existe uma normalização cultural do consumo de bebidas alcoólicas. Elas estão presentes nas letras das músicas, patrocinam shows e até mesmo eventos esportivos. “Essa normalização é bastante semelhante à que acontecia com o fumo há décadas atrás e, para mudar essa cultura, são necessárias múltiplas estratégias, começando pela maior conscientização da população e trazendo medidas como a taxação das bebidas, a regulação da publicidade e a limitação de horários e locais de venda e consumo”, defende.

“Questões como o conflito de interesses nos patrocínios de eventos também devem ser enfrentadas”, acrescenta Nilson, explicando que não se trata de uma atuação proibicionista, mas da busca por uma mudança geracional em relação ao consumo de bebida. Nesse sentido, é preciso mais do que colocar no rótulo informações como “proibida para menores” e “beba com moderação” — até porque, ao contrário do propagado no passado, não existe um nível seguro de consumo de álcool.

“Existe um risco aumentado de mortes e custos por acidentes e violências entre os jovens e há custos desproporcionalmente elevados com o tratamento de canceres atribuíveis ao consumo de álcool entre as mulheres. Junto com outros elementos, informações como essas podem ser úteis na comunicação específica com esses grupos, tendo em vista que é neles que o consumo mais tem aumentado”, exemplifica.

Impacto segundo a PNS 2019

Pelos dados da PNS, é possível atribuir 47,8 mil mortes ao consumo de álcool, com números significativamente maiores para a população masculina (43,1 mil) do que para a feminina (4,7 mil).

Entre os homens, a principal causa de mortes atribuíveis ao álcool foram os acidentes e violências (25,7%), seguidos pelas doenças cardiovasculares (21,4%) e os cânceres (14,0%). Entre as mulheres, o principal fator foram as doenças cardiovasculares (24,0%), seguidas pelos cânceres (24,6%) e acidentes e violências (13,4%).

Em relação aos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com os problemas decorrentes da bebida, a pesquisa indica prejuízos de R$ 10,1 bilhões, sendo:

  • R$ 394,5 milhões gastos com hospitalizações, principalmente no atendimento de doenças do aparelho digestivo (cirrose e pancreatite) e doenças cardiovasculares;
  • R$ 88,9 milhões gastos com custos ambulatoriais;
  • R$ 9,3 bilhões em perdas para a economia devido às mortes prematuras atribuídas ao álcool;
  • R$ 23,4 milhões em custos previdenciários, considerando licenças médicas e aposentadorias precoces pagas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS);
  • R$ 299,1 milhões perdidos com dias de afastamento por licenças médicas e internações hospitalares.

Impacto a partir dos dados da OMS

Considerando o documento da OMS, os números são ainda mais alarmantes: foram 104,8 mil mortes (90.028 homens e14.762 mulheres) por causas atribuíveis ao consumo de álcool. Entre os homens, quase metade das mortes atribuíveis foram por doenças cardiovasculares e acidentes e violências. Já entre as mulheres, mais de 60% das mortes tiveram como causa doenças cardiovasculares e cânceres.

Quanto ao prejuízo econômico, o estudo contabiliza R$ 18,8 bilhões em perdas, sendo:

  • R$ 903,4 milhões gastos com hospitalizações;
  • R$ 224 milhões com custos ambulatoriais;
  • R$ 17 bilhões em perdas devido à retirada de indivíduos em idade produtiva do mercado (mortes prematuras);
  • R$ 47,2 milhões em custos previdenciários;
  • R$ 644,3 milhões perdidos com absenteísmo.

Tanto os números obtidos via PNS quanto aqueles calculados a partir da OMS são conservadores, diz Nilson, porque a pesquisa considera apenas os gastos no nível federal. Não entraram na conta os desembolsos dos governos estaduais e municipais, nem o gasto da rede privada de saúde. “Portanto, embora quase R$ 19 bilhões por ano já seja uma cifra extremamente significativa, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira é provavelmente ainda muito maior.”

Para ele, a discussão da reforma tributária torna o momento oportuno para agir e modificar esse cenário. O pesquisador defende a proposta do Ministério da Fazenda de taxar todo o conjunto de bebidas e incluir uma taxação adicional segundo o teor alcoólico. “Assim, além de impactar o consumo de produtos como a cerveja, (o projeto) busca evitar a migração do consumo entre categorias”, comenta. “Por isso, é importante a manutenção da proposta no Senado e, posteriormente, definir alíquotas mais adequadas e efetivas.”

Pesquisas mostram o aumento na ingestão abusiva de bebidas alcoólicas no Brasil. Agora, um novo estudo quantifica os prejuízos do álcool para a saúde de homens e mulheres e seu impacto econômico para o País. Apenas em 2019, até 104,8 mil pessoas morreram em decorrência do consumo de álcool — o equivalente a 12 óbitos por hora — e perdemos até R$ 18,8 bilhões.

Consumo de álcool mata até 90 mil homens por ano no Brasil Foto: Photographee.eu/Adobe Stock

Intitulada Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil, a pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pedido da Vital Strategies e da ACT Promoção da Saúde, e foi conduzida por Eduardo Nilson, pesquisador do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP).

Para realizar o estudo, Nilson utilizou duas bases de dados. A primeira é a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que parte das respostas dos entrevistados sobre a frequência de consumo de álcool para estimar a média nacional.

A segunda fonte foram as estimativas de consumo de álcool apresentadas no Global status report on alcohol and health, publicado neste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O documento considera os dados do mercado de bebidas alcoólicas para apontar o nível do consumo desses produtos, permitindo comparar a situação de cada País. Por conta dessa duplicidade de bases, há variação nos resultados (veja abaixo).

“Independentemente das estimativas de consumo, a carga epidemiológica e econômica do consumo de bebidas alcoólicas é muito expressiva no País, justificando políticas públicas para seu enfrentamento”, enfatiza Nilson.

Além dos dados, o relatório traz questões sobre o mercado de bebidas no Brasil, como a facilidade de compra via aplicativos de delivery ou mercados automatizados, mesmo por aqueles que não possuem 18 anos de idade. “Outro ponto relevante em relação a essas novas formas de aquisição é que facilitam também o consumo regular e, eventualmente, excessivo”, comenta o pesquisador.

Para ele, existe uma normalização cultural do consumo de bebidas alcoólicas. Elas estão presentes nas letras das músicas, patrocinam shows e até mesmo eventos esportivos. “Essa normalização é bastante semelhante à que acontecia com o fumo há décadas atrás e, para mudar essa cultura, são necessárias múltiplas estratégias, começando pela maior conscientização da população e trazendo medidas como a taxação das bebidas, a regulação da publicidade e a limitação de horários e locais de venda e consumo”, defende.

“Questões como o conflito de interesses nos patrocínios de eventos também devem ser enfrentadas”, acrescenta Nilson, explicando que não se trata de uma atuação proibicionista, mas da busca por uma mudança geracional em relação ao consumo de bebida. Nesse sentido, é preciso mais do que colocar no rótulo informações como “proibida para menores” e “beba com moderação” — até porque, ao contrário do propagado no passado, não existe um nível seguro de consumo de álcool.

“Existe um risco aumentado de mortes e custos por acidentes e violências entre os jovens e há custos desproporcionalmente elevados com o tratamento de canceres atribuíveis ao consumo de álcool entre as mulheres. Junto com outros elementos, informações como essas podem ser úteis na comunicação específica com esses grupos, tendo em vista que é neles que o consumo mais tem aumentado”, exemplifica.

Impacto segundo a PNS 2019

Pelos dados da PNS, é possível atribuir 47,8 mil mortes ao consumo de álcool, com números significativamente maiores para a população masculina (43,1 mil) do que para a feminina (4,7 mil).

Entre os homens, a principal causa de mortes atribuíveis ao álcool foram os acidentes e violências (25,7%), seguidos pelas doenças cardiovasculares (21,4%) e os cânceres (14,0%). Entre as mulheres, o principal fator foram as doenças cardiovasculares (24,0%), seguidas pelos cânceres (24,6%) e acidentes e violências (13,4%).

Em relação aos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com os problemas decorrentes da bebida, a pesquisa indica prejuízos de R$ 10,1 bilhões, sendo:

  • R$ 394,5 milhões gastos com hospitalizações, principalmente no atendimento de doenças do aparelho digestivo (cirrose e pancreatite) e doenças cardiovasculares;
  • R$ 88,9 milhões gastos com custos ambulatoriais;
  • R$ 9,3 bilhões em perdas para a economia devido às mortes prematuras atribuídas ao álcool;
  • R$ 23,4 milhões em custos previdenciários, considerando licenças médicas e aposentadorias precoces pagas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS);
  • R$ 299,1 milhões perdidos com dias de afastamento por licenças médicas e internações hospitalares.

Impacto a partir dos dados da OMS

Considerando o documento da OMS, os números são ainda mais alarmantes: foram 104,8 mil mortes (90.028 homens e14.762 mulheres) por causas atribuíveis ao consumo de álcool. Entre os homens, quase metade das mortes atribuíveis foram por doenças cardiovasculares e acidentes e violências. Já entre as mulheres, mais de 60% das mortes tiveram como causa doenças cardiovasculares e cânceres.

Quanto ao prejuízo econômico, o estudo contabiliza R$ 18,8 bilhões em perdas, sendo:

  • R$ 903,4 milhões gastos com hospitalizações;
  • R$ 224 milhões com custos ambulatoriais;
  • R$ 17 bilhões em perdas devido à retirada de indivíduos em idade produtiva do mercado (mortes prematuras);
  • R$ 47,2 milhões em custos previdenciários;
  • R$ 644,3 milhões perdidos com absenteísmo.

Tanto os números obtidos via PNS quanto aqueles calculados a partir da OMS são conservadores, diz Nilson, porque a pesquisa considera apenas os gastos no nível federal. Não entraram na conta os desembolsos dos governos estaduais e municipais, nem o gasto da rede privada de saúde. “Portanto, embora quase R$ 19 bilhões por ano já seja uma cifra extremamente significativa, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira é provavelmente ainda muito maior.”

Para ele, a discussão da reforma tributária torna o momento oportuno para agir e modificar esse cenário. O pesquisador defende a proposta do Ministério da Fazenda de taxar todo o conjunto de bebidas e incluir uma taxação adicional segundo o teor alcoólico. “Assim, além de impactar o consumo de produtos como a cerveja, (o projeto) busca evitar a migração do consumo entre categorias”, comenta. “Por isso, é importante a manutenção da proposta no Senado e, posteriormente, definir alíquotas mais adequadas e efetivas.”

Pesquisas mostram o aumento na ingestão abusiva de bebidas alcoólicas no Brasil. Agora, um novo estudo quantifica os prejuízos do álcool para a saúde de homens e mulheres e seu impacto econômico para o País. Apenas em 2019, até 104,8 mil pessoas morreram em decorrência do consumo de álcool — o equivalente a 12 óbitos por hora — e perdemos até R$ 18,8 bilhões.

Consumo de álcool mata até 90 mil homens por ano no Brasil Foto: Photographee.eu/Adobe Stock

Intitulada Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil, a pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pedido da Vital Strategies e da ACT Promoção da Saúde, e foi conduzida por Eduardo Nilson, pesquisador do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP).

Para realizar o estudo, Nilson utilizou duas bases de dados. A primeira é a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que parte das respostas dos entrevistados sobre a frequência de consumo de álcool para estimar a média nacional.

A segunda fonte foram as estimativas de consumo de álcool apresentadas no Global status report on alcohol and health, publicado neste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O documento considera os dados do mercado de bebidas alcoólicas para apontar o nível do consumo desses produtos, permitindo comparar a situação de cada País. Por conta dessa duplicidade de bases, há variação nos resultados (veja abaixo).

“Independentemente das estimativas de consumo, a carga epidemiológica e econômica do consumo de bebidas alcoólicas é muito expressiva no País, justificando políticas públicas para seu enfrentamento”, enfatiza Nilson.

Além dos dados, o relatório traz questões sobre o mercado de bebidas no Brasil, como a facilidade de compra via aplicativos de delivery ou mercados automatizados, mesmo por aqueles que não possuem 18 anos de idade. “Outro ponto relevante em relação a essas novas formas de aquisição é que facilitam também o consumo regular e, eventualmente, excessivo”, comenta o pesquisador.

Para ele, existe uma normalização cultural do consumo de bebidas alcoólicas. Elas estão presentes nas letras das músicas, patrocinam shows e até mesmo eventos esportivos. “Essa normalização é bastante semelhante à que acontecia com o fumo há décadas atrás e, para mudar essa cultura, são necessárias múltiplas estratégias, começando pela maior conscientização da população e trazendo medidas como a taxação das bebidas, a regulação da publicidade e a limitação de horários e locais de venda e consumo”, defende.

“Questões como o conflito de interesses nos patrocínios de eventos também devem ser enfrentadas”, acrescenta Nilson, explicando que não se trata de uma atuação proibicionista, mas da busca por uma mudança geracional em relação ao consumo de bebida. Nesse sentido, é preciso mais do que colocar no rótulo informações como “proibida para menores” e “beba com moderação” — até porque, ao contrário do propagado no passado, não existe um nível seguro de consumo de álcool.

“Existe um risco aumentado de mortes e custos por acidentes e violências entre os jovens e há custos desproporcionalmente elevados com o tratamento de canceres atribuíveis ao consumo de álcool entre as mulheres. Junto com outros elementos, informações como essas podem ser úteis na comunicação específica com esses grupos, tendo em vista que é neles que o consumo mais tem aumentado”, exemplifica.

Impacto segundo a PNS 2019

Pelos dados da PNS, é possível atribuir 47,8 mil mortes ao consumo de álcool, com números significativamente maiores para a população masculina (43,1 mil) do que para a feminina (4,7 mil).

Entre os homens, a principal causa de mortes atribuíveis ao álcool foram os acidentes e violências (25,7%), seguidos pelas doenças cardiovasculares (21,4%) e os cânceres (14,0%). Entre as mulheres, o principal fator foram as doenças cardiovasculares (24,0%), seguidas pelos cânceres (24,6%) e acidentes e violências (13,4%).

Em relação aos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com os problemas decorrentes da bebida, a pesquisa indica prejuízos de R$ 10,1 bilhões, sendo:

  • R$ 394,5 milhões gastos com hospitalizações, principalmente no atendimento de doenças do aparelho digestivo (cirrose e pancreatite) e doenças cardiovasculares;
  • R$ 88,9 milhões gastos com custos ambulatoriais;
  • R$ 9,3 bilhões em perdas para a economia devido às mortes prematuras atribuídas ao álcool;
  • R$ 23,4 milhões em custos previdenciários, considerando licenças médicas e aposentadorias precoces pagas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS);
  • R$ 299,1 milhões perdidos com dias de afastamento por licenças médicas e internações hospitalares.

Impacto a partir dos dados da OMS

Considerando o documento da OMS, os números são ainda mais alarmantes: foram 104,8 mil mortes (90.028 homens e14.762 mulheres) por causas atribuíveis ao consumo de álcool. Entre os homens, quase metade das mortes atribuíveis foram por doenças cardiovasculares e acidentes e violências. Já entre as mulheres, mais de 60% das mortes tiveram como causa doenças cardiovasculares e cânceres.

Quanto ao prejuízo econômico, o estudo contabiliza R$ 18,8 bilhões em perdas, sendo:

  • R$ 903,4 milhões gastos com hospitalizações;
  • R$ 224 milhões com custos ambulatoriais;
  • R$ 17 bilhões em perdas devido à retirada de indivíduos em idade produtiva do mercado (mortes prematuras);
  • R$ 47,2 milhões em custos previdenciários;
  • R$ 644,3 milhões perdidos com absenteísmo.

Tanto os números obtidos via PNS quanto aqueles calculados a partir da OMS são conservadores, diz Nilson, porque a pesquisa considera apenas os gastos no nível federal. Não entraram na conta os desembolsos dos governos estaduais e municipais, nem o gasto da rede privada de saúde. “Portanto, embora quase R$ 19 bilhões por ano já seja uma cifra extremamente significativa, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira é provavelmente ainda muito maior.”

Para ele, a discussão da reforma tributária torna o momento oportuno para agir e modificar esse cenário. O pesquisador defende a proposta do Ministério da Fazenda de taxar todo o conjunto de bebidas e incluir uma taxação adicional segundo o teor alcoólico. “Assim, além de impactar o consumo de produtos como a cerveja, (o projeto) busca evitar a migração do consumo entre categorias”, comenta. “Por isso, é importante a manutenção da proposta no Senado e, posteriormente, definir alíquotas mais adequadas e efetivas.”

Pesquisas mostram o aumento na ingestão abusiva de bebidas alcoólicas no Brasil. Agora, um novo estudo quantifica os prejuízos do álcool para a saúde de homens e mulheres e seu impacto econômico para o País. Apenas em 2019, até 104,8 mil pessoas morreram em decorrência do consumo de álcool — o equivalente a 12 óbitos por hora — e perdemos até R$ 18,8 bilhões.

Consumo de álcool mata até 90 mil homens por ano no Brasil Foto: Photographee.eu/Adobe Stock

Intitulada Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil, a pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a pedido da Vital Strategies e da ACT Promoção da Saúde, e foi conduzida por Eduardo Nilson, pesquisador do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura da Fiocruz e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP).

Para realizar o estudo, Nilson utilizou duas bases de dados. A primeira é a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que parte das respostas dos entrevistados sobre a frequência de consumo de álcool para estimar a média nacional.

A segunda fonte foram as estimativas de consumo de álcool apresentadas no Global status report on alcohol and health, publicado neste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O documento considera os dados do mercado de bebidas alcoólicas para apontar o nível do consumo desses produtos, permitindo comparar a situação de cada País. Por conta dessa duplicidade de bases, há variação nos resultados (veja abaixo).

“Independentemente das estimativas de consumo, a carga epidemiológica e econômica do consumo de bebidas alcoólicas é muito expressiva no País, justificando políticas públicas para seu enfrentamento”, enfatiza Nilson.

Além dos dados, o relatório traz questões sobre o mercado de bebidas no Brasil, como a facilidade de compra via aplicativos de delivery ou mercados automatizados, mesmo por aqueles que não possuem 18 anos de idade. “Outro ponto relevante em relação a essas novas formas de aquisição é que facilitam também o consumo regular e, eventualmente, excessivo”, comenta o pesquisador.

Para ele, existe uma normalização cultural do consumo de bebidas alcoólicas. Elas estão presentes nas letras das músicas, patrocinam shows e até mesmo eventos esportivos. “Essa normalização é bastante semelhante à que acontecia com o fumo há décadas atrás e, para mudar essa cultura, são necessárias múltiplas estratégias, começando pela maior conscientização da população e trazendo medidas como a taxação das bebidas, a regulação da publicidade e a limitação de horários e locais de venda e consumo”, defende.

“Questões como o conflito de interesses nos patrocínios de eventos também devem ser enfrentadas”, acrescenta Nilson, explicando que não se trata de uma atuação proibicionista, mas da busca por uma mudança geracional em relação ao consumo de bebida. Nesse sentido, é preciso mais do que colocar no rótulo informações como “proibida para menores” e “beba com moderação” — até porque, ao contrário do propagado no passado, não existe um nível seguro de consumo de álcool.

“Existe um risco aumentado de mortes e custos por acidentes e violências entre os jovens e há custos desproporcionalmente elevados com o tratamento de canceres atribuíveis ao consumo de álcool entre as mulheres. Junto com outros elementos, informações como essas podem ser úteis na comunicação específica com esses grupos, tendo em vista que é neles que o consumo mais tem aumentado”, exemplifica.

Impacto segundo a PNS 2019

Pelos dados da PNS, é possível atribuir 47,8 mil mortes ao consumo de álcool, com números significativamente maiores para a população masculina (43,1 mil) do que para a feminina (4,7 mil).

Entre os homens, a principal causa de mortes atribuíveis ao álcool foram os acidentes e violências (25,7%), seguidos pelas doenças cardiovasculares (21,4%) e os cânceres (14,0%). Entre as mulheres, o principal fator foram as doenças cardiovasculares (24,0%), seguidas pelos cânceres (24,6%) e acidentes e violências (13,4%).

Em relação aos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com os problemas decorrentes da bebida, a pesquisa indica prejuízos de R$ 10,1 bilhões, sendo:

  • R$ 394,5 milhões gastos com hospitalizações, principalmente no atendimento de doenças do aparelho digestivo (cirrose e pancreatite) e doenças cardiovasculares;
  • R$ 88,9 milhões gastos com custos ambulatoriais;
  • R$ 9,3 bilhões em perdas para a economia devido às mortes prematuras atribuídas ao álcool;
  • R$ 23,4 milhões em custos previdenciários, considerando licenças médicas e aposentadorias precoces pagas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS);
  • R$ 299,1 milhões perdidos com dias de afastamento por licenças médicas e internações hospitalares.

Impacto a partir dos dados da OMS

Considerando o documento da OMS, os números são ainda mais alarmantes: foram 104,8 mil mortes (90.028 homens e14.762 mulheres) por causas atribuíveis ao consumo de álcool. Entre os homens, quase metade das mortes atribuíveis foram por doenças cardiovasculares e acidentes e violências. Já entre as mulheres, mais de 60% das mortes tiveram como causa doenças cardiovasculares e cânceres.

Quanto ao prejuízo econômico, o estudo contabiliza R$ 18,8 bilhões em perdas, sendo:

  • R$ 903,4 milhões gastos com hospitalizações;
  • R$ 224 milhões com custos ambulatoriais;
  • R$ 17 bilhões em perdas devido à retirada de indivíduos em idade produtiva do mercado (mortes prematuras);
  • R$ 47,2 milhões em custos previdenciários;
  • R$ 644,3 milhões perdidos com absenteísmo.

Tanto os números obtidos via PNS quanto aqueles calculados a partir da OMS são conservadores, diz Nilson, porque a pesquisa considera apenas os gastos no nível federal. Não entraram na conta os desembolsos dos governos estaduais e municipais, nem o gasto da rede privada de saúde. “Portanto, embora quase R$ 19 bilhões por ano já seja uma cifra extremamente significativa, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira é provavelmente ainda muito maior.”

Para ele, a discussão da reforma tributária torna o momento oportuno para agir e modificar esse cenário. O pesquisador defende a proposta do Ministério da Fazenda de taxar todo o conjunto de bebidas e incluir uma taxação adicional segundo o teor alcoólico. “Assim, além de impactar o consumo de produtos como a cerveja, (o projeto) busca evitar a migração do consumo entre categorias”, comenta. “Por isso, é importante a manutenção da proposta no Senado e, posteriormente, definir alíquotas mais adequadas e efetivas.”

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