Todo fim clama por um balanço. No término de um romance, pesamos o que foi bom e o que foi ruim. Quando acabamos um livro nos pomos a pensar: quais foram os aprendizados? Quais emoções despertadas?
Esse impulso não existe por acaso. Ele nos ajuda a dar sentido à história que termina e nos prepara para aquela que a sucederá. No último dia do ano é irresistível: retrospectivas estão sempre presentes, ao lado das “prospectivas”.
Lembrar do que aconteceu, das coisas que fizemos ou não fizemos, é tão importante como prospectar o que desejamos que aconteça no ano que se inicia amanhã, o que queremos ou não fazer.
Nós não gastamos muito tempo pensando nisso, mas no fundo sabemos que não somos nossas melhores versões possíveis. Parece-nos que com um pouco mais de esforço conseguiríamos nos aproximar de uma versão melhorada de nós mesmos, mas algo nos impede de arregaçar as mangas.
Evitamos pensar nisso porque fugimos de tudo o que causa desconforto psicológico, e é bem desconfortante a decepção de sentir que nós somos o principal entrave para alcançar algo que desejamos.
Mas será que realmente desejamos essas coisas que não conseguimos cumprir? Talvez estejamos apenas nos enganando: de tanto ouvir sobre aquelas virtudes assumimos - sem grande reflexão - que queremos alcançá-las.
A não ser que tal objetivo faça realmente sentido para nós, contudo, a inércia da nossa rotina exercerá uma irresistível força contrária a qualquer mudança em direção a ele. A frustração é inevitável. E para nos livrarmos desse incômodo a saída mais fácil é prometer mudar no futuro. Resgatamos nossa sensação de virtuosismo, já que estamos nos comprometendo com algo que insistem em nos dizer que é bom, mas não precisamos fazer qualquer esforço agora. E a promessa seguida de frustração se torna um ciclo anual.
A solução definitiva é descobrir o que realmente faz sentido para nós. O que valorizamos sinceramente. Veja meu caso: mesmo acreditando na importância da atividade física para a saúde, eu passei anos sedentário. Comecei a me exercitar não quando descobri que ginástica me traria saúde, mas quando tive filhos e passei a dar um valor central a me manter saudável.
Depois de um (longo) tempo, comecei finalmente a gostar da atividade, e hoje a valorizo por si só, pelo prazer que me traz. Quando isso acontece, não precisamos mais prometer.
Mas é muito difícil manter a promessa de fazer algo que não valorizamos. Está aí: descobrir o que tem valor pode ser uma boa resolução para 2023. Isso tornará as promessas para 2024 muito mais fáceis de cumprir.