Quando os pais e mães entram em contato com Jen L’Italien é porque estão desesperados para ouvir alguma orientação. Estão frustrados, sobrecarregados, achando que fracassaram. Às vezes chegam às lágrimas.
A fonte de sua aflição? Uma criança pequena que está tentando aprender a fazer cocô como um membro da sociedade moderna.
Pergunte a qualquer adulto que precisou lavar várias cargas de roupas particularmente desagradáveis. Ou teve conversas estranhas com professores da pré-escola sobre acidentes em sala de aula. Ou já entrou em pânico e ligou para o pediatra porque a criança não fazia cocô havia quatro dias seguidos. Ensinar uma criança a fazer cocô no banheiro é um teste para a força mental até mesmo dos pais e mães mais serenos e animados.
O problema é tão comum e preocupante que surgiu toda uma indústria para apoiar as famílias que enfrentam o rito de passagem do desfralde. Livros para os pais e mães. Livros para as crianças. Cursos online. Inúmeros coaches, consultores e psicólogos especializados em ensinar crianças a usar o penico.
“Eu diria que os problemas de cocô são o arroz com feijão do meu trabalho, com certeza”, diz Jen L’Italien, consultora no Maine que foi certificada há seis anos no método que ficou famoso com Jamie Glowacki, autor do livro Oh Crap! Potty Training: Everything Modern Parents Need to Know to Do It once and Do It Right (Algo como “Que m…! Ensinando a usar o penico: Tudo o que os pais modernos precisam saber para resolver o problema de uma vez por todas”, em tradução livre). “É a maior razão pela qual os pais e mães me procuram.”
Às vezes, os pais e mães entram em contato com ela depois de apenas algumas horas ou dias, assustados porque a criança não dominou a técnica de imediato. Mais frequentemente, ela ouve casos em que as famílias ficaram presas a um padrão constante e problemático: a criança continua tendo acidentes, ou espera para fazer cocô até que esteja na hora da soneca, ou faz birra toda vez que é incentivada a usar o banheiro.
A chave é descobrir por que a criança está com dificuldade de fazer cocô no penico, diz Jen L’Italien. Duas das respostas mais comuns são constipação e retenção, que geralmente estão relacionadas. “A constipação leva à retenção e a retenção leva à constipação.”
Esta é uma das razões pelas quais Francyne Zeltser, psicóloga infantil e especialista no assunto, recomenda ter certeza de que a criança não está tendo problemas com movimentos intestinais antes de começar o processo. “Algumas famílias dizem: ‘Nós íamos começar o processo durante as férias, Johnny estava constipado, mas mesmo assim mantivemos o plano e agora ele está retendo’. É claro que ele está retendo, dói na hora de fazer cocô! Prefiro adiar o processo e esperar algumas semanas, se isso significar que conseguiremos regularizar Johnny primeiro, para não iniciarmos um ciclo negativo.”
Não demonstre estresse - eles pressentem o medo
A maior pegadinha de ensinar a usar o penico, principalmente na hora de fazer cocô: em geral é muito estressante para os pais e mães, mas é muito importante que eles não transmitam nenhum sentimento de estresse.
Não é uma tarefa fácil, ainda mais quando existem fontes externas de pressão. Algumas escolas e acampamentos de férias exigem que a criança já saiba usar o banheiro antes de se matricular. Alguns parentes mais críticos às vezes fazem comentários não solicitados. (“Já ouvi falar de uma avó que repreendeu uma criança que pediu ajuda para fazer cocô, dizendo que ela ‘já estava bem grandinha’, o que é uma crítica dupla”, diz L’Italien).
Também não falta pressão social e a tentação de comparar uma criança com outra. “Antes de todo mundo ficar nas redes sociais o tempo todo, talvez você soubesse de uma ou duas outras crianças da classe, do que elas estavam fazendo”, diz Francyne Zeltser. “Mas agora você tem um grupo com todos os pais e mães de uma turma e alguém pergunta: ‘Quantos filhos já sabem ir ao banheiro sozinhos?’ E aí você sente aquela pressão por causa das respostas do grupo.”
Toda essa tensão é um problema, porque as crianças – até mesmo as muito pequenas – podem senti-la, e as vibrações ansiosas interferem em sua capacidade de aprender a usar o penico, diz L’Italian. “A ansiedade dos pais e mães pode criar uma recusa total, uma resistência total na criança”, afirma ela. “Não conseguimos fazer cocô quando não estamos relaxados. Literalmente. Se os pais e mães estiverem exagerando ou muito em cima da criança, se não houver calma e tranquilidade, ninguém conseguirá ajudar a criança a aprender algo novo.”
Tenha expectativas realistas
Os especialistas concordam que ajuda muito ter expectativas razoáveis e realistas. Sim, existem as crianças míticas que aprendem a usar o penico milagrosamente em 48 horas, que nunca molham a cama nem fazem cocô nas calças. Essas crianças são unicórnios. Seu filho provavelmente não é assim – e tudo bem.
“Algumas crianças precisam passar por muitos acidentes para aprender, e isso não é fácil para os pais e mães”, diz a psicóloga clínica Lynn Adams, que já trabalhou com muitas famílias nesse processo, até mesmo famílias com crianças no espectro do autismo.
Mas há muito o que os pais e mães podem fazer para deixar o processo menos assustador, diz Lynn Adams. Para começar, tente se sentir confortável falando sobre cocô: normalizar uma função biológica básica ajuda as crianças a abordá-la sem tabus.
“Algo que aprendi com meus supervisores freudianos na pós-graduação é realmente tentar desmistificar o processo do cocô”, diz a psicóloga. “Podemos conversar sobre isso! Sim, é nojento, mas podemos lidar com isso, não é uma coisa embaraçosa.”
Quando Lynn estava ensinando seus filhos a usar o penico, ela leu para eles o livro Everyone Poops (algo como “Todo mundo faz cocô”, em tradução livre). Ela os levava ao zoológico e os deixava ver os animais fazendo cocô. Em seu trabalho com crianças autistas, costumava usar massinha de modelar como uma forma de ajudar as crianças a visualizar e entender o ato físico de fazer cocô. (E, sim, ela sabe que você provavelmente está se contorcendo com essa conversa: “As pessoas dizem, ‘Ugh, não quero fazer isso’, mas é só por um curto período de tempo que você tem de fazer essas coisas”).
O que não fazer durante o desfralde
Também ajuda lembrar que fazer cocô no banheiro é uma habilidade para a vida, enfatizam os especialistas, e não deve exigir recompensa.
“Não damos M&M para a criança escovar os dentes ou pegar a colher para comer o cereal”, diz Francyne. “São habilidades que elas estão aprendendo, não um comportamento desejável.”
Oferecer uma guloseima como recompensa pode funcionar para fazer xixi, observa L’Italien, mas fazer cocô não é algo que a criança possa fazer sob comando. Ela também sugere dispensar as estrelinhas de parabéns: a maioria das crianças não consegue entender a gratificação atrasada. “Economize o dinheiro que você iria gastar com isso.”
Comprometer-se com uma abordagem é essencial. Quando as famílias pedem ajuda para Lynn Adams, “elas estão perdendo o juízo e sentem que esgotaram todos os métodos”, diz ela. Mas, quando ela se senta com os pais e mães, “acontece que eles tentaram algo por um ou dois dias antes de jogar a toalha e tentar algo novo. Mas, como tudo na vida, a consistência é fundamental”.
Seja persistente no método escolhido
Com qualquer método que você queira tentar, ela diz, fique com ele por no mínimo três dias – e idealmente, mais uma ou duas semanas – antes de mudar para uma nova estratégia, se necessário.
Se isso significa esperar um pouco mais até que a tarefa seja mais factível logisticamente, então vale a pena adiar, diz Francyne. “Você precisa olhar para o calendário e dizer: ‘Quando não estarei correndo por aí, quando poderemos identificar um período de três dias consecutivos em que ficaremos em casa?’ É melhor adiar a data de início do processo do que tentar de forma inconsistente.”
Dada a intensidade de todo o esforço, é compreensível que alguns pais e mães fiquem empolgados quando os filhos acertam. Mas, quando seu filho fizer cocô onde deveria, por favor, não faça muita festa, diz Jen L’Italien.
“Os pais e mães que exageram – falam um monte de elogios, vibram como se fossem uma torcida, fazem dancinhas, chamam a vovó, é uma loucura – podem gerar um grande desvio que leva a criança a reter, porque é muita pressão”, diz ela. “A ideia é fazer um reforço positivo. E fazer reforço positivo não é dar uma de torcedor. Não queremos que a hora do cocô seja um espetáculo. Queremos que seja normal.”
E, se você não tem um filho que aprende rápido, não perca a esperança, diz ela. É cansativo e frustrante, mas não é para sempre – e tem gente que pode ajudar.
“É um lugar muito vulnerável e difícil de se estar, mas não se sinta só”, diz ela. “Sempre tem saída. Sempre tem solução.”
O que funciona para uma criança pode não funcionar para outra
Vale lembrar que o que funciona para uma criança pode não funcionar para outra, e qualquer criança apronta suas surpresas, diz Lynn Adams, uma lição que ela aprendeu novamente quando estava ensinando sua filha de 2 anos a usar o penico. Na época, ela era psicóloga infantil havia 15 anos. Tinha ensinado o filho mais velho, que é autista e sentia dificuldade com algumas das habilidades motoras necessárias – era difícil para ele baixar as calças a tempo ou alcançar a privada maior. No trabalho, era conhecida como “a moça do penico”. Ela se sentia preparada para guiar a filha mais nova.
“Minha filha estava pronta, fisicamente, e adorava suas calcinhas de princesa”, diz Lynn. No começo, ela achou que esse incentivo seria uma coisa boa, mas aí sua filha deu uma reviravolta na história: “Ela molhava ou sujava as calcinhas de propósito, para vestir uma nova princesa”. A filha transformou o processo em um jogo, disse a psicóloga, e anunciava alegremente quando fazia cocô na cama.
“Eu não queria recuar, porque sabia que ela era capaz”, disse Lynn, “mas tive de recuar”.
Ela colocou a filhinha de volta nas fraldas e, algumas semanas depois, a menina de 2 anos anunciou a si mesma que estava pronta para usar sua calcinha de princesa novamente. Desta vez, “ela estava preparada”, diz Lynn. “Essas poucas semanas foram importantes. As crianças são humanos pequeninos, e você tem de respeitar a autonomia delas.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU