Psiquiatria e sociedade

Opinião|É inevitável nos compararmos a outras pessoas; mas tem jeito certo de fazer isso


A comparação é algo natural, mas não precisamos sofrer por causa desse hábito

Por Daniel Martins de Barros

Quando cientistas pousaram uma sonda pela primeira vez um planeta rodeando a estrela Aldebarã – que batizaram de Algon – ficaram espantados com uma descoberta inusitada. A xícara de chocolate quente lá custava quatro milhões de libras esterlinas. E a resistência de uma chaleira elétrica custava o mesmo que todo o PIB americano acumulado por séculos – mas ainda faltaria dinheiro para comprar uma peça para terminar o conserto.

Essa história amalucada faz parte de um esquete do grupo Monty Phiton, humor nonsense que se tornou um ícone cultural. A graça dessa piada surge quando os atores, representando repórteres e cientistas cobrindo um evento dessa magnitude, apresentavam como a grande descoberta os preços exorbitantes de itens prosaicos na Terra.

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Os preços – como muitos dos números que nos cercam – têm seus valores determinados de forma subjetiva, só nos sendo possível dizer se algo é caro ou barato (ou muito ou pouco, excessivo ou escasso) a partir de contrastes.

Poderíamos chamar um real de um bilhão de reais, afinal. E, nessa hipótese, um bilhão seria pouco. Ainda nessa linha, 60 dias de férias no ano parece muito para quem só tem 30. Mas 30 é um monte para quem não tem nenhum. Um milhão de seguidores nas redes sociais é muito? Para mim, sim, mas seria pouco para um ator de Hollywood – cujos pares têm outra ordem de grandeza.

Mesmo para fenômenos naturais a comparação influencia nossa percepção. Uma montanha é considerada alta por termos subidos outras mais baixas. Achamos o mar bravio porque já navegamos águas mais calmas.

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Redes sociais potencializaram o comportamento instintivo de se comparar. Foto: Graphicroyalty/Adobe Stock

Tudo isso para dizer que é impossível nós não nos compararmos os outros. As redes sociais não são a causa dessa mania de cotejar as coisas – elas simplesmente potencializam esse comportamento instintivo.

O que não significa que tenhamos que sofrer por conta dessa mania. O que nos dói não é a comparação em si – nós desconfiamos quando vamos perder numa comparação. A frustração não vem por confirmarmos a derrota, mas porque, na hora em que estamos nos comparando, sem perceber nós nos reduzimos àquele parâmetro. E então, se minha casa é menor, sinto que tenho menos valor como pessoa. Se minha viagem foi mais barata, parece que toda minha existência fica inferiorizada.

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O antídoto para o mal-estar da comparação não é tentar abandoná-la, portanto – não vai acontecer. É lembrar que nós não somos redutíveis a um só parâmetro, e que nosso valor como pessoa não pode ser representando por nenhuma comparação. Por mais contrastante que ela seja.

Quando cientistas pousaram uma sonda pela primeira vez um planeta rodeando a estrela Aldebarã – que batizaram de Algon – ficaram espantados com uma descoberta inusitada. A xícara de chocolate quente lá custava quatro milhões de libras esterlinas. E a resistência de uma chaleira elétrica custava o mesmo que todo o PIB americano acumulado por séculos – mas ainda faltaria dinheiro para comprar uma peça para terminar o conserto.

Essa história amalucada faz parte de um esquete do grupo Monty Phiton, humor nonsense que se tornou um ícone cultural. A graça dessa piada surge quando os atores, representando repórteres e cientistas cobrindo um evento dessa magnitude, apresentavam como a grande descoberta os preços exorbitantes de itens prosaicos na Terra.

Os preços – como muitos dos números que nos cercam – têm seus valores determinados de forma subjetiva, só nos sendo possível dizer se algo é caro ou barato (ou muito ou pouco, excessivo ou escasso) a partir de contrastes.

Poderíamos chamar um real de um bilhão de reais, afinal. E, nessa hipótese, um bilhão seria pouco. Ainda nessa linha, 60 dias de férias no ano parece muito para quem só tem 30. Mas 30 é um monte para quem não tem nenhum. Um milhão de seguidores nas redes sociais é muito? Para mim, sim, mas seria pouco para um ator de Hollywood – cujos pares têm outra ordem de grandeza.

Mesmo para fenômenos naturais a comparação influencia nossa percepção. Uma montanha é considerada alta por termos subidos outras mais baixas. Achamos o mar bravio porque já navegamos águas mais calmas.

Redes sociais potencializaram o comportamento instintivo de se comparar. Foto: Graphicroyalty/Adobe Stock

Tudo isso para dizer que é impossível nós não nos compararmos os outros. As redes sociais não são a causa dessa mania de cotejar as coisas – elas simplesmente potencializam esse comportamento instintivo.

O que não significa que tenhamos que sofrer por conta dessa mania. O que nos dói não é a comparação em si – nós desconfiamos quando vamos perder numa comparação. A frustração não vem por confirmarmos a derrota, mas porque, na hora em que estamos nos comparando, sem perceber nós nos reduzimos àquele parâmetro. E então, se minha casa é menor, sinto que tenho menos valor como pessoa. Se minha viagem foi mais barata, parece que toda minha existência fica inferiorizada.

O antídoto para o mal-estar da comparação não é tentar abandoná-la, portanto – não vai acontecer. É lembrar que nós não somos redutíveis a um só parâmetro, e que nosso valor como pessoa não pode ser representando por nenhuma comparação. Por mais contrastante que ela seja.

Quando cientistas pousaram uma sonda pela primeira vez um planeta rodeando a estrela Aldebarã – que batizaram de Algon – ficaram espantados com uma descoberta inusitada. A xícara de chocolate quente lá custava quatro milhões de libras esterlinas. E a resistência de uma chaleira elétrica custava o mesmo que todo o PIB americano acumulado por séculos – mas ainda faltaria dinheiro para comprar uma peça para terminar o conserto.

Essa história amalucada faz parte de um esquete do grupo Monty Phiton, humor nonsense que se tornou um ícone cultural. A graça dessa piada surge quando os atores, representando repórteres e cientistas cobrindo um evento dessa magnitude, apresentavam como a grande descoberta os preços exorbitantes de itens prosaicos na Terra.

Os preços – como muitos dos números que nos cercam – têm seus valores determinados de forma subjetiva, só nos sendo possível dizer se algo é caro ou barato (ou muito ou pouco, excessivo ou escasso) a partir de contrastes.

Poderíamos chamar um real de um bilhão de reais, afinal. E, nessa hipótese, um bilhão seria pouco. Ainda nessa linha, 60 dias de férias no ano parece muito para quem só tem 30. Mas 30 é um monte para quem não tem nenhum. Um milhão de seguidores nas redes sociais é muito? Para mim, sim, mas seria pouco para um ator de Hollywood – cujos pares têm outra ordem de grandeza.

Mesmo para fenômenos naturais a comparação influencia nossa percepção. Uma montanha é considerada alta por termos subidos outras mais baixas. Achamos o mar bravio porque já navegamos águas mais calmas.

Redes sociais potencializaram o comportamento instintivo de se comparar. Foto: Graphicroyalty/Adobe Stock

Tudo isso para dizer que é impossível nós não nos compararmos os outros. As redes sociais não são a causa dessa mania de cotejar as coisas – elas simplesmente potencializam esse comportamento instintivo.

O que não significa que tenhamos que sofrer por conta dessa mania. O que nos dói não é a comparação em si – nós desconfiamos quando vamos perder numa comparação. A frustração não vem por confirmarmos a derrota, mas porque, na hora em que estamos nos comparando, sem perceber nós nos reduzimos àquele parâmetro. E então, se minha casa é menor, sinto que tenho menos valor como pessoa. Se minha viagem foi mais barata, parece que toda minha existência fica inferiorizada.

O antídoto para o mal-estar da comparação não é tentar abandoná-la, portanto – não vai acontecer. É lembrar que nós não somos redutíveis a um só parâmetro, e que nosso valor como pessoa não pode ser representando por nenhuma comparação. Por mais contrastante que ela seja.

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Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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