A extração do dente do siso é uma experiência quase inevitável. Mesmo sendo considerado um procedimento comum, ainda persistem muitas dúvidas sobre esse dente e o seu processo de extração – o que pode, inclusive, contribuir para que seja um momento cheio de receios e inseguranças.
Embora não exista uma explicação definitiva sobre o porquê é preciso extrair o siso, Sidney Neves, especialista e integrante da Câmara Técnica de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), conta que isso pode ter relação com o processo evolutivo e uma mudança no padrão alimentar.
De acordo com ele, estudos sugerem que, com a introdução de alimentos cozidos, a mastigação se tornou menos exigente em comparação com uma dieta baseada em alimentos crus, como era comum em tempos pré-históricos. “Essa transição alimentar teria diminuído a necessidade de espaço na mandíbula, resultando na redução do tamanho das arcadas dentárias ao longo do tempo”, explica Neves.
Como resultado, muitas pessoas não desenvolvem mais os sisos, também conhecidos como terceiros molares. Outras, contudo, ainda lidam com a limitação de espaço, levando esses dentes a emergirem parcialmente ou a ficarem completamente inclusos na gengiva. “Essa situação dificulta a higienização adequada e favorece o acúmulo de resíduos alimentares e placa bacteriana, aumentando o risco de inflamações e episódios de dor e desconforto”, ensina o especialista.
Quando é necessário retirar o siso?
Conforme Neves explica, a extração do dente do siso é recomendada especificamente nos casos em que ocorre um desenvolvimento horizontal do dente, seja parcialmente visível na gengiva ou completamente inserido nessa região da boca, tornando-o imperceptível. Para aqueles que desenvolvem o siso normalmente, na posição vertical, a cirurgia de extração não é necessária.
Segundo o especialista, o processo de retirada é mais comum em pessoas entre 17 e 25 anos.
Quais são os sintomas envolvidos nesse processo?
Os sintomas variam conforme o caso. Para os sisos que se desenvolvem parcialmente, com apenas uma parte exposta na gengiva, é comum que haja sintomas dolorosos, como sangramento gengival, inchaço e dor persistente.
Por outro lado, quando o dente está completamente inserido na gengiva, o desenvolvimento tende a ser assintomático.
Quais os possíveis problemas que podem surgir se o siso não for extraído quando necessário?
Neves aponta que o problema mais preocupante está ligado à dificuldade de manter uma higienização adequada na região, o que pode resultar em processos infecciosos de rápida evolução, com potencial de afetar a área da face e do pescoço.
“Nos casos de sisos assintomáticos, embora o risco de infecção seja menor, há uma maior predisposição para o desenvolvimento de quadros graves, como cistos, lesões ou tumores, podendo alcançar proporções significativas”, explica.
Embora muitas pessoas acreditem que o siso afeta o alinhamento dos outros dentes, estudos recentes mostram que não há uma ligação significativa entre a presença do terceiro molar e o desalinhamento dentário.
Os cientistas sugerem que o desalinhamento está mais associado ao processo natural de estreitamento da mandíbula. Esse estreitamento ocorre devido à mastigação e aos pequenos desgastes que os dentes sofrem ao longo do tempo, em vez de ser causado especificamente pela presença do siso.
Como é feita a retirada do siso?
Geralmente, a extração do siso é realizada no consultório odontológico, utilizando anestesia local. No entanto, em situações excepcionais, quando o dente está deitado e ainda não erupcionou completamente, o procedimento pode ser mais complexo. Nesses casos, pode ser necessária uma cirurgia em ambiente hospitalar, com o uso de anestesia geral. Isso também se aplica quando os quatro sisos precisam ser extraídos de uma vez só.
Independentemente da situação, o dentista Sérgio Kignel, doutor em Diagnóstico Bucal e professor de Semiologia do Centro Universitário Herminio Ometto (Uniararas), afirma que é de praxe entrar com um antibiótico 24 horas antes do procedimento cirúrgico, para evitar os riscos de infecção durante ou após a extração. Depois disso, da anestesia e de outros procedimentos básicos, como limpeza bucal e esterilização dos materiais, a cirurgia é estabelecida de acordo com o posicionamento do dente: parcialmente exposto ou incluso completamente na gengiva.
“Quando o dente está completamente incluso, é necessário fazer uma incisão na gengiva para acessá-lo. Em alguns casos, se o dente estiver deitado ou abaixo do osso, é preciso dividi-lo em dois ou três fragmentos para facilitar a remoção, através de um procedimento chamado osteotomia, onde o osso é removido e o dente é retirado em pedaços”, descreve o especialista.
É necessário fazer exames antes de realizar a extração?
De acordo com Neves, o exame de imagem é extremamente importante, já que ajuda na elaboração do planejamento operatório. Isso pode ser feito por meio de radiografias ou tomografia da região.
A realização de outros tipos de exames, segundo o especialista, é determinada principalmente pela anamnese, ou seja, pela entrevista detalhada com o paciente. Se ele não apresenta sintomas como sangramento, possui exames de sangue recentes indicando boa saúde, não tem condições como asma, bronquite ou outras doenças imunossupressoras, e mantém um acompanhamento médico regular, é provável que não exista a necessidade de exames adicionais.
No entanto, em caso de doenças pré-existentes, como diabetes ou hipertensão, outros exames podem ser solicitados. “Nessas circunstâncias, é prudente consultar o médico responsável pelo paciente para alinhar recomendações e solicitar exames bioquímicos adicionais, visando aprimorar o tratamento”, diz o dentista.
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Quais os riscos envolvidos na cirurgia?
De acordo com Neves, diversos fatores devem ser levados em consideração. Um ponto importante é a propensão à hemorragia, que é mais significativa em pacientes que fazem uso de anticoagulantes ou que sofrem de hipertensão. Além disso, a cicatrização pode ser mais complexa em pacientes com diabetes, tornando qualquer intervenção cirúrgica mais difícil.
“Durante a avaliação pré-operatória, é essencial questionar o histórico médico do paciente, incluindo o controle da glicemia e outras condições de saúde. Muitas vezes, é necessário obter autorização e colaboração de outros profissionais, como cardiologistas, para garantir a segurança do procedimento. A abordagem multidisciplinar, nesses casos, é essencial”, relata o dentista.
Quanto às infecções, ele afirma que a avaliação da imunidade do paciente desempenha um papel fundamental na mitigação do risco. Além disso, o acompanhamento pós-operatório, juntamente com uma boa higiene bucal, é outro ponto importante para prevenir infecções. “Se houver infecção, são necessárias medidas adequadas, incluindo o uso criterioso de antibióticos, adaptados à evolução do paciente e à natureza da infecção”, explica Neves.
Em relação à anestesia, Kignel esclarece que o sedativo utilizado na extração do dente siso é o mesmo usado em procedimentos como restaurações ou tratamentos de canal, sendo que complicações, como reações alérgicas ou choques anafiláticos, são raras, especialmente considerando a grande quantidade de anestesias aplicadas diariamente. “Embora o risco seja muito baixo em termos percentuais, é importante avaliar o histórico do paciente, incluindo experiências prévias com anestesia, alergias conhecidas e outras condições médicas relevantes”, pondera o especialista.
Pacientes com infecção no pré-operatório podem realizar a extração?
Não. Em casos de infecção relacionada ao siso antes da cirurgia, o procedimento não pode ser realizado. Segundo Neves, quando isso acontece, é necessário iniciar o tratamento com antibióticos antes da cirurgia para resolver os sintomas. Em situações mais graves, o paciente pode precisar de internação hospitalar para receber antibióticos intravenosos e ser monitorado de perto para avaliar os indicadores de infecção no sangue.
“Além da avaliação clínica, exames de sangue podem ser realizados para confirmar a melhora do quadro infeccioso. A cirurgia de retirada do siso só pode ser realizada com segurança quando o paciente estiver completamente recuperado da infecção”, afirma o especialista.
Quais os cuidados necessários no pós-operatório?
Os cuidados pós-operatórios são essenciais para uma recuperação tranquila. Segundo Kignel, o paciente recebe prescrições de antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios para controlar a dor e prevenir infecções. Além disso, Neves complementa que os cuidados a seguir são essenciais:
- Evitar esforço físico;
- Evitar alimentos quentes ou duros;
- Higienizar corretamente a boca, conforme as orientações do cirurgião-dentista, tomando os medicamentos nos horários recomendados;
- Dar preferência a alimentos macios e frios, como sorvetes, açaí, vitaminas, além de caldos e sopas em temperatura ambiente (nunca quentes).