Para esclarecer a população sobre o uso da vacina Oxford-AstraZeneca contra a covid-19, o Ministério da Saúde divulgou na quinta-feira, 13, informações sobre a recomendação vigente. Conforme a pasta, desde dezembro do ano passado, a vacina é indicada para pessoas a partir de 40 anos, de acordo com as evidências científicas mais recentes. Ou seja, ela permanece sendo aplicada no País.
A recomendação é reforçada após a circulação de notícias falsas em redes sociais dizendo que uma nota técnica do Ministério da Saúde, divulgada em dezembro de 2022, informava que o imunizante teria causado trombose em pessoas na faixa etária acima de 40 anos, principalmente entre as mulheres, e por isso, não seria mais autorizada sua aplicação.
“O Ministério da Saúde reforça que todas as vacinas ofertadas à população são seguras, eficazes e aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As estratégias de vacinação no Brasil, assim como os imunizantes indicados para cada público, levam em consideração o avanço tecnológico do setor e novas evidências científicas sobre o tema, sempre discutidos no âmbito da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações (CTAI)”, disse em comunicado.
Conforme a pasta, a vacina Oxford-AstraZeneca, desenvolvida no início da pandemia e produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi “extremamente importante” para o controle dos casos e redução de óbitos por covid-19 no País e no mundo.
No mesmo dia, a Anvisa também esclareceu que nenhuma das vacinas contra a covid-19 aprovadas pela agência reguladora foi proibida ou desautorizada. “Sobre a vacina da Oxford-AstraZeneca, é importante esclarecer que a vacina está registrada no Brasil. Com isso, está autorizada para uso no País dentro das condições e indicações aprovadas pela Anvisa”, disse.
“Com o surgimento de novas variantes, com a evolução tecnológica e com o avanço do conhecimento sobre a doença, é perfeitamente normal que algumas das vacinas da primeira geração aplicadas anteriormente sejam substituídas por outros imunizantes, como acontece com outras vacinas atualizadas regularmente”, acrescentou em nota.
Segundo a Anvisa, o papel da agência é analisar os pedidos apresentados pelas empresas farmacêuticas a fim de verificar se os dados e informações técnicas garantem a eficácia, segurança e qualidade das vacinas e de qualquer outro medicamento autorizado no País.
“Como parte do monitoramento pós-uso da vacina no Brasil, a Anvisa solicitou, em abril de 2021, a alteração da bula da vacina Oxford-AstraZeneca para incluir no item ‘advertência e precauções’ possíveis ocorrências tromboembólicas com trombocitopenia. Todos os eventos adversos conhecidos estão descritos em bula”, afirmou a Anvisa.
Renato Kfouri, infectologista representante do Brasil na Organização Mundial da Saúde (OMS) e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), lembra que a recomendação se baseou em decisão da Câmara Técnica do Programa Nacional de Imunizações, frente às evidências de que já precisaria reforçar os grupos prioritários com a vacina de RNA mensageiro e de que existia um risco, há muito tempo conhecido, de efeitos trombóticos das vacinas de vetor viral especialmente em jovens. Ou seja, quem está no esquema primário acima de 40 anos pode receber a vacina da Oxford-AstraZeneca.
“Quando você tem muitos casos de doenças, mesmo que haja algum risco raro de alguma vacina ter efeito colateral, você continua utilizando a vacina, como é o caso da vacina da febre amarela. Porque você sabe que o benefício da vacinação, com número de casos prevenidos da doença, mortes e sequelas, é muito maior do que os raríssimos efeitos colaterais. Quando a doença vai desaparecendo e sendo controlada, é normal que seja feita uma reavaliação de riscos e benefícios com relação ao uso da vacina”, afirma Kfouri.
Ana Karolina Barreto Marinho, membro do departamento científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), destaca que a decisão do Ministério da Saúde para atualizar a recomendação do uso da vacina Oxford-AstraZeneca partiu do princípio de avaliação de dados de eficácia e segurança da vacinação no Brasil e no mundo.
“Também a partir de alguns casos de eventos de trombose do sistema nervoso central, ocorridos em pessoas do Brasil e do mundo, e casos, embora muito raros, que aconteceram depois da vacina de vetor viral, principalmente em mulheres na faixa etária de 37 anos. Com a atualização de dados, apesar da segurança da vacina estar bem estabelecida, por precaução, o ministério optou por recomendar a vacina da Oxford-AstraZeneca para pessoas acima de 40 anos que não iniciaram seu esquema de vacinação, ou seja, ainda não completaram a série primária”, afirma Ana Karolina.
Ainda de acordo com ela, a vacina da Oxford-AstraZeneca não é contraindicada para pessoas entre 18 e 39 anos, é apenas uma recomendação que, preferencialmente, pessoas nesta faixa etária usem vacinas de outras plataformas como inativadas, Coronavac, ou RNA mensageiro, da Pfizer. “O risco da gravidade da doença para pessoas não vacinadas é muito superior a um eventual risco adverso raro como a trombose trombocitopênica induzida por vacina”, disse.
O atual cenário da covid-19 no País, com redução de casos graves e óbitos pela doença, é resultado da população vacinada. “Os eventos adversos, inerentes a qualquer medicamento ou imunizante, são raros e ocorrem, em média, um a cada 100 mil doses aplicadas, apresentando risco significantemente inferior ao de complicações causadas pela infecção pela doença”, disse o ministério.
Atualmente, todas as pessoas acima de seis meses podem se vacinar contra a covid-19, de acordo com os imunizantes recomendados e as doses indicadas para cada faixa etária.
Vacina bivalente
Parte da população está recebendo a vacina bivalente, que protege também contra as subvariantes da cepa Ômicron do vírus. “O público prioritário, que são aqueles com maior risco de evoluir para casos graves da doença, desde fevereiro, devem receber a dose de reforço com a vacina bivalente”, acrescentou.
Fazem parte do grupo: idosos a partir de 60 anos, pessoas que vivem e trabalham em instituições de longa permanência, imunossuprimidos, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, gestantes e puérperas, pessoas com deficiência, entre outros.
“As vacinas monovalentes continuam disponíveis para os demais grupos e são igualmente seguras e eficazes”, afirma o ministério, que lançou, recentemente, o Movimento Nacional pela Vacinação para resgatar na população a confiança nas vacinas.