Psiquiatria e sociedade

Opinião|Para seguir vivendo


Contra o suicídio, o mais importante é investimento sério em saúde mental

Por Daniel Martins de Barros

Setembro é o mês da conscientização sobre o suicídio. A Organização Mundial da Saúde se une a entidades ao redor dos vários países para conscientizar as pessoas sobre o problema. Embora já tenha falado bastante do tema em minhas colunas, sou um pouco cético com relação a essas campanhas. Pelo menos ao modo como elas vêm sendo feitas.

Daniel Martins de Barrosé psiquiatra Foto: Hélvio Romero/Estadão

Preste atenção: a maioria delas se debruça sobre informações como números de casos, taxa de crescimento de mortes, populações vulneráveis, causas para tal comportamento. Por vezes entrevistam pessoas que tentaram se matar ou que perderam familiares dessa forma. E terminam dando o número de telefone do CVV (188), serviço gratuito que atende pessoas em crise.

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Parece que a única parte dessas matérias que realmente contribui em algo para a prevenção é dar o telefone do CVV. De que maneira o restante das informações ajuda a evitar novos suicídios?

Entendo que em campanhas para prevenção da hipertensão a ideia de apresentar informações sobre os riscos da pressão alta é inclinar as pessoas a adotar hábitos mais saudáveis, reduzir consumo de sal, se exercitar. Quando falamos em prevenção da febre amarela, pode fazer sentido mostrar os números crescentes de casos para ver se as pessoas finalmente se livram da água parada em suas casas. Nas iniciativas contra o câncer, apresentar a magnitude do problema pode ajudar a convencer a população alvo a fazer exames preventivos. Mas, no caso do suicídio, o efeito pode ser exatamente oposto do que se espera.

Apresentar números estrepitosos e mostrar incrementos nas ocorrências não ajudam a evitar o suicídio e ainda pode empurrar as pessoas em risco na direção que se quer evitar. Se é um comportamento tão comum assim, se está todo mundo fazendo, por que não eu?, pensa-se mesmo que inconscientemente. E pior: conteúdos que explicitam motivos para o suicídio, afirmando que quem se mata o faz por causa disso ou daquilo, pode ser o estímulo que faltava para outras pessoas, passando pelas mesmas coisas, contemplarem seriamente o suicídio.

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A verdade é que nós não sabemos muito bem quais intervenções são eficazes na prevenção desse comportamento. As pesquisas feitas com programas implementados em escolas, por exemplo, normalmente não se mostram eficazes na redução do número de casos. Por vezes diminuem a ocorrência de pensamentos de morte, aumentam a consciência sobre o problema, mas prevenir desfechos fatais de fato é muito mais difícil.

Por outro lado, as iniciativas que já se mostraram eficazes para a redução de casos de suicídio nem sempre contam com a boa vontade dos tomadores de decisão em diversas esferas.

Em primeiro lugar, de longe, o mais importante é investimento sério em saúde mental. Sabe-se que a maioria dos casos está ligada a algum transtorno mental, principalmente depressão e dependência química. Ampliar o acesso da população a equipes de saúde mental, contudo, não costuma render votos. Campanhas para regular a propaganda de cerveja ou restringir o consumo de bebida, então, garantem a impopularidade. Mas seriam fundamentais para realmente fazer algo efetivo na prevenção.

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Além disso, a identificação dos meios letais mais utilizados regionalmente - que pode variar de lugar para lugar - é essencial para qualquer plano de intervenção. Sabe-se que dificultar o acesso aos meios mais utilizados reduz a ocorrência geral de casos.

Curiosamente, ao contrário do mito popular, as pessoas não mudam simplesmente de método, mas acabam pensando duas vezes quando não têm acesso fácil à forma que planejaram. Cidades que erguem barreiras em pontes de onde muita gente salta, por exemplo, tendem a apresentar redução no número total de casos.

E, embora eu não conheça evidências científicas sobre essa última sugestão, acho que não custa adotar um tom mais positivo se quisermos convencer as pessoas de que a vida vale a pena. E se em vez de mostrar porque se busca a morte lembrarmos que o ser humano é capaz de superar as maiores adversidades? Uma mensagem de otimismo é capaz de abrir uma fresta de esperança para ajudar as pessoas a seguir em frente mais um pouco. Às vezes é o que basta.

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*DANIEL MARTINS DE BARROS É PSIQUIATRA

Setembro é o mês da conscientização sobre o suicídio. A Organização Mundial da Saúde se une a entidades ao redor dos vários países para conscientizar as pessoas sobre o problema. Embora já tenha falado bastante do tema em minhas colunas, sou um pouco cético com relação a essas campanhas. Pelo menos ao modo como elas vêm sendo feitas.

Daniel Martins de Barrosé psiquiatra Foto: Hélvio Romero/Estadão

Preste atenção: a maioria delas se debruça sobre informações como números de casos, taxa de crescimento de mortes, populações vulneráveis, causas para tal comportamento. Por vezes entrevistam pessoas que tentaram se matar ou que perderam familiares dessa forma. E terminam dando o número de telefone do CVV (188), serviço gratuito que atende pessoas em crise.

Parece que a única parte dessas matérias que realmente contribui em algo para a prevenção é dar o telefone do CVV. De que maneira o restante das informações ajuda a evitar novos suicídios?

Entendo que em campanhas para prevenção da hipertensão a ideia de apresentar informações sobre os riscos da pressão alta é inclinar as pessoas a adotar hábitos mais saudáveis, reduzir consumo de sal, se exercitar. Quando falamos em prevenção da febre amarela, pode fazer sentido mostrar os números crescentes de casos para ver se as pessoas finalmente se livram da água parada em suas casas. Nas iniciativas contra o câncer, apresentar a magnitude do problema pode ajudar a convencer a população alvo a fazer exames preventivos. Mas, no caso do suicídio, o efeito pode ser exatamente oposto do que se espera.

Apresentar números estrepitosos e mostrar incrementos nas ocorrências não ajudam a evitar o suicídio e ainda pode empurrar as pessoas em risco na direção que se quer evitar. Se é um comportamento tão comum assim, se está todo mundo fazendo, por que não eu?, pensa-se mesmo que inconscientemente. E pior: conteúdos que explicitam motivos para o suicídio, afirmando que quem se mata o faz por causa disso ou daquilo, pode ser o estímulo que faltava para outras pessoas, passando pelas mesmas coisas, contemplarem seriamente o suicídio.

A verdade é que nós não sabemos muito bem quais intervenções são eficazes na prevenção desse comportamento. As pesquisas feitas com programas implementados em escolas, por exemplo, normalmente não se mostram eficazes na redução do número de casos. Por vezes diminuem a ocorrência de pensamentos de morte, aumentam a consciência sobre o problema, mas prevenir desfechos fatais de fato é muito mais difícil.

Por outro lado, as iniciativas que já se mostraram eficazes para a redução de casos de suicídio nem sempre contam com a boa vontade dos tomadores de decisão em diversas esferas.

Em primeiro lugar, de longe, o mais importante é investimento sério em saúde mental. Sabe-se que a maioria dos casos está ligada a algum transtorno mental, principalmente depressão e dependência química. Ampliar o acesso da população a equipes de saúde mental, contudo, não costuma render votos. Campanhas para regular a propaganda de cerveja ou restringir o consumo de bebida, então, garantem a impopularidade. Mas seriam fundamentais para realmente fazer algo efetivo na prevenção.

Além disso, a identificação dos meios letais mais utilizados regionalmente - que pode variar de lugar para lugar - é essencial para qualquer plano de intervenção. Sabe-se que dificultar o acesso aos meios mais utilizados reduz a ocorrência geral de casos.

Curiosamente, ao contrário do mito popular, as pessoas não mudam simplesmente de método, mas acabam pensando duas vezes quando não têm acesso fácil à forma que planejaram. Cidades que erguem barreiras em pontes de onde muita gente salta, por exemplo, tendem a apresentar redução no número total de casos.

E, embora eu não conheça evidências científicas sobre essa última sugestão, acho que não custa adotar um tom mais positivo se quisermos convencer as pessoas de que a vida vale a pena. E se em vez de mostrar porque se busca a morte lembrarmos que o ser humano é capaz de superar as maiores adversidades? Uma mensagem de otimismo é capaz de abrir uma fresta de esperança para ajudar as pessoas a seguir em frente mais um pouco. Às vezes é o que basta.

*DANIEL MARTINS DE BARROS É PSIQUIATRA

Setembro é o mês da conscientização sobre o suicídio. A Organização Mundial da Saúde se une a entidades ao redor dos vários países para conscientizar as pessoas sobre o problema. Embora já tenha falado bastante do tema em minhas colunas, sou um pouco cético com relação a essas campanhas. Pelo menos ao modo como elas vêm sendo feitas.

Daniel Martins de Barrosé psiquiatra Foto: Hélvio Romero/Estadão

Preste atenção: a maioria delas se debruça sobre informações como números de casos, taxa de crescimento de mortes, populações vulneráveis, causas para tal comportamento. Por vezes entrevistam pessoas que tentaram se matar ou que perderam familiares dessa forma. E terminam dando o número de telefone do CVV (188), serviço gratuito que atende pessoas em crise.

Parece que a única parte dessas matérias que realmente contribui em algo para a prevenção é dar o telefone do CVV. De que maneira o restante das informações ajuda a evitar novos suicídios?

Entendo que em campanhas para prevenção da hipertensão a ideia de apresentar informações sobre os riscos da pressão alta é inclinar as pessoas a adotar hábitos mais saudáveis, reduzir consumo de sal, se exercitar. Quando falamos em prevenção da febre amarela, pode fazer sentido mostrar os números crescentes de casos para ver se as pessoas finalmente se livram da água parada em suas casas. Nas iniciativas contra o câncer, apresentar a magnitude do problema pode ajudar a convencer a população alvo a fazer exames preventivos. Mas, no caso do suicídio, o efeito pode ser exatamente oposto do que se espera.

Apresentar números estrepitosos e mostrar incrementos nas ocorrências não ajudam a evitar o suicídio e ainda pode empurrar as pessoas em risco na direção que se quer evitar. Se é um comportamento tão comum assim, se está todo mundo fazendo, por que não eu?, pensa-se mesmo que inconscientemente. E pior: conteúdos que explicitam motivos para o suicídio, afirmando que quem se mata o faz por causa disso ou daquilo, pode ser o estímulo que faltava para outras pessoas, passando pelas mesmas coisas, contemplarem seriamente o suicídio.

A verdade é que nós não sabemos muito bem quais intervenções são eficazes na prevenção desse comportamento. As pesquisas feitas com programas implementados em escolas, por exemplo, normalmente não se mostram eficazes na redução do número de casos. Por vezes diminuem a ocorrência de pensamentos de morte, aumentam a consciência sobre o problema, mas prevenir desfechos fatais de fato é muito mais difícil.

Por outro lado, as iniciativas que já se mostraram eficazes para a redução de casos de suicídio nem sempre contam com a boa vontade dos tomadores de decisão em diversas esferas.

Em primeiro lugar, de longe, o mais importante é investimento sério em saúde mental. Sabe-se que a maioria dos casos está ligada a algum transtorno mental, principalmente depressão e dependência química. Ampliar o acesso da população a equipes de saúde mental, contudo, não costuma render votos. Campanhas para regular a propaganda de cerveja ou restringir o consumo de bebida, então, garantem a impopularidade. Mas seriam fundamentais para realmente fazer algo efetivo na prevenção.

Além disso, a identificação dos meios letais mais utilizados regionalmente - que pode variar de lugar para lugar - é essencial para qualquer plano de intervenção. Sabe-se que dificultar o acesso aos meios mais utilizados reduz a ocorrência geral de casos.

Curiosamente, ao contrário do mito popular, as pessoas não mudam simplesmente de método, mas acabam pensando duas vezes quando não têm acesso fácil à forma que planejaram. Cidades que erguem barreiras em pontes de onde muita gente salta, por exemplo, tendem a apresentar redução no número total de casos.

E, embora eu não conheça evidências científicas sobre essa última sugestão, acho que não custa adotar um tom mais positivo se quisermos convencer as pessoas de que a vida vale a pena. E se em vez de mostrar porque se busca a morte lembrarmos que o ser humano é capaz de superar as maiores adversidades? Uma mensagem de otimismo é capaz de abrir uma fresta de esperança para ajudar as pessoas a seguir em frente mais um pouco. Às vezes é o que basta.

*DANIEL MARTINS DE BARROS É PSIQUIATRA

Setembro é o mês da conscientização sobre o suicídio. A Organização Mundial da Saúde se une a entidades ao redor dos vários países para conscientizar as pessoas sobre o problema. Embora já tenha falado bastante do tema em minhas colunas, sou um pouco cético com relação a essas campanhas. Pelo menos ao modo como elas vêm sendo feitas.

Daniel Martins de Barrosé psiquiatra Foto: Hélvio Romero/Estadão

Preste atenção: a maioria delas se debruça sobre informações como números de casos, taxa de crescimento de mortes, populações vulneráveis, causas para tal comportamento. Por vezes entrevistam pessoas que tentaram se matar ou que perderam familiares dessa forma. E terminam dando o número de telefone do CVV (188), serviço gratuito que atende pessoas em crise.

Parece que a única parte dessas matérias que realmente contribui em algo para a prevenção é dar o telefone do CVV. De que maneira o restante das informações ajuda a evitar novos suicídios?

Entendo que em campanhas para prevenção da hipertensão a ideia de apresentar informações sobre os riscos da pressão alta é inclinar as pessoas a adotar hábitos mais saudáveis, reduzir consumo de sal, se exercitar. Quando falamos em prevenção da febre amarela, pode fazer sentido mostrar os números crescentes de casos para ver se as pessoas finalmente se livram da água parada em suas casas. Nas iniciativas contra o câncer, apresentar a magnitude do problema pode ajudar a convencer a população alvo a fazer exames preventivos. Mas, no caso do suicídio, o efeito pode ser exatamente oposto do que se espera.

Apresentar números estrepitosos e mostrar incrementos nas ocorrências não ajudam a evitar o suicídio e ainda pode empurrar as pessoas em risco na direção que se quer evitar. Se é um comportamento tão comum assim, se está todo mundo fazendo, por que não eu?, pensa-se mesmo que inconscientemente. E pior: conteúdos que explicitam motivos para o suicídio, afirmando que quem se mata o faz por causa disso ou daquilo, pode ser o estímulo que faltava para outras pessoas, passando pelas mesmas coisas, contemplarem seriamente o suicídio.

A verdade é que nós não sabemos muito bem quais intervenções são eficazes na prevenção desse comportamento. As pesquisas feitas com programas implementados em escolas, por exemplo, normalmente não se mostram eficazes na redução do número de casos. Por vezes diminuem a ocorrência de pensamentos de morte, aumentam a consciência sobre o problema, mas prevenir desfechos fatais de fato é muito mais difícil.

Por outro lado, as iniciativas que já se mostraram eficazes para a redução de casos de suicídio nem sempre contam com a boa vontade dos tomadores de decisão em diversas esferas.

Em primeiro lugar, de longe, o mais importante é investimento sério em saúde mental. Sabe-se que a maioria dos casos está ligada a algum transtorno mental, principalmente depressão e dependência química. Ampliar o acesso da população a equipes de saúde mental, contudo, não costuma render votos. Campanhas para regular a propaganda de cerveja ou restringir o consumo de bebida, então, garantem a impopularidade. Mas seriam fundamentais para realmente fazer algo efetivo na prevenção.

Além disso, a identificação dos meios letais mais utilizados regionalmente - que pode variar de lugar para lugar - é essencial para qualquer plano de intervenção. Sabe-se que dificultar o acesso aos meios mais utilizados reduz a ocorrência geral de casos.

Curiosamente, ao contrário do mito popular, as pessoas não mudam simplesmente de método, mas acabam pensando duas vezes quando não têm acesso fácil à forma que planejaram. Cidades que erguem barreiras em pontes de onde muita gente salta, por exemplo, tendem a apresentar redução no número total de casos.

E, embora eu não conheça evidências científicas sobre essa última sugestão, acho que não custa adotar um tom mais positivo se quisermos convencer as pessoas de que a vida vale a pena. E se em vez de mostrar porque se busca a morte lembrarmos que o ser humano é capaz de superar as maiores adversidades? Uma mensagem de otimismo é capaz de abrir uma fresta de esperança para ajudar as pessoas a seguir em frente mais um pouco. Às vezes é o que basta.

*DANIEL MARTINS DE BARROS É PSIQUIATRA

Setembro é o mês da conscientização sobre o suicídio. A Organização Mundial da Saúde se une a entidades ao redor dos vários países para conscientizar as pessoas sobre o problema. Embora já tenha falado bastante do tema em minhas colunas, sou um pouco cético com relação a essas campanhas. Pelo menos ao modo como elas vêm sendo feitas.

Daniel Martins de Barrosé psiquiatra Foto: Hélvio Romero/Estadão

Preste atenção: a maioria delas se debruça sobre informações como números de casos, taxa de crescimento de mortes, populações vulneráveis, causas para tal comportamento. Por vezes entrevistam pessoas que tentaram se matar ou que perderam familiares dessa forma. E terminam dando o número de telefone do CVV (188), serviço gratuito que atende pessoas em crise.

Parece que a única parte dessas matérias que realmente contribui em algo para a prevenção é dar o telefone do CVV. De que maneira o restante das informações ajuda a evitar novos suicídios?

Entendo que em campanhas para prevenção da hipertensão a ideia de apresentar informações sobre os riscos da pressão alta é inclinar as pessoas a adotar hábitos mais saudáveis, reduzir consumo de sal, se exercitar. Quando falamos em prevenção da febre amarela, pode fazer sentido mostrar os números crescentes de casos para ver se as pessoas finalmente se livram da água parada em suas casas. Nas iniciativas contra o câncer, apresentar a magnitude do problema pode ajudar a convencer a população alvo a fazer exames preventivos. Mas, no caso do suicídio, o efeito pode ser exatamente oposto do que se espera.

Apresentar números estrepitosos e mostrar incrementos nas ocorrências não ajudam a evitar o suicídio e ainda pode empurrar as pessoas em risco na direção que se quer evitar. Se é um comportamento tão comum assim, se está todo mundo fazendo, por que não eu?, pensa-se mesmo que inconscientemente. E pior: conteúdos que explicitam motivos para o suicídio, afirmando que quem se mata o faz por causa disso ou daquilo, pode ser o estímulo que faltava para outras pessoas, passando pelas mesmas coisas, contemplarem seriamente o suicídio.

A verdade é que nós não sabemos muito bem quais intervenções são eficazes na prevenção desse comportamento. As pesquisas feitas com programas implementados em escolas, por exemplo, normalmente não se mostram eficazes na redução do número de casos. Por vezes diminuem a ocorrência de pensamentos de morte, aumentam a consciência sobre o problema, mas prevenir desfechos fatais de fato é muito mais difícil.

Por outro lado, as iniciativas que já se mostraram eficazes para a redução de casos de suicídio nem sempre contam com a boa vontade dos tomadores de decisão em diversas esferas.

Em primeiro lugar, de longe, o mais importante é investimento sério em saúde mental. Sabe-se que a maioria dos casos está ligada a algum transtorno mental, principalmente depressão e dependência química. Ampliar o acesso da população a equipes de saúde mental, contudo, não costuma render votos. Campanhas para regular a propaganda de cerveja ou restringir o consumo de bebida, então, garantem a impopularidade. Mas seriam fundamentais para realmente fazer algo efetivo na prevenção.

Além disso, a identificação dos meios letais mais utilizados regionalmente - que pode variar de lugar para lugar - é essencial para qualquer plano de intervenção. Sabe-se que dificultar o acesso aos meios mais utilizados reduz a ocorrência geral de casos.

Curiosamente, ao contrário do mito popular, as pessoas não mudam simplesmente de método, mas acabam pensando duas vezes quando não têm acesso fácil à forma que planejaram. Cidades que erguem barreiras em pontes de onde muita gente salta, por exemplo, tendem a apresentar redução no número total de casos.

E, embora eu não conheça evidências científicas sobre essa última sugestão, acho que não custa adotar um tom mais positivo se quisermos convencer as pessoas de que a vida vale a pena. E se em vez de mostrar porque se busca a morte lembrarmos que o ser humano é capaz de superar as maiores adversidades? Uma mensagem de otimismo é capaz de abrir uma fresta de esperança para ajudar as pessoas a seguir em frente mais um pouco. Às vezes é o que basta.

*DANIEL MARTINS DE BARROS É PSIQUIATRA

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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