Crianças devem comer o que você oferece ou só o que elas querem? Nem uma coisa nem outra


Especialistas dão dicas de como pais e mães podem ajudar seus filhos a ter um relacionamento saudável com a comida

Por Elizabeth Chang

THE WASHINGTON POST - Quando a usuária do TikTok Buggystops Kitchen postou em julho um vídeo dos cardápios individualizados que ela oferece a seus filhos – cada página só com algumas opções para café da manhã, almoço e jantar que ela sabe que cada criança gosta – causou bastante furor. Os espectadores assistiram ao vídeo mais de 500 mil vezes e escreveram mais de 950 comentários refletindo sobre o debate: as crianças devem comer o que é colocado na frente delas ou têm permissão para escolher sua comida?

Alguns usuários ficaram horrorizados: “Meus filhos comem o que eu sirvo. Não sou chef nem dono de restaurante”, escreveu um. Outros ficaram impressionados, acrescentando comentários como: “Sinto que isso é uma vitória para todo mundo. As crianças sentem que têm poder de escolha, você sabe que elas vão comer, a decisão do que fazer está feita. Genial”.

Em seu blog, a mãe de sete filhos (que não respondeu a vários pedidos por e-mail para comentar os cardápios) explicou que criou o sistema porque estava cansada de jogar comida fora e não gostava de forçar os filhos a comer refeições que eles não querem comer. Os cardápios, escreveu ela, funcionavam como mágica. “Chega de comida desperdiçada. Chega de lágrimas na hora de comer alimentos de que não gostavam ou simplesmente não estavam com vontade. Chega de dar comida para o cachorro debaixo da mesa. Chega de aborrecimento para mim.”

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Mas, quando se trata de alimentar crianças, não precisa ser uma situação em que “ou você atende totalmente seus filhos ou os faz comer de um jeito ou de outro”, disse Anne Fishel, terapeuta familiar, professora associada de Harvard e cofundadora do Family Dinner Project, uma organização sem fins lucrativos que promove refeições em família, as quais décadas de pesquisa mostraram que podem beneficiar a saúde física e psicológica das crianças.

Alimentar a família é uma tarefa difícil. E, em alguns casos, os pais e mães precisam fornecer menus diferentes para crianças com alergias ou sensibilidades alimentares, ou para aquelas no espectro do autismo. “Mas, para a grande maioria das crianças, estamos falando só de preferências individuais”, disse Anne Fishel. “E acho que existem maneiras pelas quais as famílias podem atender essas preferências sem transformar a cozinha num restaurante.”

Ao encontrar esse caminho do meio, pais e mães podem ajudar seus filhos a ter um relacionamento saudável com a comida, disse Anne Fishel. Aqui vão algumas maneiras de enfrentar a hora das refeições e encontrar um bom equilíbrio.

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Refeições em família são importantes

Anne Fishel reconheceu que o impulso de alimentar as crianças com o que elas desejam é compreensível. “Pais e mães querem deixar os filhos felizes, e dar a eles a comida que eles gostam de comer é uma maneira muito gratificante de fazer isso”, disse ela. Mas uma de suas maiores preocupações é que fazer refeições individuais consome muito tempo e energia.

“É difícil juntar a família, mesmo que muitas pessoas concordem que as refeições em família são muito importantes”, concordou Blake Jones, professor associado e psicólogo do desenvolvimento da Universidade Brigham Young, que se concentra em questões de saúde. Uma revisão de 2015 de pesquisas descobriu que a frequência relatada de refeições em família por semana variou de cerca de 33% das refeições para cerca de 61%. (Há algumas evidências de que a pandemia aumentou esse número.)

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Pesquisas descobriram benefícios físicos e psicológicos para crianças cujas famílias comem juntas. Um estudo concluiu que crianças e adolescentes que comem com a família três ou mais vezes por semana têm dietas e pesos mais saudáveis do que os que compartilham menos de três refeições por semana.

Outro determinou que refeições familiares frequentes melhoram a saúde mental dos adolescentes. Uma revisão de estudos anteriores sugeriu que as refeições familiares frequentes deixavam os adolescentes menos propensos a comportamentos de risco. Até os adultos podem se beneficiar emocionalmente das refeições em família.

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Comer juntos não precisa ser um evento longo e formal. Uma pesquisa liderada pela psicóloga e especialista em desenvolvimento familiar Barbara Fiese descobriu que a refeição familiar benéfica média durava apenas cerca de 18 a 20 minutos. “É muito pouco tempo para estar associado a todos esses benefícios”, disse Jones. “Então não é só comer junto. Talvez seja o que as pessoas fazem durante a refeição.”

Foco na alimentação competente

Uma coisa que os pais e mães devem fazer durante as refeições em família é ter uma visão de longo prazo, de acordo com a nutricionista e terapeuta familiar Ellyn Satter. “Ao alimentar as crianças, o objetivo não é enfiar comida nelas hoje”, disse Ellyn. “O objetivo é ajudá-las a aprender atitudes e comportamentos alimentares positivos para a vida toda.”

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Ellyn define a competência alimentar como a “capacidade de uma criança chegar a uma refeição e examiná-la sem surtar, escolhendo o que está disponível e comendo o quanto quiser da comida que colocaram na sua frente”.

Comedores competentes se tornam adultos que fazem refeições regulares, consomem uma variedade de alimentos e se sentem relaxados ao comer, disse Ellyn Satter. “Eles geralmente têm atitudes positivas em relação à alimentação, em oposição a essa negatividade, ‘Oh, eu não posso fazer isso ou aquilo’”. Estudos também mostram que eles têm dietas de alta qualidade.

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Por outro lado, quando os pais e mães satisfazem o paladar limitado da criança, “essa criança cresce comendo a mesma variedade de alimentos com que começou”, disse Ellyn. “Além disso, tem medo da comida que existe por aí.” A pesquisa mostrou que os exigentes não comem de forma tão saudável e têm mais fobias sociais do que os não exigentes.

Ellyn aconselha os pais e mães que desejam criar comedores competentes a seguir sua Divisão de Responsabilidade na Alimentação, que diz que os pais e mães são responsáveis pelo que, quando e onde os alimentos são fornecidos. A criança é responsável pelo quanto e pelo se comem.

Dê opções, sem fazer um bufê

Mas os pais e mães ainda precisam considerar os gostos da criança ao fornecer a refeição. “Parte do trabalho dos pais e mães é considerar a experiência limitada da criança com comida”, disse Ellyn Satter. Quando um pai ou mãe planeja um cardápio, deve sempre incluir “um ou dois alimentos que a criança aceita prontamente ou normalmente come e gosta’. Então, se a criança chega à mesa e vê um monte de comida desconhecida, ela também verá algo que sabe que gosta. E se a criança não come, você pede para ela ficar com você na mesa para aproveitar os outros benefícios do jantar em família.

Jantares em família são mais do que simplesmente compartilhar refeições Foto: Pablo Merchan/Unsplash.com

Ao servir alimentos que a criança nunca viu antes, “você dá a ela a chance de se familiarizar com a comida, de experimentar, de ver alguém comendo. E é assim que o paladar se expande”, disse Anne Fishel. E se a criança recusar? “Não é o fim do mundo a criança por uma noite não querer comer tudo o que está em oferta porque tem alguns alimentos de que ela não gosta”, disse ela. Afinal, esses alimentos podem ser servidos com algo que a criança adora outra noite. “Não acho que você deva se sentir culpado por passar essa lição de vida”.

E existem maneiras de reconhecer os gostos individuais e ao mesmo tempo transmitir a mensagem de que “ainda somos uma família comendo junto”, disse Anne Fishel. Por exemplo, as famílias podem servir uma refeição, como tacos ou macarrão com queijo, que pode ser personalizada com molhos e acompanhamentos.

Deixe as crianças se servirem

Compartilhar comida do mesmo prato de servir (estilo familiar) aumentou a cooperação entre amigos e desconhecidos, de acordo com um estudo de Kaitlin Woolley e Ayelet Fishbach. Embora o estudo não tenha incluído famílias, “é bastante provável que os mesmos princípios sejam válidos nesse contexto”, disse Fishbach.

Cooperação à parte, servir refeições em estilo familiar traz outros benefícios. Ao deixar seus filhos se servirem, disse Jones, “você está ensinando à criança: ‘Ok, pegue um pouco e veja como você se sente, depois, se você quiser mais, pode pegar’”. Isso ajuda as crianças a desenvolver autonomia e aprender a reconhecer os sinais de saciedade.

Ellyn Satter também deu conselhos sobre a sobremesa: “Coloque uma porção de sobremesa em cada lugar da mesa quando você colocar a mesa. E deixe todo mundo comer quando quiser. Antes, durante ou depois da refeição”.

Por quê? Porque quando “usamos a sobremesa como alavanca para fazer as crianças comerem seus legumes, você as está ensinando a comer demais duas vezes: uma vez para comer os vegetais quando eles não querem, e depois para comer a sobremesa quando elas estão cheias de legumes”. Você também está ensinando aos seus filhos que a sobremesa é a única parte valiosa da refeição. “Toda vez que você usa um alimento como recompensa, esse alimento se torna o preferido.”

Não faça da comida a peça central das refeições em família

Isso parece meio contra intuitivo, mas na verdade o jantar em família não tem a ver com comida. Anne Fishel sugere promover uma atitude que diga às crianças: “Teremos uma variedade de comida na mesa. Coma o que quiser. Não vamos falar muito sobre isso. Vamos falar sobre o dia e as notícias e o que vamos fazer no fim de semana”.

O que quer que você sirva aos seus filhos, seja a mesma refeição ou um monte de refeições individuais, o foco deve estar no ambiente ao redor da mesa. “São crianças sentindo que podem falar e que as pessoas querem ouvir o que elas têm a dizer”, disse Anne. “É uma atmosfera calorosa e acolhedora que realmente traz os benefícios para a saúde mental e os benefícios cognitivos e os benefícios nutricionais.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST - Quando a usuária do TikTok Buggystops Kitchen postou em julho um vídeo dos cardápios individualizados que ela oferece a seus filhos – cada página só com algumas opções para café da manhã, almoço e jantar que ela sabe que cada criança gosta – causou bastante furor. Os espectadores assistiram ao vídeo mais de 500 mil vezes e escreveram mais de 950 comentários refletindo sobre o debate: as crianças devem comer o que é colocado na frente delas ou têm permissão para escolher sua comida?

Alguns usuários ficaram horrorizados: “Meus filhos comem o que eu sirvo. Não sou chef nem dono de restaurante”, escreveu um. Outros ficaram impressionados, acrescentando comentários como: “Sinto que isso é uma vitória para todo mundo. As crianças sentem que têm poder de escolha, você sabe que elas vão comer, a decisão do que fazer está feita. Genial”.

Em seu blog, a mãe de sete filhos (que não respondeu a vários pedidos por e-mail para comentar os cardápios) explicou que criou o sistema porque estava cansada de jogar comida fora e não gostava de forçar os filhos a comer refeições que eles não querem comer. Os cardápios, escreveu ela, funcionavam como mágica. “Chega de comida desperdiçada. Chega de lágrimas na hora de comer alimentos de que não gostavam ou simplesmente não estavam com vontade. Chega de dar comida para o cachorro debaixo da mesa. Chega de aborrecimento para mim.”

Mas, quando se trata de alimentar crianças, não precisa ser uma situação em que “ou você atende totalmente seus filhos ou os faz comer de um jeito ou de outro”, disse Anne Fishel, terapeuta familiar, professora associada de Harvard e cofundadora do Family Dinner Project, uma organização sem fins lucrativos que promove refeições em família, as quais décadas de pesquisa mostraram que podem beneficiar a saúde física e psicológica das crianças.

Alimentar a família é uma tarefa difícil. E, em alguns casos, os pais e mães precisam fornecer menus diferentes para crianças com alergias ou sensibilidades alimentares, ou para aquelas no espectro do autismo. “Mas, para a grande maioria das crianças, estamos falando só de preferências individuais”, disse Anne Fishel. “E acho que existem maneiras pelas quais as famílias podem atender essas preferências sem transformar a cozinha num restaurante.”

Ao encontrar esse caminho do meio, pais e mães podem ajudar seus filhos a ter um relacionamento saudável com a comida, disse Anne Fishel. Aqui vão algumas maneiras de enfrentar a hora das refeições e encontrar um bom equilíbrio.

Refeições em família são importantes

Anne Fishel reconheceu que o impulso de alimentar as crianças com o que elas desejam é compreensível. “Pais e mães querem deixar os filhos felizes, e dar a eles a comida que eles gostam de comer é uma maneira muito gratificante de fazer isso”, disse ela. Mas uma de suas maiores preocupações é que fazer refeições individuais consome muito tempo e energia.

“É difícil juntar a família, mesmo que muitas pessoas concordem que as refeições em família são muito importantes”, concordou Blake Jones, professor associado e psicólogo do desenvolvimento da Universidade Brigham Young, que se concentra em questões de saúde. Uma revisão de 2015 de pesquisas descobriu que a frequência relatada de refeições em família por semana variou de cerca de 33% das refeições para cerca de 61%. (Há algumas evidências de que a pandemia aumentou esse número.)

Pesquisas descobriram benefícios físicos e psicológicos para crianças cujas famílias comem juntas. Um estudo concluiu que crianças e adolescentes que comem com a família três ou mais vezes por semana têm dietas e pesos mais saudáveis do que os que compartilham menos de três refeições por semana.

Outro determinou que refeições familiares frequentes melhoram a saúde mental dos adolescentes. Uma revisão de estudos anteriores sugeriu que as refeições familiares frequentes deixavam os adolescentes menos propensos a comportamentos de risco. Até os adultos podem se beneficiar emocionalmente das refeições em família.

Comer juntos não precisa ser um evento longo e formal. Uma pesquisa liderada pela psicóloga e especialista em desenvolvimento familiar Barbara Fiese descobriu que a refeição familiar benéfica média durava apenas cerca de 18 a 20 minutos. “É muito pouco tempo para estar associado a todos esses benefícios”, disse Jones. “Então não é só comer junto. Talvez seja o que as pessoas fazem durante a refeição.”

Foco na alimentação competente

Uma coisa que os pais e mães devem fazer durante as refeições em família é ter uma visão de longo prazo, de acordo com a nutricionista e terapeuta familiar Ellyn Satter. “Ao alimentar as crianças, o objetivo não é enfiar comida nelas hoje”, disse Ellyn. “O objetivo é ajudá-las a aprender atitudes e comportamentos alimentares positivos para a vida toda.”

Ellyn define a competência alimentar como a “capacidade de uma criança chegar a uma refeição e examiná-la sem surtar, escolhendo o que está disponível e comendo o quanto quiser da comida que colocaram na sua frente”.

Comedores competentes se tornam adultos que fazem refeições regulares, consomem uma variedade de alimentos e se sentem relaxados ao comer, disse Ellyn Satter. “Eles geralmente têm atitudes positivas em relação à alimentação, em oposição a essa negatividade, ‘Oh, eu não posso fazer isso ou aquilo’”. Estudos também mostram que eles têm dietas de alta qualidade.

Por outro lado, quando os pais e mães satisfazem o paladar limitado da criança, “essa criança cresce comendo a mesma variedade de alimentos com que começou”, disse Ellyn. “Além disso, tem medo da comida que existe por aí.” A pesquisa mostrou que os exigentes não comem de forma tão saudável e têm mais fobias sociais do que os não exigentes.

Ellyn aconselha os pais e mães que desejam criar comedores competentes a seguir sua Divisão de Responsabilidade na Alimentação, que diz que os pais e mães são responsáveis pelo que, quando e onde os alimentos são fornecidos. A criança é responsável pelo quanto e pelo se comem.

Dê opções, sem fazer um bufê

Mas os pais e mães ainda precisam considerar os gostos da criança ao fornecer a refeição. “Parte do trabalho dos pais e mães é considerar a experiência limitada da criança com comida”, disse Ellyn Satter. Quando um pai ou mãe planeja um cardápio, deve sempre incluir “um ou dois alimentos que a criança aceita prontamente ou normalmente come e gosta’. Então, se a criança chega à mesa e vê um monte de comida desconhecida, ela também verá algo que sabe que gosta. E se a criança não come, você pede para ela ficar com você na mesa para aproveitar os outros benefícios do jantar em família.

Jantares em família são mais do que simplesmente compartilhar refeições Foto: Pablo Merchan/Unsplash.com

Ao servir alimentos que a criança nunca viu antes, “você dá a ela a chance de se familiarizar com a comida, de experimentar, de ver alguém comendo. E é assim que o paladar se expande”, disse Anne Fishel. E se a criança recusar? “Não é o fim do mundo a criança por uma noite não querer comer tudo o que está em oferta porque tem alguns alimentos de que ela não gosta”, disse ela. Afinal, esses alimentos podem ser servidos com algo que a criança adora outra noite. “Não acho que você deva se sentir culpado por passar essa lição de vida”.

E existem maneiras de reconhecer os gostos individuais e ao mesmo tempo transmitir a mensagem de que “ainda somos uma família comendo junto”, disse Anne Fishel. Por exemplo, as famílias podem servir uma refeição, como tacos ou macarrão com queijo, que pode ser personalizada com molhos e acompanhamentos.

Deixe as crianças se servirem

Compartilhar comida do mesmo prato de servir (estilo familiar) aumentou a cooperação entre amigos e desconhecidos, de acordo com um estudo de Kaitlin Woolley e Ayelet Fishbach. Embora o estudo não tenha incluído famílias, “é bastante provável que os mesmos princípios sejam válidos nesse contexto”, disse Fishbach.

Cooperação à parte, servir refeições em estilo familiar traz outros benefícios. Ao deixar seus filhos se servirem, disse Jones, “você está ensinando à criança: ‘Ok, pegue um pouco e veja como você se sente, depois, se você quiser mais, pode pegar’”. Isso ajuda as crianças a desenvolver autonomia e aprender a reconhecer os sinais de saciedade.

Ellyn Satter também deu conselhos sobre a sobremesa: “Coloque uma porção de sobremesa em cada lugar da mesa quando você colocar a mesa. E deixe todo mundo comer quando quiser. Antes, durante ou depois da refeição”.

Por quê? Porque quando “usamos a sobremesa como alavanca para fazer as crianças comerem seus legumes, você as está ensinando a comer demais duas vezes: uma vez para comer os vegetais quando eles não querem, e depois para comer a sobremesa quando elas estão cheias de legumes”. Você também está ensinando aos seus filhos que a sobremesa é a única parte valiosa da refeição. “Toda vez que você usa um alimento como recompensa, esse alimento se torna o preferido.”

Não faça da comida a peça central das refeições em família

Isso parece meio contra intuitivo, mas na verdade o jantar em família não tem a ver com comida. Anne Fishel sugere promover uma atitude que diga às crianças: “Teremos uma variedade de comida na mesa. Coma o que quiser. Não vamos falar muito sobre isso. Vamos falar sobre o dia e as notícias e o que vamos fazer no fim de semana”.

O que quer que você sirva aos seus filhos, seja a mesma refeição ou um monte de refeições individuais, o foco deve estar no ambiente ao redor da mesa. “São crianças sentindo que podem falar e que as pessoas querem ouvir o que elas têm a dizer”, disse Anne. “É uma atmosfera calorosa e acolhedora que realmente traz os benefícios para a saúde mental e os benefícios cognitivos e os benefícios nutricionais.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST - Quando a usuária do TikTok Buggystops Kitchen postou em julho um vídeo dos cardápios individualizados que ela oferece a seus filhos – cada página só com algumas opções para café da manhã, almoço e jantar que ela sabe que cada criança gosta – causou bastante furor. Os espectadores assistiram ao vídeo mais de 500 mil vezes e escreveram mais de 950 comentários refletindo sobre o debate: as crianças devem comer o que é colocado na frente delas ou têm permissão para escolher sua comida?

Alguns usuários ficaram horrorizados: “Meus filhos comem o que eu sirvo. Não sou chef nem dono de restaurante”, escreveu um. Outros ficaram impressionados, acrescentando comentários como: “Sinto que isso é uma vitória para todo mundo. As crianças sentem que têm poder de escolha, você sabe que elas vão comer, a decisão do que fazer está feita. Genial”.

Em seu blog, a mãe de sete filhos (que não respondeu a vários pedidos por e-mail para comentar os cardápios) explicou que criou o sistema porque estava cansada de jogar comida fora e não gostava de forçar os filhos a comer refeições que eles não querem comer. Os cardápios, escreveu ela, funcionavam como mágica. “Chega de comida desperdiçada. Chega de lágrimas na hora de comer alimentos de que não gostavam ou simplesmente não estavam com vontade. Chega de dar comida para o cachorro debaixo da mesa. Chega de aborrecimento para mim.”

Mas, quando se trata de alimentar crianças, não precisa ser uma situação em que “ou você atende totalmente seus filhos ou os faz comer de um jeito ou de outro”, disse Anne Fishel, terapeuta familiar, professora associada de Harvard e cofundadora do Family Dinner Project, uma organização sem fins lucrativos que promove refeições em família, as quais décadas de pesquisa mostraram que podem beneficiar a saúde física e psicológica das crianças.

Alimentar a família é uma tarefa difícil. E, em alguns casos, os pais e mães precisam fornecer menus diferentes para crianças com alergias ou sensibilidades alimentares, ou para aquelas no espectro do autismo. “Mas, para a grande maioria das crianças, estamos falando só de preferências individuais”, disse Anne Fishel. “E acho que existem maneiras pelas quais as famílias podem atender essas preferências sem transformar a cozinha num restaurante.”

Ao encontrar esse caminho do meio, pais e mães podem ajudar seus filhos a ter um relacionamento saudável com a comida, disse Anne Fishel. Aqui vão algumas maneiras de enfrentar a hora das refeições e encontrar um bom equilíbrio.

Refeições em família são importantes

Anne Fishel reconheceu que o impulso de alimentar as crianças com o que elas desejam é compreensível. “Pais e mães querem deixar os filhos felizes, e dar a eles a comida que eles gostam de comer é uma maneira muito gratificante de fazer isso”, disse ela. Mas uma de suas maiores preocupações é que fazer refeições individuais consome muito tempo e energia.

“É difícil juntar a família, mesmo que muitas pessoas concordem que as refeições em família são muito importantes”, concordou Blake Jones, professor associado e psicólogo do desenvolvimento da Universidade Brigham Young, que se concentra em questões de saúde. Uma revisão de 2015 de pesquisas descobriu que a frequência relatada de refeições em família por semana variou de cerca de 33% das refeições para cerca de 61%. (Há algumas evidências de que a pandemia aumentou esse número.)

Pesquisas descobriram benefícios físicos e psicológicos para crianças cujas famílias comem juntas. Um estudo concluiu que crianças e adolescentes que comem com a família três ou mais vezes por semana têm dietas e pesos mais saudáveis do que os que compartilham menos de três refeições por semana.

Outro determinou que refeições familiares frequentes melhoram a saúde mental dos adolescentes. Uma revisão de estudos anteriores sugeriu que as refeições familiares frequentes deixavam os adolescentes menos propensos a comportamentos de risco. Até os adultos podem se beneficiar emocionalmente das refeições em família.

Comer juntos não precisa ser um evento longo e formal. Uma pesquisa liderada pela psicóloga e especialista em desenvolvimento familiar Barbara Fiese descobriu que a refeição familiar benéfica média durava apenas cerca de 18 a 20 minutos. “É muito pouco tempo para estar associado a todos esses benefícios”, disse Jones. “Então não é só comer junto. Talvez seja o que as pessoas fazem durante a refeição.”

Foco na alimentação competente

Uma coisa que os pais e mães devem fazer durante as refeições em família é ter uma visão de longo prazo, de acordo com a nutricionista e terapeuta familiar Ellyn Satter. “Ao alimentar as crianças, o objetivo não é enfiar comida nelas hoje”, disse Ellyn. “O objetivo é ajudá-las a aprender atitudes e comportamentos alimentares positivos para a vida toda.”

Ellyn define a competência alimentar como a “capacidade de uma criança chegar a uma refeição e examiná-la sem surtar, escolhendo o que está disponível e comendo o quanto quiser da comida que colocaram na sua frente”.

Comedores competentes se tornam adultos que fazem refeições regulares, consomem uma variedade de alimentos e se sentem relaxados ao comer, disse Ellyn Satter. “Eles geralmente têm atitudes positivas em relação à alimentação, em oposição a essa negatividade, ‘Oh, eu não posso fazer isso ou aquilo’”. Estudos também mostram que eles têm dietas de alta qualidade.

Por outro lado, quando os pais e mães satisfazem o paladar limitado da criança, “essa criança cresce comendo a mesma variedade de alimentos com que começou”, disse Ellyn. “Além disso, tem medo da comida que existe por aí.” A pesquisa mostrou que os exigentes não comem de forma tão saudável e têm mais fobias sociais do que os não exigentes.

Ellyn aconselha os pais e mães que desejam criar comedores competentes a seguir sua Divisão de Responsabilidade na Alimentação, que diz que os pais e mães são responsáveis pelo que, quando e onde os alimentos são fornecidos. A criança é responsável pelo quanto e pelo se comem.

Dê opções, sem fazer um bufê

Mas os pais e mães ainda precisam considerar os gostos da criança ao fornecer a refeição. “Parte do trabalho dos pais e mães é considerar a experiência limitada da criança com comida”, disse Ellyn Satter. Quando um pai ou mãe planeja um cardápio, deve sempre incluir “um ou dois alimentos que a criança aceita prontamente ou normalmente come e gosta’. Então, se a criança chega à mesa e vê um monte de comida desconhecida, ela também verá algo que sabe que gosta. E se a criança não come, você pede para ela ficar com você na mesa para aproveitar os outros benefícios do jantar em família.

Jantares em família são mais do que simplesmente compartilhar refeições Foto: Pablo Merchan/Unsplash.com

Ao servir alimentos que a criança nunca viu antes, “você dá a ela a chance de se familiarizar com a comida, de experimentar, de ver alguém comendo. E é assim que o paladar se expande”, disse Anne Fishel. E se a criança recusar? “Não é o fim do mundo a criança por uma noite não querer comer tudo o que está em oferta porque tem alguns alimentos de que ela não gosta”, disse ela. Afinal, esses alimentos podem ser servidos com algo que a criança adora outra noite. “Não acho que você deva se sentir culpado por passar essa lição de vida”.

E existem maneiras de reconhecer os gostos individuais e ao mesmo tempo transmitir a mensagem de que “ainda somos uma família comendo junto”, disse Anne Fishel. Por exemplo, as famílias podem servir uma refeição, como tacos ou macarrão com queijo, que pode ser personalizada com molhos e acompanhamentos.

Deixe as crianças se servirem

Compartilhar comida do mesmo prato de servir (estilo familiar) aumentou a cooperação entre amigos e desconhecidos, de acordo com um estudo de Kaitlin Woolley e Ayelet Fishbach. Embora o estudo não tenha incluído famílias, “é bastante provável que os mesmos princípios sejam válidos nesse contexto”, disse Fishbach.

Cooperação à parte, servir refeições em estilo familiar traz outros benefícios. Ao deixar seus filhos se servirem, disse Jones, “você está ensinando à criança: ‘Ok, pegue um pouco e veja como você se sente, depois, se você quiser mais, pode pegar’”. Isso ajuda as crianças a desenvolver autonomia e aprender a reconhecer os sinais de saciedade.

Ellyn Satter também deu conselhos sobre a sobremesa: “Coloque uma porção de sobremesa em cada lugar da mesa quando você colocar a mesa. E deixe todo mundo comer quando quiser. Antes, durante ou depois da refeição”.

Por quê? Porque quando “usamos a sobremesa como alavanca para fazer as crianças comerem seus legumes, você as está ensinando a comer demais duas vezes: uma vez para comer os vegetais quando eles não querem, e depois para comer a sobremesa quando elas estão cheias de legumes”. Você também está ensinando aos seus filhos que a sobremesa é a única parte valiosa da refeição. “Toda vez que você usa um alimento como recompensa, esse alimento se torna o preferido.”

Não faça da comida a peça central das refeições em família

Isso parece meio contra intuitivo, mas na verdade o jantar em família não tem a ver com comida. Anne Fishel sugere promover uma atitude que diga às crianças: “Teremos uma variedade de comida na mesa. Coma o que quiser. Não vamos falar muito sobre isso. Vamos falar sobre o dia e as notícias e o que vamos fazer no fim de semana”.

O que quer que você sirva aos seus filhos, seja a mesma refeição ou um monte de refeições individuais, o foco deve estar no ambiente ao redor da mesa. “São crianças sentindo que podem falar e que as pessoas querem ouvir o que elas têm a dizer”, disse Anne. “É uma atmosfera calorosa e acolhedora que realmente traz os benefícios para a saúde mental e os benefícios cognitivos e os benefícios nutricionais.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST - Quando a usuária do TikTok Buggystops Kitchen postou em julho um vídeo dos cardápios individualizados que ela oferece a seus filhos – cada página só com algumas opções para café da manhã, almoço e jantar que ela sabe que cada criança gosta – causou bastante furor. Os espectadores assistiram ao vídeo mais de 500 mil vezes e escreveram mais de 950 comentários refletindo sobre o debate: as crianças devem comer o que é colocado na frente delas ou têm permissão para escolher sua comida?

Alguns usuários ficaram horrorizados: “Meus filhos comem o que eu sirvo. Não sou chef nem dono de restaurante”, escreveu um. Outros ficaram impressionados, acrescentando comentários como: “Sinto que isso é uma vitória para todo mundo. As crianças sentem que têm poder de escolha, você sabe que elas vão comer, a decisão do que fazer está feita. Genial”.

Em seu blog, a mãe de sete filhos (que não respondeu a vários pedidos por e-mail para comentar os cardápios) explicou que criou o sistema porque estava cansada de jogar comida fora e não gostava de forçar os filhos a comer refeições que eles não querem comer. Os cardápios, escreveu ela, funcionavam como mágica. “Chega de comida desperdiçada. Chega de lágrimas na hora de comer alimentos de que não gostavam ou simplesmente não estavam com vontade. Chega de dar comida para o cachorro debaixo da mesa. Chega de aborrecimento para mim.”

Mas, quando se trata de alimentar crianças, não precisa ser uma situação em que “ou você atende totalmente seus filhos ou os faz comer de um jeito ou de outro”, disse Anne Fishel, terapeuta familiar, professora associada de Harvard e cofundadora do Family Dinner Project, uma organização sem fins lucrativos que promove refeições em família, as quais décadas de pesquisa mostraram que podem beneficiar a saúde física e psicológica das crianças.

Alimentar a família é uma tarefa difícil. E, em alguns casos, os pais e mães precisam fornecer menus diferentes para crianças com alergias ou sensibilidades alimentares, ou para aquelas no espectro do autismo. “Mas, para a grande maioria das crianças, estamos falando só de preferências individuais”, disse Anne Fishel. “E acho que existem maneiras pelas quais as famílias podem atender essas preferências sem transformar a cozinha num restaurante.”

Ao encontrar esse caminho do meio, pais e mães podem ajudar seus filhos a ter um relacionamento saudável com a comida, disse Anne Fishel. Aqui vão algumas maneiras de enfrentar a hora das refeições e encontrar um bom equilíbrio.

Refeições em família são importantes

Anne Fishel reconheceu que o impulso de alimentar as crianças com o que elas desejam é compreensível. “Pais e mães querem deixar os filhos felizes, e dar a eles a comida que eles gostam de comer é uma maneira muito gratificante de fazer isso”, disse ela. Mas uma de suas maiores preocupações é que fazer refeições individuais consome muito tempo e energia.

“É difícil juntar a família, mesmo que muitas pessoas concordem que as refeições em família são muito importantes”, concordou Blake Jones, professor associado e psicólogo do desenvolvimento da Universidade Brigham Young, que se concentra em questões de saúde. Uma revisão de 2015 de pesquisas descobriu que a frequência relatada de refeições em família por semana variou de cerca de 33% das refeições para cerca de 61%. (Há algumas evidências de que a pandemia aumentou esse número.)

Pesquisas descobriram benefícios físicos e psicológicos para crianças cujas famílias comem juntas. Um estudo concluiu que crianças e adolescentes que comem com a família três ou mais vezes por semana têm dietas e pesos mais saudáveis do que os que compartilham menos de três refeições por semana.

Outro determinou que refeições familiares frequentes melhoram a saúde mental dos adolescentes. Uma revisão de estudos anteriores sugeriu que as refeições familiares frequentes deixavam os adolescentes menos propensos a comportamentos de risco. Até os adultos podem se beneficiar emocionalmente das refeições em família.

Comer juntos não precisa ser um evento longo e formal. Uma pesquisa liderada pela psicóloga e especialista em desenvolvimento familiar Barbara Fiese descobriu que a refeição familiar benéfica média durava apenas cerca de 18 a 20 minutos. “É muito pouco tempo para estar associado a todos esses benefícios”, disse Jones. “Então não é só comer junto. Talvez seja o que as pessoas fazem durante a refeição.”

Foco na alimentação competente

Uma coisa que os pais e mães devem fazer durante as refeições em família é ter uma visão de longo prazo, de acordo com a nutricionista e terapeuta familiar Ellyn Satter. “Ao alimentar as crianças, o objetivo não é enfiar comida nelas hoje”, disse Ellyn. “O objetivo é ajudá-las a aprender atitudes e comportamentos alimentares positivos para a vida toda.”

Ellyn define a competência alimentar como a “capacidade de uma criança chegar a uma refeição e examiná-la sem surtar, escolhendo o que está disponível e comendo o quanto quiser da comida que colocaram na sua frente”.

Comedores competentes se tornam adultos que fazem refeições regulares, consomem uma variedade de alimentos e se sentem relaxados ao comer, disse Ellyn Satter. “Eles geralmente têm atitudes positivas em relação à alimentação, em oposição a essa negatividade, ‘Oh, eu não posso fazer isso ou aquilo’”. Estudos também mostram que eles têm dietas de alta qualidade.

Por outro lado, quando os pais e mães satisfazem o paladar limitado da criança, “essa criança cresce comendo a mesma variedade de alimentos com que começou”, disse Ellyn. “Além disso, tem medo da comida que existe por aí.” A pesquisa mostrou que os exigentes não comem de forma tão saudável e têm mais fobias sociais do que os não exigentes.

Ellyn aconselha os pais e mães que desejam criar comedores competentes a seguir sua Divisão de Responsabilidade na Alimentação, que diz que os pais e mães são responsáveis pelo que, quando e onde os alimentos são fornecidos. A criança é responsável pelo quanto e pelo se comem.

Dê opções, sem fazer um bufê

Mas os pais e mães ainda precisam considerar os gostos da criança ao fornecer a refeição. “Parte do trabalho dos pais e mães é considerar a experiência limitada da criança com comida”, disse Ellyn Satter. Quando um pai ou mãe planeja um cardápio, deve sempre incluir “um ou dois alimentos que a criança aceita prontamente ou normalmente come e gosta’. Então, se a criança chega à mesa e vê um monte de comida desconhecida, ela também verá algo que sabe que gosta. E se a criança não come, você pede para ela ficar com você na mesa para aproveitar os outros benefícios do jantar em família.

Jantares em família são mais do que simplesmente compartilhar refeições Foto: Pablo Merchan/Unsplash.com

Ao servir alimentos que a criança nunca viu antes, “você dá a ela a chance de se familiarizar com a comida, de experimentar, de ver alguém comendo. E é assim que o paladar se expande”, disse Anne Fishel. E se a criança recusar? “Não é o fim do mundo a criança por uma noite não querer comer tudo o que está em oferta porque tem alguns alimentos de que ela não gosta”, disse ela. Afinal, esses alimentos podem ser servidos com algo que a criança adora outra noite. “Não acho que você deva se sentir culpado por passar essa lição de vida”.

E existem maneiras de reconhecer os gostos individuais e ao mesmo tempo transmitir a mensagem de que “ainda somos uma família comendo junto”, disse Anne Fishel. Por exemplo, as famílias podem servir uma refeição, como tacos ou macarrão com queijo, que pode ser personalizada com molhos e acompanhamentos.

Deixe as crianças se servirem

Compartilhar comida do mesmo prato de servir (estilo familiar) aumentou a cooperação entre amigos e desconhecidos, de acordo com um estudo de Kaitlin Woolley e Ayelet Fishbach. Embora o estudo não tenha incluído famílias, “é bastante provável que os mesmos princípios sejam válidos nesse contexto”, disse Fishbach.

Cooperação à parte, servir refeições em estilo familiar traz outros benefícios. Ao deixar seus filhos se servirem, disse Jones, “você está ensinando à criança: ‘Ok, pegue um pouco e veja como você se sente, depois, se você quiser mais, pode pegar’”. Isso ajuda as crianças a desenvolver autonomia e aprender a reconhecer os sinais de saciedade.

Ellyn Satter também deu conselhos sobre a sobremesa: “Coloque uma porção de sobremesa em cada lugar da mesa quando você colocar a mesa. E deixe todo mundo comer quando quiser. Antes, durante ou depois da refeição”.

Por quê? Porque quando “usamos a sobremesa como alavanca para fazer as crianças comerem seus legumes, você as está ensinando a comer demais duas vezes: uma vez para comer os vegetais quando eles não querem, e depois para comer a sobremesa quando elas estão cheias de legumes”. Você também está ensinando aos seus filhos que a sobremesa é a única parte valiosa da refeição. “Toda vez que você usa um alimento como recompensa, esse alimento se torna o preferido.”

Não faça da comida a peça central das refeições em família

Isso parece meio contra intuitivo, mas na verdade o jantar em família não tem a ver com comida. Anne Fishel sugere promover uma atitude que diga às crianças: “Teremos uma variedade de comida na mesa. Coma o que quiser. Não vamos falar muito sobre isso. Vamos falar sobre o dia e as notícias e o que vamos fazer no fim de semana”.

O que quer que você sirva aos seus filhos, seja a mesma refeição ou um monte de refeições individuais, o foco deve estar no ambiente ao redor da mesa. “São crianças sentindo que podem falar e que as pessoas querem ouvir o que elas têm a dizer”, disse Anne. “É uma atmosfera calorosa e acolhedora que realmente traz os benefícios para a saúde mental e os benefícios cognitivos e os benefícios nutricionais.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST - Quando a usuária do TikTok Buggystops Kitchen postou em julho um vídeo dos cardápios individualizados que ela oferece a seus filhos – cada página só com algumas opções para café da manhã, almoço e jantar que ela sabe que cada criança gosta – causou bastante furor. Os espectadores assistiram ao vídeo mais de 500 mil vezes e escreveram mais de 950 comentários refletindo sobre o debate: as crianças devem comer o que é colocado na frente delas ou têm permissão para escolher sua comida?

Alguns usuários ficaram horrorizados: “Meus filhos comem o que eu sirvo. Não sou chef nem dono de restaurante”, escreveu um. Outros ficaram impressionados, acrescentando comentários como: “Sinto que isso é uma vitória para todo mundo. As crianças sentem que têm poder de escolha, você sabe que elas vão comer, a decisão do que fazer está feita. Genial”.

Em seu blog, a mãe de sete filhos (que não respondeu a vários pedidos por e-mail para comentar os cardápios) explicou que criou o sistema porque estava cansada de jogar comida fora e não gostava de forçar os filhos a comer refeições que eles não querem comer. Os cardápios, escreveu ela, funcionavam como mágica. “Chega de comida desperdiçada. Chega de lágrimas na hora de comer alimentos de que não gostavam ou simplesmente não estavam com vontade. Chega de dar comida para o cachorro debaixo da mesa. Chega de aborrecimento para mim.”

Mas, quando se trata de alimentar crianças, não precisa ser uma situação em que “ou você atende totalmente seus filhos ou os faz comer de um jeito ou de outro”, disse Anne Fishel, terapeuta familiar, professora associada de Harvard e cofundadora do Family Dinner Project, uma organização sem fins lucrativos que promove refeições em família, as quais décadas de pesquisa mostraram que podem beneficiar a saúde física e psicológica das crianças.

Alimentar a família é uma tarefa difícil. E, em alguns casos, os pais e mães precisam fornecer menus diferentes para crianças com alergias ou sensibilidades alimentares, ou para aquelas no espectro do autismo. “Mas, para a grande maioria das crianças, estamos falando só de preferências individuais”, disse Anne Fishel. “E acho que existem maneiras pelas quais as famílias podem atender essas preferências sem transformar a cozinha num restaurante.”

Ao encontrar esse caminho do meio, pais e mães podem ajudar seus filhos a ter um relacionamento saudável com a comida, disse Anne Fishel. Aqui vão algumas maneiras de enfrentar a hora das refeições e encontrar um bom equilíbrio.

Refeições em família são importantes

Anne Fishel reconheceu que o impulso de alimentar as crianças com o que elas desejam é compreensível. “Pais e mães querem deixar os filhos felizes, e dar a eles a comida que eles gostam de comer é uma maneira muito gratificante de fazer isso”, disse ela. Mas uma de suas maiores preocupações é que fazer refeições individuais consome muito tempo e energia.

“É difícil juntar a família, mesmo que muitas pessoas concordem que as refeições em família são muito importantes”, concordou Blake Jones, professor associado e psicólogo do desenvolvimento da Universidade Brigham Young, que se concentra em questões de saúde. Uma revisão de 2015 de pesquisas descobriu que a frequência relatada de refeições em família por semana variou de cerca de 33% das refeições para cerca de 61%. (Há algumas evidências de que a pandemia aumentou esse número.)

Pesquisas descobriram benefícios físicos e psicológicos para crianças cujas famílias comem juntas. Um estudo concluiu que crianças e adolescentes que comem com a família três ou mais vezes por semana têm dietas e pesos mais saudáveis do que os que compartilham menos de três refeições por semana.

Outro determinou que refeições familiares frequentes melhoram a saúde mental dos adolescentes. Uma revisão de estudos anteriores sugeriu que as refeições familiares frequentes deixavam os adolescentes menos propensos a comportamentos de risco. Até os adultos podem se beneficiar emocionalmente das refeições em família.

Comer juntos não precisa ser um evento longo e formal. Uma pesquisa liderada pela psicóloga e especialista em desenvolvimento familiar Barbara Fiese descobriu que a refeição familiar benéfica média durava apenas cerca de 18 a 20 minutos. “É muito pouco tempo para estar associado a todos esses benefícios”, disse Jones. “Então não é só comer junto. Talvez seja o que as pessoas fazem durante a refeição.”

Foco na alimentação competente

Uma coisa que os pais e mães devem fazer durante as refeições em família é ter uma visão de longo prazo, de acordo com a nutricionista e terapeuta familiar Ellyn Satter. “Ao alimentar as crianças, o objetivo não é enfiar comida nelas hoje”, disse Ellyn. “O objetivo é ajudá-las a aprender atitudes e comportamentos alimentares positivos para a vida toda.”

Ellyn define a competência alimentar como a “capacidade de uma criança chegar a uma refeição e examiná-la sem surtar, escolhendo o que está disponível e comendo o quanto quiser da comida que colocaram na sua frente”.

Comedores competentes se tornam adultos que fazem refeições regulares, consomem uma variedade de alimentos e se sentem relaxados ao comer, disse Ellyn Satter. “Eles geralmente têm atitudes positivas em relação à alimentação, em oposição a essa negatividade, ‘Oh, eu não posso fazer isso ou aquilo’”. Estudos também mostram que eles têm dietas de alta qualidade.

Por outro lado, quando os pais e mães satisfazem o paladar limitado da criança, “essa criança cresce comendo a mesma variedade de alimentos com que começou”, disse Ellyn. “Além disso, tem medo da comida que existe por aí.” A pesquisa mostrou que os exigentes não comem de forma tão saudável e têm mais fobias sociais do que os não exigentes.

Ellyn aconselha os pais e mães que desejam criar comedores competentes a seguir sua Divisão de Responsabilidade na Alimentação, que diz que os pais e mães são responsáveis pelo que, quando e onde os alimentos são fornecidos. A criança é responsável pelo quanto e pelo se comem.

Dê opções, sem fazer um bufê

Mas os pais e mães ainda precisam considerar os gostos da criança ao fornecer a refeição. “Parte do trabalho dos pais e mães é considerar a experiência limitada da criança com comida”, disse Ellyn Satter. Quando um pai ou mãe planeja um cardápio, deve sempre incluir “um ou dois alimentos que a criança aceita prontamente ou normalmente come e gosta’. Então, se a criança chega à mesa e vê um monte de comida desconhecida, ela também verá algo que sabe que gosta. E se a criança não come, você pede para ela ficar com você na mesa para aproveitar os outros benefícios do jantar em família.

Jantares em família são mais do que simplesmente compartilhar refeições Foto: Pablo Merchan/Unsplash.com

Ao servir alimentos que a criança nunca viu antes, “você dá a ela a chance de se familiarizar com a comida, de experimentar, de ver alguém comendo. E é assim que o paladar se expande”, disse Anne Fishel. E se a criança recusar? “Não é o fim do mundo a criança por uma noite não querer comer tudo o que está em oferta porque tem alguns alimentos de que ela não gosta”, disse ela. Afinal, esses alimentos podem ser servidos com algo que a criança adora outra noite. “Não acho que você deva se sentir culpado por passar essa lição de vida”.

E existem maneiras de reconhecer os gostos individuais e ao mesmo tempo transmitir a mensagem de que “ainda somos uma família comendo junto”, disse Anne Fishel. Por exemplo, as famílias podem servir uma refeição, como tacos ou macarrão com queijo, que pode ser personalizada com molhos e acompanhamentos.

Deixe as crianças se servirem

Compartilhar comida do mesmo prato de servir (estilo familiar) aumentou a cooperação entre amigos e desconhecidos, de acordo com um estudo de Kaitlin Woolley e Ayelet Fishbach. Embora o estudo não tenha incluído famílias, “é bastante provável que os mesmos princípios sejam válidos nesse contexto”, disse Fishbach.

Cooperação à parte, servir refeições em estilo familiar traz outros benefícios. Ao deixar seus filhos se servirem, disse Jones, “você está ensinando à criança: ‘Ok, pegue um pouco e veja como você se sente, depois, se você quiser mais, pode pegar’”. Isso ajuda as crianças a desenvolver autonomia e aprender a reconhecer os sinais de saciedade.

Ellyn Satter também deu conselhos sobre a sobremesa: “Coloque uma porção de sobremesa em cada lugar da mesa quando você colocar a mesa. E deixe todo mundo comer quando quiser. Antes, durante ou depois da refeição”.

Por quê? Porque quando “usamos a sobremesa como alavanca para fazer as crianças comerem seus legumes, você as está ensinando a comer demais duas vezes: uma vez para comer os vegetais quando eles não querem, e depois para comer a sobremesa quando elas estão cheias de legumes”. Você também está ensinando aos seus filhos que a sobremesa é a única parte valiosa da refeição. “Toda vez que você usa um alimento como recompensa, esse alimento se torna o preferido.”

Não faça da comida a peça central das refeições em família

Isso parece meio contra intuitivo, mas na verdade o jantar em família não tem a ver com comida. Anne Fishel sugere promover uma atitude que diga às crianças: “Teremos uma variedade de comida na mesa. Coma o que quiser. Não vamos falar muito sobre isso. Vamos falar sobre o dia e as notícias e o que vamos fazer no fim de semana”.

O que quer que você sirva aos seus filhos, seja a mesma refeição ou um monte de refeições individuais, o foco deve estar no ambiente ao redor da mesa. “São crianças sentindo que podem falar e que as pessoas querem ouvir o que elas têm a dizer”, disse Anne. “É uma atmosfera calorosa e acolhedora que realmente traz os benefícios para a saúde mental e os benefícios cognitivos e os benefícios nutricionais.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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