Psiquiatria e sociedade

Opinião|De novo, normal


Normal pode ser aquilo que representa a maioria estatística – pesquise comportamentos, opiniões, estatura, peso, inteligência e verá

Por Daniel Martins de Barros

Antes de continuar falando em novo normal, seria bom decidirmos exatamente a que estamos nos referindo. Existem tantos significados para a palavra normal que vai ver sua nova versão já chegou e nem sequer nos demos conta.

Normal pode ser aquilo que representa a maioria estatística – pesquise comportamentos, opiniões, estatura, peso, inteligência e verá: praticamente qualquer variável biopsicológica apresenta uma distribuição normal na sociedade. É aquela distribuição em forma de sino, em que há poucas pessoas nas pontas e muitas no meio. Há pouca gente com menos de um metro de altura e ninguém menor do que meio metro, ao mesmo tempo que existem poucas pessoas com mais de dois metros e só um ser humano com mais de dois metros e meio (o turco Sultan Kösen, de 38 anos e 2,51 metros, antes que você vá pesquisar). Em compensação, há bilhões de pessoas entre um metro e meio e dois metros. Essa é a altura normal de acordo com esse critério.

Mas também chamamos normal aquilo que está de acordo com as regras. O jogador de futebol entra de forma mais dura no lance e o narrador pergunta se foi falta. “Não, jogada normal”, afirma o comentarista. Ou, num contexto diferente, se você comer com as mãos numa cantina italiana estará ferindo a etiqueta, mas num restaurante indiano esse pode ser o normal.

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Não é raro que normal venha carregado de juízo de valor, dando à palavra uma conotação de correto, bom, desejável. É o que vai implícito na fala das pessoas que dizem não aceitar determinadas opiniões ou comportamentos porque eles não são normais. Isso acontece muitas vezes porque eles não são a expressão da maioria ou não se conformam a alguma regra específica. “Vai pintar o cabelo de verde? Isso não é normal.” O aspecto valorativo fica evidente quando nos damos conta que seu antônimo, anormal, é praticamente um xingamento. Denota algo ou alguém defeituoso, ao contrário do perfeito normal.

E não poderia esquecer a ideia de normal como alinhado à ordem natural das coisas. Viver nas grandes cidades, afastado da natureza, não seria normal (mesmo sendo a realidade da maioria de nós; mesmo sendo de acordo com as regras; mesmo não sendo errado). Ficarmos acordados até tarde com a luz elétrica? Anormal. Há até aqueles que apontam a relação homossexual como anormal simplesmente porque biologicamente não geraria descendentes.

Pensando assim, fica bem mais difícil, pelo menos para mim, dizer o que é ou será normal. Cumprimentar as pessoas com beijo no rosto sobreviverá à pandemia? Ou será um comportamento abolido de vez? Se a maioria das pessoas adotar o aceno com a mão ou o namastê, o beijinho será o novo anormal – porque feito raramente. Mas pode ser que, mesmo raro, seja normal dar um beijo, porque é mais alinhado com nossas inclinações naturais. No entanto, mesmo se for normal nesse sentido, pode vir a ferir as regras de uma cultura local, sendo então anormal.

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Mas a verdade é que eu não acredito na transformação radical de nenhum de nossos comportamentos no longo prazo. Sei que sou uma voz dissonante quanto a isso – a maioria acha que o mundo jamais seria o mesmo. Fazer o quê? Eu nunca fui muito normal. 

Antes de continuar falando em novo normal, seria bom decidirmos exatamente a que estamos nos referindo. Existem tantos significados para a palavra normal que vai ver sua nova versão já chegou e nem sequer nos demos conta.

Normal pode ser aquilo que representa a maioria estatística – pesquise comportamentos, opiniões, estatura, peso, inteligência e verá: praticamente qualquer variável biopsicológica apresenta uma distribuição normal na sociedade. É aquela distribuição em forma de sino, em que há poucas pessoas nas pontas e muitas no meio. Há pouca gente com menos de um metro de altura e ninguém menor do que meio metro, ao mesmo tempo que existem poucas pessoas com mais de dois metros e só um ser humano com mais de dois metros e meio (o turco Sultan Kösen, de 38 anos e 2,51 metros, antes que você vá pesquisar). Em compensação, há bilhões de pessoas entre um metro e meio e dois metros. Essa é a altura normal de acordo com esse critério.

Mas também chamamos normal aquilo que está de acordo com as regras. O jogador de futebol entra de forma mais dura no lance e o narrador pergunta se foi falta. “Não, jogada normal”, afirma o comentarista. Ou, num contexto diferente, se você comer com as mãos numa cantina italiana estará ferindo a etiqueta, mas num restaurante indiano esse pode ser o normal.

Não é raro que normal venha carregado de juízo de valor, dando à palavra uma conotação de correto, bom, desejável. É o que vai implícito na fala das pessoas que dizem não aceitar determinadas opiniões ou comportamentos porque eles não são normais. Isso acontece muitas vezes porque eles não são a expressão da maioria ou não se conformam a alguma regra específica. “Vai pintar o cabelo de verde? Isso não é normal.” O aspecto valorativo fica evidente quando nos damos conta que seu antônimo, anormal, é praticamente um xingamento. Denota algo ou alguém defeituoso, ao contrário do perfeito normal.

E não poderia esquecer a ideia de normal como alinhado à ordem natural das coisas. Viver nas grandes cidades, afastado da natureza, não seria normal (mesmo sendo a realidade da maioria de nós; mesmo sendo de acordo com as regras; mesmo não sendo errado). Ficarmos acordados até tarde com a luz elétrica? Anormal. Há até aqueles que apontam a relação homossexual como anormal simplesmente porque biologicamente não geraria descendentes.

Pensando assim, fica bem mais difícil, pelo menos para mim, dizer o que é ou será normal. Cumprimentar as pessoas com beijo no rosto sobreviverá à pandemia? Ou será um comportamento abolido de vez? Se a maioria das pessoas adotar o aceno com a mão ou o namastê, o beijinho será o novo anormal – porque feito raramente. Mas pode ser que, mesmo raro, seja normal dar um beijo, porque é mais alinhado com nossas inclinações naturais. No entanto, mesmo se for normal nesse sentido, pode vir a ferir as regras de uma cultura local, sendo então anormal.

Mas a verdade é que eu não acredito na transformação radical de nenhum de nossos comportamentos no longo prazo. Sei que sou uma voz dissonante quanto a isso – a maioria acha que o mundo jamais seria o mesmo. Fazer o quê? Eu nunca fui muito normal. 

Antes de continuar falando em novo normal, seria bom decidirmos exatamente a que estamos nos referindo. Existem tantos significados para a palavra normal que vai ver sua nova versão já chegou e nem sequer nos demos conta.

Normal pode ser aquilo que representa a maioria estatística – pesquise comportamentos, opiniões, estatura, peso, inteligência e verá: praticamente qualquer variável biopsicológica apresenta uma distribuição normal na sociedade. É aquela distribuição em forma de sino, em que há poucas pessoas nas pontas e muitas no meio. Há pouca gente com menos de um metro de altura e ninguém menor do que meio metro, ao mesmo tempo que existem poucas pessoas com mais de dois metros e só um ser humano com mais de dois metros e meio (o turco Sultan Kösen, de 38 anos e 2,51 metros, antes que você vá pesquisar). Em compensação, há bilhões de pessoas entre um metro e meio e dois metros. Essa é a altura normal de acordo com esse critério.

Mas também chamamos normal aquilo que está de acordo com as regras. O jogador de futebol entra de forma mais dura no lance e o narrador pergunta se foi falta. “Não, jogada normal”, afirma o comentarista. Ou, num contexto diferente, se você comer com as mãos numa cantina italiana estará ferindo a etiqueta, mas num restaurante indiano esse pode ser o normal.

Não é raro que normal venha carregado de juízo de valor, dando à palavra uma conotação de correto, bom, desejável. É o que vai implícito na fala das pessoas que dizem não aceitar determinadas opiniões ou comportamentos porque eles não são normais. Isso acontece muitas vezes porque eles não são a expressão da maioria ou não se conformam a alguma regra específica. “Vai pintar o cabelo de verde? Isso não é normal.” O aspecto valorativo fica evidente quando nos damos conta que seu antônimo, anormal, é praticamente um xingamento. Denota algo ou alguém defeituoso, ao contrário do perfeito normal.

E não poderia esquecer a ideia de normal como alinhado à ordem natural das coisas. Viver nas grandes cidades, afastado da natureza, não seria normal (mesmo sendo a realidade da maioria de nós; mesmo sendo de acordo com as regras; mesmo não sendo errado). Ficarmos acordados até tarde com a luz elétrica? Anormal. Há até aqueles que apontam a relação homossexual como anormal simplesmente porque biologicamente não geraria descendentes.

Pensando assim, fica bem mais difícil, pelo menos para mim, dizer o que é ou será normal. Cumprimentar as pessoas com beijo no rosto sobreviverá à pandemia? Ou será um comportamento abolido de vez? Se a maioria das pessoas adotar o aceno com a mão ou o namastê, o beijinho será o novo anormal – porque feito raramente. Mas pode ser que, mesmo raro, seja normal dar um beijo, porque é mais alinhado com nossas inclinações naturais. No entanto, mesmo se for normal nesse sentido, pode vir a ferir as regras de uma cultura local, sendo então anormal.

Mas a verdade é que eu não acredito na transformação radical de nenhum de nossos comportamentos no longo prazo. Sei que sou uma voz dissonante quanto a isso – a maioria acha que o mundo jamais seria o mesmo. Fazer o quê? Eu nunca fui muito normal. 

Antes de continuar falando em novo normal, seria bom decidirmos exatamente a que estamos nos referindo. Existem tantos significados para a palavra normal que vai ver sua nova versão já chegou e nem sequer nos demos conta.

Normal pode ser aquilo que representa a maioria estatística – pesquise comportamentos, opiniões, estatura, peso, inteligência e verá: praticamente qualquer variável biopsicológica apresenta uma distribuição normal na sociedade. É aquela distribuição em forma de sino, em que há poucas pessoas nas pontas e muitas no meio. Há pouca gente com menos de um metro de altura e ninguém menor do que meio metro, ao mesmo tempo que existem poucas pessoas com mais de dois metros e só um ser humano com mais de dois metros e meio (o turco Sultan Kösen, de 38 anos e 2,51 metros, antes que você vá pesquisar). Em compensação, há bilhões de pessoas entre um metro e meio e dois metros. Essa é a altura normal de acordo com esse critério.

Mas também chamamos normal aquilo que está de acordo com as regras. O jogador de futebol entra de forma mais dura no lance e o narrador pergunta se foi falta. “Não, jogada normal”, afirma o comentarista. Ou, num contexto diferente, se você comer com as mãos numa cantina italiana estará ferindo a etiqueta, mas num restaurante indiano esse pode ser o normal.

Não é raro que normal venha carregado de juízo de valor, dando à palavra uma conotação de correto, bom, desejável. É o que vai implícito na fala das pessoas que dizem não aceitar determinadas opiniões ou comportamentos porque eles não são normais. Isso acontece muitas vezes porque eles não são a expressão da maioria ou não se conformam a alguma regra específica. “Vai pintar o cabelo de verde? Isso não é normal.” O aspecto valorativo fica evidente quando nos damos conta que seu antônimo, anormal, é praticamente um xingamento. Denota algo ou alguém defeituoso, ao contrário do perfeito normal.

E não poderia esquecer a ideia de normal como alinhado à ordem natural das coisas. Viver nas grandes cidades, afastado da natureza, não seria normal (mesmo sendo a realidade da maioria de nós; mesmo sendo de acordo com as regras; mesmo não sendo errado). Ficarmos acordados até tarde com a luz elétrica? Anormal. Há até aqueles que apontam a relação homossexual como anormal simplesmente porque biologicamente não geraria descendentes.

Pensando assim, fica bem mais difícil, pelo menos para mim, dizer o que é ou será normal. Cumprimentar as pessoas com beijo no rosto sobreviverá à pandemia? Ou será um comportamento abolido de vez? Se a maioria das pessoas adotar o aceno com a mão ou o namastê, o beijinho será o novo anormal – porque feito raramente. Mas pode ser que, mesmo raro, seja normal dar um beijo, porque é mais alinhado com nossas inclinações naturais. No entanto, mesmo se for normal nesse sentido, pode vir a ferir as regras de uma cultura local, sendo então anormal.

Mas a verdade é que eu não acredito na transformação radical de nenhum de nossos comportamentos no longo prazo. Sei que sou uma voz dissonante quanto a isso – a maioria acha que o mundo jamais seria o mesmo. Fazer o quê? Eu nunca fui muito normal. 

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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