Psiquiatria e sociedade

Opinião|De Elementos a Toy Story: qual é o segredo da Pixar para atingir crianças e adultos?


Filmes como ‘Toy Story’ e ‘Elementos’ agradam a família toda, não há dúvida, mas fazem isso de formas distintas, pois enquanto meus filhos riam, minha esposa e eu chorávamos

Por Daniel Martins de Barros
Atualização:

Não sei você, mas acho que em algum momento a Pixar terá de vir a público admitir que não faz mais só filmes para crianças. Há anos eles vêm inserindo gradualmente temas adultos em suas animações – não só para demonstrar sofisticação, mas provavelmente na luta para influenciar os “decision makers” (os pais) a levar os filhos ao cinema.

Ocorre que, por arte ou dinheiro, essa estratégia só faz crescer ano após ano, a ponto de a fórmula ter se invertido completamente em alguns títulos. Hoje, vários – quiçá a maioria – de seus filmes são conduzidos por tramas dirigidas a adultos, levemente temperadas com cores vivas e personagens fofos para entreter as crianças.

A franquia Toy Story mostra essa evolução claramente: o primeiro filme, mais inocente, trata de leve da perda da onipotência juvenil do cowboy Woody. O segundo já fala um pouco mais com os pais, abordando o crescimento dos filhos ao retratar Andy, o dono de Woody, deixando os brinquedos de lado.

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Em Toy Story 3, Woody se torna praticamente um avô, passando às mãos da terceira geração e a ela dirigindo seu amor. E, no filme mais recente, Woody se vê diante da dura decisão de se aposentar. Temo pelo que nos aguarda em Toy Story 5, considerando essa linha do tempo.

Elementos, nova animação do estúdio, não foge à tendência. Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca, uma moça de fogo, e Gota, um rapaz de água, escondem-se camadas muito profundas. Há o tema mais óbvio de segregação e preconceito, já que os seres de fogo são segregados na terra dos elementos, grande obstáculo ao amor dos protagonistas.

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Mas mais profundo – e mais central, para mim – é a relação entre o pai de Faísca e sua filha. Ele prosperou como comerciante e planeja se aposentar e deixar a loja para ela. Faísca sempre entendeu que era seu destino, mas quando começa a questionar sua vida – após apaixonar-se por quem “não devia” – percebe que talvez esse nunca tivesse sido seu sonho. O sacrifício que seus pais fizeram, contudo, impedia-a de sequer pensar nisso.

Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca (uma moça de fogo) e Gota (um rapaz de água), 'Elementos', nova animação da Pixar, esconde camadas muito profundas Foto: Pixar / Divulgação

Ao longo da sessão de terapia, digo, do filme, fica claro que nessa postura há uma mistura complexa de gratidão, medo e prisão, que explodirá numa crise e, por fim, dará lugar à resolução num belíssimo diálogo entre pai e filha. A fala será a chave para a cura, mas mais não digo para evitar spoilers.

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É um desenho que agrada a família toda, não há dúvida, mas faz isso de formas distintas, pois enquanto meus filhos riam, minha esposa e eu chorávamos.

Não sei você, mas acho que em algum momento a Pixar terá de vir a público admitir que não faz mais só filmes para crianças. Há anos eles vêm inserindo gradualmente temas adultos em suas animações – não só para demonstrar sofisticação, mas provavelmente na luta para influenciar os “decision makers” (os pais) a levar os filhos ao cinema.

Ocorre que, por arte ou dinheiro, essa estratégia só faz crescer ano após ano, a ponto de a fórmula ter se invertido completamente em alguns títulos. Hoje, vários – quiçá a maioria – de seus filmes são conduzidos por tramas dirigidas a adultos, levemente temperadas com cores vivas e personagens fofos para entreter as crianças.

A franquia Toy Story mostra essa evolução claramente: o primeiro filme, mais inocente, trata de leve da perda da onipotência juvenil do cowboy Woody. O segundo já fala um pouco mais com os pais, abordando o crescimento dos filhos ao retratar Andy, o dono de Woody, deixando os brinquedos de lado.

Em Toy Story 3, Woody se torna praticamente um avô, passando às mãos da terceira geração e a ela dirigindo seu amor. E, no filme mais recente, Woody se vê diante da dura decisão de se aposentar. Temo pelo que nos aguarda em Toy Story 5, considerando essa linha do tempo.

Elementos, nova animação do estúdio, não foge à tendência. Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca, uma moça de fogo, e Gota, um rapaz de água, escondem-se camadas muito profundas. Há o tema mais óbvio de segregação e preconceito, já que os seres de fogo são segregados na terra dos elementos, grande obstáculo ao amor dos protagonistas.

Mas mais profundo – e mais central, para mim – é a relação entre o pai de Faísca e sua filha. Ele prosperou como comerciante e planeja se aposentar e deixar a loja para ela. Faísca sempre entendeu que era seu destino, mas quando começa a questionar sua vida – após apaixonar-se por quem “não devia” – percebe que talvez esse nunca tivesse sido seu sonho. O sacrifício que seus pais fizeram, contudo, impedia-a de sequer pensar nisso.

Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca (uma moça de fogo) e Gota (um rapaz de água), 'Elementos', nova animação da Pixar, esconde camadas muito profundas Foto: Pixar / Divulgação

Ao longo da sessão de terapia, digo, do filme, fica claro que nessa postura há uma mistura complexa de gratidão, medo e prisão, que explodirá numa crise e, por fim, dará lugar à resolução num belíssimo diálogo entre pai e filha. A fala será a chave para a cura, mas mais não digo para evitar spoilers.

É um desenho que agrada a família toda, não há dúvida, mas faz isso de formas distintas, pois enquanto meus filhos riam, minha esposa e eu chorávamos.

Não sei você, mas acho que em algum momento a Pixar terá de vir a público admitir que não faz mais só filmes para crianças. Há anos eles vêm inserindo gradualmente temas adultos em suas animações – não só para demonstrar sofisticação, mas provavelmente na luta para influenciar os “decision makers” (os pais) a levar os filhos ao cinema.

Ocorre que, por arte ou dinheiro, essa estratégia só faz crescer ano após ano, a ponto de a fórmula ter se invertido completamente em alguns títulos. Hoje, vários – quiçá a maioria – de seus filmes são conduzidos por tramas dirigidas a adultos, levemente temperadas com cores vivas e personagens fofos para entreter as crianças.

A franquia Toy Story mostra essa evolução claramente: o primeiro filme, mais inocente, trata de leve da perda da onipotência juvenil do cowboy Woody. O segundo já fala um pouco mais com os pais, abordando o crescimento dos filhos ao retratar Andy, o dono de Woody, deixando os brinquedos de lado.

Em Toy Story 3, Woody se torna praticamente um avô, passando às mãos da terceira geração e a ela dirigindo seu amor. E, no filme mais recente, Woody se vê diante da dura decisão de se aposentar. Temo pelo que nos aguarda em Toy Story 5, considerando essa linha do tempo.

Elementos, nova animação do estúdio, não foge à tendência. Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca, uma moça de fogo, e Gota, um rapaz de água, escondem-se camadas muito profundas. Há o tema mais óbvio de segregação e preconceito, já que os seres de fogo são segregados na terra dos elementos, grande obstáculo ao amor dos protagonistas.

Mas mais profundo – e mais central, para mim – é a relação entre o pai de Faísca e sua filha. Ele prosperou como comerciante e planeja se aposentar e deixar a loja para ela. Faísca sempre entendeu que era seu destino, mas quando começa a questionar sua vida – após apaixonar-se por quem “não devia” – percebe que talvez esse nunca tivesse sido seu sonho. O sacrifício que seus pais fizeram, contudo, impedia-a de sequer pensar nisso.

Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca (uma moça de fogo) e Gota (um rapaz de água), 'Elementos', nova animação da Pixar, esconde camadas muito profundas Foto: Pixar / Divulgação

Ao longo da sessão de terapia, digo, do filme, fica claro que nessa postura há uma mistura complexa de gratidão, medo e prisão, que explodirá numa crise e, por fim, dará lugar à resolução num belíssimo diálogo entre pai e filha. A fala será a chave para a cura, mas mais não digo para evitar spoilers.

É um desenho que agrada a família toda, não há dúvida, mas faz isso de formas distintas, pois enquanto meus filhos riam, minha esposa e eu chorávamos.

Não sei você, mas acho que em algum momento a Pixar terá de vir a público admitir que não faz mais só filmes para crianças. Há anos eles vêm inserindo gradualmente temas adultos em suas animações – não só para demonstrar sofisticação, mas provavelmente na luta para influenciar os “decision makers” (os pais) a levar os filhos ao cinema.

Ocorre que, por arte ou dinheiro, essa estratégia só faz crescer ano após ano, a ponto de a fórmula ter se invertido completamente em alguns títulos. Hoje, vários – quiçá a maioria – de seus filmes são conduzidos por tramas dirigidas a adultos, levemente temperadas com cores vivas e personagens fofos para entreter as crianças.

A franquia Toy Story mostra essa evolução claramente: o primeiro filme, mais inocente, trata de leve da perda da onipotência juvenil do cowboy Woody. O segundo já fala um pouco mais com os pais, abordando o crescimento dos filhos ao retratar Andy, o dono de Woody, deixando os brinquedos de lado.

Em Toy Story 3, Woody se torna praticamente um avô, passando às mãos da terceira geração e a ela dirigindo seu amor. E, no filme mais recente, Woody se vê diante da dura decisão de se aposentar. Temo pelo que nos aguarda em Toy Story 5, considerando essa linha do tempo.

Elementos, nova animação do estúdio, não foge à tendência. Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca, uma moça de fogo, e Gota, um rapaz de água, escondem-se camadas muito profundas. Há o tema mais óbvio de segregação e preconceito, já que os seres de fogo são segregados na terra dos elementos, grande obstáculo ao amor dos protagonistas.

Mas mais profundo – e mais central, para mim – é a relação entre o pai de Faísca e sua filha. Ele prosperou como comerciante e planeja se aposentar e deixar a loja para ela. Faísca sempre entendeu que era seu destino, mas quando começa a questionar sua vida – após apaixonar-se por quem “não devia” – percebe que talvez esse nunca tivesse sido seu sonho. O sacrifício que seus pais fizeram, contudo, impedia-a de sequer pensar nisso.

Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca (uma moça de fogo) e Gota (um rapaz de água), 'Elementos', nova animação da Pixar, esconde camadas muito profundas Foto: Pixar / Divulgação

Ao longo da sessão de terapia, digo, do filme, fica claro que nessa postura há uma mistura complexa de gratidão, medo e prisão, que explodirá numa crise e, por fim, dará lugar à resolução num belíssimo diálogo entre pai e filha. A fala será a chave para a cura, mas mais não digo para evitar spoilers.

É um desenho que agrada a família toda, não há dúvida, mas faz isso de formas distintas, pois enquanto meus filhos riam, minha esposa e eu chorávamos.

Não sei você, mas acho que em algum momento a Pixar terá de vir a público admitir que não faz mais só filmes para crianças. Há anos eles vêm inserindo gradualmente temas adultos em suas animações – não só para demonstrar sofisticação, mas provavelmente na luta para influenciar os “decision makers” (os pais) a levar os filhos ao cinema.

Ocorre que, por arte ou dinheiro, essa estratégia só faz crescer ano após ano, a ponto de a fórmula ter se invertido completamente em alguns títulos. Hoje, vários – quiçá a maioria – de seus filmes são conduzidos por tramas dirigidas a adultos, levemente temperadas com cores vivas e personagens fofos para entreter as crianças.

A franquia Toy Story mostra essa evolução claramente: o primeiro filme, mais inocente, trata de leve da perda da onipotência juvenil do cowboy Woody. O segundo já fala um pouco mais com os pais, abordando o crescimento dos filhos ao retratar Andy, o dono de Woody, deixando os brinquedos de lado.

Em Toy Story 3, Woody se torna praticamente um avô, passando às mãos da terceira geração e a ela dirigindo seu amor. E, no filme mais recente, Woody se vê diante da dura decisão de se aposentar. Temo pelo que nos aguarda em Toy Story 5, considerando essa linha do tempo.

Elementos, nova animação do estúdio, não foge à tendência. Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca, uma moça de fogo, e Gota, um rapaz de água, escondem-se camadas muito profundas. Há o tema mais óbvio de segregação e preconceito, já que os seres de fogo são segregados na terra dos elementos, grande obstáculo ao amor dos protagonistas.

Mas mais profundo – e mais central, para mim – é a relação entre o pai de Faísca e sua filha. Ele prosperou como comerciante e planeja se aposentar e deixar a loja para ela. Faísca sempre entendeu que era seu destino, mas quando começa a questionar sua vida – após apaixonar-se por quem “não devia” – percebe que talvez esse nunca tivesse sido seu sonho. O sacrifício que seus pais fizeram, contudo, impedia-a de sequer pensar nisso.

Sob o argumento inocente de um romance impossível entre Faísca (uma moça de fogo) e Gota (um rapaz de água), 'Elementos', nova animação da Pixar, esconde camadas muito profundas Foto: Pixar / Divulgação

Ao longo da sessão de terapia, digo, do filme, fica claro que nessa postura há uma mistura complexa de gratidão, medo e prisão, que explodirá numa crise e, por fim, dará lugar à resolução num belíssimo diálogo entre pai e filha. A fala será a chave para a cura, mas mais não digo para evitar spoilers.

É um desenho que agrada a família toda, não há dúvida, mas faz isso de formas distintas, pois enquanto meus filhos riam, minha esposa e eu chorávamos.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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