O pequeno Davi, filho de Daniela Batista, teve sucessivas infecções no ouvido por cerca de um ano. Aos 4 anos de idade, viroses e infecções no nariz, garganta e ouvido são frequentes — e nem sempre de fácil tratamento.
Após consultas e antibióticos, o pediatra aconselhou: era hora de buscar um otorrinolaringologista. O especialista solicitou um exame e descobriu a causa do problema: o aumento da adenoide, uma glândula esponjosa atrás das amígdalas, retiradas em uma cirurgia.
“Se tivéssemos procurado um otorrino logo no início dessas infecções, talvez o quadro dele não tivesse se agravado e evoluído para a necessidade de cirurgia”, diz a mãe.
Além de infecções recorrentes, há outras situações em que é recomendado levar a criança ao otorrinolaringologista. Veja a seguir.
Atraso na fala
“Há crianças que recebem um diagnóstico de autismo por não falarem ou não atenderem ao chamado dos pais, quando simplesmente não escutam bem”, afirma Paulo Mendes Junior, médico do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia (IPO).
O teste da orelhinha, feito até 48 horas após o parto, serve como triagem de que algo está errado. Porém, mesmo que o resultado fique dentro dos padrões, alguns problemas no ouvido podem se desenvolver com o tempo, como excesso de cera ou catarro nas vias auditivas.
A dificuldade de associar palavras e a troca de letras ao falar também podem ter origem em problemas de audição, com impacto no desenvolvimento na criança, que simplesmente não entende o que é dito.
Falar muito alto ou não atender a um chamado
Crianças que falam alto, aumentam o volume da televisão ou do celular, não reagem a barulhos no ambiente ou não atendem quando são chamadas também podem apresentar algum comprometimento auditivo. Muitas vezes é excesso de cera, mas também pode ser algo mais grave.
Rodrigo Pereira, presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe) e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), alerta para as inflamações no ouvido, chamadas de otites.
Nesses casos, o problema pode se manifestar apenas como uma secreção indolor e residual no ouvido ou como infecções bacterianas dolorosas, podendo inclusive ocasionar febre.
“Mesmo após o tratamento com antibiótico, elas podem permanecer com algum comprometimento na audição, por isso o cuidado é redobrado”, destaca.
Rouquidão ou dor de garganta constante
Dor de garganta recorrente, que poder vir acompanhada de rouquidão, precisa da avaliação de um otorrinolaringologista. A causa pode ser desde um resfriado a uma infecção na garganta, além de rinite e sinusite.
Em casos mais raros, conforme Pereira, os sintomas podem ser reflexo de alterações anatômicas da laringe ou de problemas neurológicos.
Ronco
O médico do IPO conta que a maioria dos atendimentos pediátricos no local têm como motivo o ronco.
O aumento das adenoides, como no caso de Davi, pode ser uma das causas do problema. A carne esponjosa obstrui o nariz, fazendo a criança respirar de forma incorreta e provocando o barulho durante o sono.
“Isso também pode gerar uma apneia do sono, que é não conseguir respirar, algo grave tanto para adultos quanto para crianças”, ressalta.
Rinite e sinusite
Há dez anos, Maria Ribeiro percebeu que o filho, então com 2 anos de idade, ficava com o nariz entupido quando o clima mudava, semelhante ao que acontecia com a irmã mais velha e os tios: era um quadro de rinite.
“A pediatra sempre dava o mesmo tratamento básico: lavar o nariz com soro, antibiótico e, se tivesse febre, paracetamol. Mas não funcionava”, recorda Maria.
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“Nós que somos adultos ficamos mal, imagine uma criança”, diz Mendes Junior. Ele enfatiza que, apesar de rinites serem comuns, merecem atenção e cuidado especializado.
Tratamentos
O tratamento varia conforme o problema e pode incluir desde medicamentos até cirurgia. Por isso, os otorrinolaringologistas recomendam ao menos uma consulta ao ano para as crianças.
“Essa abordagem permite identificar complicações potenciais, que, se tratadas desde o início, podem ser superadas e contribuir para a experiência de vida e saúde geral da criança”, aconselha o presidente da ABOPe.