A combinação entre churrasco e cerveja pode ser a favorita de muitas pessoas que acompanham aos jogos da Copa do Mundo. Sem falar nos petiscos, como salgadinhos, frituras e alimentos embutidos. No entanto, é preciso cuidado com esse tipo de combinação, que pode sobrecarregar o fígado e trazer complicações ao órgão.
De acordo com Anderson Brito, médico hepatologista do Hospital Adventista Silvestre do Rio de Janeiro, o fígado tem papel fundamental para o bom funcionamento do organismo. “Ele é como se fosse uma porta de entrada”, exemplifica. “Qualquer substância ou alimento que entre pelo tubo gastrointestinal passa pelo fígado”, diz. A partir disso, o órgão começa seu trabalho de metabolização. Isso significa que ele quebra determinadas substâncias e as transforma em outras menos nocivas, o que facilita a excreção delas pelo organismo.
Ele também é responsável por armazenar nutrientes e energia. “Quando a gente entra em jejum, o primeiro lugar onde nosso corpo vai buscar energia é no fígado”, explica. Por isso, para garantir o bom desempenho de tantas funções essenciais ao corpo humano, é importante estar atento ao consumo de bebidas alcoólicas e a alimentação – seja durante a Copa do Mundo ou mesmo quando o campeonato não acontece.
Consumo de álcool
O consumo de bebidas alcoólicas costuma acompanhar os torcedores durante as partidas de futebol. O problema é que esse consumo é feito em grande quantidade e em um curto intervalo de tempo. E isso pode sobrecarregar o funcionamento do órgão. “O fígado tem uma taxa de metabolismo de cerca de 20 gramas de álcool por hora. Você já consumiu mais do que o fígado é capaz de metabolizar quando bebe uma lata de cerveja”, revela o médico.
Há outro agravante nesse processo. Durante a metabolização, o fígado passa por duas etapas até transformar o álcool em uma substância que não seja nociva. No entanto, entre uma etapa e outra, uma outra substância ainda mais tóxica que o álcool é produzida: o acetaldeído. Isso é resultado da tentativa do fígado de eliminar o álcool, mas existe esse efeito adverso.
“Se a pessoa não estivesse bebendo em uma velocidade tão grande, daria tempo de todo o acetaldeído ser transformado em acetato, que não é mais uma substância tóxica”, pondera o médico. “Só que o consumo é muito rápido e em quantidade muito grande, que o fígado não dá conta de metabolizar isso em tempo.”
É dessa exposição ao acetaldeído que os sintomas da ressaca aparecem. As náuseas e o enjoo, por exemplo, surgem porque essa substância tóxica diminui a motilidade do intestino. As dores de cabeça são resultados do efeito da substância no sistema nervoso. O sono também é afetado. “A pessoa não consegue ter um sono reparador. Ela acorda com a sensação de que ainda está cansada”, diz.
Esses são efeitos passageiros, mas o médico alerta que o uso constante pode trazer consequências mais graves. “Quando o uso do álcool é feito de forma crônica, pode ser um fator para maiores complicações, como aparecimento do câncer”, afirma.
Por isso, a recomendação do médico é que o consumo de bebidas alcoólicas seja feito com cautela, sobretudo durante os jogos da Copa do Mundo. E sempre acompanhado da ingestão de água, que ajuda na hidratação.
Alimentação
Durante esses eventos, a alimentação costuma ser pobre em nutrientes e rica em gorduras e açúcares. E o fígado de uma pessoa saudável até costuma lidar bem com essas situações quando elas acontecem de forma pontual. “Você não vai ter uma hepatite alimentar ou uma inflamação por conta da alimentação ruim desse período.”
O problema está entre aquelas pessoas que possuem gordura no fígado. “A estimativa é que entre 20% e 40% dos brasileiros têm doença hepática gordurosa metabólica”, afirma. Essa é uma doença que está associada a fatores como sobrepeso, sedentarismo, diabetes e altos níveis de colesterol.
Mas há tratamento, que incluiu evitar esses tipos de alimentos típicos da Copa do Mundo. “Essas pessoas vão precisar de uma dieta mais regrada, principalmente no consumo de gorduras e de carboidratos, além da atividade física.”
O acúmulo crônico da gordura leva a uma inflamação do fígado. “É como um corte na pele, que inflama e forma uma cicatriz”, relata. Essa inflamação gera uma série de cicatrizes no órgão, que alteram o formato e endurecem o fígado. “Esse é o processo final de cirrose fígado”, explica. Na maioria das vezes, o paciente não sente nada e o quadro é irreversível. Por isso, nos casos em que o paciente não consegue reduzir a quantidade de gordura no fígado por mudanças alimentares e comportamentais, a saída é o transplante.
Opções de lanches saudáveis para a hora do jogo
“Muitas vezes as pessoas se empolgam e compram muitos petiscos ultraprocessados, com alto teor de gorduras saturadas, açúcares e sal”, explica Ana Cristina Cabral, nutricionista e docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Por isso, ela indica opções de lanches para a hora do jogo que, além de serem mais saudáveis, podem evitar complicações ao fígado.
- Chips de batata. Corte as batatas em rodelas bem finas, tempere com sal e leve para assar no forno. Você pode usar diferentes tipos de batata, como a inglesa e a doce, ou optar pela mandioquinha.
- Mix de oleaginosas. Pode ser com castanhas, amêndoas e nozes, por exemplo. “São alimentos ricos em nutrientes, com gorduras boas e que contribuem para a saúde cardiovascular”, explica.
- Frutas desidratadas. Essas são opções ricas em fibras e antioxidantes. A nutricionista recomenda uva passa, tâmara e damasco – de preferência sem adição de açúcar. Você também pode misturar as frutas desidratadas com o mix de oleaginosas.
- Patê acompanhado de legumes. A recomendação é fazer patês à base de ricota e cortar legumes, como pepino e cenoura, em formato de palito. Você também pode misturar os legumes no próprio patê.
- Mandioquinha em palito. Corte as mandioquinhas em formato de palito, empane com farinha de milho e leve ao forno. Quando estiverem prontas, sirva acompanhadas de uma maionese caseira feita com castanha, coentro, salsinha, azeite e limão.
- Pipoca. Essa é uma ótima opção de lanche simples e rápido de ser feito. Porém, Ana ressalta que ela deve ser feita com milho e óleo em uma panela ao invés das pipocas de micro-ondas, que costumam ter uma gordura hidrogenada adicionada ao milho.