Psiquiatria e sociedade

Opinião|Esculpindo parceiros: como identificar um relacionamento tóxico?


Toda relação profunda tem custos, mas uns são saudáveis e outros, não; entenda as diferenças

Por Daniel Martins de Barros

Muita gente se pergunta se estaria vivendo um relacionamento tóxico. Via de regra, quando a pessoa está em dúvida, boa a relação não é. Normalmente, a incerteza vem da coexistência de aspectos positivos e negativos.

Dificilmente alguém se mantém envolvido com gente que só lhe cause mal. A complexa teia de emoções, afetos, lembranças e reforços forma tal emaranhado em nossos cérebros que é possível – senão provável – que as emoções negativas despertadas num relacionamento tóxico sejam contrabalançadas por uma ou algumas recompensas. Satisfação sexual, financeira, espiritual, social... De alguma forma, as pessoas sentem como se estivessem pagando um preço emocional, mas minimamente recebendo algo de bom em troca.

Um relacionamento verdadeiramente saudável nos aproxima daquilo que queremos ser Foto: Panot/Adobe Stock
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A dúvida, portanto, traz sempre um quê de cálculo de custo versus benefício. Por isso, digo que, geralmente, quando surge tal pergunta o relacionamento tem grande chance de sim, ser tóxico. Não importa o quê ou o quanto ele entregue – se a moeda em que se paga é nossa saúde emocional, não é uma relação saudável.

A rigor nem deveríamos precisar fazer contas. Qualquer relação profunda e de longo prazo tem custos: não podemos fazer exatamente o que queremos, agir de acordo com nossos impulsos, ir aonde desejarmos e quando bem entendermos ou dizer o que nos vêm à mente. Mas esse custo não é contabilizado como prejuízo num envolvimento saudável. Ao contrário: ele nos traz lucro, porque nos aproxima daquilo que queremos ser. Nos torna melhores.

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Dizem que Michelangelo afirmava que seu método de escultura consistia em olhar um bloco de mármore e enxergar nele a figura a ser esculpida escondida lá dentro e, então, retirar tudo o que não fosse aquela imagem. Não sei se a frase é verdadeira, mas ela deu origem ao que é chamado de “fenômeno Michelangelo”: uma forma de relacionamento interpessoal no qual parceiros podem mutuamente fazer emergir o melhor de si.

Acreditando naquilo de bom que o outro é, ou pode vir a ser, as interações passam a ser pautadas por essa visão, que, por fim, se concretiza à medida em que o outro age de acordo com o potencial que se enxerga nele.

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É isso que devemos buscar em nossos relacionamentos – parceiros que nos aproximem daquilo que queremos e podemos ser. É assim que nos sentimos mais autênticos e realizados em nossos vínculos.

Ninguém é exatamente a mesma pessoa quando está com seu par romântico e quando está sozinha. Quando essa diferença é para pior, estamos num relacionamento tóxico. Mas, quando a diferença é para melhor, pouco importa o que pagamos, pois qualquer custo se reverte num lucro que aumenta – e não reduz – a satisfação de se estar junto.

Muita gente se pergunta se estaria vivendo um relacionamento tóxico. Via de regra, quando a pessoa está em dúvida, boa a relação não é. Normalmente, a incerteza vem da coexistência de aspectos positivos e negativos.

Dificilmente alguém se mantém envolvido com gente que só lhe cause mal. A complexa teia de emoções, afetos, lembranças e reforços forma tal emaranhado em nossos cérebros que é possível – senão provável – que as emoções negativas despertadas num relacionamento tóxico sejam contrabalançadas por uma ou algumas recompensas. Satisfação sexual, financeira, espiritual, social... De alguma forma, as pessoas sentem como se estivessem pagando um preço emocional, mas minimamente recebendo algo de bom em troca.

Um relacionamento verdadeiramente saudável nos aproxima daquilo que queremos ser Foto: Panot/Adobe Stock

A dúvida, portanto, traz sempre um quê de cálculo de custo versus benefício. Por isso, digo que, geralmente, quando surge tal pergunta o relacionamento tem grande chance de sim, ser tóxico. Não importa o quê ou o quanto ele entregue – se a moeda em que se paga é nossa saúde emocional, não é uma relação saudável.

A rigor nem deveríamos precisar fazer contas. Qualquer relação profunda e de longo prazo tem custos: não podemos fazer exatamente o que queremos, agir de acordo com nossos impulsos, ir aonde desejarmos e quando bem entendermos ou dizer o que nos vêm à mente. Mas esse custo não é contabilizado como prejuízo num envolvimento saudável. Ao contrário: ele nos traz lucro, porque nos aproxima daquilo que queremos ser. Nos torna melhores.

Dizem que Michelangelo afirmava que seu método de escultura consistia em olhar um bloco de mármore e enxergar nele a figura a ser esculpida escondida lá dentro e, então, retirar tudo o que não fosse aquela imagem. Não sei se a frase é verdadeira, mas ela deu origem ao que é chamado de “fenômeno Michelangelo”: uma forma de relacionamento interpessoal no qual parceiros podem mutuamente fazer emergir o melhor de si.

Acreditando naquilo de bom que o outro é, ou pode vir a ser, as interações passam a ser pautadas por essa visão, que, por fim, se concretiza à medida em que o outro age de acordo com o potencial que se enxerga nele.

É isso que devemos buscar em nossos relacionamentos – parceiros que nos aproximem daquilo que queremos e podemos ser. É assim que nos sentimos mais autênticos e realizados em nossos vínculos.

Ninguém é exatamente a mesma pessoa quando está com seu par romântico e quando está sozinha. Quando essa diferença é para pior, estamos num relacionamento tóxico. Mas, quando a diferença é para melhor, pouco importa o que pagamos, pois qualquer custo se reverte num lucro que aumenta – e não reduz – a satisfação de se estar junto.

Muita gente se pergunta se estaria vivendo um relacionamento tóxico. Via de regra, quando a pessoa está em dúvida, boa a relação não é. Normalmente, a incerteza vem da coexistência de aspectos positivos e negativos.

Dificilmente alguém se mantém envolvido com gente que só lhe cause mal. A complexa teia de emoções, afetos, lembranças e reforços forma tal emaranhado em nossos cérebros que é possível – senão provável – que as emoções negativas despertadas num relacionamento tóxico sejam contrabalançadas por uma ou algumas recompensas. Satisfação sexual, financeira, espiritual, social... De alguma forma, as pessoas sentem como se estivessem pagando um preço emocional, mas minimamente recebendo algo de bom em troca.

Um relacionamento verdadeiramente saudável nos aproxima daquilo que queremos ser Foto: Panot/Adobe Stock

A dúvida, portanto, traz sempre um quê de cálculo de custo versus benefício. Por isso, digo que, geralmente, quando surge tal pergunta o relacionamento tem grande chance de sim, ser tóxico. Não importa o quê ou o quanto ele entregue – se a moeda em que se paga é nossa saúde emocional, não é uma relação saudável.

A rigor nem deveríamos precisar fazer contas. Qualquer relação profunda e de longo prazo tem custos: não podemos fazer exatamente o que queremos, agir de acordo com nossos impulsos, ir aonde desejarmos e quando bem entendermos ou dizer o que nos vêm à mente. Mas esse custo não é contabilizado como prejuízo num envolvimento saudável. Ao contrário: ele nos traz lucro, porque nos aproxima daquilo que queremos ser. Nos torna melhores.

Dizem que Michelangelo afirmava que seu método de escultura consistia em olhar um bloco de mármore e enxergar nele a figura a ser esculpida escondida lá dentro e, então, retirar tudo o que não fosse aquela imagem. Não sei se a frase é verdadeira, mas ela deu origem ao que é chamado de “fenômeno Michelangelo”: uma forma de relacionamento interpessoal no qual parceiros podem mutuamente fazer emergir o melhor de si.

Acreditando naquilo de bom que o outro é, ou pode vir a ser, as interações passam a ser pautadas por essa visão, que, por fim, se concretiza à medida em que o outro age de acordo com o potencial que se enxerga nele.

É isso que devemos buscar em nossos relacionamentos – parceiros que nos aproximem daquilo que queremos e podemos ser. É assim que nos sentimos mais autênticos e realizados em nossos vínculos.

Ninguém é exatamente a mesma pessoa quando está com seu par romântico e quando está sozinha. Quando essa diferença é para pior, estamos num relacionamento tóxico. Mas, quando a diferença é para melhor, pouco importa o que pagamos, pois qualquer custo se reverte num lucro que aumenta – e não reduz – a satisfação de se estar junto.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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