De vez em quando eu fico com vergonha de coisas em que acreditei num primeiro momento. São momentos em que, pensando melhor, consigo ver que caí numa armadilha retórica, aceitando de imediato algo que não era bem assim. Não sei você, mas eu me sinto meio bobo nessas horas. Deve ser por isso que a primeira impressão é a que fica.
Pensar bem e rever as opiniões pode ser constrangedor para nós mesmos. Então, abrimos mão de aprofundar as reflexões para não ter esse mal-estar – e ficamos com as primeiras impressões mesmo, estejam certas ou não.
Isso acontece com frequência por causa dos nossos vieses cognitivos – aqueles saltos que nossa mente por vezes dá diretamente para conclusões de fácil compreensão, mesmo que erradas.
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Um dos exemplos mais famosos é o viés de confirmação: quando acreditamos em algo e somos apresentados a diversas evidências, umas que comprovam e outras que desmentem o que acreditamos, é muito fácil levar a sério o que reforça nossas opiniões e descartar – sem sequer prestar atenção ou prontamente desqualificando – o que contraria nossa crença.
Uma forma eficaz de explorar os vieses cognitivos é por meio das falácias, argumentos que parecem fazer todo sentido ao serem expostos, mas que não resistem a um exame mais rigoroso. O difícil é fazer esse exame rigoroso das ideias que coincidem com nossa visão de mundo, porque sentimos que elas não precisam ser questionadas. Assim, aceitamos de forma acrítica algumas coisas que, se pensássemos melhor, veríamos ser armadilhas.
O discurso político é rico nessas falácias. Elas funcionam bem porque são absorvidas imediatamente dentro das bolhas para as quais são dirigidas – ao mesmo tempo em que poucas vezes são desmascaradas pelo debate público. A não ser quando ocorrem exageros. Nesses casos, a repercussão nos faz pensar melhor. Como o de comparar qualquer coisa que seja com o holocausto. Qualquer atrocidade, por pior que seja, dificilmente chegará perto da máquina estatal de extermínio construída pela Alemanha nazista.
A comparação pode parecer fazer sentido num primeiro momento: às vezes, há pessoas sendo mortas sem capacidade de se defender; por outras, há um governo cometendo homicídios.
Mas basta um mínimo de aprofundamento na comparação para se perceber que, em se tratando do holocausto, as diferenças são sempre muito maiores do que as semelhanças – tornando-se, portanto, uma falácia de falsa equivalência.
Pode ser um pouco constrangedor pensar melhor e voltar atrás. Mas assumir esse embaraço costuma ser muito menos prejudicial do que assumir compromisso com o erro.