Nutrição, exercício e comportamento

Opinião|Balança de bioimpedância: como funciona? Ela realmente faz análise completa do corpo?


Também conhecida como balança inteligente, esse método popular de estimar a composição corporal é um dos mais falhos; entenda os motivos

Por Desire Coelho
Atualização:

Diariamente atendo pessoas que usam corriqueiramente as balanças de bioimpedância, aquelas que, em alguns segundos, fornecem uma série de dados e complexos relatórios de distribuição da gordura corporal. Mas, atenção: eles normalmente são enganosos e devem ser interpretados com cuidado e desconfiança.

Muito além do peso, balanças de bioimpedância prometem mostrar dados como quantidade de gordura e massa magra no corpo. Mas o método tem diversas limitações Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Como funcionam as balanças de bioimpedância

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Esses equipamentos possuem eletrodos para emitir e receber sinais elétricos, medindo a impedância – a resistência do corpo à passagem da corrente elétrica. Existem diversos modelos de balança e, quanto mais complexo e avançado, maior o número de eletrodos e maior a variedade de frequências de sinal elétrico para tentar estimar a composição corporal. Para ter ideia, alguns aparelhos profissionais chegam a custar mais de 50 mil reais.

O processo tem início com a inserção de dados como idade, estatura e, em algumas versões, o nível de atividade física que a pessoa pratica. Aqui vai um alerta: qualquer centímetro a mais (ou a menos) na altura vai gerar distorção nos dados finais. Depois disso, a balança mede o peso e a tal resistência da passagem da corrente para fazer as demais estimativas. Perceba que estou usando a palavra “estimativa” e não “medição”, pois é isso que esse método faz: ele estima a composição corporal da pessoa.

Dentro do corpo, a corrente elétrica é transportada pela água. Considerando que os diferentes tecidos corporais possuem diferentes percentuais de água, isso é levado em consideração nas estimativas.

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Com isso, já é possível entender que o estado de hidratação (ou de retenção hídrica) do indivíduo influencia diretamente no resultado. Na tentativa de diminuir essa variável, os fabricantes indicam um preparo rigoroso a ser feito antes da utilização – assim como é feito nos estudos científicos, numa tentativa de validação do método em relação a outros, mais robustos.

Contudo, no dia a dia, e até mesmo na prática clínica, muitos não seguem as recomendações – o que aumenta a margem de erro e compromete os resultados. O preparo pode variar de um fabricante para o outro, mas, no geral, inclui:

  • Manter o estado de hidratação estável (ou seja, suor e temperatura podem influenciar);
  • Ficar em pé por pelo menos 5 minutos antes da avaliação;
  • Se estiver muito frio, aquecer o corpo por 20 minutos;
  • Estar de bexiga vazia (e, preferencialmente, intestino também);
  • Não se exercitar ou comer três horas antes da avaliação;
  • Não consumir álcool ou cafeína em excesso nas 24 horas antes do teste;
  • Não tomar banho ou usar sauna antes do teste.
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Se você já fez teste de bioimpedância para estimar sua composição corporal, quantas vezes você respeitou esse protocolo?

Analisando os dados gerados pela balança

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Algumas marcas oferecem estimativas de massa magra, massa gorda e estado de hidratação, enquanto outras fornecem mais dados, como taxa metabólica basal (quantidade mínima que a pessoa gasta de energia por dia), densidade óssea, idade metabólica e quantidade de gordura em diferentes partes do corpo.

Por mais que esses cálculos pareçam muito tecnológicos, a bioimpedância não consegue avaliar com precisão a gordura por região. Investigando melhor sobre as evidências acerca de tal promessa, verifiquei que elas são poucas (encontrei duas), rasas e não se sustentam.

Outro ponto importante é que tem muito aparelho de baixa qualidade no mercado. Nesses casos, o erro da avaliação é grande e provavelmente deixará a pessoa mais confusa com relação ao seu corpo.

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O que fazer com os dados?

Apesar de alguns modelos trazerem valores de referência para homens e mulheres, esses dados não têm necessariamente relação com saúde. Afinal, quando falamos de gordura corporal, existe um fator tão importante quanto a sua quantidade: a localização.

Sabemos que a gordura acumulada embaixo da pele, chamada subcutânea, possui baixa relação com doenças ou risco de morte. Já a gordura abdominal, especialmente a intra-abdominal ou visceral, tem uma alta relação com mortalidade e é, portanto, mais preocupante. Desse modo, se o receio é com a saúde, uma simples medida de circunferência abdominal, feita com fita métrica, já é suficiente.

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Certa vez, uma médica me procurou preocupada após o exame de bioimpedância apontar excesso dessa gordura visceral, fator de risco para doenças crônicas. No entanto, a avaliação não podia estar mais equivocada. As balanças utilizam fórmulas baseadas principalmente em populações americanas e europeias, cujos padrões corporais frequentemente diferem do corpo típico de uma mulher latina, caracterizado por quadris largos e coxas volumosas.

Assim, a fórmula superestimou significativamente a gordura visceral dela, gerando uma preocupação desnecessária. Expliquei as limitações e possíveis erros de interpretação do aparelho, e ela me relatou que as mulheres da família tinham esse mesmo padrão corporal e que ela estava feliz com ele. Os exames laboratoriais indicavam que sua saúde estava ótima, e ela seguiu feliz com seu belo corpo violão.

Afinal, é útil ou não?

Desde que respeitadas as orientações dos fabricantes, a bioimpedância pode ser útil como um acompanhamento, ou seja, uma análise de tendência do que pode estar acontecendo com o corpo. Mas lembrando sempre que ela é uma estimativa cheia de limitações.

Muitas vezes, o que vejo são pessoas que usam essas balanças todos os dias, e isso não faz sentido. Lembre-se de que peso é diferente de gordura corporal. Nosso peso varia dentro do mesmo dia e durante a semana. Já alterações na gordura demandam tempo, são mudanças de longo prazo. Se você gosta de ter parâmetros de comparação e não tem qualquer sentimento negativo relacionado a isso, não fica angustiado ou triste com oscilações, sugiro que faça o acompanhamento uma vez por semana, não mais que isso – e sempre nas mesmas condições.

Fazer esse tipo de avaliação em qualquer aparelho, sem o devido preparo ou conhecimento, pode trazer consequências negativas, como relacionamento ruim com o corpo e também com a comida. Pessoas que têm ou já tiveram transtorno alimentar ou transtorno obsessivo compulsivo devem ficar longe dessas ferramentas de controle.

A tecnologia traz inovações, mas toda vez que formos utilizar uma ferramenta precisamos ter em mente suas limitações e, sempre que necessário, buscar a opinião de um bom profissional. Lembrando que os números não são sinônimos de saúde: são apenas indicativos que precisam ser olhados com cuidado e, acima de tudo, com carinho. Afinal, é do seu corpo e da sua saúde física e emocional que estamos tratando.

Diariamente atendo pessoas que usam corriqueiramente as balanças de bioimpedância, aquelas que, em alguns segundos, fornecem uma série de dados e complexos relatórios de distribuição da gordura corporal. Mas, atenção: eles normalmente são enganosos e devem ser interpretados com cuidado e desconfiança.

Muito além do peso, balanças de bioimpedância prometem mostrar dados como quantidade de gordura e massa magra no corpo. Mas o método tem diversas limitações Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Como funcionam as balanças de bioimpedância

Esses equipamentos possuem eletrodos para emitir e receber sinais elétricos, medindo a impedância – a resistência do corpo à passagem da corrente elétrica. Existem diversos modelos de balança e, quanto mais complexo e avançado, maior o número de eletrodos e maior a variedade de frequências de sinal elétrico para tentar estimar a composição corporal. Para ter ideia, alguns aparelhos profissionais chegam a custar mais de 50 mil reais.

O processo tem início com a inserção de dados como idade, estatura e, em algumas versões, o nível de atividade física que a pessoa pratica. Aqui vai um alerta: qualquer centímetro a mais (ou a menos) na altura vai gerar distorção nos dados finais. Depois disso, a balança mede o peso e a tal resistência da passagem da corrente para fazer as demais estimativas. Perceba que estou usando a palavra “estimativa” e não “medição”, pois é isso que esse método faz: ele estima a composição corporal da pessoa.

Dentro do corpo, a corrente elétrica é transportada pela água. Considerando que os diferentes tecidos corporais possuem diferentes percentuais de água, isso é levado em consideração nas estimativas.

Com isso, já é possível entender que o estado de hidratação (ou de retenção hídrica) do indivíduo influencia diretamente no resultado. Na tentativa de diminuir essa variável, os fabricantes indicam um preparo rigoroso a ser feito antes da utilização – assim como é feito nos estudos científicos, numa tentativa de validação do método em relação a outros, mais robustos.

Contudo, no dia a dia, e até mesmo na prática clínica, muitos não seguem as recomendações – o que aumenta a margem de erro e compromete os resultados. O preparo pode variar de um fabricante para o outro, mas, no geral, inclui:

  • Manter o estado de hidratação estável (ou seja, suor e temperatura podem influenciar);
  • Ficar em pé por pelo menos 5 minutos antes da avaliação;
  • Se estiver muito frio, aquecer o corpo por 20 minutos;
  • Estar de bexiga vazia (e, preferencialmente, intestino também);
  • Não se exercitar ou comer três horas antes da avaliação;
  • Não consumir álcool ou cafeína em excesso nas 24 horas antes do teste;
  • Não tomar banho ou usar sauna antes do teste.

Se você já fez teste de bioimpedância para estimar sua composição corporal, quantas vezes você respeitou esse protocolo?

Analisando os dados gerados pela balança

Algumas marcas oferecem estimativas de massa magra, massa gorda e estado de hidratação, enquanto outras fornecem mais dados, como taxa metabólica basal (quantidade mínima que a pessoa gasta de energia por dia), densidade óssea, idade metabólica e quantidade de gordura em diferentes partes do corpo.

Por mais que esses cálculos pareçam muito tecnológicos, a bioimpedância não consegue avaliar com precisão a gordura por região. Investigando melhor sobre as evidências acerca de tal promessa, verifiquei que elas são poucas (encontrei duas), rasas e não se sustentam.

Outro ponto importante é que tem muito aparelho de baixa qualidade no mercado. Nesses casos, o erro da avaliação é grande e provavelmente deixará a pessoa mais confusa com relação ao seu corpo.

O que fazer com os dados?

Apesar de alguns modelos trazerem valores de referência para homens e mulheres, esses dados não têm necessariamente relação com saúde. Afinal, quando falamos de gordura corporal, existe um fator tão importante quanto a sua quantidade: a localização.

Sabemos que a gordura acumulada embaixo da pele, chamada subcutânea, possui baixa relação com doenças ou risco de morte. Já a gordura abdominal, especialmente a intra-abdominal ou visceral, tem uma alta relação com mortalidade e é, portanto, mais preocupante. Desse modo, se o receio é com a saúde, uma simples medida de circunferência abdominal, feita com fita métrica, já é suficiente.

Certa vez, uma médica me procurou preocupada após o exame de bioimpedância apontar excesso dessa gordura visceral, fator de risco para doenças crônicas. No entanto, a avaliação não podia estar mais equivocada. As balanças utilizam fórmulas baseadas principalmente em populações americanas e europeias, cujos padrões corporais frequentemente diferem do corpo típico de uma mulher latina, caracterizado por quadris largos e coxas volumosas.

Assim, a fórmula superestimou significativamente a gordura visceral dela, gerando uma preocupação desnecessária. Expliquei as limitações e possíveis erros de interpretação do aparelho, e ela me relatou que as mulheres da família tinham esse mesmo padrão corporal e que ela estava feliz com ele. Os exames laboratoriais indicavam que sua saúde estava ótima, e ela seguiu feliz com seu belo corpo violão.

Afinal, é útil ou não?

Desde que respeitadas as orientações dos fabricantes, a bioimpedância pode ser útil como um acompanhamento, ou seja, uma análise de tendência do que pode estar acontecendo com o corpo. Mas lembrando sempre que ela é uma estimativa cheia de limitações.

Muitas vezes, o que vejo são pessoas que usam essas balanças todos os dias, e isso não faz sentido. Lembre-se de que peso é diferente de gordura corporal. Nosso peso varia dentro do mesmo dia e durante a semana. Já alterações na gordura demandam tempo, são mudanças de longo prazo. Se você gosta de ter parâmetros de comparação e não tem qualquer sentimento negativo relacionado a isso, não fica angustiado ou triste com oscilações, sugiro que faça o acompanhamento uma vez por semana, não mais que isso – e sempre nas mesmas condições.

Fazer esse tipo de avaliação em qualquer aparelho, sem o devido preparo ou conhecimento, pode trazer consequências negativas, como relacionamento ruim com o corpo e também com a comida. Pessoas que têm ou já tiveram transtorno alimentar ou transtorno obsessivo compulsivo devem ficar longe dessas ferramentas de controle.

A tecnologia traz inovações, mas toda vez que formos utilizar uma ferramenta precisamos ter em mente suas limitações e, sempre que necessário, buscar a opinião de um bom profissional. Lembrando que os números não são sinônimos de saúde: são apenas indicativos que precisam ser olhados com cuidado e, acima de tudo, com carinho. Afinal, é do seu corpo e da sua saúde física e emocional que estamos tratando.

Diariamente atendo pessoas que usam corriqueiramente as balanças de bioimpedância, aquelas que, em alguns segundos, fornecem uma série de dados e complexos relatórios de distribuição da gordura corporal. Mas, atenção: eles normalmente são enganosos e devem ser interpretados com cuidado e desconfiança.

Muito além do peso, balanças de bioimpedância prometem mostrar dados como quantidade de gordura e massa magra no corpo. Mas o método tem diversas limitações Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Como funcionam as balanças de bioimpedância

Esses equipamentos possuem eletrodos para emitir e receber sinais elétricos, medindo a impedância – a resistência do corpo à passagem da corrente elétrica. Existem diversos modelos de balança e, quanto mais complexo e avançado, maior o número de eletrodos e maior a variedade de frequências de sinal elétrico para tentar estimar a composição corporal. Para ter ideia, alguns aparelhos profissionais chegam a custar mais de 50 mil reais.

O processo tem início com a inserção de dados como idade, estatura e, em algumas versões, o nível de atividade física que a pessoa pratica. Aqui vai um alerta: qualquer centímetro a mais (ou a menos) na altura vai gerar distorção nos dados finais. Depois disso, a balança mede o peso e a tal resistência da passagem da corrente para fazer as demais estimativas. Perceba que estou usando a palavra “estimativa” e não “medição”, pois é isso que esse método faz: ele estima a composição corporal da pessoa.

Dentro do corpo, a corrente elétrica é transportada pela água. Considerando que os diferentes tecidos corporais possuem diferentes percentuais de água, isso é levado em consideração nas estimativas.

Com isso, já é possível entender que o estado de hidratação (ou de retenção hídrica) do indivíduo influencia diretamente no resultado. Na tentativa de diminuir essa variável, os fabricantes indicam um preparo rigoroso a ser feito antes da utilização – assim como é feito nos estudos científicos, numa tentativa de validação do método em relação a outros, mais robustos.

Contudo, no dia a dia, e até mesmo na prática clínica, muitos não seguem as recomendações – o que aumenta a margem de erro e compromete os resultados. O preparo pode variar de um fabricante para o outro, mas, no geral, inclui:

  • Manter o estado de hidratação estável (ou seja, suor e temperatura podem influenciar);
  • Ficar em pé por pelo menos 5 minutos antes da avaliação;
  • Se estiver muito frio, aquecer o corpo por 20 minutos;
  • Estar de bexiga vazia (e, preferencialmente, intestino também);
  • Não se exercitar ou comer três horas antes da avaliação;
  • Não consumir álcool ou cafeína em excesso nas 24 horas antes do teste;
  • Não tomar banho ou usar sauna antes do teste.

Se você já fez teste de bioimpedância para estimar sua composição corporal, quantas vezes você respeitou esse protocolo?

Analisando os dados gerados pela balança

Algumas marcas oferecem estimativas de massa magra, massa gorda e estado de hidratação, enquanto outras fornecem mais dados, como taxa metabólica basal (quantidade mínima que a pessoa gasta de energia por dia), densidade óssea, idade metabólica e quantidade de gordura em diferentes partes do corpo.

Por mais que esses cálculos pareçam muito tecnológicos, a bioimpedância não consegue avaliar com precisão a gordura por região. Investigando melhor sobre as evidências acerca de tal promessa, verifiquei que elas são poucas (encontrei duas), rasas e não se sustentam.

Outro ponto importante é que tem muito aparelho de baixa qualidade no mercado. Nesses casos, o erro da avaliação é grande e provavelmente deixará a pessoa mais confusa com relação ao seu corpo.

O que fazer com os dados?

Apesar de alguns modelos trazerem valores de referência para homens e mulheres, esses dados não têm necessariamente relação com saúde. Afinal, quando falamos de gordura corporal, existe um fator tão importante quanto a sua quantidade: a localização.

Sabemos que a gordura acumulada embaixo da pele, chamada subcutânea, possui baixa relação com doenças ou risco de morte. Já a gordura abdominal, especialmente a intra-abdominal ou visceral, tem uma alta relação com mortalidade e é, portanto, mais preocupante. Desse modo, se o receio é com a saúde, uma simples medida de circunferência abdominal, feita com fita métrica, já é suficiente.

Certa vez, uma médica me procurou preocupada após o exame de bioimpedância apontar excesso dessa gordura visceral, fator de risco para doenças crônicas. No entanto, a avaliação não podia estar mais equivocada. As balanças utilizam fórmulas baseadas principalmente em populações americanas e europeias, cujos padrões corporais frequentemente diferem do corpo típico de uma mulher latina, caracterizado por quadris largos e coxas volumosas.

Assim, a fórmula superestimou significativamente a gordura visceral dela, gerando uma preocupação desnecessária. Expliquei as limitações e possíveis erros de interpretação do aparelho, e ela me relatou que as mulheres da família tinham esse mesmo padrão corporal e que ela estava feliz com ele. Os exames laboratoriais indicavam que sua saúde estava ótima, e ela seguiu feliz com seu belo corpo violão.

Afinal, é útil ou não?

Desde que respeitadas as orientações dos fabricantes, a bioimpedância pode ser útil como um acompanhamento, ou seja, uma análise de tendência do que pode estar acontecendo com o corpo. Mas lembrando sempre que ela é uma estimativa cheia de limitações.

Muitas vezes, o que vejo são pessoas que usam essas balanças todos os dias, e isso não faz sentido. Lembre-se de que peso é diferente de gordura corporal. Nosso peso varia dentro do mesmo dia e durante a semana. Já alterações na gordura demandam tempo, são mudanças de longo prazo. Se você gosta de ter parâmetros de comparação e não tem qualquer sentimento negativo relacionado a isso, não fica angustiado ou triste com oscilações, sugiro que faça o acompanhamento uma vez por semana, não mais que isso – e sempre nas mesmas condições.

Fazer esse tipo de avaliação em qualquer aparelho, sem o devido preparo ou conhecimento, pode trazer consequências negativas, como relacionamento ruim com o corpo e também com a comida. Pessoas que têm ou já tiveram transtorno alimentar ou transtorno obsessivo compulsivo devem ficar longe dessas ferramentas de controle.

A tecnologia traz inovações, mas toda vez que formos utilizar uma ferramenta precisamos ter em mente suas limitações e, sempre que necessário, buscar a opinião de um bom profissional. Lembrando que os números não são sinônimos de saúde: são apenas indicativos que precisam ser olhados com cuidado e, acima de tudo, com carinho. Afinal, é do seu corpo e da sua saúde física e emocional que estamos tratando.

Diariamente atendo pessoas que usam corriqueiramente as balanças de bioimpedância, aquelas que, em alguns segundos, fornecem uma série de dados e complexos relatórios de distribuição da gordura corporal. Mas, atenção: eles normalmente são enganosos e devem ser interpretados com cuidado e desconfiança.

Muito além do peso, balanças de bioimpedância prometem mostrar dados como quantidade de gordura e massa magra no corpo. Mas o método tem diversas limitações Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Como funcionam as balanças de bioimpedância

Esses equipamentos possuem eletrodos para emitir e receber sinais elétricos, medindo a impedância – a resistência do corpo à passagem da corrente elétrica. Existem diversos modelos de balança e, quanto mais complexo e avançado, maior o número de eletrodos e maior a variedade de frequências de sinal elétrico para tentar estimar a composição corporal. Para ter ideia, alguns aparelhos profissionais chegam a custar mais de 50 mil reais.

O processo tem início com a inserção de dados como idade, estatura e, em algumas versões, o nível de atividade física que a pessoa pratica. Aqui vai um alerta: qualquer centímetro a mais (ou a menos) na altura vai gerar distorção nos dados finais. Depois disso, a balança mede o peso e a tal resistência da passagem da corrente para fazer as demais estimativas. Perceba que estou usando a palavra “estimativa” e não “medição”, pois é isso que esse método faz: ele estima a composição corporal da pessoa.

Dentro do corpo, a corrente elétrica é transportada pela água. Considerando que os diferentes tecidos corporais possuem diferentes percentuais de água, isso é levado em consideração nas estimativas.

Com isso, já é possível entender que o estado de hidratação (ou de retenção hídrica) do indivíduo influencia diretamente no resultado. Na tentativa de diminuir essa variável, os fabricantes indicam um preparo rigoroso a ser feito antes da utilização – assim como é feito nos estudos científicos, numa tentativa de validação do método em relação a outros, mais robustos.

Contudo, no dia a dia, e até mesmo na prática clínica, muitos não seguem as recomendações – o que aumenta a margem de erro e compromete os resultados. O preparo pode variar de um fabricante para o outro, mas, no geral, inclui:

  • Manter o estado de hidratação estável (ou seja, suor e temperatura podem influenciar);
  • Ficar em pé por pelo menos 5 minutos antes da avaliação;
  • Se estiver muito frio, aquecer o corpo por 20 minutos;
  • Estar de bexiga vazia (e, preferencialmente, intestino também);
  • Não se exercitar ou comer três horas antes da avaliação;
  • Não consumir álcool ou cafeína em excesso nas 24 horas antes do teste;
  • Não tomar banho ou usar sauna antes do teste.

Se você já fez teste de bioimpedância para estimar sua composição corporal, quantas vezes você respeitou esse protocolo?

Analisando os dados gerados pela balança

Algumas marcas oferecem estimativas de massa magra, massa gorda e estado de hidratação, enquanto outras fornecem mais dados, como taxa metabólica basal (quantidade mínima que a pessoa gasta de energia por dia), densidade óssea, idade metabólica e quantidade de gordura em diferentes partes do corpo.

Por mais que esses cálculos pareçam muito tecnológicos, a bioimpedância não consegue avaliar com precisão a gordura por região. Investigando melhor sobre as evidências acerca de tal promessa, verifiquei que elas são poucas (encontrei duas), rasas e não se sustentam.

Outro ponto importante é que tem muito aparelho de baixa qualidade no mercado. Nesses casos, o erro da avaliação é grande e provavelmente deixará a pessoa mais confusa com relação ao seu corpo.

O que fazer com os dados?

Apesar de alguns modelos trazerem valores de referência para homens e mulheres, esses dados não têm necessariamente relação com saúde. Afinal, quando falamos de gordura corporal, existe um fator tão importante quanto a sua quantidade: a localização.

Sabemos que a gordura acumulada embaixo da pele, chamada subcutânea, possui baixa relação com doenças ou risco de morte. Já a gordura abdominal, especialmente a intra-abdominal ou visceral, tem uma alta relação com mortalidade e é, portanto, mais preocupante. Desse modo, se o receio é com a saúde, uma simples medida de circunferência abdominal, feita com fita métrica, já é suficiente.

Certa vez, uma médica me procurou preocupada após o exame de bioimpedância apontar excesso dessa gordura visceral, fator de risco para doenças crônicas. No entanto, a avaliação não podia estar mais equivocada. As balanças utilizam fórmulas baseadas principalmente em populações americanas e europeias, cujos padrões corporais frequentemente diferem do corpo típico de uma mulher latina, caracterizado por quadris largos e coxas volumosas.

Assim, a fórmula superestimou significativamente a gordura visceral dela, gerando uma preocupação desnecessária. Expliquei as limitações e possíveis erros de interpretação do aparelho, e ela me relatou que as mulheres da família tinham esse mesmo padrão corporal e que ela estava feliz com ele. Os exames laboratoriais indicavam que sua saúde estava ótima, e ela seguiu feliz com seu belo corpo violão.

Afinal, é útil ou não?

Desde que respeitadas as orientações dos fabricantes, a bioimpedância pode ser útil como um acompanhamento, ou seja, uma análise de tendência do que pode estar acontecendo com o corpo. Mas lembrando sempre que ela é uma estimativa cheia de limitações.

Muitas vezes, o que vejo são pessoas que usam essas balanças todos os dias, e isso não faz sentido. Lembre-se de que peso é diferente de gordura corporal. Nosso peso varia dentro do mesmo dia e durante a semana. Já alterações na gordura demandam tempo, são mudanças de longo prazo. Se você gosta de ter parâmetros de comparação e não tem qualquer sentimento negativo relacionado a isso, não fica angustiado ou triste com oscilações, sugiro que faça o acompanhamento uma vez por semana, não mais que isso – e sempre nas mesmas condições.

Fazer esse tipo de avaliação em qualquer aparelho, sem o devido preparo ou conhecimento, pode trazer consequências negativas, como relacionamento ruim com o corpo e também com a comida. Pessoas que têm ou já tiveram transtorno alimentar ou transtorno obsessivo compulsivo devem ficar longe dessas ferramentas de controle.

A tecnologia traz inovações, mas toda vez que formos utilizar uma ferramenta precisamos ter em mente suas limitações e, sempre que necessário, buscar a opinião de um bom profissional. Lembrando que os números não são sinônimos de saúde: são apenas indicativos que precisam ser olhados com cuidado e, acima de tudo, com carinho. Afinal, é do seu corpo e da sua saúde física e emocional que estamos tratando.

Diariamente atendo pessoas que usam corriqueiramente as balanças de bioimpedância, aquelas que, em alguns segundos, fornecem uma série de dados e complexos relatórios de distribuição da gordura corporal. Mas, atenção: eles normalmente são enganosos e devem ser interpretados com cuidado e desconfiança.

Muito além do peso, balanças de bioimpedância prometem mostrar dados como quantidade de gordura e massa magra no corpo. Mas o método tem diversas limitações Foto: Andrey Popov/Adobe Stock

Como funcionam as balanças de bioimpedância

Esses equipamentos possuem eletrodos para emitir e receber sinais elétricos, medindo a impedância – a resistência do corpo à passagem da corrente elétrica. Existem diversos modelos de balança e, quanto mais complexo e avançado, maior o número de eletrodos e maior a variedade de frequências de sinal elétrico para tentar estimar a composição corporal. Para ter ideia, alguns aparelhos profissionais chegam a custar mais de 50 mil reais.

O processo tem início com a inserção de dados como idade, estatura e, em algumas versões, o nível de atividade física que a pessoa pratica. Aqui vai um alerta: qualquer centímetro a mais (ou a menos) na altura vai gerar distorção nos dados finais. Depois disso, a balança mede o peso e a tal resistência da passagem da corrente para fazer as demais estimativas. Perceba que estou usando a palavra “estimativa” e não “medição”, pois é isso que esse método faz: ele estima a composição corporal da pessoa.

Dentro do corpo, a corrente elétrica é transportada pela água. Considerando que os diferentes tecidos corporais possuem diferentes percentuais de água, isso é levado em consideração nas estimativas.

Com isso, já é possível entender que o estado de hidratação (ou de retenção hídrica) do indivíduo influencia diretamente no resultado. Na tentativa de diminuir essa variável, os fabricantes indicam um preparo rigoroso a ser feito antes da utilização – assim como é feito nos estudos científicos, numa tentativa de validação do método em relação a outros, mais robustos.

Contudo, no dia a dia, e até mesmo na prática clínica, muitos não seguem as recomendações – o que aumenta a margem de erro e compromete os resultados. O preparo pode variar de um fabricante para o outro, mas, no geral, inclui:

  • Manter o estado de hidratação estável (ou seja, suor e temperatura podem influenciar);
  • Ficar em pé por pelo menos 5 minutos antes da avaliação;
  • Se estiver muito frio, aquecer o corpo por 20 minutos;
  • Estar de bexiga vazia (e, preferencialmente, intestino também);
  • Não se exercitar ou comer três horas antes da avaliação;
  • Não consumir álcool ou cafeína em excesso nas 24 horas antes do teste;
  • Não tomar banho ou usar sauna antes do teste.

Se você já fez teste de bioimpedância para estimar sua composição corporal, quantas vezes você respeitou esse protocolo?

Analisando os dados gerados pela balança

Algumas marcas oferecem estimativas de massa magra, massa gorda e estado de hidratação, enquanto outras fornecem mais dados, como taxa metabólica basal (quantidade mínima que a pessoa gasta de energia por dia), densidade óssea, idade metabólica e quantidade de gordura em diferentes partes do corpo.

Por mais que esses cálculos pareçam muito tecnológicos, a bioimpedância não consegue avaliar com precisão a gordura por região. Investigando melhor sobre as evidências acerca de tal promessa, verifiquei que elas são poucas (encontrei duas), rasas e não se sustentam.

Outro ponto importante é que tem muito aparelho de baixa qualidade no mercado. Nesses casos, o erro da avaliação é grande e provavelmente deixará a pessoa mais confusa com relação ao seu corpo.

O que fazer com os dados?

Apesar de alguns modelos trazerem valores de referência para homens e mulheres, esses dados não têm necessariamente relação com saúde. Afinal, quando falamos de gordura corporal, existe um fator tão importante quanto a sua quantidade: a localização.

Sabemos que a gordura acumulada embaixo da pele, chamada subcutânea, possui baixa relação com doenças ou risco de morte. Já a gordura abdominal, especialmente a intra-abdominal ou visceral, tem uma alta relação com mortalidade e é, portanto, mais preocupante. Desse modo, se o receio é com a saúde, uma simples medida de circunferência abdominal, feita com fita métrica, já é suficiente.

Certa vez, uma médica me procurou preocupada após o exame de bioimpedância apontar excesso dessa gordura visceral, fator de risco para doenças crônicas. No entanto, a avaliação não podia estar mais equivocada. As balanças utilizam fórmulas baseadas principalmente em populações americanas e europeias, cujos padrões corporais frequentemente diferem do corpo típico de uma mulher latina, caracterizado por quadris largos e coxas volumosas.

Assim, a fórmula superestimou significativamente a gordura visceral dela, gerando uma preocupação desnecessária. Expliquei as limitações e possíveis erros de interpretação do aparelho, e ela me relatou que as mulheres da família tinham esse mesmo padrão corporal e que ela estava feliz com ele. Os exames laboratoriais indicavam que sua saúde estava ótima, e ela seguiu feliz com seu belo corpo violão.

Afinal, é útil ou não?

Desde que respeitadas as orientações dos fabricantes, a bioimpedância pode ser útil como um acompanhamento, ou seja, uma análise de tendência do que pode estar acontecendo com o corpo. Mas lembrando sempre que ela é uma estimativa cheia de limitações.

Muitas vezes, o que vejo são pessoas que usam essas balanças todos os dias, e isso não faz sentido. Lembre-se de que peso é diferente de gordura corporal. Nosso peso varia dentro do mesmo dia e durante a semana. Já alterações na gordura demandam tempo, são mudanças de longo prazo. Se você gosta de ter parâmetros de comparação e não tem qualquer sentimento negativo relacionado a isso, não fica angustiado ou triste com oscilações, sugiro que faça o acompanhamento uma vez por semana, não mais que isso – e sempre nas mesmas condições.

Fazer esse tipo de avaliação em qualquer aparelho, sem o devido preparo ou conhecimento, pode trazer consequências negativas, como relacionamento ruim com o corpo e também com a comida. Pessoas que têm ou já tiveram transtorno alimentar ou transtorno obsessivo compulsivo devem ficar longe dessas ferramentas de controle.

A tecnologia traz inovações, mas toda vez que formos utilizar uma ferramenta precisamos ter em mente suas limitações e, sempre que necessário, buscar a opinião de um bom profissional. Lembrando que os números não são sinônimos de saúde: são apenas indicativos que precisam ser olhados com cuidado e, acima de tudo, com carinho. Afinal, é do seu corpo e da sua saúde física e emocional que estamos tratando.

Opinião por Desire Coelho

Nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela USP, especialista em transtornos alimentares e em análise do comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” e coautora do livro “A Dieta Ideal”

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