Psiquiatria e sociedade

Opinião|Inventário emocional


A covid-19 trouxe tantas emoções à tona que estamos sem lugar para guarda-las. Teremos que pôr ordem nas coisas

Por Daniel Martins de Barros

Chega uma hora em que a pessoa precisa criar coragem de invadir o depósito de suas emoções. A gente vai levando a vida no dia a dia, passando por cima do que sente, evitando pensar no que incomoda, usando o noticiário como distração, e enquanto isso as emoções vão ficando uma bagunça. Tem tristeza que fica guardada na caixa da raiva, alegria misturada com saudade, medo escondido debaixo de tapete. E toda vez que lembramos daquele depósito sentimos um certo frio na barriga. “Eu precisava dar uma olhada ali. Deve estar cheio de coisas que eu não precisaria mais guardar. Talvez tenha outras que seriam bem úteis nesse momento. Uma hora eu mexo”, pensamos. E seguimos fazendo o que quer que fosse.

Bem, esse é um dos momentos bastante propícios para essa organização. Sem sair, ou saindo com menos trânsito, sem precisar levar os filhos à escola, se quisermos certamente conseguimos pôr essa tarefa em nossa lista de afazeres. Até poderíamos continuar usando o trabalho como desculpa, mas a covid-19 trouxe tantas emoções à tona que estamos sem lugar para guarda-las. Teremos que pôr ordem nas coisas.

É interessante que mexer com nossas emoções parece assustador no começo, mas pode se tornar algo imensamente tranquilizador. 

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Enquanto não fazemos isso vamos levando os dias com uma vaga sensação de desconforto, às vezes mais intensa, às vezes menos, e não nos damos conta de como esse pano de fundo emocional interfere na nossa vida. Explodimos do nada, irritamo-nos com coisas pequenas; estranhamos como pequenos problemas nos deixam tão inquietos. Como quando estamos pensando numa situação preocupante, tentando resolvê-la mentalmente, e algo nos distrai por poucos segundos, o bastante contudo, para atrapalhar nosso raciocínio. “No que eu estava pensando mesmo?”, nos perguntamos sem lembrar. Somos deixados com a preocupação, mas sem saber com o quê.

Mas quando fazemos o inventário das emoções e as colocamos no lugar muito dessa energia negativa se dissipa. Ou pelo menos vai para a direção certa.

Comece separando as coisas. Isso aqui é magoa. Isso é raiva. Essa outra está no lugar errado, trata-se de uma tristeza. E o que esse orgulho está fazendo aí com as vergonhas? Só de fazer isso já podemos no livrar de muita tranqueira. “Puxa, estava há tanto tempo alimentando um ódio que, olhando bem, é muito mais uma decepção. Melhor deixar para lá”.

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Em seguida, avalie muito bem se elas ainda têm algum sentido. Emoções que foram úteis no passado agora podem estar só atrapalhando: “Gente. Porque ainda estou mantendo esse medo de me relacionar? Já tive tantos relacionamentos bons depois de ter adquirido esse medo. Vai para a reciclagem”.

Por fim, veja aquelas que estão drenando energia inutilmente. A raiva, por exemplo, tem sentido se nos impele a brigar por algo que cremos ser nosso direito, se canalizada uma indignação para a mudança. 

Mas de que adianta ficar na janela alimentando a raiva do povo furando a quarentena? Mesma coisa com o medo: ele nos assusta para evitar ameaças. Se vislumbramos uma crise econômica fora do nosso controle à frente, de que vale ficar com medo?

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Sobretudo atualmente, não é possível não sentir emoções ruins. Mas podemos ao menos evitar que sua bagunça nos atrapalhe tanto.

Chega uma hora em que a pessoa precisa criar coragem de invadir o depósito de suas emoções. A gente vai levando a vida no dia a dia, passando por cima do que sente, evitando pensar no que incomoda, usando o noticiário como distração, e enquanto isso as emoções vão ficando uma bagunça. Tem tristeza que fica guardada na caixa da raiva, alegria misturada com saudade, medo escondido debaixo de tapete. E toda vez que lembramos daquele depósito sentimos um certo frio na barriga. “Eu precisava dar uma olhada ali. Deve estar cheio de coisas que eu não precisaria mais guardar. Talvez tenha outras que seriam bem úteis nesse momento. Uma hora eu mexo”, pensamos. E seguimos fazendo o que quer que fosse.

Bem, esse é um dos momentos bastante propícios para essa organização. Sem sair, ou saindo com menos trânsito, sem precisar levar os filhos à escola, se quisermos certamente conseguimos pôr essa tarefa em nossa lista de afazeres. Até poderíamos continuar usando o trabalho como desculpa, mas a covid-19 trouxe tantas emoções à tona que estamos sem lugar para guarda-las. Teremos que pôr ordem nas coisas.

É interessante que mexer com nossas emoções parece assustador no começo, mas pode se tornar algo imensamente tranquilizador. 

Enquanto não fazemos isso vamos levando os dias com uma vaga sensação de desconforto, às vezes mais intensa, às vezes menos, e não nos damos conta de como esse pano de fundo emocional interfere na nossa vida. Explodimos do nada, irritamo-nos com coisas pequenas; estranhamos como pequenos problemas nos deixam tão inquietos. Como quando estamos pensando numa situação preocupante, tentando resolvê-la mentalmente, e algo nos distrai por poucos segundos, o bastante contudo, para atrapalhar nosso raciocínio. “No que eu estava pensando mesmo?”, nos perguntamos sem lembrar. Somos deixados com a preocupação, mas sem saber com o quê.

Mas quando fazemos o inventário das emoções e as colocamos no lugar muito dessa energia negativa se dissipa. Ou pelo menos vai para a direção certa.

Comece separando as coisas. Isso aqui é magoa. Isso é raiva. Essa outra está no lugar errado, trata-se de uma tristeza. E o que esse orgulho está fazendo aí com as vergonhas? Só de fazer isso já podemos no livrar de muita tranqueira. “Puxa, estava há tanto tempo alimentando um ódio que, olhando bem, é muito mais uma decepção. Melhor deixar para lá”.

Em seguida, avalie muito bem se elas ainda têm algum sentido. Emoções que foram úteis no passado agora podem estar só atrapalhando: “Gente. Porque ainda estou mantendo esse medo de me relacionar? Já tive tantos relacionamentos bons depois de ter adquirido esse medo. Vai para a reciclagem”.

Por fim, veja aquelas que estão drenando energia inutilmente. A raiva, por exemplo, tem sentido se nos impele a brigar por algo que cremos ser nosso direito, se canalizada uma indignação para a mudança. 

Mas de que adianta ficar na janela alimentando a raiva do povo furando a quarentena? Mesma coisa com o medo: ele nos assusta para evitar ameaças. Se vislumbramos uma crise econômica fora do nosso controle à frente, de que vale ficar com medo?

Sobretudo atualmente, não é possível não sentir emoções ruins. Mas podemos ao menos evitar que sua bagunça nos atrapalhe tanto.

Chega uma hora em que a pessoa precisa criar coragem de invadir o depósito de suas emoções. A gente vai levando a vida no dia a dia, passando por cima do que sente, evitando pensar no que incomoda, usando o noticiário como distração, e enquanto isso as emoções vão ficando uma bagunça. Tem tristeza que fica guardada na caixa da raiva, alegria misturada com saudade, medo escondido debaixo de tapete. E toda vez que lembramos daquele depósito sentimos um certo frio na barriga. “Eu precisava dar uma olhada ali. Deve estar cheio de coisas que eu não precisaria mais guardar. Talvez tenha outras que seriam bem úteis nesse momento. Uma hora eu mexo”, pensamos. E seguimos fazendo o que quer que fosse.

Bem, esse é um dos momentos bastante propícios para essa organização. Sem sair, ou saindo com menos trânsito, sem precisar levar os filhos à escola, se quisermos certamente conseguimos pôr essa tarefa em nossa lista de afazeres. Até poderíamos continuar usando o trabalho como desculpa, mas a covid-19 trouxe tantas emoções à tona que estamos sem lugar para guarda-las. Teremos que pôr ordem nas coisas.

É interessante que mexer com nossas emoções parece assustador no começo, mas pode se tornar algo imensamente tranquilizador. 

Enquanto não fazemos isso vamos levando os dias com uma vaga sensação de desconforto, às vezes mais intensa, às vezes menos, e não nos damos conta de como esse pano de fundo emocional interfere na nossa vida. Explodimos do nada, irritamo-nos com coisas pequenas; estranhamos como pequenos problemas nos deixam tão inquietos. Como quando estamos pensando numa situação preocupante, tentando resolvê-la mentalmente, e algo nos distrai por poucos segundos, o bastante contudo, para atrapalhar nosso raciocínio. “No que eu estava pensando mesmo?”, nos perguntamos sem lembrar. Somos deixados com a preocupação, mas sem saber com o quê.

Mas quando fazemos o inventário das emoções e as colocamos no lugar muito dessa energia negativa se dissipa. Ou pelo menos vai para a direção certa.

Comece separando as coisas. Isso aqui é magoa. Isso é raiva. Essa outra está no lugar errado, trata-se de uma tristeza. E o que esse orgulho está fazendo aí com as vergonhas? Só de fazer isso já podemos no livrar de muita tranqueira. “Puxa, estava há tanto tempo alimentando um ódio que, olhando bem, é muito mais uma decepção. Melhor deixar para lá”.

Em seguida, avalie muito bem se elas ainda têm algum sentido. Emoções que foram úteis no passado agora podem estar só atrapalhando: “Gente. Porque ainda estou mantendo esse medo de me relacionar? Já tive tantos relacionamentos bons depois de ter adquirido esse medo. Vai para a reciclagem”.

Por fim, veja aquelas que estão drenando energia inutilmente. A raiva, por exemplo, tem sentido se nos impele a brigar por algo que cremos ser nosso direito, se canalizada uma indignação para a mudança. 

Mas de que adianta ficar na janela alimentando a raiva do povo furando a quarentena? Mesma coisa com o medo: ele nos assusta para evitar ameaças. Se vislumbramos uma crise econômica fora do nosso controle à frente, de que vale ficar com medo?

Sobretudo atualmente, não é possível não sentir emoções ruins. Mas podemos ao menos evitar que sua bagunça nos atrapalhe tanto.

Chega uma hora em que a pessoa precisa criar coragem de invadir o depósito de suas emoções. A gente vai levando a vida no dia a dia, passando por cima do que sente, evitando pensar no que incomoda, usando o noticiário como distração, e enquanto isso as emoções vão ficando uma bagunça. Tem tristeza que fica guardada na caixa da raiva, alegria misturada com saudade, medo escondido debaixo de tapete. E toda vez que lembramos daquele depósito sentimos um certo frio na barriga. “Eu precisava dar uma olhada ali. Deve estar cheio de coisas que eu não precisaria mais guardar. Talvez tenha outras que seriam bem úteis nesse momento. Uma hora eu mexo”, pensamos. E seguimos fazendo o que quer que fosse.

Bem, esse é um dos momentos bastante propícios para essa organização. Sem sair, ou saindo com menos trânsito, sem precisar levar os filhos à escola, se quisermos certamente conseguimos pôr essa tarefa em nossa lista de afazeres. Até poderíamos continuar usando o trabalho como desculpa, mas a covid-19 trouxe tantas emoções à tona que estamos sem lugar para guarda-las. Teremos que pôr ordem nas coisas.

É interessante que mexer com nossas emoções parece assustador no começo, mas pode se tornar algo imensamente tranquilizador. 

Enquanto não fazemos isso vamos levando os dias com uma vaga sensação de desconforto, às vezes mais intensa, às vezes menos, e não nos damos conta de como esse pano de fundo emocional interfere na nossa vida. Explodimos do nada, irritamo-nos com coisas pequenas; estranhamos como pequenos problemas nos deixam tão inquietos. Como quando estamos pensando numa situação preocupante, tentando resolvê-la mentalmente, e algo nos distrai por poucos segundos, o bastante contudo, para atrapalhar nosso raciocínio. “No que eu estava pensando mesmo?”, nos perguntamos sem lembrar. Somos deixados com a preocupação, mas sem saber com o quê.

Mas quando fazemos o inventário das emoções e as colocamos no lugar muito dessa energia negativa se dissipa. Ou pelo menos vai para a direção certa.

Comece separando as coisas. Isso aqui é magoa. Isso é raiva. Essa outra está no lugar errado, trata-se de uma tristeza. E o que esse orgulho está fazendo aí com as vergonhas? Só de fazer isso já podemos no livrar de muita tranqueira. “Puxa, estava há tanto tempo alimentando um ódio que, olhando bem, é muito mais uma decepção. Melhor deixar para lá”.

Em seguida, avalie muito bem se elas ainda têm algum sentido. Emoções que foram úteis no passado agora podem estar só atrapalhando: “Gente. Porque ainda estou mantendo esse medo de me relacionar? Já tive tantos relacionamentos bons depois de ter adquirido esse medo. Vai para a reciclagem”.

Por fim, veja aquelas que estão drenando energia inutilmente. A raiva, por exemplo, tem sentido se nos impele a brigar por algo que cremos ser nosso direito, se canalizada uma indignação para a mudança. 

Mas de que adianta ficar na janela alimentando a raiva do povo furando a quarentena? Mesma coisa com o medo: ele nos assusta para evitar ameaças. Se vislumbramos uma crise econômica fora do nosso controle à frente, de que vale ficar com medo?

Sobretudo atualmente, não é possível não sentir emoções ruins. Mas podemos ao menos evitar que sua bagunça nos atrapalhe tanto.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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