Como a pandemia afetou a saúde mental dos idosos? Veja sinais de alerta e como cuidar da mente


Transtorno mental que mais acomete pessoas com idade acima de 60 anos exige medicina especializada; IBGE estima que o número de idosos do País vai triplicar até 2050

Por Sofia Mello Lungui
Atualização:

A população brasileira está cada vez mais idosa – e é necessário olhar para a saúde mental dela. A depressão é o transtorno mental que mais acomete as pessoas com idade acima dos 60 anos – e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a população idosa vai triplicar no Brasil até 2050.

Antes da pandemia, isso já era um problema. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE), brasileiros entre 60 e 64 anos tinham o maior índice de depressão – 13% dessa população apresentou diagnóstico da doença. Dois anos após o início da pandemia, que impôs um período longo de isolamento, seus efeitos ainda são sentidos e trazem consequências.

”Quem estava na corda bamba, com a pandemia, caiu. Ou seja, quem já apresentava sintomas depressivos e cognitivos, ao se isolar e deixar de fazer atividades, aí que ficou deprimido mesmo. As crianças e os adolescentes sofreram o impacto, mas para os idosos foi muito devastador”, afirma a psicóloga e doutora em gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Denise Ribeiro Stort.

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Foi o que aconteceu com Rosa Maria do Prado Oliveira, de 67 anos, que já estava passando por um momento difícil em 2019, e na pandemia desabou.

Há mais de três anos, Rosa lida com a doença de seu marido, Marcelino do Prado Oliveira, de 57 anos, que vive com as sequelas de um aneurisma que o deixou tetraplégico em 2019. Ele passou sete meses internado e dona Rosa o acompanhou todos os dias durante esse período. “Ele chegou ao hospital falando e andando normalmente, mas saiu de lá sem poder falar, sem conseguir comer, sem caminhar. Foi muito difícil”, lamenta a psicóloga, que vive em São Paulo com o marido e a filha de 25 anos.

Depois disso, suas vidas tiveram de ser adaptadas – ela passou a ser cuidadora do marido, contando com uma equipe de profissionais da saúde em casa para auxiliar diariamente na recuperação de Marcelino. Quando começou a pandemia, poucos meses depois, foi tudo mais complicado, por conta do isolamento social e do medo do vírus que estava circulando amplamente.

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Além disso, ela e a filha tiveram de abraçar algumas tarefas que antes eram realizadas pela equipe de profissionais, porque seria arriscado trazer outras pessoas para dentro de casa. “A minha carga de trabalho já era alta, mas durante a pandemia aumentou assustadoramente. Passei dois anos sem sair para nada.”

Ajuda

No final de 2020, veio o diagnóstico. Depois de meses com sintomas da depressão, Rosa decidiu buscar ajuda, após insistência de amigas e da filha. “Eu perdi completamente a paz. Estava triste e estressada. Eu não dormia e não tinha vontade de fazer nada, só sentia um cansaço extremo. Teve dias que eu não queria mais viver, foi muito pesado”, conta.

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Com o tratamento, aos poucos, ela foi melhorando. Passou a se consultar com uma psiquiatra e a tomar medicamentos para a depressão. O apoio da médica foi muito importante para Rosa. “O fato de você saber que tem para quem ligar já ajuda. Ela me deu a acolhida que eu precisava, isso me fez muito bem.”

Com auxílio médico, Rosa Maria se recupera da depressão que teve durante a pandemia e do esforço para ajudar na saúde do marido Foto: Alex Silva/Estadão

Os cursos online também ajudaram. Rosa começou a assistir aulas pelo computador, de temas relacionados à psicologia, sua área de atuação, além de fazer aulas de canto por vídeo. Até hoje a psicóloga tem receio de pegar covid, mas não deixa de sair, para ter respiros em meio à rotina cansativa e encontrar os amigos.

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Segundo o geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Gualberto Cintra, a socialização é muito importante para evitar o envelhecimento precoce.

“Há muitas pessoas idosas que estavam bem em 2019, e agora, em 2022, tiveram um agravamento na saúde. Observamos um declínio da cognição, aumentaram os problemas motores, os transtornos de humor. Era uma urgência sanitária, não havia opção a não ser o isolamento, mas o preço sendo pago não é pequeno. O cérebro precisa de estímulos, se a pessoa fica dentro de casa o envelhecimento acelera.”

Diagnóstico

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No caso dos idosos, a falta de socialização e de contato com pessoas próximas pode também dificultar o diagnóstico de transtornos físicos e mentais. Muitas pessoas têm resistência em buscar ajuda, como no caso de Rosa.

“O idoso vai entrando em um sofrimento mais solitário, pelo perfil social do envelhecimento, ou seja, a diminuição dos laços afetivos e de atividades cotidianas que preenchem os espaços. A partir desse momento da vida a pessoa vai se fechando, o que traz mais dificuldade para outros terem a percepção de que a pessoa não está bem”, argumenta a psiquiatra Ana Paula W. Lange, que atua como diretora técnica no Hospital Francisca Júlia, instituição do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Muitas vezes, o idoso tem receio de incomodar a família, mesmo quando há suporte, explica a médica. Assim, ocorre frequentemente o diagnóstico tardio, com as doenças já em um estado mais avançado. Quando se trata de problemas de saúde mental, isso pode ter consequências graves, porque a depressão pode evoluir e gerar transtornos cognitivos, por exemplo.

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“A depressão, quando não é cuidada, pode levar ao Alzheimer. O risco de os transtornos virem de uma forma mais acentuada nos idosos é grande”, complementa a psicóloga Denise, que estuda sobre saúde mental e qualidade de vida na terceira idade. De acordo com a pesquisa Vigitel de 2021, do Ministério da Saúde, 12,8% dos adultos acima dos 65 anos referiram diagnóstico de depressão. Outras doenças e morbidades comuns nessa faixa etária também podem ser fator de risco para a depressão, como a dor crônica.

A população brasileira está cada vez mais idosa – e é necessário olhar para a saúde mental dela. A depressão é o transtorno mental que mais acomete as pessoas com idade acima dos 60 anos – e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a população idosa vai triplicar no Brasil até 2050.

Antes da pandemia, isso já era um problema. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE), brasileiros entre 60 e 64 anos tinham o maior índice de depressão – 13% dessa população apresentou diagnóstico da doença. Dois anos após o início da pandemia, que impôs um período longo de isolamento, seus efeitos ainda são sentidos e trazem consequências.

”Quem estava na corda bamba, com a pandemia, caiu. Ou seja, quem já apresentava sintomas depressivos e cognitivos, ao se isolar e deixar de fazer atividades, aí que ficou deprimido mesmo. As crianças e os adolescentes sofreram o impacto, mas para os idosos foi muito devastador”, afirma a psicóloga e doutora em gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Denise Ribeiro Stort.

Foi o que aconteceu com Rosa Maria do Prado Oliveira, de 67 anos, que já estava passando por um momento difícil em 2019, e na pandemia desabou.

Há mais de três anos, Rosa lida com a doença de seu marido, Marcelino do Prado Oliveira, de 57 anos, que vive com as sequelas de um aneurisma que o deixou tetraplégico em 2019. Ele passou sete meses internado e dona Rosa o acompanhou todos os dias durante esse período. “Ele chegou ao hospital falando e andando normalmente, mas saiu de lá sem poder falar, sem conseguir comer, sem caminhar. Foi muito difícil”, lamenta a psicóloga, que vive em São Paulo com o marido e a filha de 25 anos.

Depois disso, suas vidas tiveram de ser adaptadas – ela passou a ser cuidadora do marido, contando com uma equipe de profissionais da saúde em casa para auxiliar diariamente na recuperação de Marcelino. Quando começou a pandemia, poucos meses depois, foi tudo mais complicado, por conta do isolamento social e do medo do vírus que estava circulando amplamente.

Além disso, ela e a filha tiveram de abraçar algumas tarefas que antes eram realizadas pela equipe de profissionais, porque seria arriscado trazer outras pessoas para dentro de casa. “A minha carga de trabalho já era alta, mas durante a pandemia aumentou assustadoramente. Passei dois anos sem sair para nada.”

Ajuda

No final de 2020, veio o diagnóstico. Depois de meses com sintomas da depressão, Rosa decidiu buscar ajuda, após insistência de amigas e da filha. “Eu perdi completamente a paz. Estava triste e estressada. Eu não dormia e não tinha vontade de fazer nada, só sentia um cansaço extremo. Teve dias que eu não queria mais viver, foi muito pesado”, conta.

Com o tratamento, aos poucos, ela foi melhorando. Passou a se consultar com uma psiquiatra e a tomar medicamentos para a depressão. O apoio da médica foi muito importante para Rosa. “O fato de você saber que tem para quem ligar já ajuda. Ela me deu a acolhida que eu precisava, isso me fez muito bem.”

Com auxílio médico, Rosa Maria se recupera da depressão que teve durante a pandemia e do esforço para ajudar na saúde do marido Foto: Alex Silva/Estadão

Os cursos online também ajudaram. Rosa começou a assistir aulas pelo computador, de temas relacionados à psicologia, sua área de atuação, além de fazer aulas de canto por vídeo. Até hoje a psicóloga tem receio de pegar covid, mas não deixa de sair, para ter respiros em meio à rotina cansativa e encontrar os amigos.

Segundo o geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Gualberto Cintra, a socialização é muito importante para evitar o envelhecimento precoce.

“Há muitas pessoas idosas que estavam bem em 2019, e agora, em 2022, tiveram um agravamento na saúde. Observamos um declínio da cognição, aumentaram os problemas motores, os transtornos de humor. Era uma urgência sanitária, não havia opção a não ser o isolamento, mas o preço sendo pago não é pequeno. O cérebro precisa de estímulos, se a pessoa fica dentro de casa o envelhecimento acelera.”

Diagnóstico

No caso dos idosos, a falta de socialização e de contato com pessoas próximas pode também dificultar o diagnóstico de transtornos físicos e mentais. Muitas pessoas têm resistência em buscar ajuda, como no caso de Rosa.

“O idoso vai entrando em um sofrimento mais solitário, pelo perfil social do envelhecimento, ou seja, a diminuição dos laços afetivos e de atividades cotidianas que preenchem os espaços. A partir desse momento da vida a pessoa vai se fechando, o que traz mais dificuldade para outros terem a percepção de que a pessoa não está bem”, argumenta a psiquiatra Ana Paula W. Lange, que atua como diretora técnica no Hospital Francisca Júlia, instituição do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Muitas vezes, o idoso tem receio de incomodar a família, mesmo quando há suporte, explica a médica. Assim, ocorre frequentemente o diagnóstico tardio, com as doenças já em um estado mais avançado. Quando se trata de problemas de saúde mental, isso pode ter consequências graves, porque a depressão pode evoluir e gerar transtornos cognitivos, por exemplo.

“A depressão, quando não é cuidada, pode levar ao Alzheimer. O risco de os transtornos virem de uma forma mais acentuada nos idosos é grande”, complementa a psicóloga Denise, que estuda sobre saúde mental e qualidade de vida na terceira idade. De acordo com a pesquisa Vigitel de 2021, do Ministério da Saúde, 12,8% dos adultos acima dos 65 anos referiram diagnóstico de depressão. Outras doenças e morbidades comuns nessa faixa etária também podem ser fator de risco para a depressão, como a dor crônica.

A população brasileira está cada vez mais idosa – e é necessário olhar para a saúde mental dela. A depressão é o transtorno mental que mais acomete as pessoas com idade acima dos 60 anos – e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a população idosa vai triplicar no Brasil até 2050.

Antes da pandemia, isso já era um problema. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE), brasileiros entre 60 e 64 anos tinham o maior índice de depressão – 13% dessa população apresentou diagnóstico da doença. Dois anos após o início da pandemia, que impôs um período longo de isolamento, seus efeitos ainda são sentidos e trazem consequências.

”Quem estava na corda bamba, com a pandemia, caiu. Ou seja, quem já apresentava sintomas depressivos e cognitivos, ao se isolar e deixar de fazer atividades, aí que ficou deprimido mesmo. As crianças e os adolescentes sofreram o impacto, mas para os idosos foi muito devastador”, afirma a psicóloga e doutora em gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Denise Ribeiro Stort.

Foi o que aconteceu com Rosa Maria do Prado Oliveira, de 67 anos, que já estava passando por um momento difícil em 2019, e na pandemia desabou.

Há mais de três anos, Rosa lida com a doença de seu marido, Marcelino do Prado Oliveira, de 57 anos, que vive com as sequelas de um aneurisma que o deixou tetraplégico em 2019. Ele passou sete meses internado e dona Rosa o acompanhou todos os dias durante esse período. “Ele chegou ao hospital falando e andando normalmente, mas saiu de lá sem poder falar, sem conseguir comer, sem caminhar. Foi muito difícil”, lamenta a psicóloga, que vive em São Paulo com o marido e a filha de 25 anos.

Depois disso, suas vidas tiveram de ser adaptadas – ela passou a ser cuidadora do marido, contando com uma equipe de profissionais da saúde em casa para auxiliar diariamente na recuperação de Marcelino. Quando começou a pandemia, poucos meses depois, foi tudo mais complicado, por conta do isolamento social e do medo do vírus que estava circulando amplamente.

Além disso, ela e a filha tiveram de abraçar algumas tarefas que antes eram realizadas pela equipe de profissionais, porque seria arriscado trazer outras pessoas para dentro de casa. “A minha carga de trabalho já era alta, mas durante a pandemia aumentou assustadoramente. Passei dois anos sem sair para nada.”

Ajuda

No final de 2020, veio o diagnóstico. Depois de meses com sintomas da depressão, Rosa decidiu buscar ajuda, após insistência de amigas e da filha. “Eu perdi completamente a paz. Estava triste e estressada. Eu não dormia e não tinha vontade de fazer nada, só sentia um cansaço extremo. Teve dias que eu não queria mais viver, foi muito pesado”, conta.

Com o tratamento, aos poucos, ela foi melhorando. Passou a se consultar com uma psiquiatra e a tomar medicamentos para a depressão. O apoio da médica foi muito importante para Rosa. “O fato de você saber que tem para quem ligar já ajuda. Ela me deu a acolhida que eu precisava, isso me fez muito bem.”

Com auxílio médico, Rosa Maria se recupera da depressão que teve durante a pandemia e do esforço para ajudar na saúde do marido Foto: Alex Silva/Estadão

Os cursos online também ajudaram. Rosa começou a assistir aulas pelo computador, de temas relacionados à psicologia, sua área de atuação, além de fazer aulas de canto por vídeo. Até hoje a psicóloga tem receio de pegar covid, mas não deixa de sair, para ter respiros em meio à rotina cansativa e encontrar os amigos.

Segundo o geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Gualberto Cintra, a socialização é muito importante para evitar o envelhecimento precoce.

“Há muitas pessoas idosas que estavam bem em 2019, e agora, em 2022, tiveram um agravamento na saúde. Observamos um declínio da cognição, aumentaram os problemas motores, os transtornos de humor. Era uma urgência sanitária, não havia opção a não ser o isolamento, mas o preço sendo pago não é pequeno. O cérebro precisa de estímulos, se a pessoa fica dentro de casa o envelhecimento acelera.”

Diagnóstico

No caso dos idosos, a falta de socialização e de contato com pessoas próximas pode também dificultar o diagnóstico de transtornos físicos e mentais. Muitas pessoas têm resistência em buscar ajuda, como no caso de Rosa.

“O idoso vai entrando em um sofrimento mais solitário, pelo perfil social do envelhecimento, ou seja, a diminuição dos laços afetivos e de atividades cotidianas que preenchem os espaços. A partir desse momento da vida a pessoa vai se fechando, o que traz mais dificuldade para outros terem a percepção de que a pessoa não está bem”, argumenta a psiquiatra Ana Paula W. Lange, que atua como diretora técnica no Hospital Francisca Júlia, instituição do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Muitas vezes, o idoso tem receio de incomodar a família, mesmo quando há suporte, explica a médica. Assim, ocorre frequentemente o diagnóstico tardio, com as doenças já em um estado mais avançado. Quando se trata de problemas de saúde mental, isso pode ter consequências graves, porque a depressão pode evoluir e gerar transtornos cognitivos, por exemplo.

“A depressão, quando não é cuidada, pode levar ao Alzheimer. O risco de os transtornos virem de uma forma mais acentuada nos idosos é grande”, complementa a psicóloga Denise, que estuda sobre saúde mental e qualidade de vida na terceira idade. De acordo com a pesquisa Vigitel de 2021, do Ministério da Saúde, 12,8% dos adultos acima dos 65 anos referiram diagnóstico de depressão. Outras doenças e morbidades comuns nessa faixa etária também podem ser fator de risco para a depressão, como a dor crônica.

A população brasileira está cada vez mais idosa – e é necessário olhar para a saúde mental dela. A depressão é o transtorno mental que mais acomete as pessoas com idade acima dos 60 anos – e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a população idosa vai triplicar no Brasil até 2050.

Antes da pandemia, isso já era um problema. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE), brasileiros entre 60 e 64 anos tinham o maior índice de depressão – 13% dessa população apresentou diagnóstico da doença. Dois anos após o início da pandemia, que impôs um período longo de isolamento, seus efeitos ainda são sentidos e trazem consequências.

”Quem estava na corda bamba, com a pandemia, caiu. Ou seja, quem já apresentava sintomas depressivos e cognitivos, ao se isolar e deixar de fazer atividades, aí que ficou deprimido mesmo. As crianças e os adolescentes sofreram o impacto, mas para os idosos foi muito devastador”, afirma a psicóloga e doutora em gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Denise Ribeiro Stort.

Foi o que aconteceu com Rosa Maria do Prado Oliveira, de 67 anos, que já estava passando por um momento difícil em 2019, e na pandemia desabou.

Há mais de três anos, Rosa lida com a doença de seu marido, Marcelino do Prado Oliveira, de 57 anos, que vive com as sequelas de um aneurisma que o deixou tetraplégico em 2019. Ele passou sete meses internado e dona Rosa o acompanhou todos os dias durante esse período. “Ele chegou ao hospital falando e andando normalmente, mas saiu de lá sem poder falar, sem conseguir comer, sem caminhar. Foi muito difícil”, lamenta a psicóloga, que vive em São Paulo com o marido e a filha de 25 anos.

Depois disso, suas vidas tiveram de ser adaptadas – ela passou a ser cuidadora do marido, contando com uma equipe de profissionais da saúde em casa para auxiliar diariamente na recuperação de Marcelino. Quando começou a pandemia, poucos meses depois, foi tudo mais complicado, por conta do isolamento social e do medo do vírus que estava circulando amplamente.

Além disso, ela e a filha tiveram de abraçar algumas tarefas que antes eram realizadas pela equipe de profissionais, porque seria arriscado trazer outras pessoas para dentro de casa. “A minha carga de trabalho já era alta, mas durante a pandemia aumentou assustadoramente. Passei dois anos sem sair para nada.”

Ajuda

No final de 2020, veio o diagnóstico. Depois de meses com sintomas da depressão, Rosa decidiu buscar ajuda, após insistência de amigas e da filha. “Eu perdi completamente a paz. Estava triste e estressada. Eu não dormia e não tinha vontade de fazer nada, só sentia um cansaço extremo. Teve dias que eu não queria mais viver, foi muito pesado”, conta.

Com o tratamento, aos poucos, ela foi melhorando. Passou a se consultar com uma psiquiatra e a tomar medicamentos para a depressão. O apoio da médica foi muito importante para Rosa. “O fato de você saber que tem para quem ligar já ajuda. Ela me deu a acolhida que eu precisava, isso me fez muito bem.”

Com auxílio médico, Rosa Maria se recupera da depressão que teve durante a pandemia e do esforço para ajudar na saúde do marido Foto: Alex Silva/Estadão

Os cursos online também ajudaram. Rosa começou a assistir aulas pelo computador, de temas relacionados à psicologia, sua área de atuação, além de fazer aulas de canto por vídeo. Até hoje a psicóloga tem receio de pegar covid, mas não deixa de sair, para ter respiros em meio à rotina cansativa e encontrar os amigos.

Segundo o geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Gualberto Cintra, a socialização é muito importante para evitar o envelhecimento precoce.

“Há muitas pessoas idosas que estavam bem em 2019, e agora, em 2022, tiveram um agravamento na saúde. Observamos um declínio da cognição, aumentaram os problemas motores, os transtornos de humor. Era uma urgência sanitária, não havia opção a não ser o isolamento, mas o preço sendo pago não é pequeno. O cérebro precisa de estímulos, se a pessoa fica dentro de casa o envelhecimento acelera.”

Diagnóstico

No caso dos idosos, a falta de socialização e de contato com pessoas próximas pode também dificultar o diagnóstico de transtornos físicos e mentais. Muitas pessoas têm resistência em buscar ajuda, como no caso de Rosa.

“O idoso vai entrando em um sofrimento mais solitário, pelo perfil social do envelhecimento, ou seja, a diminuição dos laços afetivos e de atividades cotidianas que preenchem os espaços. A partir desse momento da vida a pessoa vai se fechando, o que traz mais dificuldade para outros terem a percepção de que a pessoa não está bem”, argumenta a psiquiatra Ana Paula W. Lange, que atua como diretora técnica no Hospital Francisca Júlia, instituição do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Muitas vezes, o idoso tem receio de incomodar a família, mesmo quando há suporte, explica a médica. Assim, ocorre frequentemente o diagnóstico tardio, com as doenças já em um estado mais avançado. Quando se trata de problemas de saúde mental, isso pode ter consequências graves, porque a depressão pode evoluir e gerar transtornos cognitivos, por exemplo.

“A depressão, quando não é cuidada, pode levar ao Alzheimer. O risco de os transtornos virem de uma forma mais acentuada nos idosos é grande”, complementa a psicóloga Denise, que estuda sobre saúde mental e qualidade de vida na terceira idade. De acordo com a pesquisa Vigitel de 2021, do Ministério da Saúde, 12,8% dos adultos acima dos 65 anos referiram diagnóstico de depressão. Outras doenças e morbidades comuns nessa faixa etária também podem ser fator de risco para a depressão, como a dor crônica.

A população brasileira está cada vez mais idosa – e é necessário olhar para a saúde mental dela. A depressão é o transtorno mental que mais acomete as pessoas com idade acima dos 60 anos – e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a população idosa vai triplicar no Brasil até 2050.

Antes da pandemia, isso já era um problema. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (IBGE), brasileiros entre 60 e 64 anos tinham o maior índice de depressão – 13% dessa população apresentou diagnóstico da doença. Dois anos após o início da pandemia, que impôs um período longo de isolamento, seus efeitos ainda são sentidos e trazem consequências.

”Quem estava na corda bamba, com a pandemia, caiu. Ou seja, quem já apresentava sintomas depressivos e cognitivos, ao se isolar e deixar de fazer atividades, aí que ficou deprimido mesmo. As crianças e os adolescentes sofreram o impacto, mas para os idosos foi muito devastador”, afirma a psicóloga e doutora em gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Denise Ribeiro Stort.

Foi o que aconteceu com Rosa Maria do Prado Oliveira, de 67 anos, que já estava passando por um momento difícil em 2019, e na pandemia desabou.

Há mais de três anos, Rosa lida com a doença de seu marido, Marcelino do Prado Oliveira, de 57 anos, que vive com as sequelas de um aneurisma que o deixou tetraplégico em 2019. Ele passou sete meses internado e dona Rosa o acompanhou todos os dias durante esse período. “Ele chegou ao hospital falando e andando normalmente, mas saiu de lá sem poder falar, sem conseguir comer, sem caminhar. Foi muito difícil”, lamenta a psicóloga, que vive em São Paulo com o marido e a filha de 25 anos.

Depois disso, suas vidas tiveram de ser adaptadas – ela passou a ser cuidadora do marido, contando com uma equipe de profissionais da saúde em casa para auxiliar diariamente na recuperação de Marcelino. Quando começou a pandemia, poucos meses depois, foi tudo mais complicado, por conta do isolamento social e do medo do vírus que estava circulando amplamente.

Além disso, ela e a filha tiveram de abraçar algumas tarefas que antes eram realizadas pela equipe de profissionais, porque seria arriscado trazer outras pessoas para dentro de casa. “A minha carga de trabalho já era alta, mas durante a pandemia aumentou assustadoramente. Passei dois anos sem sair para nada.”

Ajuda

No final de 2020, veio o diagnóstico. Depois de meses com sintomas da depressão, Rosa decidiu buscar ajuda, após insistência de amigas e da filha. “Eu perdi completamente a paz. Estava triste e estressada. Eu não dormia e não tinha vontade de fazer nada, só sentia um cansaço extremo. Teve dias que eu não queria mais viver, foi muito pesado”, conta.

Com o tratamento, aos poucos, ela foi melhorando. Passou a se consultar com uma psiquiatra e a tomar medicamentos para a depressão. O apoio da médica foi muito importante para Rosa. “O fato de você saber que tem para quem ligar já ajuda. Ela me deu a acolhida que eu precisava, isso me fez muito bem.”

Com auxílio médico, Rosa Maria se recupera da depressão que teve durante a pandemia e do esforço para ajudar na saúde do marido Foto: Alex Silva/Estadão

Os cursos online também ajudaram. Rosa começou a assistir aulas pelo computador, de temas relacionados à psicologia, sua área de atuação, além de fazer aulas de canto por vídeo. Até hoje a psicóloga tem receio de pegar covid, mas não deixa de sair, para ter respiros em meio à rotina cansativa e encontrar os amigos.

Segundo o geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Gualberto Cintra, a socialização é muito importante para evitar o envelhecimento precoce.

“Há muitas pessoas idosas que estavam bem em 2019, e agora, em 2022, tiveram um agravamento na saúde. Observamos um declínio da cognição, aumentaram os problemas motores, os transtornos de humor. Era uma urgência sanitária, não havia opção a não ser o isolamento, mas o preço sendo pago não é pequeno. O cérebro precisa de estímulos, se a pessoa fica dentro de casa o envelhecimento acelera.”

Diagnóstico

No caso dos idosos, a falta de socialização e de contato com pessoas próximas pode também dificultar o diagnóstico de transtornos físicos e mentais. Muitas pessoas têm resistência em buscar ajuda, como no caso de Rosa.

“O idoso vai entrando em um sofrimento mais solitário, pelo perfil social do envelhecimento, ou seja, a diminuição dos laços afetivos e de atividades cotidianas que preenchem os espaços. A partir desse momento da vida a pessoa vai se fechando, o que traz mais dificuldade para outros terem a percepção de que a pessoa não está bem”, argumenta a psiquiatra Ana Paula W. Lange, que atua como diretora técnica no Hospital Francisca Júlia, instituição do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Muitas vezes, o idoso tem receio de incomodar a família, mesmo quando há suporte, explica a médica. Assim, ocorre frequentemente o diagnóstico tardio, com as doenças já em um estado mais avançado. Quando se trata de problemas de saúde mental, isso pode ter consequências graves, porque a depressão pode evoluir e gerar transtornos cognitivos, por exemplo.

“A depressão, quando não é cuidada, pode levar ao Alzheimer. O risco de os transtornos virem de uma forma mais acentuada nos idosos é grande”, complementa a psicóloga Denise, que estuda sobre saúde mental e qualidade de vida na terceira idade. De acordo com a pesquisa Vigitel de 2021, do Ministério da Saúde, 12,8% dos adultos acima dos 65 anos referiram diagnóstico de depressão. Outras doenças e morbidades comuns nessa faixa etária também podem ser fator de risco para a depressão, como a dor crônica.

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