Nutrição, exercício e comportamento

Opinião|Caso Yasmin Brunet: por que ter compulsão alimentar nem sempre leva ao ganho de peso?


Exagerar no consumo alimentar é apenas um dos fatores capazes de fazer uma pessoa engordar; saiba o que mais interfere no processo

Por Desire Coelho
Atualização:

A modelo Yasmin Brunet, participante do Big Brother Brasil (BBB), tem sido alvo de comentários constantes em relação à alimentação e até mesmo (pasme!) ao seu corpo. Yasmin já revelou que sofre com compulsão alimentar¹ há anos e, nas últimas semanas, devido à ansiedade, a situação parece ter piorado. “É muito doido, quem tem questões alimentares vai entender, você se sente cheia e vazia ao mesmo tempo”, relatou.

Embora a compulsão seja marcada por um descontrole diante da comida, levando a exageros, Yasmin é (e continua) magra. Como? Afinal, o que faz com que uma pessoa praticamente não ganhe peso em uma situação assim, enquanto outra engorda muito?

Yasmin Brunet relatou sofrer de compulsão alimentar, mas aparentemente não tem facilidade para engordar  Foto: Reprodução/Instagram/@yasminbrunet
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Essa explicação é complexa, porque existem muitos fatores que influenciam no ganho de peso – eles podem ter relação com a duração do descontrole alimentar, além de questões fisiológicas, comportamentais e genéticas. Hoje, quero me ater ao aspecto genético – e tem um estudo clássico que ajuda a entender por que o nosso DNA exerce papel crucial nessa história.

Feito em 1990, esse trabalho teve como objetivo avaliar a diferença na resposta de peso corporal em 12 pares de gêmeos idênticos frente a uma dieta com excesso calórico – os participantes consumiram mil calorias extras por dia, por quase noventa dias. Nesse período, foram ingeridas, no total, 84 mil calorias a mais do que seria necessário para a manutenção do peso corporal. Muitos acreditariam que, diante do mesmo excesso calórico, o ganho de peso deveria ser igual – mas não foi o observado.

A média de aumento de peso foi de 8,1 kg. No entanto, ao examinar os dados individuais, foi possível constatar uma considerável variação nesse valor. Enquanto um participante ganhou 4,3 kg, outro engordou 13,3 kg – três vezes mais! Cabe destacar que diferenças significativas assim foram observadas entre indivíduos que não eram gêmeos – logo, não compartilhavam o mesmo DNA. O resultado ajudou a esclarecer por que pessoas submetidas ao mesmo protocolo de excesso calórico apresentaram respostas tão discrepantes: ou seja, a genética fez diferença. É por causa dela (pelo menos em parte) que o corpo de cada um entende e lida com o excesso calórico de um jeito.

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Alguns pesquisadores têm categorizado as pessoas em três tipos principais: as com facilidade de ganho de peso, as com dificuldade de ganho e as intermediárias (onde estaria a maioria da população). Isso pode explicar por que uma pessoa parece ter absorvido e acumulado todas as 84 mil calorias excedentes, enquanto outra deve ter “queimado” cerca de 40% delas sem esforço.

Voltando ao BBB: Yasmin já disse que essa questão alimentar vem de longa data. É claro que ela cuida do corpo e da saúde quando está bem. Embora não dê para afirmar categoricamente qual a predisposição genética da modelo, é possível observar que seus pais, altos e magros, não sugerem uma tendência ao ganho de peso.

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Agora, imagine uma pessoa com o mesmo descontrole alimentar, mas com histórico familiar de obesidade e predisposição ao ganho de peso? Suponhamos que, em algumas semanas de descompensação, ao invés de ganhar 4 kg, esse indivíduo engordasse 13 kg. Quando conseguisse melhorar e se cuidar para retornar ao peso anterior, como seria? Uma meta de emagrecimento de 4 kg é muito diferente de uma de 13 kg – e envolve questões complexas, como o estado emocional e até mesmo o julgamento alheio.

Além disso, com os altos e baixos da vida e os pequenos e grandes traumas que cada um carrega, o que aconteceria com o comportamento alimentar desses diferentes perfis? Assim como existe uma predisposição para o ganho de peso, sabemos que as pessoas também respondem de modos distintos ao emagrecimento. Ou seja, alguém com dificuldade de ganho de peso muitas vezes tem mais facilidade de emagrecer do que um indivíduo com tendência para engordar.

No fim das contas, todas essas questões de individualidade expõem que o processo de emagrecimento vai muito além da força de vontade ou da capacidade de alguém de se cuidar. Claro que a genética não pode ser vista como algo determinista, mas é um fator importantíssimo quando falamos de corpo.

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É preciso deixar claro que, mesmo que as pessoas comessem as mesmas coisas, fizessem o mesmo treino e tivessem os mesmos hábitos, ainda assim seus corpos seriam diferentes! E, quando falo de corpo, não me refiro apenas ao fato de ser magro ou gordo. Mas até a proporção de ganho de gordura e massa magra seria diferente.

E tem outro ponto que vale uma reflexão: será que uma pessoa que pesasse 20 ou 30 kg a mais que Yasmin teria a mesma defesa que ela vem recebendo do público? Talvez o caso provocasse outras reações, algumas bem mais punitivas. A verdade é que nem precisaríamos fazer toda essa análise e ter essa discussão se todo mundo entendesse, de uma vez por todas, que não se deve falar sobre o corpo e a alimentação de outra pessoa, não é?

[1] Compulsão alimentar é um transtorno alimentar grave e, se possível, deve ser tratado por uma equipe multidisciplinar, incluindo nutricionista, psiquiatra e psicólogo.

A modelo Yasmin Brunet, participante do Big Brother Brasil (BBB), tem sido alvo de comentários constantes em relação à alimentação e até mesmo (pasme!) ao seu corpo. Yasmin já revelou que sofre com compulsão alimentar¹ há anos e, nas últimas semanas, devido à ansiedade, a situação parece ter piorado. “É muito doido, quem tem questões alimentares vai entender, você se sente cheia e vazia ao mesmo tempo”, relatou.

Embora a compulsão seja marcada por um descontrole diante da comida, levando a exageros, Yasmin é (e continua) magra. Como? Afinal, o que faz com que uma pessoa praticamente não ganhe peso em uma situação assim, enquanto outra engorda muito?

Yasmin Brunet relatou sofrer de compulsão alimentar, mas aparentemente não tem facilidade para engordar  Foto: Reprodução/Instagram/@yasminbrunet

Essa explicação é complexa, porque existem muitos fatores que influenciam no ganho de peso – eles podem ter relação com a duração do descontrole alimentar, além de questões fisiológicas, comportamentais e genéticas. Hoje, quero me ater ao aspecto genético – e tem um estudo clássico que ajuda a entender por que o nosso DNA exerce papel crucial nessa história.

Feito em 1990, esse trabalho teve como objetivo avaliar a diferença na resposta de peso corporal em 12 pares de gêmeos idênticos frente a uma dieta com excesso calórico – os participantes consumiram mil calorias extras por dia, por quase noventa dias. Nesse período, foram ingeridas, no total, 84 mil calorias a mais do que seria necessário para a manutenção do peso corporal. Muitos acreditariam que, diante do mesmo excesso calórico, o ganho de peso deveria ser igual – mas não foi o observado.

A média de aumento de peso foi de 8,1 kg. No entanto, ao examinar os dados individuais, foi possível constatar uma considerável variação nesse valor. Enquanto um participante ganhou 4,3 kg, outro engordou 13,3 kg – três vezes mais! Cabe destacar que diferenças significativas assim foram observadas entre indivíduos que não eram gêmeos – logo, não compartilhavam o mesmo DNA. O resultado ajudou a esclarecer por que pessoas submetidas ao mesmo protocolo de excesso calórico apresentaram respostas tão discrepantes: ou seja, a genética fez diferença. É por causa dela (pelo menos em parte) que o corpo de cada um entende e lida com o excesso calórico de um jeito.

Alguns pesquisadores têm categorizado as pessoas em três tipos principais: as com facilidade de ganho de peso, as com dificuldade de ganho e as intermediárias (onde estaria a maioria da população). Isso pode explicar por que uma pessoa parece ter absorvido e acumulado todas as 84 mil calorias excedentes, enquanto outra deve ter “queimado” cerca de 40% delas sem esforço.

Voltando ao BBB: Yasmin já disse que essa questão alimentar vem de longa data. É claro que ela cuida do corpo e da saúde quando está bem. Embora não dê para afirmar categoricamente qual a predisposição genética da modelo, é possível observar que seus pais, altos e magros, não sugerem uma tendência ao ganho de peso.

Agora, imagine uma pessoa com o mesmo descontrole alimentar, mas com histórico familiar de obesidade e predisposição ao ganho de peso? Suponhamos que, em algumas semanas de descompensação, ao invés de ganhar 4 kg, esse indivíduo engordasse 13 kg. Quando conseguisse melhorar e se cuidar para retornar ao peso anterior, como seria? Uma meta de emagrecimento de 4 kg é muito diferente de uma de 13 kg – e envolve questões complexas, como o estado emocional e até mesmo o julgamento alheio.

Além disso, com os altos e baixos da vida e os pequenos e grandes traumas que cada um carrega, o que aconteceria com o comportamento alimentar desses diferentes perfis? Assim como existe uma predisposição para o ganho de peso, sabemos que as pessoas também respondem de modos distintos ao emagrecimento. Ou seja, alguém com dificuldade de ganho de peso muitas vezes tem mais facilidade de emagrecer do que um indivíduo com tendência para engordar.

No fim das contas, todas essas questões de individualidade expõem que o processo de emagrecimento vai muito além da força de vontade ou da capacidade de alguém de se cuidar. Claro que a genética não pode ser vista como algo determinista, mas é um fator importantíssimo quando falamos de corpo.

É preciso deixar claro que, mesmo que as pessoas comessem as mesmas coisas, fizessem o mesmo treino e tivessem os mesmos hábitos, ainda assim seus corpos seriam diferentes! E, quando falo de corpo, não me refiro apenas ao fato de ser magro ou gordo. Mas até a proporção de ganho de gordura e massa magra seria diferente.

E tem outro ponto que vale uma reflexão: será que uma pessoa que pesasse 20 ou 30 kg a mais que Yasmin teria a mesma defesa que ela vem recebendo do público? Talvez o caso provocasse outras reações, algumas bem mais punitivas. A verdade é que nem precisaríamos fazer toda essa análise e ter essa discussão se todo mundo entendesse, de uma vez por todas, que não se deve falar sobre o corpo e a alimentação de outra pessoa, não é?

[1] Compulsão alimentar é um transtorno alimentar grave e, se possível, deve ser tratado por uma equipe multidisciplinar, incluindo nutricionista, psiquiatra e psicólogo.

A modelo Yasmin Brunet, participante do Big Brother Brasil (BBB), tem sido alvo de comentários constantes em relação à alimentação e até mesmo (pasme!) ao seu corpo. Yasmin já revelou que sofre com compulsão alimentar¹ há anos e, nas últimas semanas, devido à ansiedade, a situação parece ter piorado. “É muito doido, quem tem questões alimentares vai entender, você se sente cheia e vazia ao mesmo tempo”, relatou.

Embora a compulsão seja marcada por um descontrole diante da comida, levando a exageros, Yasmin é (e continua) magra. Como? Afinal, o que faz com que uma pessoa praticamente não ganhe peso em uma situação assim, enquanto outra engorda muito?

Yasmin Brunet relatou sofrer de compulsão alimentar, mas aparentemente não tem facilidade para engordar  Foto: Reprodução/Instagram/@yasminbrunet

Essa explicação é complexa, porque existem muitos fatores que influenciam no ganho de peso – eles podem ter relação com a duração do descontrole alimentar, além de questões fisiológicas, comportamentais e genéticas. Hoje, quero me ater ao aspecto genético – e tem um estudo clássico que ajuda a entender por que o nosso DNA exerce papel crucial nessa história.

Feito em 1990, esse trabalho teve como objetivo avaliar a diferença na resposta de peso corporal em 12 pares de gêmeos idênticos frente a uma dieta com excesso calórico – os participantes consumiram mil calorias extras por dia, por quase noventa dias. Nesse período, foram ingeridas, no total, 84 mil calorias a mais do que seria necessário para a manutenção do peso corporal. Muitos acreditariam que, diante do mesmo excesso calórico, o ganho de peso deveria ser igual – mas não foi o observado.

A média de aumento de peso foi de 8,1 kg. No entanto, ao examinar os dados individuais, foi possível constatar uma considerável variação nesse valor. Enquanto um participante ganhou 4,3 kg, outro engordou 13,3 kg – três vezes mais! Cabe destacar que diferenças significativas assim foram observadas entre indivíduos que não eram gêmeos – logo, não compartilhavam o mesmo DNA. O resultado ajudou a esclarecer por que pessoas submetidas ao mesmo protocolo de excesso calórico apresentaram respostas tão discrepantes: ou seja, a genética fez diferença. É por causa dela (pelo menos em parte) que o corpo de cada um entende e lida com o excesso calórico de um jeito.

Alguns pesquisadores têm categorizado as pessoas em três tipos principais: as com facilidade de ganho de peso, as com dificuldade de ganho e as intermediárias (onde estaria a maioria da população). Isso pode explicar por que uma pessoa parece ter absorvido e acumulado todas as 84 mil calorias excedentes, enquanto outra deve ter “queimado” cerca de 40% delas sem esforço.

Voltando ao BBB: Yasmin já disse que essa questão alimentar vem de longa data. É claro que ela cuida do corpo e da saúde quando está bem. Embora não dê para afirmar categoricamente qual a predisposição genética da modelo, é possível observar que seus pais, altos e magros, não sugerem uma tendência ao ganho de peso.

Agora, imagine uma pessoa com o mesmo descontrole alimentar, mas com histórico familiar de obesidade e predisposição ao ganho de peso? Suponhamos que, em algumas semanas de descompensação, ao invés de ganhar 4 kg, esse indivíduo engordasse 13 kg. Quando conseguisse melhorar e se cuidar para retornar ao peso anterior, como seria? Uma meta de emagrecimento de 4 kg é muito diferente de uma de 13 kg – e envolve questões complexas, como o estado emocional e até mesmo o julgamento alheio.

Além disso, com os altos e baixos da vida e os pequenos e grandes traumas que cada um carrega, o que aconteceria com o comportamento alimentar desses diferentes perfis? Assim como existe uma predisposição para o ganho de peso, sabemos que as pessoas também respondem de modos distintos ao emagrecimento. Ou seja, alguém com dificuldade de ganho de peso muitas vezes tem mais facilidade de emagrecer do que um indivíduo com tendência para engordar.

No fim das contas, todas essas questões de individualidade expõem que o processo de emagrecimento vai muito além da força de vontade ou da capacidade de alguém de se cuidar. Claro que a genética não pode ser vista como algo determinista, mas é um fator importantíssimo quando falamos de corpo.

É preciso deixar claro que, mesmo que as pessoas comessem as mesmas coisas, fizessem o mesmo treino e tivessem os mesmos hábitos, ainda assim seus corpos seriam diferentes! E, quando falo de corpo, não me refiro apenas ao fato de ser magro ou gordo. Mas até a proporção de ganho de gordura e massa magra seria diferente.

E tem outro ponto que vale uma reflexão: será que uma pessoa que pesasse 20 ou 30 kg a mais que Yasmin teria a mesma defesa que ela vem recebendo do público? Talvez o caso provocasse outras reações, algumas bem mais punitivas. A verdade é que nem precisaríamos fazer toda essa análise e ter essa discussão se todo mundo entendesse, de uma vez por todas, que não se deve falar sobre o corpo e a alimentação de outra pessoa, não é?

[1] Compulsão alimentar é um transtorno alimentar grave e, se possível, deve ser tratado por uma equipe multidisciplinar, incluindo nutricionista, psiquiatra e psicólogo.

Opinião por Desire Coelho

Nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela USP, especialista em transtornos alimentares e em análise do comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” e coautora do livro “A Dieta Ideal”

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